Sunday, 16 February 2025

Rua de São João de Mata: a Santíssima Trindade

Subamos, com a linha eléctrica, o primeiro troço da Rua de S. João da Mata e prossigamos uns passos pela Rua Garcia da Orta, antiga de Santíssima Trindade, e logo encontramos as entradas da Rua de S. Félix e dos Remédios. [...]
Aquelas Ruas da Santíssima Trindade, S. Félix e S. João da Mata, têm uma única origem: a do Convento das Trinas, da Ordem da «Santíssimas Trindade», fundada por «S. João da Mata», e por «S. Félix», e de que há pouco te falei.
A explicação é aceitável; hoje a designação da Santíssima Trindade foi substituída pelo nome do grande botânico português, Garcia da Orta, e as tradições religiosas não se sentiram afrontadas. [Araújo, 1938]

Rua de São João de Mata |1956|
Cruzamento com a Rua Garcia de Orta
Nota(s): Criada em 1904, o Eléctrico 25, tornou-se a maior carreira de circulação de Lisboa, ligando a Baixa da cidade à Estrela.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

João de Matha (1160-1213) foi um monge francês, fundador juntamente com São Félix de Valois, da Ordem da Santíssima Trindade (também conhecida como a Ordem Trinitária).
Este topónimo aparece pela primeira vez, nos registos paroquiais, em 1757.

Rua de São João da Mata |1902|
Esquina com a Rua de Santos-o-Velho
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Friday, 14 February 2025

Avenida da República, 65 no cruzamento com a Avenida Barbosa du Bocage, 59

Este grande xadrez regular das chamadas Avenidas Novas — edificações modernas com alguns palacetes de formoso aspecto — é delimitado pela Avenida Duque de Ávila, a sul, antiga Rua do Arco do Cego, a oriente, a linha férrea da Cintura, a norte, e a Avenida Marquês de Sá da Bandeira, a poente, ainda que as avenidas principais de orientação Norte-Sul — Cinco de Outubro e República — ultrapassem, em prolongamento, estes limites teóricos.

Avenida da República, 65 no cruzamento com a Avenida Barbosa du Bocage, 59 |1969|
Palacete construído na viragem do século XIX demolido em 1970.
Nas Avenidas Novas nasceu a Rua Barbosa du Bocage, por Edital de 11/12/1902, na via pública entre as Avenidas Marquês de Tomar e Rua do Arco do Cego. Passados quase 23 anos, o Edital de 08/06/1925 mudou a classificação da artéria para Avenida.
Nuno Roque da Silveira, in Lisboa de Antigamente

Não deixa de ser curioso designá-las, anotando que a urbanização desta área se está fazendo desde há trinta anos, sistematicamente, cada lustro com seu avanço, quási sem nós darmos por isso. 

Avenida da República, 65 no cruzamento com a Avenida Barbosa du Bocage, 59 |1969|
Palacete construído na viragem do século XIX demolido em 1970.
Nuno Roque da Silveira, in Lisboa de Antigamente

No sentido Norte-Sul correm as Avenidas de Sá da Bandeira (que não passa do Largo do Rego), Marquês de Tomar, Cinco de Outubro, da República (esta a artéria mater), dos Defensores de Chaves, e a Rua do Arco do Cego, que se chamará Avenida D. Filipa de Vilhena (parte dela). Transversalmente correm as Avenidas Duque de Ávila, João Crisóstomo, Miguel Bombarda, Visconde de Valmor, Elias Garcia, Barbosa du Bocage, Berna e António Serpa. [Araújo, XIV, 1939]

Avenida Barbosa du Bocage, 59 no cruzamento com a Avenida da República, 65  |1969|
Palacete construído na viragem do século XIX demolido em 1970.
Nuno Roque da Silveira, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 9 February 2025

Rua Possidónio da Silva que foi da Fonte Santa

Há em Lisboa uma Rua da Fonte Santa, nome que se mudou em «de Possidónio da Silva». Sem dúvida Possidónio foi um benemérito da pátria, a quem a Arqueologia nacional muito deve, mas podia o seu nome ser imposto a uma nova, isto é, ainda inominada, e conservar-se o de Fonte Santa, que se liga a concepções míticas e religiosas da antiga Lisboa, da Lisboa pré-cristã. Estas substituições, porém, são por via de regra intempestivas, porque o povo, na sua prudência secular, despreza as apelações camarárias, e continua a adoptar as que ele já conhecia, herdadas de seus avós.

Isto dito, decidiu a CML através do seu Edital de 17/05/1897 homenagear Joaquim Possidónio Narciso da Silva pelos relevantes serviços que prestou à classe operária inválida, fundando, em 1864, o Albergue dos Inválidos do Trabalho — hoje Inválidos do Comercio no nº 204 neste arruamento.

Rua Possidónio da Silva |1961|
Ao fundo a Rua Santo António à Estrela, 35 e a Casa de Santa Zita da Estrela antes solar dos Aires de Ornelas.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806-1896) partiu para o Brasil com apenas um ano de idade, acompanhando o seu pai, um mestre-geral dos paços reais destacado para o Rio de Janeiro. Aí cresceu, regressando a Portugal já com 21 anos para estudar nos ateliers de Sequeira e Sendim.
Em 1824 partiu para Paris para frequentar o curso de Arquitectura da École des Beaux-Arts, que concluiu quatro anos depois, e onde foi discípulo de Charles Percier. Passou dois anos em Roma, e voltou para Paris, onde participou das obras do Palais Royal e das Tulherias.
Regressou a Portugal apenas no final de 1833, tornando-se arquitecto da Casa Real e trabalhando nos palácios da Pena, de São Bento e das Necessidades, traçando também o Palácio do Alfeite. Em 1863 fundou a Associação dos Arquitectos. Porém, as suas ideias, marcadas pela Restauração francesa, não foram bem acolhidas em Portugal, razão pela quais muitos dos seus projectos para teatros, academias e um palácio real, foram recusados.

Rua Possidónio da Silva |1945|
Antiga da Fonte Santa: escadinhas de acesso ao Chafariz da Fonte Santa, junto ao n.º 111.
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 1882, o escultor francês Anatole Vasselot fez um busto de bronze de Possidónio da Silva mas este nunca permitiu a divulgação da sua imagem em nenhum meio até à sua morte e assim, este busto apenas foi inaugurado em 5 de julho de 1968, colocado sobre um pedestal de pedra na Praceta da Rua Possidónio da Silva.

Rua Possidónio da Silva |1964|
Antiga da Fonte Santa junto ao n.º 25.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Friday, 7 February 2025

Terreiro do Paço: vendedores ambulantes

O Terreiro do Paço, vulgo Praça Comercio, foi construído, ainda no século XVI, sobre a praia e sobre o mar, o solar dos Mouras-Cortes-Reais, umas das mais nobres residências de Lisboa, e, um pouco acima, já na escarpa, dominava o palácio dos duques de Bragança embelezado, em meados do século, com as obras que o Duque D. Teodósio nele mandou fazer. O Terreiro do Paço e nele a Casa da India e logo o Paço da Ribeira, magnificente moradia régia, de três andares, coroado por quatro torres ameadas, que D. João III, depois ampliou, e mais tarde, Filipe II, seguindo o plano do arquitecto Terzi, havia de alterar, aumentando-o ainda com um torreão que dava sobre o Tejo. Junto do Palácio ficava a Armaria, valioso museu militar, e ainda a Torre do Relójio, a Varanda das Damas. Mas em frente, pois que isso e mais, o grande Terramoto Tudo Levou.

Terreiro do Paço |190-|
Vendedoras ambulantes de marisco
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
Terreiro do Paço |190-|
Vendedor ambulante de estampas
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente





 



 
 
 
 
 
 
 
 







Também os vendedores ambulantes encontraram no Terreiro do Paço o seu poiso preferido, e o principal mercado de comestíveis da cidade depois conhecido por Mercado da Ribeira Velha que em princípios de quinhentos, se acoitava ao lado oriental do Terreiro do Paço, junto dos Alpendres e na proximidade do Açougue do Peixe, que ficava à entrada do Pelourinho Velho.
 
Terreiro do Paço |191-|
Vendedor ambulante de carvão
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
Terreiro do Paço |191-|
Vendedor ambulante de carvão
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 2 February 2025

Avenida Almirante Reis: obras do Metropolitano

Nos primeiros anos do século XX, paralela à antiga Estr. de Sacavém e prolongando para Norte a Rua da Palma, é aberta a Av. Almirante Reis que, na sua primeira fase, terminará junto ao hospital de Arroios, na actual actual Praça do Chile. Rasgada no último período da monarquia. Quantos lisboetas saberão hoje quem foi este Almirante Reis que deu o nome a uma das mais importantes artérias citadinas? Chamava-se Carlos Cândido dos Reis (1852-1910), foi vice-almirante da marinha de marinha de guerra e um dos grandes instigadores e organizadores da revolução de 5 de Outubro de 1910. Construída sobretudo com prédios de rendimento, destinada a uma classe média de cariz republicano, o nome caiu-lhe bem. E ficou.

Avenida Almirante Reis: obras do Metropolitano (Intendente) |1966|
Junto à Tv. Cidadão João Gonçalves com o Castelo encimando a imagem.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

A Avenida tem sofrido alterações diversas. Começou por ser ladeada de árvores, ao gosto da época; só que as necessidades de época (e de todas as épocas afinal; só que as necessidades de trânsito se tornam prioritárias), para ser depois alargada e «modernizada» no início da década de quarenta. No meado do seculo8 XX dá-se inicio à construção do Metropolitano.

Avenida Almirante Reis: obras do Metropolitano |1965-05|
Junto ao antigo Cinema Lys (Roxy) no cruzamento com a Rua dos Anjos.
Artur J. Goulart, in Lisboa de Antigamente

A sociedade Metropolitano de Lisboa, é constituída a 26 de Janeiro de 1948 e tinha como objectivo o estudo técnico e económico, em regime de exclusivo, de um sistema de transportes colectivos fundado no aproveitamento do subsolo da cidade. A concessão para a instalação e exploração do respectivo Serviço Público veio a ser outorgada em 1 de Julho de 1949.
Os trabalhos de construção iniciaram-se em 7 de Agosto de 1955 e, quatro anos depois, em 29 de Dezembro de 1959, o novo sistema de transporte foi inaugurado.
O 1º escalão de construção da rede foi concretizado em fases sucessivas. Assim, em 1963 entra em exploração o troço Restauradores/Rossio, em 1966, o troço Rossio/Anjos e, por último, é completado em 1972 com a ligação Anjos/Alvalade.

Avenida Almirante Reis: obras do Metropolitano (Anjos) |1966|
Junto ao eixo Rua de Angola/Rua Febo Moniz 
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ADRAGÃO, José Victor & PINTO, Natália, RASQUILHO, Rui, Lisboa, vol. 2, 1985.
metrolisboa.pt

Friday, 31 January 2025

Cruzes da Sé

Do Largo [do Marquês do Lavradio, à dir.] sai a Travessa dos Machados [que foi beco até 1911] que leva à Travessa do Almargem [que foi Beco do Albuquerque até 1878], defronte do Beco do Quebra Costas. Estamos nas traseiras da Sé!¹


Constitui a Sé de Lisboa — diz Castilho — um recinto isolado entre quatro ruas: de Augusto Rosa, antiga Rua do Arco do Limoeiro, ao norte; as Cruzes da Sé, ao sul; o Beco do Quebra Costas, em escadaria, ao nascente; e o Largo da Sé, ao poente.
 está classificada monumento nacional (decretos de 10 de Janeiro de 1907 e de 16 de Junho de 1910), e, excluindo os troços que ainda restam da muralha ou cerca moura, é incontestavelmente o edifício mais antigo da cidade²

Cruzes da Sé |1901|
Prédio com frentes sobre a Travessa dos Machados (esq.), a Rua de São João da Praça e Cruzes da Sé (traseiras da Sé). Tv. do Almargem.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Agora quero mais uma vez chamar-te a atenção para este monumento nacional — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , cuja muralha, do lado das Cruzes da Sé, foi há poucos anos reintegrada na sua maneira primitiva; oferece um digno aspecto arqueológico, do tipo religioso-militar romano.




Cruzes da Sé |1939|
Sé de Lisboa
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente



Cruzes da Sé |1943|
Muralha da Sé de Lisboa
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente





Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 40, 1939
² CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, 1835.

Sunday, 26 January 2025

O Hotel Frankfort de «Santa Justa»

Ora, Dilecto, enfiemos pela esquerda da Rua de Santa Justa, onde, n.ºˢ 70-72, está o Hotel Francfort (de Santa Justa, chamado).
Este Hotel, mais antigo do que o seu irmão do Rossio, foi fundado em 1867, por D. Joaquim Silva, e coube em partilhas a um filho, João Narciso da Silva, já falecido, como o do Rossio coube a Artur Silva, outro irmão. Por morte, o ano passado (Setembro 1938) ) da viúva de João Narciso, a propriedade do Hotel transitou para herdeiros menores; o estabelecimento que desde 1932 está em regime de administração, consequência de uma crise comercial, é hoje dirigido por Vítor Marques Simões, representante dos credores, e parente das duas crianças, herdeiras.

O Hotel Frankfort de «Santa Justa» |190-|
Rua de Santa Justa, 70-72 com a Rua Augusta
Situado no Centro da Cidade Instalações Modernas Recomendado para Grupos
e Excursões Preços desde Esc. 30$00 - 150 Quartos.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

O Hotel foi muito ampliado e beneficiado em 1914, e ocupa dois prédios, ambos da Condessa de Casal Ribeiro, um com frente para a Rua de Santa Justa e laterais para as Ruas Augusta e do Arco Bandeira [actual dos Sapateiros], e outro nesta última rua. 
Nota(s): encerrou no final da década de 1970.

O Hotel Frankfort de «Santa Justa» |1914|
Frentes sobre as ruas de Santa Justa e dos Sapateiros.
Pires Marinho, in Lisboa de Antigamente

 — Esse Sanches Lucena é um idiota! Ora que arranjo fará a esse homem, aos sessenta anos, ser deputado, passar meses em Lisboa no Francfort, abandonar as propriedades, deixar aquela linda quinta... E para quê? Para rosnar de vez em quando "apoiado"! Antes ele me cedesse a cadeira, a mim, que sou mais esperto, não possuo grandes terras, e gosto do Hotel Bragança. (Eça de Queiroz, ln A Ilustre Casa de Ramires, 1900)

O Hotel Frankfort de «Santa Justa», salão de jantar e vestíbulo |1914|
E na Baixa, no «Francfort de Santa Justa, que arvorava, por então, a pequena fama de um hotel correcto (...), uma população heteróclita arrastava-se, lá ao fundo, na sala de pavimento de mosaico poligonado, abandonando-se nos cadeirões de couro negro , entre a exuberância dos ramos das aspidistras». [Cláudio: 1992]
Pires Marinho, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 53 1939.
A Arquitectura portuguesa ; revista mensal da arte arquitectural antiga e moderna, 1914.

Friday, 24 January 2025

Jardim Nove de Abril que foi das Albertas

É um dos mais belos logradouros da cidade, miradouro natural, do qual se desdobra do panorama do rio, do porto, seus cais, e oficinas do Aterro [actual Av. 24 de Julho], e, à distância, dos montes da outra margem.

Actualmente conhecido por Jardim 9 de Abril, é conhecido também por Albertas ou Jardim da Rocha do Conde de Óbidos. Situa-se na antiga Cerca do Convento das Albertas (Convento das Freiras Carmelitas), de onde advém o primeiro nome, estando assente sobre a Rocha do Conde de Óbidos, de onde deriva a segunda denominação em homenagem às tropas portuguesas que participaram na 1ª Guerra Mundial e que a 9 de Abril de 1918 sofreram o embate de uma grande ofensiva lançada pelos alemães sobre as linhas aliadas, incidindo todo o esforço inicial sobre o sector português. Foi o começo da chamada Batalha de La Lys.

Jardim 9 de Abril que foi das Albertas |c. 194-|
Rua Presidente Arriaga, antiga de São Francisco de Paula, antes Rua Direita de São Francisco; Rio Tejo
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Contiguo ao Museu de Arte Antiga, para a banda de O., ficava o convento das Albertas, de freiras carmelitas descalças, fund. em 1584 pelo arquiduque Alberto. Na pequena cerca do convento se fez o Jardim das Albertas — lê-se no Guia de Portugal de 1924 — , assentando sobre a chamada Rocha do conde de Óbidos, um dos mais afamados miradouros citadinos, com tamareiras, uma Washingtonia [vd. 3º imagem], etc., e cujo panorama para a branca casaria de Almada e as águas azuis do Tejo, é um dos mais belos da cidade. Desse terrapleno ajardinado desce-se para o Aterro por duas bem lançadas escadarias vestidas de trepadeiras. Em frente do jardim, onde se acha hoje uma repartição de finanças, o palácio que foi de D. Braz da Silveira e depois dos marqueses de Minas (belos azulejos). Do outro lado do jardim, para O., o palácio brasonado que pertenceu aos Mascarenhas, conde de Óbidos, e onde estão hoje vários serviços da Cruz Vermelha.

Jardim 9 de Abril que foi das Albertas |c. 194-|
Rua Presidente Arriaga; Porto de Lisboa
Amadeu Ferrariin Lisboa de Antigamente
 
Com a construção do anexo poente do Museu de Arte Antiga (arqº Guilherme Rebelo de Andrade) em  1939/40, o desenho paisagístico do antigo Jardim foi bastante alterado.

Jardim 9 de Abril que foi das Albertas |1939-11|
Rua Presidente Arriaga - 1º Presidente da República 1840-1917
Washingtonia e Museu de Arte Antiga, fachada poente.
Eduardo Portugalin Lisboa de Antigamente

Bibliografia
PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Generalidades: Lisboa e arredores, 1924.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 61 1939.

Sunday, 19 January 2025

Avenida da Liberdade esquina com a Rua do Salitre

Até ao fim do Século XVIII, Lisboa, a pouco e pouco, segundo um plano de larga visão, ressurge, mais bela, mais ampla, mais moderna. E desde então, com breves intervalos de espera, que as vicissitudes da Nação impõem, é uma marcha constante, um aumento sucessivo na população e na superfície urbanizada. As invasões francesas, a saída da Corte e, depois, as lutas civis da primeira metade do Século XIX já se desenrolam numa Lisboa bem diferente da que o Terramoto fizera desabar. 

Avenida da Liberdade |post. 1935|
Esquina com a Rua do Salitre; sanitários públicos
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

E logo que, com a Regeneração, o liberalismo entra numa fase construtiva de fomento, a capital beneficia também do impulso renovador, que tem Fontes Pereira de Melo por arauto e animador. Rosa Araújo faz romper a Avenida da Liberdade (1885), novos bairros se rasgam, as portas da cidade deslocam-se mais para o norte. No início deste século as Avenidas Novas são uma realidade, o porto de Lisboa cresce em movimento e importância.
(CAVALHEIRO, António Rodrigues, Lisboa, 1953)

Avenida da Liberdade |post. 1950|
Esquina com a Rua do Salitre; Palácio Mayer
Para os leitores menos informados, a casa de pasto "Ribadouro - Vinhos e Azeites" instalou-se na Avenida em 1921. A cervejaria com o mesmo nome foi inaugurada em 1947.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 17 January 2025

Calçada dos Sete Moinhos, 64

É um alto entre o do Carvalhão e o Senhor dos Terramotos, onde existem sete moinhos, dos quais só cinco trabalham, achando-se desarmado o último de E.; serve de sinal o último de O., chamado o da ponta.
O topónimo perpetua a memória do lugar dos Sete Moinhos, pelos moinhos que no sítio existiam e cujos vestígios eram ainda visíveis na última década do século XX.

Calçada dos Sete Moinhos, 64 |1961|
Serra de Monsanto; Aqueduto das Aguas Águas Livres 
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente 
Nota(s): o local da foto está erradamente identificado no abandalhado amL.

Sunday, 12 January 2025

Lisboa Vista do Cimo dos Montes

O Castelo de São Jorge — tal como o conhecemos na actualidade — leva pouco mais de 80 anos. Sim. leu bem.

Sob o ponto de vista de fortificação — recorda Norberto de Araújo — o primitivo castelo cimeiro (a partir do começo do século XVII por «Castelejo»), que dos romanos foi, passou pelos godos e árabes, e chegou aos portugueses, resumia-se ao chamado Castelejo, numa área faceada de 50 metros aproximadamente. Este recinto era, por sua vez, circundado de muralhas, de dez torres, e aberto para o exterior nalgumas partes.

Panorâmica da encosta do Castelo |195-|
Perspectiva tirada da Estação do Rossio. Notem-se os edifícios do aquartelamento militar demolidos depois da reconstrução.
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Esta Fortaleza, recebeu, durante oito séculos os insultos do tempo, dos sismos, dos próprios homens. A verdade é que já no século XVI o seu, vértice Sudoeste servia de apoio, e se integrava no Paço Real da Alcáçova, acabando por se ocultar, durante o século XIX, nas construções de aquartelamentos. [Araújo: 1938 e 1945]
O nome actual deriva da devoção do castelo a São Jorge, santo padroeiro dos cavaleiros e das cruzadas, feita por ordem de D. João I no século XIV.  

Panorâmica do Castelo de São Jorge |c. 193-|
Vista tomada do Miradouro da Senhora do Monte. Igreja de Santa Cruz do Castelo.
Note-se, ao centro, a Torre do Observatório, cuja denominação deriva da circunstância de nela haver sido construído, c. de 1788, o Observatório Geodésico, se é que, já antes, 1779, não esteve nela instalado o primeiro observatório astronómico visto em Lisboa, estabelecido no Castelo pelo matemático José Anastácio da Cunha.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Na década de 1940 foram empreendidas monumentais obras de reconstrução, levantando-se grande parte dos muros e alteando-se muitas das torres. Por esse motivo, ao contrário do que se poderia pensar à primeira vista, o "carácter medieval" deste conjunto militar deve-se a esta campanha de reconstrução, e não à preservação do espaço do castelo desde a Idade Média até aos nossos dias. [Gaspar]

Panorâmica do Castelo de São Jorge |1957|
Vendedeira ambulante de leite no Miradouro da Senhora do Monte.
O monumento foi entregue à Câmara Municipal de Lisboa pelo Ministério das Obras Públicas, em 31 de Maio de 1942.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 10 January 2025

Edifício central da companhia dos telefones de Lisboa

Edifício situado no gaveto da Rua Augusta, 254-262, com a Rua de Santa Justa, 54-60, que serviu, entre 1888 e 1905, de sede da Anglo-Portuguese Telephone Company em Portugal. A mansarda, cujo projecto indica ter sido acrescentada em 1888, surge em foto tirada do elevador de Santa Justa [vd. 2ª imagem], provavelmente da primeira década de 1900.

Rua Augusta com a Rua de Santa Justa |c. 189-|
Edifício central da companhia dos telefones de Lisboa 
A estrutura em madeira visível nesta foto era uma grande caixa sobre o telhado
do prédio que servia de central de cabelagem dos telefones. A central funcionou neste
edifício até 1905.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O pedido de alteração do telhado mostra nas peças gráficas o desejo de substituir somente as águas-mestras por novo material, esclarece o material que revestia as águas-dobradas, e que se observa na 2ª imagem, reza assim:

No 4º andar e mansarda, onde se pretende faser estas obras, esteve installada a “Companhia dos Telephones” que mandou demolir algumas divisões interiores a fim de obter uma grande sala em cada um dos pavimentos, assim como fez construir o telhado em condições especiais para o seu serviço, e coberto com folha de ferro. Pretende agora o proprietario tornar estes dois pavimentos habitaveis, fasendo-lhes novas divisões e construindo novo telhado com inclinação regular e coberto de telha.
 Na actualidade, este edifício encontra-se revestido com telhas canudo, inseridas após 1980, o que não permite a observação in loco para levantar informações complementares

Rua de Santa Justa |c. 1903|
O edifício da Telephone Company (3º à esq.) após as alteração do telhado e mansarda.
Castelo de S. Jorge; elevador de Santa Justa
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Este modelo de cobertura surgiu em França e ganhou notoriedade através das obras de dois arquitectos do século XVII: François Mansart (1598-1666) e o seu sobrinho-neto Jules Hardouin-Mansart (1646-1708), cujos sobrenomes se tornaram na nomenclatura usada para o modelo arquitectónico (Machado e Moura, 2017).
Em Lisboa, a mansarda surge no léxico arquitetónico português no século XVIII, importada de modelos franceses. [Mateus: Cadernos do Arquivo Municipal, 2022]

Rua de Santa Justa |1960-70|
O edifício da Telephone Company é 2º à esq. com o desaparecido Hotel Francfort à frente.
Panorâmica sobre a encosta do Castelo, tirada a partir do topo do elevador de Santa Justa
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 5 January 2025

Estr. de Chelas

O sítio de Chelas é antiquíssimo, remontando ao tempo dos romanos, e parece não haver dúvida de que o mar por aqui fazia esteiro, que deu, depois de seco, o aprazível vale. Quási a meio da Estr., antes da primeira ponte do caminho de ferro que liga à linha da Cintura, topamos — daqui não se vê — um curioso palácio velho [Palácio do Lavrado], nobre que foi e ainda duas vezes armoriado, seiscentista, hoje habitação de gente humilde. É quási ao fim dessa Estr. que se encontra a Fábrica «da Pólvora sem Fumo», de Chelas, posterior à Fábrica de Barcarena. 

Estr. de Chelas |1938-06-10|
Imagem tomada do Viaduto Ferroviário de Chelas com a Cç. da Picheleira à esq..
"É quási ao fim dessa Estr. que se encontra a Fábrica «da Pólvora sem Fumo»" 
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Funeral das vítimas do incêndio na fábrica de pólvora de Chelas a caminho do
cemitério do Alto de São João»

Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo.

A fábrica está instalada no antigo convento das religiosas de Santo Agostinho, da invocação dos Mártires S. Félix e Santo Adrião [ao fundo na 1ª imagem]. A particularidade desta Casa era a sua remota fundação, 1192 pelo menos, segundo alguns escritores. Reconstruída seis ou sete vezes até ao século XVII, o Terramoto destruiu-a inteiramente, sendo restaurada, e a Igreja feita de novo, com certa larguesa. Todo o aspecto conventual interior desapareceu quási inteiramente, subvertido por obras de adaptação a fábrica de pólvoras químicas. [Araújo: 1939]
Foi fundador desta unidade fabril, António Xavier Correia Barreto.

Estr. de Chelas |1938-06-10|
Imagem tomada do prédio com o número de policia 169 junto à Rua de Cima de Chelas.
"É quási ao fim dessa Estr. que se encontra a Fábrica «da Pólvora sem Fumo»" 
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Funeral das vítimas do incêndio na fábrica de pólvora de Chelas a caminho do
cemitério do Alto de São João»

Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo.

Friday, 3 January 2025

Calçada Nova do Colégio que foi do Monturo do Colégio

Colégio (Calçada Nova do) - Esta categoria foi acompanhada do sufixo «Nova», para diferençar a via pública a que está aplicada a denominação correspondente, de outra que a teve igual, e hoje é denominada «José António Serrano», com a categoria de Rua. [Brito: 1935]

Collegio (calçada do monturo do) - sSegunda á direita na rua do Arco da Graça, indo da calçada do Collegio e finda na calçada de Santa Anna. [Vellozo, 1869]

Calçada Nova do Colégio |1910|
Antiga do Monturo do Colégio [dos Jesuítas de Santo Antão-o-Novo, hoje Hosp. S. José];
Castelo de S. Jorge; lanterna adapatada a gás.
Bilhete postal não circulado. Edição Tabacaria Costa

Tudo isto era de sujeição toponímica c social ao Convento dos Padres do Colégio da Companhia de Jesus (hoje Hospital de S. José)  nos começos do século de seiscentos, e, antes, lombas de Sam'Ana, terrenos campestres só aqui e ali arruados, com um ar
rural dando contraste ao bulício lá de baixo: S. Domingos, Rossio, Corredoura de Santo Antão. [Araújo: 1938]
Calçada Nova do Colégio |1948|
Troço da muralha Fernandina com a Torre de Sant'Ana à direita.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

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