Sunday, 21 November 2021

Torre de Belém

Neste monumento, de maior beleza que imponência, há a considerar o Baluarte, avançado desde os extremos da frente Sul da Torre, com seis faces, e com cerca de 41 me­tros de comprimento, e a Torre, propriamente dita, vertical, com quatro faces regulares, e com cerca de 36 metros de altura.


A Torre de Belém, o mais belo monumento fortificado de todo o pais, ainda que reduzido hoje a um padrão de beleza, evocativo das glórias marítimo-militares, com reflexos dos descobrimentos e projecção da opulência quinhentista, data de 1515-1519-1521, anos respectivamente do começo da obra, da sua conclusão, e da investidura do seu primeiro alcaide-mor, Gaspar de Paiva. 
Realização do reinado de D. Manuel não resta dúvida de que foi concepção de D. João lI, destinada a defender a entrada do rio. O «Baluarte do Restelo», também chamado «Castelo de S. Vi­cente a-par de Belém». ou. simplesmente, «Torre de S. Vicente», foi executada por Francisco de Arruda, designado em 1516 o «mestre do baluarte do Restelo», lavrante de pedraria, pertencente a uma família de artistas que trabalharam em Tomar, na Batalha, nos Jerónimos, e na construção de fortalezas em Çafim e Azamor.

Torre de Belém  [c. 1866]
Antiga Praia do Restelo hoje Avenida de Brasília
Em  cada um dos vértices da face Norte uma guarita, com sua cúpula, igual às da muralha do baluarte; sobre estas dois nichos com baldaquinos, num dos quais se  vê a imagem escultórica de S. Miguel e noutro a de S. Vicente, padroeiro da Torre e da cidade de Lisboa; uma janela de perfil românico, à altura do primeiro andar; um lindo balcão, saliente da parede, apoiado em cachorros, com dois arcos assentes sobre três colunelos, com balaustrada e cúpula, no mesmo perfil do grande varandim da face principal; uma janela geminada sobre aquele  balcão.
Autor desconhecido, iin Lisboa de Antigamente

Parece incontroverso que a primeira traça ou desenho da fortaleza não foi de Francisco de Arruda, mas do cronista, também debuxador [o mesmo que desenhador], Garcia de Rezende, ainda no reinado de D. João II, e/ou, de Boytac, o insigne «mestre» dos Jerónimos, já no reinado de D. Manuel. Francisco de Arruda foi, porém, o grande arquitecto realizador desta obra, cujos planos, se os havia, ele interpretou, ou transformou na «mais graciosa, a mais elegante, e a mais encantadora das jóias cinzeladas sob a ins­piração das fantasias mouriscas» (Oliveira Merson: 1861).
A antiga fortaleza desenvolve-se, com inspiração nacional autónoma, nascida dos elementos construtivos gótico-romanos, a qual através das sugestões da Índia e da África mourisca, deram o manuelino, exuberante, neste monumento, de originalidade, de simbolismo e de fantasias, singularmente reguladas pelo poder contemporizador de Francisco de Arruda. Esteve o «Baluarte do Restelo» rodeado de água por todos os lados, até que o deslocamento do curso do Tejo o foi envolvendo de areias, prendendo-se à torre como uma nau de quinhentos encalhada, com a proa mergulhada no rio, A Torre de Belém tem expressão nacional, na evocação dos descobrimentos e dos feitos marítimos que se lhes seguiram, mas constitui também, nas suas particularidades históricas, um documento olisiponense, de formoso semblante e impecável beleza.

Torre de Belém e Forte do Bom Sucesso  [c. 1900]
Antiga Praia do Restelo hoje Avenida de Brasília
Em 1780 inicia-se a construção do forte, com projecto do engenheiro e general francês Vallerée (segundo o sistema do marquês de Montalembert); o mesmo ficava ligado à Torre de Belém por meio de um passadiço. Durante a ocupação francesa, em 1808, o general Junot determina que a bateria seja ligada à Torre de Belém por uma bateria corrida, chamada Bateria Nova do Bom Sucesso ou do Flanco Esquerdo.
Autor não desconhecido, in Lisboa de Antigamente

A iconografia do monumento é vastíssima. A sua crónica é dilatada, viva de glórias mas tam­bém testemunho de tristes factos políticos: baluarte recamado da simbólica e da mística portuguesa do mar; prisão do Estado, do século XVII ao XIX. Conta algumas vicissitudes; no tempo de Filipe II a Torre de Belém esteve pronta ser arrasada, a conselho de um arquitecto napolitano, Vicencio Cazale, que no lugar daquela jóia pretendia construir uma «grande fortaleza». Em 1780-82 foi a Torre de Belém ligada por um suporte de bataria, ao forte do Bom Sucesso, e quando, mais tarde, este forte passou a ficar isolado, a Torre sofreu em parte desmantelamento. No período das invasões francesas de 1807 a 1810, foram reduzidas as ameias e guaritas do baluarte a meia altura, e retirados os arcos do varandim e outros elementos decorativos. Em 1845, por efeito dos protestos de Almeida Garrett, e a esforços do Duque da Terceira, governador da Torre, foi o monumento reintegrado pelo engenheiro militar António de Azevedo e Cunha. Em 1865 foi nela colocado o farolim que só há poucos anos dali foi retirado, e em 1867 deu-se-lhe a vizinhança das instalações abarracadas e negras da fábrica do gás, e a sentinela obesa do gasómetro.

Torre de Belém e Fábrica de Gás de Belém e gasómetros (dir.)  [c. 1900]
Antiga Praia do Restelo hoje Avenida de Brasília
A  muralha envolvente,  hexagonal, com cerca de um quarto da altura da Torre, e 
nela: A guarda ameiada em escudos de Ordem de  Cristo; Seis guaritas (das oito que envolvem, decorativamente todo o monumento) no vértice das faces do polígono, com janela de vigia, apoio cónico, e cúpula golpeada de gomos, no estilo  bizantino; Dezassete frestas rectangulares, ou canhoneiros, abertas na  muralha um pouco acima do nível de água.
Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

O monumento, constituído pela torre propriamente dita, quadrangular, e por um baluarte hex­agonal, que defende a torre por envolvimento e avança sobre o rio, forma uma peça de conjunto, na qual os elementos interdependem sem dispersão; desta sorte não comporta a anotação de espécie móveis ou soltas. Objecto de vários estudos, monografias criticas e descrições, a Torre de Belém está desde há muito inventariado em pormenor; pela sua unidade não admite neste trabalho mais que uma síntese de inventário.

Torre de Belém  [c. 1869]
Antiga Praia do Restelo hoje Avenida de Brasília
No  Baluarte há que  anotar o portal principal de acesso ao monumento, contíguo  pelo nascente ao envasamento da Torre, servido (actualmente) por ponte levadiça, ornado ao  gosto da Renascença, com arco lavrado de volta redonda, sobrepujado de escudo régio e de esferas armilares.
Jean Laurent Minier, iin Lisboa de Antigamente

N.B.  1982 — A Torre de Belém é classificada Monumento Nacional e Património Mundial (UNESCO)  2007 — Nomeada como uma das Sete Maravilhas de Portugal.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.

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