Neste monumento, de maior beleza que imponência, há a considerar o Baluarte, avançado desde os extremos da frente Sul da Torre, com seis faces, e com cerca de 41 metros de comprimento, e a Torre, propriamente dita, vertical, com quatro faces regulares, e com cerca de 36 metros de altura.
A Torre de Belém, o mais belo monumento fortificado de todo o pais, ainda que reduzido hoje a um padrão de beleza, evocativo das glórias marítimo-militares, com reflexos dos descobrimentos e projecção da opulência quinhentista, data de 1515-1519-1521, anos respectivamente do começo da obra, da sua conclusão, e da investidura do seu primeiro alcaide-mor, Gaspar de Paiva.Realização do reinado de D. Manuel não resta dúvida de que foi concepção de D. João lI, destinada a defender a entrada do rio. O «Baluarte do Restelo», também chamado «Castelo de S. Vicente a-par de Belém». ou. simplesmente, «Torre de S. Vicente», foi executada por Francisco de Arruda, designado em 1516 o «mestre do baluarte do Restelo», lavrante de pedraria, pertencente a uma família de artistas que trabalharam em Tomar, na Batalha, nos Jerónimos, e na construção de fortalezas em Çafim e Azamor.
Parece incontroverso que a primeira traça ou desenho da fortaleza não foi de Francisco de Arruda, mas do cronista, também debuxador [o mesmo que desenhador], Garcia de Rezende, ainda no reinado de D. João II, e/ou, de Boytac, o insigne «mestre» dos Jerónimos, já no reinado de D. Manuel. Francisco de Arruda foi, porém, o grande arquitecto realizador desta obra, cujos planos, se os havia, ele interpretou, ou transformou na «mais graciosa, a mais elegante, e a mais encantadora das jóias cinzeladas sob a inspiração das fantasias mouriscas» (Oliveira Merson: 1861).A antiga fortaleza desenvolve-se, com inspiração nacional autónoma, nascida dos elementos construtivos gótico-romanos, a qual através das sugestões da Índia e da África mourisca, deram o manuelino, exuberante, neste monumento, de originalidade, de simbolismo e de fantasias, singularmente reguladas pelo poder contemporizador de Francisco de Arruda. Esteve o «Baluarte do Restelo» rodeado de água por todos os lados, até que o deslocamento do curso do Tejo o foi envolvendo de areias, prendendo-se à torre como uma nau de quinhentos encalhada, com a proa mergulhada no rio, A Torre de Belém tem expressão nacional, na evocação dos descobrimentos e dos feitos marítimos que se lhes seguiram, mas constitui também, nas suas particularidades históricas, um documento olisiponense, de formoso semblante e impecável beleza.
A iconografia do monumento é vastíssima. A sua crónica é dilatada, viva de glórias mas também testemunho de tristes factos políticos: baluarte recamado da simbólica e da mística portuguesa do mar; prisão do Estado, do século XVII ao XIX. Conta algumas vicissitudes; no tempo de Filipe II a Torre de Belém esteve pronta ser arrasada, a conselho de um arquitecto napolitano, Vicencio Cazale, que no lugar daquela jóia pretendia construir uma «grande fortaleza». Em 1780-82 foi a Torre de Belém ligada por um suporte de bataria, ao forte do Bom Sucesso, e quando, mais tarde, este forte passou a ficar isolado, a Torre sofreu em parte desmantelamento. No período das invasões francesas de 1807 a 1810, foram reduzidas as ameias e guaritas do baluarte a meia altura, e retirados os arcos do varandim e outros elementos decorativos. Em 1845, por efeito dos protestos de Almeida Garrett, e a esforços do Duque da Terceira, governador da Torre, foi o monumento reintegrado pelo engenheiro militar António de Azevedo e Cunha. Em 1865 foi nela colocado o farolim que só há poucos anos dali foi retirado, e em 1867 deu-se-lhe a vizinhança das instalações abarracadas e negras da fábrica do gás, e a sentinela obesa do gasómetro.
O monumento, constituído pela torre propriamente dita, quadrangular, e por um baluarte hexagonal, que defende a torre por envolvimento e avança sobre o rio, forma uma peça de conjunto, na qual os elementos interdependem sem dispersão; desta sorte não comporta a anotação de espécie móveis ou soltas. Objecto de vários estudos, monografias criticas e descrições, a Torre de Belém está desde há muito inventariado em pormenor; pela sua unidade não admite neste trabalho mais que uma síntese de inventário.
N.B. 1982 — A Torre de Belém é classificada Monumento Nacional e Património Mundial (UNESCO) 2007 — Nomeada como uma das Sete Maravilhas de Portugal.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.
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