Sunday 31 July 2022

Rua Afonso de Albuquerque

Estamos na pequena artéria que se chama, desde 1551 pelo menos, Rua (de Afonso) de Albuquerque, e que anteriormente era a Rua dos Arcos. [Araújo, X, 1939]


Informa o autor de Lisboa de Lés-A-Lés, Luiz Pastor de Macedo que « Já assim era denominada em 1554, tendo em tempos anteriores o nome de rua dos Arcos. Deram-lhe também a denominação de rua da Casa dos Bicos, segundo dois assentos paroquiais, um de 1605 e outro de 1606 e algumas vezes apontada sob o nome de rua das Canastras (1587-1600), por influência da serventia pública, propriamente com este nome, que lhe ficava vizinha. Desde 1661 designaram-lhe simplesmente por rua do Albuquerque e assim chegou até ao terremoto.
Depois tendo com o novo plano da cidade desaparecido a rua das Canastras, esta denominação passou para serventia que nesse tempo era conhecida por rua do Almargem e este escorregou para a rua do Albuquerque. A mudança, porém, só se deu depois de 1781, porque neste ano ainda se dizia: «...na rua do Albuquerque junto ás portas do Mar...» [...] 

Ao fundo, a Rua Afonso de Albuquerque vista do Arco das Portas do Mar [1945]
Ao centro, as Escadinhas das Portas do Mar e,  à esq., a Rua das Canastras.
 Martinez Pozal, in AML

Correram anos. Em 9 de Fevereiro de 1882, por proposta do vereador Leça da Veiga, aprovada na sessão camarária daquele dia, a rua designada então sob o nome de Almargem passou outra vez a chamar-se de Afonso de Albuquerque.[...] O Afonso de Albuquerque que deu o nome à rua do século XVI, foi Braz de Albuquerque que trocou o seu nome de baptismo pelo do seu pai, conforme o determinou el-rei D. Manuel para honrar a memória do grande vice-rei da Índia. Braz de Albuquerque viveu na Casa dos Diamantes ou dos Bicos, mandada por ele construir, a qual tinha (e tem) duas faces livres que caíam, uma, a sul, sobre a praça [da Ribeira Velha] que se abria a oriente da rua da Porta do Mar (parte da actual rua dos Bacalhoeiros) e outra, a norte, sobre a rua dos Arcos [...]. 

Pátio Afonso de Albuquerque  [1899]
Final da Rua Afonso de Albuquerque; à esq., a Travessa do Almargem; ao centro observa-se a mina abastecedora de água para a antiga bica da Alfândega (local de entrada da galeria); ao fundo à dir. desemboca o Arco da Conceição que liga com a Rua dos Bacalhoeiros.
 Machado & Souza, in AML

Por este motivo e seguindo uma praxe estabelecida pelo povo — a de designar as serventias públicas, quando com nome de indivíduos, pelos dos seus moradores que por qualquer razão se tornaram mais notados — a rua passou a denominar-se de Afonso de Albuquerque.==

Rua Afonso de Albuquerque junto à Casa dos Bicos [1940]
Na direcção das Escadinhas das Portas do Mar e da Rua das Canastras.
Eduardo Portugal, in AML

Friday 29 July 2022

Arco da Conceição

O apontamento mais decorativo de toda a Alfama — diz o autor das Peregrinações e das Legendas de Lisboa — que abre para o exterior são os seus arcos. Se entendêssemos Alfama como um grande templo aberto de pitoresco antigo, havíamos de chamar a estes arcos — pórticos. Guardam expressão, carácter, significado – certa beleza subjectiva.
A altas horas da noite, quando as ruas vão quietinhas no interior do bairro, e a própria Alfama dorme, os arcos retomam então a sua poesia, alguns o seu arcaísmo, outros a sua função de postigo aberto toda a noite, sem trancas. As sombras projectadas dos ângulos e dos contornos são ou medievais ou quinhentistas. Os Arcos de Alfama, todos portas do mar, merecem aos amantes história embrechada de pitoresco, uma ronda de ternura . Uns reproduzem crónicas velhas, outros, que são apenas serventias, sabem historietas.

 Arco da Conceição |1906|
À esq. onde se observa o rendeiro com o fardo de rendas às costas;
Rua dos Bacalhoeiros e, ao fundo, a antiga Cozinha Económica n.º 5 (Ribeira Velha, 1897)
na Rua do Cais de Santarém.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Este Arco da Conceição é uma simples serventia pública, em lances de escadinhas que levam à Rua Afonso de Albuquerque. Tão gracioso na sua escadaria de grimpa, no vestígio do nicho de Nossa Senhora, e na evocação do Chafariz da Preguiça, que lhe ficava ao lado, não passa de uma simples serventia, como as Escadinhas do Marquês do Lavradio, que não têm passado. O dito nicho largo [vd. 2ª imagem] está hoje entaipado sob o arco no seu interior, do qual se vê ainda uma guarnição de azulejo. [Araújo: 1939-1943]

Arco da Conceição |1964|
Nicho de Nossa Senhora da Conceição que deu o nome à serventia que faz a ligação entre a Rua dos Bacalhoeiros e a Rua Afonso de Albuquerque.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday 24 July 2022

Edifício da Rua Dona Estefânia, 193 ccom a Avenida Praia da Vitória, 2

Edifício residencial multifamiliar e comercial, ao estilo chamado "Estado Novo" devido à sobriedade e simplicidade da disposição e decoração das fachadas. Erguido em meados do séc. XX, risco do arq.º Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962).

Transporte das lavadeiras saloias [c. 1950]
A esq. observa-se parte do prédio de gaveto inserido em quarteirão com acesso pela Rua de Dona Estefânia, 193 e pela Avenida Praia da Vitória, 2
Estúdio Mário Novais, in AML
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo

Esta Rua de D. Estefânia  — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , que quando era uma azinhaga foi chamada do «Pintor»  — a grande Avenida do sítio, embora menos movimentada que outras vizinhas — é simétrica, fria, alinhada, muito «fim do século». Vai de Gomes Freire a Duque de Ávila.==

Transporte das lavadeiras saloias [c. 1950]
Rua de Dona Estefânia, 94
Estúdio Mário Novais, in AML
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo

Sunday 17 July 2022

Atêrro da Bôa-Vista

Remolares, Cata-que-farás, Ribeira Nova, S. Paulo, Boa Vista, foram tudo praias ribeirinhas que acabaram por dar - na conquista do rio - o que principiou por se chamar genericamente o Aterro, designação extensiva que depois se formalizou em Avenida 24 de Julho». (Araújo: 1993)


Despediu-se da senhora Marquesa e dos netos, pôs o chapéu na cabeça e desceu a escada, irresoluto na direcção a dar à passeata. Ainda bem longe de decidido, chegou à porta na ocasião em que, puxado por muitas mulas, começava um americano a subir vagarosamente a rampa de Santos. Saiu o Marquês para a rua. Foi logo muito cumprimentado pelos cocheiros e moços do Pingalho, que no fronteiro pátio do Visconde de Asseca tinha carruagens de aluguer. Correspondeu civilmente à cortesia e, tomando à esquerda, dirigiu-se para o Atêrro, pensando que ainda havia gente bem criada e que o dia realmente estava muito ameno. Avista o americano; veio-lhe logo à ideia um passeio de carro. Era barato, e não fazia frio mesmo nenhum.
— Para onde irá êle?... .Ah! lá parou... j Olha! vai para Belêm...
Apeiam-se umas senhoras; tenho lugar.
(Braamcamp Freire: 1927)

Atêrro da Bôa Vista |c. 1895|
Actual Av. 24 de Julho, antiga Rua 24 de Julho: Rampa de Santos, actual Calçada Ribeiro Santos e Palácio Abrantes (dir.); carro americano.
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente

Informa o autor das Peregrinações que se pode datar o Atêrro, com o possível rigor, a 1867, tendo-se as obras iniciado em 1858. A designação de Rua 24 de Julho é anterior à conclusão do Atêrro e o topónimo "24 de Julho" evoca a entrada em Lisboa das tropas do Duque da Terceira em 24 de Julho de 1833.

Atêrro da Bôa Vista |post. 1867 e ant. a 1872!
Actual Av. 24 de Julho, antes Rua 24 de Julho junto da Ribeira Nova.
Francesco Rocchiniin Lisboa de Antigamente

Júlio de Castilho, que se faz acompanhar do fotógrafo Francesco Rocchini [vd. imagem acima], comunica-nos que «Lisboa toda, desde 1867, se acostumara com gosto ao desafogado terreiro marginal», o «mais belo dos passeios públicos», recordando que «a sociedade concorria ali, àquele salão enorme, a ver o Tejo, que é o amigo de nós todos, e a contemplar as magnificências da grande orquestra de tons luminosos com que o sol se despedia» até que, «anos depois, abriu-se a Avenida da Liberdade; e o Aterro... nem mais sequer lembrou.»
(JANEIRO, Maria João, Lisboa: histórias e memórias, pp. 130-132)
 
Atêrro da Bôa Vista |c. 1895|
Actual Av. 24 de Julho, antes Rua 24 de Julho; carros americanos.
Fotógrafo não identificadoin Lisboa de Antigamente

Sunday 10 July 2022

Rua de São Bernardo, 33

Segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo, nas suas Peregrinações em Lisboa, o topónimo desta rua terá sido estabelecido em 1793, conforme se pode ler na seguinte passagem: «Esta Travessa de Santa Quitéria (1759), tal como a Rua de Santo Amaro, as Travessas de Santa Gertrudes (hoje Rua Teófilo Braga), de S. Plácido, de Santa Escolástica (hoje Rua dos Ferreiros), de Santo Ildefonso (todas datando de 1763), e a Rua de S. Bernardo, trinta anos mais moderna que as anteriores, foram talhadas na cerca do Convento de S. Bento; os nomes, postos pelos frades, são dos santos da sua Ordem».

Rua de São Bernardo, 33 [post. 1888]
O edifício, profundamente desfigurado, alberga actualmente a Embaixada do Reino Unido; antigo Parque Vacinogénico de Lisboa, sob a Inspecção do Instituto Central de Higiene. Foi Fundado em Janeiro de 1888.
Fotógrafo não identificado, in AML

N.B. São Bernardo, um dos santos louvados pela Ordem de São Bento, passou também a topónimo numa das ruas construídas na antiga cerca do Convento de São Bento, que hoje reconhecemos como a artéria que liga a Calçada da Estrela à Avenida Álvares Cabral.

Sunday 3 July 2022

Calçada do Lavra

Daqui, da Rua de Câmara Pestana — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , nasce, ou finda, a Calçada do Lavra, cujo elevador foi construído em Abril de 1884. Esta Calçada do Lavra chamava-se anteriormente de "Damião de Aguiar", pessoa importante do século XVI, desembargador e chanceler mor do Reino. Passou a chamar-se do Lavra ou do Lavre pela circunstância de, no edifício apalaçado, ao Largo da Anunciada, onde hoje está a Escola Nacional, ter morado o tesoureiro da Rainha Maria Francisca de Saboia, Manuel Lopes do Lavre, como, antes dele, morava o citado Damião de Aguiar . A Calçada acompanhou em seu nome, durante três séculos, a evolução da propriedade do palácio, mas fixou-se em Lavra.
Assim fosse sempre em Lisboa.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, pp. 38-39, 1938)

Calçada do Lavra [c. 1945]
Pozal, Fernando Martinez, in AML
Calçada do Lavra [c. 1945]
Pozal, Fernando Martinez, in AML

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