Friday 30 June 2023

Quiosque do Largo da Boa Hora

Os Quiosques que embelezavam Lisboa a partir da segunda metade do século XIX tiveram a sua época áurea por volta de 1900
A revolução artística iniciada em Inglaterra, alastrara já a França e a outros países. Tentava-se a criação de novos ambientes, bem como a integração da arte na vida doméstica e comercial: a Arte Nova.  As nossas figuras responsáveis pelo património municipal para isso foram sensibilizadas, embora nessa época fossem poucos os que apreciavam a beleza da forma, o evoluir da estética, o desenvolvimento artístico.
Os Quiosques situavam-se, quase todos, nos mais importantes pontos de cruzamento da cidade: os largos e as praças, os jardins e as alamedas, locais onde o Lisboeta passava e se juntava às horas de ponta, aos domingos e feriados, à boa maneira parisiense.

Quiosque do Largo da Boa Hora |1908|
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

Estrutura 
Secção rectangular. Estrutura toda de madeira. Completamente aberto para o exterior, com prateleiras onde estavam as garrafas e os copos. Balcão circundante de mármore, acima do qual e saindo do Quiosque, se vêem as torneiras das bebidas. Cúpula rectangular com bordos trabalhados, de madeira.

Particularidades
Bastante concorrido.
Particular.
___________________________________________
Bibliografia
CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os quiosques de Lisboa,  p. 41, 1987.
 

Sunday 25 June 2023

Profissões de Antanho: vendedoras ambulantes de queijo saloio

Vinham pela tarde as raparigas dos queijinhos e dos requeijões, aqueles acomodados em forminhas de zinco dispostos em tabuleiro também de zinco, tapados com uma toalha e no cabaz que lhes servia de suporte traziam, em cestinhos, os requeijões a transbordar pelas malhas da palha. Era à hora da merenda e o pregão alertava a canalha miúda que regressava da escola.
Algumas também vendiam azeitonas que transportavam num tarro de cortiça.
Quase sempre eram moçoilas saloias apregoando com graça, no sotaque da sua linguagem cantada, maneira de forrar uns tostões com as sobras do leite das suas vacas. Nem todas as tardes apareciam, pois aproveitariam os dias em que as galeras traziam as lavadeiras.

— Quem quer requeijões e queijinhos frescos?

E lá iam, cachopas garridas, bate que bate, rua abaixo, rua acima, vendendo os tão apetecidos queijinhos entalados e frescos nas formas de zinco. Naquele tempo ninguém se queixava de salmonelas.¹

Vendedoras ambulantes de queijo fresco |c. 1900|
Cruzamento da Travessa da Palmeira com a Rua da Palmeira
O arruamento Rua da Palmeira, que já consta do Atlas da Carta Topográfica de Lisboa datado de 1857. Como refere Mestre Castilho, este topónimo “palmeira inscreve-se numa antiga tradição popular de designar topónimos indo buscar a sua identidade às disposições dos terrenos ou do local, às circunstâncias naturais, à fauna ou à flora. Outros exemplos desta tradição na freguesia das Mercês são a Travessa do Jasmim e a Rua das Parreiras.
Fotografo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Palmeira (Travessa da) — Nela, e no tempo em que ainda se chamava Travessa de S. Francisco de Paula (até 1859), freguesia das Mercês, e n.º 23 de então, num quarto do 1.º andar, onde habitava desde muitos anos, faleceu após longa e dolorosa enfermidade, sofrida com filosófica e cristã resignação, o aplicado e estudioso filólogo Pedro José de Figueiredo, autor, entre outras, da obra que tem por título Retratos dos Varões e Donas de Portugal.²

Vendedoras ambulantes de queijo fresco |c. 1900|
Rua de S. Bento, 160
Nota(s): imagem sem data; local da foto não está identificado no arquivo.
Fotografo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, 1986.
² BRITO, Gomes de, Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935.

Friday 23 June 2023

Tv. Conceição da Glória com a Tv. do Rosário: «Casa onde viveu Almeida Garrett»

Só na planta de Lisboa de 1807 de Duarte Fava é que encontramos esta Travessa do Rosário próxima da Praça da Alegria – já que a cidade alfacinha acolhe também uma Travessa do Rosário a Santa Clara -, o que até faz sentido se recordarmos que o sítio da Alegria passou de rural a urbanizado e aumentou de população apenas após o Terramoto de 1755.
 
Tv. Conceição da Glória com a Tv. do Rosário |1955|
«Casa onde viveu Almeida Garrett» 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday 18 June 2023

Rua da Betesga: vendedeiras ambulantes de manjericos

Já de dia circulavam pela cidade os vendedores de manjericos e alcachofras, atroando o ar com os seus pregões, ao mesmo tempo que a criançada, numa insistência escandalosa atormentava o transeunte com os seus constantes pedidos de «cinco reizinhos para a cera»[Cordeiro: 2019]

Betesga (Rua da) — De O Popular, de 4 de Junho de 1902, N. ° 2:191, transcrevemos o seguinte nosso artigo, agora refundido: RUA DA BETESGA — Mandou a actual administração municipal, pela repartição competente, reformar os reformar os dísticos desta rua, restituindo-os á sua verdadeira forma: «Betesga», e não «Bitesga».
Fez muito bem, e esperamos que não fique neste só dístico a reforma. 
Betesga é, diz Morais, uma ruazinha ou beco sem saída, que faz saco, ou fundo de saco; dai deriva o verbo embetesgar. Esta viela é antiga, e já se encontra nos escritores do seculo XVI. [Brito: 1935]

Rua da Betesga |c. 1930|
Venda ambulante de manjericos e flores defronte ao antigo Mercado da Figueira; ao fundo vê-se a colina do Carmo.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): a data e o local da foto não estão identificados no arquivo

Por Edital de 28-08-1950 a Rua da Betesga ficou limitada pela Praça da Figueira e de Dom Pedro IV. Até então, a antiga Rua da Betesga — vulgo da Bitesga — , estendia-se desde a Praça Dom Pedro IV até ao Poço do Borratém.
Por ser, desde tempos antigos, ura ruela muito estreita, nasceu a expressão popular “Meter o Rossio na Rua da Betesga" – por alusão à extensão da Praça do Rossio e à estreiteza da Rua da Betesga.

Rua da Betesga |1942|
Vista sobre a Rua da Betesga quando esta ainda se compreendia entre o Poço do Borratém
e o Rossio (Praça Dom Pedro IV). A demolição do Mercado da Praça da Figueira permitiu
uma remodelação urbanística da zona e daí foi atribuído o topónimo Rua Condes de Monsanto,
que se observa em baixo, ao troço da velhinha Betesga entre o Borratém e a Rua dos
Fanqueiros (à esq.).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday 16 June 2023

Avenida Duque D’Ávila, esquina com a Rua de Dona Estefânia

Quem passa hoje pela Avenida Duque D’Ávila, nº 23, na esquina com a Rua de Dona Estefânia, na zona das Avenidas Novas no coração moderno de Lisboa, não se apercebe à primeira vista que aqui se situou a Casa dos Estudantes do Império (CEI). O edifício foi totalmente renovado, alteado e pintado de amarelo – e quase ninguém conhece a função que o prédio teve entre 1944 e 1965.
A história da Casa dos Estudantes do Império é uma ironia em si mesma. Apadrinhada pela Mocidade Portuguesa e financiada pelo Ministério das Colónias, iria ser, durante duas décadas, o principal foco de agitação anticolonialista na metrópole. Fundada com o objectivo de formar a elite intelectual do ultramar, acabou por ser tornar central na consciencialização política de muitos que combateram o regime salazarista.

Avenida Duque De Ávila, 23, esquina com a Rua se Dona Estefânia |1961|
Casa dos Estudantes do Império
Fernandes, Augusto de Jesus, in Lisboa de Antigamente

Por aqui passaram nomes como Agostinho Neto e Lúcio Lara (Angola), Amilcar Cabral (Guiné-Bissau), Marcelino dos Santos (Moçambique) e Alda do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe).
A Casa dos Estudantes do Império foi encerrada por intervenção da PIDE em 1965.

Avenida Duque De Ávila, 23, esquina com a Rua se Dona Estefânia |1966|
Casa dos Estudantes do Império
Fernandes, Augusto de Jesus, in Lisboa de Antigamente

Sunday 11 June 2023

Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros

De regresso à Avenida D. Carlos, uma curta paragem no Quartel dos Bombeiros, construído no sítio do antigo Convento da Esperança, entre 1891-1892, e do qual foi primeiro comandante o capitão Augusto Gomes Ferreira. Após a morte deste comandante, a Câmara deliberou, em 1901, designar a até então denominada «Caserna da Esperança» por «Caserna Augusto Ferreira». Data dos primeiros anos da segunda metade do século XIX a reorganização do Serviço de Incêndios e a designação de Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa; esta designação manteve-se até ao segundo quartel do século XX, quando da constituição do Batalhão de Sapadores de Bombeiros.

Ora agora peço-te que repares neste recanto irregular, inestético, que se situa à direita do Chafariz [da Esperança], contíguo aos terrenos do Quartel n.º 1 dos Bombeiros Municipais. Era ali o pórtico de entrada do Mosteiro da Esperança — recorda Norberto de Araújo.
Foi este Mosteiro de que nada resta, senão a memória — que deu origem às designações toponímicas «Esperança», que subsistem. Mas da Esperança — tão lindo nome — porquê?

Em 1530 D. Izabel de Mendanha — apelido de família castelhana que veio para Portugal em tempo de D. Afonso V — fundos neste sito um Convento de Nossa Senhora da Piedade, «para senhoras sobres», e que foi dos mais formosos e celebrados da capital.
Chamava-se como digo, a Casa religiosa, «da Piedade», ou mais rigorosamente, de Nossa Senhora da Piedade, a que se acrescentava «da Boa Vista», porque ficava neste sítio. Pertencia o Mosteiro à regra de S. Francisco; era rico e de grande qualidade, recheado interiormente de preciosidades de arte, assim Igreja como aposentos, embora seu exterior fosse trivial.
O Terramoto pouco o sacrificou, mas pronto fot restaurada, e até 1834 continuou a ser Casa religiosa. Depois entrou, como todos na posse do Estado.

 

Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros |1930|
Avenida Dom Carlos I 
Só em 1881 começaram a ser demolidas as antigas Casas conventuais, e outros prédios vizinhos, para se rasgar a Avenida actual, e inaugurada, como te disse acima, em Dezembro de 1889Mas parte da Casa religiosa foi durando até à última década do século passado [XX].

António Novais, 
in Lisboa de Antigamente


Mas, Dilecto, dirás tu: se o Mosteiro era de Nossa Senhora da Piedade porque passou a ser, e ainda é hoje, na sua memória, «da Esperança»? Pois sempre te quero contar e vale a pena.
Este sítio era, à borda do rio, muito de marítimos. E os homens do mar foram sempre dados a devoção, tão singela quanto sincera. Constituíram uma irmandade de pilotos e mestres náuticos intitulada de Nossa Senhora da Esperança. Prosperou de tal que se tornou o fulcro devoto do Convento, a gente plebeia em seu prestígio a classe nobre à que o Mosteiro estava ligado.
Fenómeno bem edificante! E o Mosteiro deixou de ser chamado da Piedade — da nobreza que o fundara — , para passar a ser da Esperança — dos marinheiros que a ele se chegaram.

Convento de Nossa Senhora da Piedade da Esperança e Cruzeiro da Esperança
Pormenor da Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755
Museu de Lisboa, CML

No Mosteiro da Esperança se recolheu em 21 de Novembro de 1667 a Rainha D. Maria Francisca de Sabóia, mulher de D. Afonso VI, e nele se conservou até que à triste contenda entre irmãos, filhos de D. João IV, se resolveu a favor do que veio a ser D, Pedro II,
O Mosteiro era rico de materiais e de recheio. Uma parte do que tinha mérito artístico integrou-se na Academia de Belas Artes, hoje no Museu Nacional de Arte Antiga,
No sítio do Convento fez-se erguer o Quartel dos Bombeiros Municipais n.º 1, em 1891-1892, ocupando a área da casa religiosa, igreja e quási a totalidade da Cerca, O primeiro comandante foi o capitão Gomes Ferreira, ao qual se deve o incremento que tomou o edifício municipal, ainda que com prejuízo da arqueologia local, Parte dos materiais do Convento, pedras, colunas, arcos, guarnições, foi aproveitado na construção de pavilhões, obra dirigida pelo venerando arquitecto José Luiz Monteiro; os azulejos do pavilhão com face ao pátio, as janelas geminadas e os balaústres correnteza da galeria, são do século XVII. Mas tudo isto, que é pouco, passa despercebida à vista.[...]
Várias obras têm sido levadas a efeito no Quartel de 1892 à actualidade; as reminiscências arquitectónicas da casa monasteiral são poucas à vista: colunas, arcarias de volta perfeita, capitéis de mármore pintado em policromia. No chão da actual serralharia foram encontradas em 1930 algumas ossadas, que voltaram a ser cobertas de lagedo, dormindo o sono no local onde baixaram há séculos.
Na parte poente do Quartel elevou-se em 1912 uma muralha de suporte dos prédios da Rua da Esperança, que ameaçavam cair sobre a parada do Quartel; vê-se da rua.
Na parada de entrada, ao fundo, na face do muro que ampara a Cerca superior — pedaço rústico — há uns azulejos ali colocados há meia dúzia de anos [c. 1930], e que vieram do Palácio Folgosa da Rua da Palma, quando este foi encurtado para rectificação da rua, e passou à Câmara, As carrancas que aqui se vêem provieram do Palácio Silva Amado, ao Campo de Sant'Ana.

 

Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros, lado da parada |1935|
Avenida Dom Carlos I 
Muitos dos belos panos de azulejos que adornavam o Convento foram doados às escolas industriais de Lisboa e do Porto, e boas pinturas passaram ao Museu das Belas Artes.
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente
Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros, lado da parada |1930|
Avenida Dom Carlos I 
Bombeiros Voluntários Lisbonenses em exercícios.
Ferreira da Cunhain Lisboa de Antigamente
 
E para terminar este passo da jornada, ocorre-me dizer-te que era defronte do Chafariz que se erguia o Cruzeiro da Esperança, telheiro colocado sobre pilares de ferro, com vidraças, e rodeado por duas escadas circulares de cantaria,
Era um monumento ingénuo da piedade popular, sem a beleza do Cruzeiro de Arroios, mas respeitável.
A urbanização do local investiu com ele. Numa bela noite de Janeiro de 1835, a Câmara, de surpresa, desmanchou aquele conjunto, e removeu a Cruz, a imagem de N. Senhora da Piedade, e outros adereços, para o Mosteiro, acabado de expropriar às freiras — mas que desde logo não perdeu o carácter religioso, mantendo-se o culto durante algum tempo.

Cruzeiro da Esperança | sécs. XVI-XVII
Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros 
Cruzeiro da Esperança - removido uma bela noite de Janeiro de 1835, esculpido de um lado a imagem de Cristo Crucificado, e do outro, uma Nossa Senhora da Piedade
Conservação e restauro da escultura do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga em depósito no Museu de Lisboa. Trabalho realizado por Pedro Lino, escultor e técnico de conservação e restauro de materiais pétreos.

O sitio da Esperança!
As casas do Duque de Aveiro, o Mosteiro das donas nobres, & devoção dos mesteirais do mar, o Cruzeiro, a estrada antiga, à evocação da Quinta da Sizana e das hortas da Boa Vista...
Pois não podíamos ficar sempre nisto. Uma urbe tem as suas exigências; a evolução urbanista é um crescimento fisiológico nas cidades.
A Avenida Wilson [actual D. Carlos I], na sua ligação com o Aterro da Boa VistaAvenida 24 de Julho — explica e justifica tudo.

Sítio da Esperança: Convento e Quartel dos Bombeiros |195-|
Avenida Dom Carlos I 
Antiga do Presidente Wilson, Avenida das Cortes, antes Rua Dom Carlos I (1889), antes Rua Duque de Terceira (1866), antes Rua dos Ferreiros à Esperança, antes Rua dos Ferreiros a Santa Catarina) e Travessa Nova da Esperança.
António Passaportein Lisboa de Antigamente

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, pp. 23-26, 1938..

Friday 9 June 2023

Leiteiros na Rua Alexandre Herculano

Às vezes, ainda a manhã vinha longe, já se ouvia pela rua o passar do leiteiro e das vacas [e cabras]. Avisava a freguesia batendo-lhe às portas e anunciando-se;
— Leitii ... leiti ... i
Ao mugir dos animais tinha sempre uma fala amiga e paciente:
— Eh ! ... "Linda" ... Vá, "Galante" ...
E na manhã que despontava, quando o sol começava doirando os topos das torres das igrejas, o leiteiro e as vacas, com o seu pregão, os seus gritos e o chocalhar das campainhas, emprestavam às ruas e aos largos a nota pitoresca com a qual o progresso da Lisboa de hoje há muito se não conforma.

Leiteiros na Rua Alexandre Herculano |1956|
Distribuição do leite aos leiteiros junto à Garagem Auto-Palace (esq.), construída
para a Sociedade Portuguesa de Automóveis, segundo projecto de Vieillard & Touzet, datado de 1906.

Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo

Também mulheres ou homens vendiam leite, de porta em porta, carregando as bilhas e medidas que deixavam nos passeios para não ter de as levar até aos andares. Se passava canito rafeiro, vira-latas, era certo e sabido que não deixaria de assinar o ponto com uma mijinha... 
Pelo que se vê, a higiene da venda do leite não seria a mais própria, e quando vieram as disposições camarárias regulamentando a sua venda muita gente protestou, como é hábito entre nós... 

Leiteiros na Rua Alexandre Herculano |1909|
Esquina com Rua Castilho
E o leitequenteespumava para dentro das vasilhas e cheirava que era um regalo. E a rapaziada logo se refastelava com aquele lanche magnífico que as mães lhes dava, ignorando que a falta de fervura o tornava pouco higiénico.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo. Infelizmente a imagem é de baixa qualidade/resolução, graças ao paupérrimo trabalho de digitalização efectuado pelo Arquivo Municipal de Lisboa (AML).

Bibliografia
CÂNCIO, Francisco, Arquivo alfacinha, 1953
DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, 1986.

Sunday 4 June 2023

Profissões de antanho: o vendedor ambulante de gravatas

Os chineses, como vendedores ambulantes, fizeram época.
Foram eles que primeiro apareceram nas ruas de Lisboa a vender gravatas e bugigangas — recorda Dinis Calderon —  colares de vidros de várias cores, pó-de-arroz especial, anéis eléctricos que tinham a vantagem de dominar o reumático, etc. Naquele tempo era vê-los pela Baixa na sua voz branda: — Qui quer glavatas de linda colores? Qui quer deixar de padecê reumatique?

Profissões de antanho: o vendedor ambulante de gravatas |1960|
Avenida de Roma, junto ao n.º 30; o arruamento que se vê à esq. dava acesso à Piscina do Areeiro.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Antes tinham aparecido as chinesas dos bichos que prometiam curar todas as doenças dos olhos, pois tiravam uns bichinhos que elas afirmavam provocar inflamações e outros males. Teve de intervir a polícia, pois o povo, sempre crédulo, procurava-as para se submeter aos tratamentos.
Mas os chineses, como vendedores ambulantes, foram desaparecendo pouco a pouco das ruas, cedendo a venda das gravatas a todo o comerciante de ocasião que facilmente os substituíram, comércio que pouco durou depois do 25 de Abril, uma vez que, após a liberdade, todos adquiriram o direito de andar sem gravata!... E, o negócio deixou de interessar, considerada a gravata um objecto decorativo, só para cerimónias oficiais, casamentos e baptizados...==

Profissões de antanho: o vendedor ambulante de gravatas |1960|
Avenida Almirante Reis junto à Alameda Dom Afonso Henriques 
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, 1986.

Friday 2 June 2023

Palacete das Chagas (ou Viana)

No palacete n.º 7 a 15 da Rua das Chagas está instalado o Instituto Comercial de Lisboa, que resultou (1918), nas evoluções do ensino técnico, do desdobramento do antigo Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Foi aqui no século XVI — recorda Norberto de Araújo — o Solar dos Condes da Cunha; o palacete actual pertenceu a Gaspar Viana, foi sede da Legação de Espanha, moradia do Marquês da Foz, e sede da Sociedade de Geografia de 1891 a 1897.
O sítio a cavaleiro da Bica popular, pitoresca e tumultuosa, dá uma zona tranquila, na vizinhança do Camões e do Loreto.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 52, 1939)

Palacete das Chagas (ou Viana) |1943|
Rua das  Chagas, 7-15 (2º edifico)
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

A Rua das Chagas termina no alto do mesmo nome, cujo admirável ponto de vista foi completamente sacrificado pela construção de novos prédios. A Igreja das Chagas, ali existente, foi fund. em 1542 por pilotos e mestres da Carreira da Índia. A imagem tradicional que trouxeram da Índia, no séc. XV, os irmãos marítimos era a de N. Senhora da Piedade, chamada das Chagas de Cristo, e que acabou por se fixar na memória de Lisboa este topónimo «das Chagas.
Foi nessa igreja, segundo a lenda, que Camões viu pela primeira vez Natércia, na quarta-feira santa de 1542. [Guia Portugal: 1924]

Palacete das Chagas (ou Viana) |1959|
Rua das  Chagas, 7-15
A extremidade ocidental da rua do Ataíde, era designada antes do terramoto por calçadinha das Chagas, ou Calçadinha da Igreja das Chagas. Nos meados do século XVII era a rua da Porta das Chagas ou da Porta da Travessa das Chagas. [Macedo: 1940]
Fernando Matias, 
in Lisboa de Antigamente

Web Analytics