Sunday 31 October 2021

Torre de Alfama (ou de São Pedro)

Entremos no Largo de S. Rafael, onde se levanta, altaneira, a velha Torre de Alfama. Faltaria no pitoresco de Alfama qualquer coisa de fundamental — diz Norberto de Araújo — se nele não existisse ainda um padrão arqueológico, um testemunho vivo e eloquente dos seus pergaminhos. E ei-lo: a Tore de Alfama!

E estamos sobre o eirado ajardinado da Torre. A cerca de Lisboa moura era relativamente grande, como to disse pormenorizadamente, na Peregrinação I. Pois pouco resta dela; aqui e ali uma sentinela esquecida, como esta, de quem raros se lembram. Não estranhes a ternura, mais que devoção arqueológica, que eu ponho neste passo da jornada.
É esta alta Torre — oca?

Torre de Alfama (ou de São Pedro) [1962]
Largo de S. Rafael 
Armando Serôdio, in AML

Não o sabem os proprietários dela. (Proprietários em usufruto, pois o monumento, como todos deste género, é da Cidade). Algumas sondagens feitas não deram resultado. O certo — digo-to eu, Dilecto, porque mo ensinaram os Mestres em seus livros — é que um dos condenados da conjura contra D. João II recebeu a pena de ser metido na Torre de Alfama «e aí esteve metido todos os dias da vida».
A Torre era esta. Oca foi pois.==

Torre de Alfama (ou de São Pedro) [1962]
Largo de S. Rafael 
Armando Serôdio, in AML

N. B. A existência neste local de uma nascente reforça a tese desta torre avançada se destinar à protecção de um ponto de abastecimento de água. Entre os finais dos séculos XIV e XV foi usada como prisão.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 64, 1943.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 46-48, 1939.

Friday 29 October 2021

Largo de São Rafael

Aí temos no Largo, no prédio n.° 2 — recorda Norberto de Araújo — , um registo de azulejo dando N. Senhora, Santo António e S. Marçal [entretanto removido, vd. 2ª imagem]. Os dois prédios contíguos já são do tipo original da Alfama, embora ainda discretos; noutro sítio de Lisboa seriam «uma graça». Por aqui, à força da acumulação dos motivos urbanos, não passam estes de triviais.
Eu calculo, sem exagero, em mais de uma centena o número de casas pitorescas neste histórico bairro, de vários tipos e idades, mas cada uma delas com sua característica própria e nota «pessoal»: raro é uma casa reproduzir-se de outra.

Largo de São Rafael [c. 1950]
Ao fundo nota-se um registo de azulejo dando N. Senhora, Santo António e S. Marçal, entretanto removido.
Estúdio Horácio Novais, in FCG

Este Largo de Alfama que se encontra na confluência entre a Rua São João da Praça, Rua de São Miguel, Beco das Barrelas e Rua da Judiaria é um topónimo fixado em Lisboa após o terramoto de 1755. De acordo com Gomes de Brito, a denominação radica no facto de neste arruamento ter havido a ermida da Congregação de S. Rafael. No local onde se ergueu a igreja paroquial de São Pedro destruída pelo terramoto foi construído um hospício e igreja de Nossa Senhora da Conceição ou dos Sufragadores das Almas do Purgatório, religiosos da Ordem que tinha por patrono o arcanjo S. Rafael e que acabou extinto em 1834.
Nesta artéria ergue-se a Torre de Alfama ou de S. Pedro.

Largo de São Rafael, 2 [1960]
Painel de azulejos representando Nossa Senhora da Conceição, Santo António e São Marçalentretanto removido.
Armando Serôdio, in AML

Sunday 24 October 2021

Rua da Prata que foi «Bela da Rainha»

As instruções do decreto de 12 de Junho de 1758 classificam as «ruas principais» da Baixa Pombalina e atribuem-lhes a largura máxima de sessenta palmos, com dez de cada lado para os passeios, e cloacas — cuja construção e conservação adviriam aos proprietários fronteiros. Passeios públicos também surgem nas ruas secundárias, de quarenta palmos, cuja utilidade "para a liberdade do ar e da luz" era sublinhada, numa consciência urbanística e sanitária nova.

A altura das casas era ali regulamentada, aferindo-a pela dos edifícios do Terreiro do Paço e já não com dois andares mas com o número deles que coubessem em tal pé direito; o desenho das fachadas, ainda não fixado, determinava, porém, janelas sacadas (ou «rasgadas») nos primeiros andares e janelas de peito (ou «de peitoril») nos outros, nas ruas principais , e só janelas de peito nas outras vias, prevendo portais especialmente tratados em ruas como as de S. Francisco e de S. Roque, de modo a distinguirem «casas nobres».

Rua da Prata (S→N) com a  Rua de São Julião [1930]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

As «ruas principais» seriam aquelas que corriam no sentido S→N, ligando as duas praças — do Terreiro do Paço e do D. Pedro IV — , e que receberiam os nomes de «Augusta» — a do meio, «Áurea» — a sua paralela a poente, e (mais tarde) «Bela da Rainha»  — hoje da Prata, a nascente,  embora só as duas primeiras fossem mencionadas como «ruas nobres»; mas também seria considerada principal uma outra rua correndo transversalmente e que receberia o nome de Nova d'El-Rei — hoje do Comércio. Era, de certo modo, a antiga e tradicional Rua Nova dos Ferros, disciplinada na nova malha mas ressuscitada, e sempre paralela, afinal, à face norte do Terreiro do Paço, no ponto onde uma rua importante continuava a ser necessária à imagem urbana.

Rua da Prata (S→N), pavimentação [c. 1951]
Horácio Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
FRANÇA, José Augusto  Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina , 1978.

Friday 22 October 2021

Largo de Andaluz

Desconhece-se a origem do nome do sítio. A mais simples — e. porventura, a mais razoável — é-nos revelada por João Sousa Moura em Vestigios da lingua arabica em Portugal: ou lexicon etymologico das palavras, e nomes Portuguezes, que tem origem arabica (1789):
ANDALUZ طر اندل Andalus. Nome de hum bairro, e de hum chafariz nos arrabaldes de Lisboa, Fregue2ia de S. Sebastião da Pedreira. He appellido de hum homem natural da Andalusia, de quem o lugar tomou o nome: e vem a ser o lugar do Andaluz.

Largo de Andaluz |c. 1940|
Esquina com o Largo das Palmeiras; à dir. o Chafariz de Andaluz; Rua de Santa Marta e o arco do viaduto da Avenida Duque de Loulé
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente
Largo de Andaluz |c. 1949|
Esquina com o Largo das Palmeiras; Edifício foi Prémio Municipal de Arquitectura, 1949. Projecto dos arquitectos Dário Vieira e José Lima Franco.
Mário Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Sunday 17 October 2021

Cinema Avis

Inaugurado em 1 de Janeiro de 1930 com o nome Trianon-Palace tinha capacidade para 538 espectadores. Em 1931, depois de remodelado com novo balcão e frisas, muda o título para “Cinema Palácio”  com lotação aumentada para 768 lugares, até reabrir como “Avis”. Este cinema foi um projecto do arq.º Raúl Lino para o seu amigo e cliente Augusto de Ornelas Bruges, proprietário à época, que tinha adquirido um terreno em frente da antiga estação de eléctricos do Arco do Cego. Considerada uma das maiores e mais elegantes salas de espectáculos  da capital, gozava de exclusividade, por não existir nenhuma outra nas imediações das chamadas «Avenidas Novas». 

Cinema Avis [1960]
 Avenida Duque de Ávila, 45
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Em 29 de Novembro de 1956, depois de profundas obras de remodelação, reabriu ao público com o nome de «Avis». Após anos a exibir filmes de estreia e enormes sucessos de bilheteira, encerrou portas em 1988, sendo o edifício demolido para dar lugar a prédios de habitação.

Anuncio ao Trianon-Palace «A mais elegante “boite” de Lisboa
realizada por Raúl Lino», in DL, 1930

Só nos anos de 1930 e 1931 — os primeiros do sonoro — abriram em Lisboa 10 novas salas de cinema. A primeira sessão de cinema sonoro de Lisboa teve lugar num cinema de bairro, o Royal Cine da Graça projectado pelo arquitecto Norte Júnior.

Cinema Avis [1956]
Foyer do Cinema Avis, projecto do arquitecto Maurício Vasconcelos (1925-1997)
 Avenida Duque de Ávila, 45
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Batista, Tiago, Cinemas de estreia e cinemas de bairro em Lisboa (1924-1932). 

Friday 15 October 2021

Panorâmica da Praça de Espanha

Sítio chamado de há muitos séculos Palhavã, onde se ergue o majestoso palácio deste nome, construído em 1660 pelo 2º conde de Sarzedas. Em 1918 foi leiloado e vendido pelos Azambujas ao Governo de Espanha, representado por D. Alejandro de Padilla, então Ministro Plenipotenciário que aí instalou a delegação do seu país. O palácio transitou no séc. XVIII para a posse dos marqueses do Louriçal e em 1861 foi adquirido pelo 3º conde de Azambuja, ou dos Lumiares como era conhecido.
 
Panorâmica da Praça de Espanha [1973]
Era a Praça situada na confluência das Avenidas António Augusto de Aguiar, Calouste Gulbenkian, de Berna, Columbano Bordalo Pinheiro e Santos Dumond, vulgarmente designada por Praça de Espanha.
Francisco Leite Pinto, in AML

Informação (Parecer) da Secção de Escrivania, solicitando oficialização do topónimo Praça de Espanha:
«Considerando que se trata de uma nomenclatura dado pelo vulgo que está suficientemente enraizada e tem plena justificação, a Comissão é de parecer que à praça situada na confluência das Avenidas António Augusto de Aguiar, Calouste Gulbenkian, de Berna, Columbano Bordalo Pinheiro e Santos Dumont, vulgarmente conhecida por Praça de Espanha, seja atribuída essa denominação que, assim, se torna oficial.» (22 de Janeiro 1979)

Sunday 10 October 2021

Palácio ou Paço das Necessidades

O Palácio ou Paço das Necessidades, com seus corpos de edifícios na parte Norte, e com sua fachada elegante e discreta, e da qual olhando o Tejo, avança a frontaria da Igreja, é, Dilecto, como observas, de um conjunto gracioso, e, como expressão arquitectónica, muito equilibrado.


Dilecto: o Palácio das Necessidades, como o de Belém constitui uma página viva da história política e realenga dos últimos cem anos. Escuso de te reavivar a memória. Não é indiferentemente que nos quedamos a olhar a sua fachada. Glórias e tragédias, alegrias e dores, confiança e certeza, fausto e penumbra — passaram por ele.
Não temos que o olhar com saudade, mas com um certo respeito comovido: não será do seu tempo aquele que for insensível às cousas do passado.

Palácio das Necessidades, pórtico da Capela, vendo-se o pináculo de Torre |c. 1900|
Largo das Necessidades
A Frontaria, sobre o Largo das Necessidades, em três corpos de edifício,  contínuos, adornados de vinte e quatro janelas de sacada, coroadas de ática; e  nela, como parte integrante, a frontaria da Capela.
Fotógrafo não identificadoin Lisboa de Antigamente

Deve-se a D. João V o Paço das Necessidades, hoje Palácio Nacional, e sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Desde 1607 que existia neste sitio do Alto de Alcântara uma ermidinha da invocação de N.ª Senhora das Necessidades, cuja irmandade foi constituída por marítimos da carreira da Índia. Meio século depois (1659) Pedro Castilho, servidor de D. João IV, comprou umas casas contiguas à Ermida, ampliando o piedoso sacelo [pequeno templo ou santuário] das Necessidades; no meado do século XVIII a Ermida e um largo prazo de terreno da Lapa (ou Cova) da Moura e da Ribeira de Alcântara pertenciam a um descendente daquele Pedro Castilho, Gaspar (ou Baltasar) Pereira Lago de Castilho. Foi a este que o Rei D. João V, que atribuiu a intercessão da Senhora das Necessidades à cura de uma grave doença (1742), comprou terrenos e casas com o tríplice objectivo de erguer uma nova igreja condigna, de edificar um paço real e de construir uma grande casa para os padres da Congregação do Oratório. O arquitecto Caetano Tomás de Sousa traçou o projecto, ficando a Igreja de N.ª Senhora das Necessidades integrada no Paço, e este contiguo ao convento e à sua larga quinta. As obras principiaram logo em 1748 e estariam concluídas em 1750.

Palácio das Necessidades |post. 1910|
Largo das Necessidades
O p6rtico da Capela, aberto por três arcos laterais entre quatro colunas, e por dois arcos laterais, e, nele, um vestíbulo ou galilé.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
Palácio das Necessidades |1908|
Largo das Necessidades
A Guarda no Palácio das Necessidades após o Regicídio.
Alberto Carlos Limain Lisboa de Antigamente

O irmão de D. João V, infante D. Manuel, aventureiro militar da Europa, dado camo pretendente ao trono da Polónia, e que regressara à Pátria em 1784, foi o primeiro morador do novo Paço, ainda que por pouco tempo, e depois o seu irmão D. António. Até D. Maria, porém, os soberanos não residiram senão eventualmente nas Necessidades, servindo este Paço para hospedar príncipes estrangeiros (o príncipe de Gales, depois Jorge I V, por exemplo, e seus irmãos) ou algum infante da Casa de Bragança. D. Maria II é que fez das Necessidades residência habitual, assim como D. Pedro V e D. Estefânia (que nele morreram), D. Manuel II, que no Paço residia quando da revolução de 8 de Outubro de 1910.
Proclamada a República, o Palácio das Necessidades, como outros paços reais, entrou no património da Nação; esteve alguns anos encerrado até que em 1916 para ele se transferiu da ala Nascente da Praça do Comércio o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Palácio das Necessidades |c. 1870|
Largo das Necessidades
A varanda superior da Capela, e nela, as estátuas de S. Felipe Nery e de S. Francisco de Şales, obra de Alexandre Giusti, e ainda a estátua de S. Pedro, a um lado da porta, do mesmo escultor italiano, e a de S. Paulo, do outro lado, trabalho do escultor português António de Almeida.
Francesco Rocchini, 
in Lisboa de Antigamente

Interiormente, nas salas e mesmo nos pátios, foi, em várias épocas, o Palácio beneficiado, restaurado e transformado, nomeadamente em 1836 quando do casamento de D. Maria II com D. Fernando, cujas iniciais subsistiam entrelaçadas em muitos motivos decorativos, e em 1886 quando do casamento de D. Carlos com D. Maria Amélia de Orleans. Pode afirmar-se, porém, que a estrutura do Palácio é a original, pois o Terremoto de 1755 nenhuns danos lhe causou. De 1910 até à data variaram, porém, quási totalmente, as utilizações das salas e câmaras, adaptadas a repartições e gabinetes, sendo o recheio substituído e realizadas algumas transformações decorativas. A capela não tem culto desde 1910 e muitas das suas alfaias e imagens encontram-se no Palácio da Ajuda, em depósito. A antiga «Casa Forte das Necessidades» onde se guardava o «Tesouro», está vazia, havendo sido transferidas as suas preciosidades de ourivesaria para o Museu de Arte Antiga.

Fotografia aérea da zona de Alcântara, vendo-se na esquerda alta, o Palácio e a Tapada das Necessidades |1971|
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Do antigo Convento da Congregação do Oratório apenas restam silhares de azulejos. Quanto ao Palácio, cujo recheio quási inteiramente desapareceu daqui para outros palácios nacionais, conserva ainda o seu ar palaciano, um certo ambiente austero de beleza fria, e salas que mal fazem lembrar a opulência antiga.
Nota, Dilecto, a torre da antiga Igreja, recuada à esquerda da frontaria do edifício. Parece uma sentinela de Nossa Senhora das Necessidades.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Paços e  palácios nacionais, 1946.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 18-19, 1939.

Friday 8 October 2021

Largo do Calvário

Ora, Dilecto — diz Norberto de Araújo — estamos no Largo do Calvário, coração do bairro urbano desenvolvido no final do século passado [XIX], e já com expressão própria, ainda que limitada.
E do Calvário — porquê? Porque neste sítio, no lado sul da Rua Primeiro de Maio, antiga de S. Joaquim, existiu um Convento, das religiosas franciscanas, e que datava de 1617.

Como a própria Alcântara, de individualidade muito mais marcante, no século XVII, e mesmo no XVIII, o Calvário pouco mais era do que uma Póvoa aflorando timidamente de entre quintas, herdades e hortas a norte, como mar a beijar-lhe a orla por edificar. 

Largo do Calvário |1930|
Frente ao Paço Real de Alcântara, situado a sul do já então Largo do Calvário encontravam-se as enormes cocheiras reais; em 1903 aí existia o Clube de Lisboa (ou o Clube do Calvário) e só em 1911 foi instalada a Sociedade Promotora de Educação Popular. O Cinema Promotora, foi inaugurado em 1912. 
Ao centro, o Lactário n.º 3.
Fotógrafo não identificado, iin Lisboa de Antigamente

Antes do Convento se erguer no lugar onde a Quinta do Porto (do «porto», porque aqui atracavam barcos) edificara-se no final do século XVI um solar particular, destinado a ser «alguém» no sítio: foi esse solar que deu o Palácio ou Paço Real do Calvário, mais rigorosamente «de Alcântara», mas que recebeu a designação invocativa do orago do Convento, seu fronteiro, e assim ajudou a fundamentar o nome de um sítio (Calvário) dentro de outro (Alcântara).==

Largo do Calvário |1965|
Frente ao Paço Real de Alcântara, situado a sul do já então Largo do Calvário encontravam-se as enormes cocheiras reais; em 1903 aí existia o Clube de Lisboa (ou o Clube do Calvário) e só em 1911 foi instalada a Sociedade Promotora de Educação Popular. O Cinema Promotora, foi inaugurado em 1912.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», vol. IX, p. 30, 1939.

Sunday 3 October 2021

Palácio Alagoas (ou Cruz-Alagoa)

Desde este ponto — Rua Maestro Pedro de Freitas Branco — até à esquina da antiga Real da Fábrica das Sedas — recorda Norberto de Araújo — ergue-se um edifício urbano enorme, uniforme, com rés-do-chão, andar nobre e um segundo andar, e capela.

Foi este o palácio dos Morgados de Alagoa, edificado entre 1757 e 1762, em terras do já citado D. Rodrigo, por José Francisco da Cruz Alagoa, antepassado dos Condes de Sobral.
Arrendado em parte a vários inquilinos logo poucos anos depois de construído, vivendo noutra parte a família do proprietário, foi posto à venda em 1835 por morte do Cruz Alagoa. Pertenceu depois ao Dr. José Vaz Monteiro, e de mão em mão acabou por se subdividir em duas propriedades: a principal que estamos vendo n.º 177 a 195 é desde 1918 do Visconde de Sacavém, havendo antes pertencido ao Dr. Magalhães Barros; a da esquina, n.º 167 a 175, pertence ao Dr. Carlos Chapalimaud.

 

Palácio Alagoas (ou Cruz-Alagoa) |1968|
Rua da Escola Politécnica, 161-195, esquina com a Rua Maestro Pedro de Freitas Branco
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Palácio Alagoas (ou Cruz-Alagoa) |1927|
Rua da Escola Politécnica, 161-195, esquina com a Rua Maestro Pedro de Freitas Branco
Barricada junto do Palácio Alagoa durante a Revolta de Fevereiro de 1927 vendo-se os vestígios da metralha que atingiu vários edifícios nesta zona.
Ferreira Cunha, in Lisboa de Antigamente

Mostra este casarão um certo ar solarengo português embora sem beleza; a capela, que foi invocação de Santo António, com seu janelão de coro e óculo iluminante, hoje [em 1939] profanada, tem silhares de azulejos do Rato, e possuía alguns painéis. O portal principal conduz ao pátio que foi nobre, por um corredor com seu passadiço.

Palácio Alagoas (ou Cruz-Alagoa) |1961|
Rua da Escola Politécnica, 161-195; perspectiva tomada da antiga Fábrica das Sedas e que emprestou o nome a este troço da rua até 1859.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 20-21, 1939.

Friday 1 October 2021

Campo dos Mártires da Pátria, esquina com a Rua Gomes Freire

Espreita-me agora, Dilecto — diz Norberto de Araújo — daqui, da esquina que nos levará a Santo António dos Capuchos, o que resta de humilde, na primitiva fase da construção urbana popular, no Campo de Sant'Ana de hoje.

Campo dos Mártires da Pátria, esquina com a Rua Gomes Freire |c. 1938|
O prédio de rendimento (esq.) com número de polícia 69-70 ainda lá está, orgulhosamente de pé. Já os outros dois ao lado deste foram demolidos e no seu lugar ergue-se, actualmente n.º 72, um prédio de «jeito moderno» conforme relembra mestre Araújo.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

São aquelas casitas, à direita, quási na esquina, n.ºs 71 a 77 [actual n.º 72], uma triste ruína representativa deste sitio, do tempo da sua Praça de Touros. Ao lado se levantou, em Março deste ano [1938], no lugar de velhos pardieiros já condenados desde 1906(!) e só agora demolidos, um prédio de jeito moderno, a desdizer da vulgaridade arquitectónica do Campo.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, 1938)

Campo dos Mártires da Pátria, esquina com a Rua Gomes Freire |ant. 1938|
Edifícios já demolidos.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

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