Monday 4 January 2016

Praça Dom João da Câmara que foi Largo de Camões

Foi neste arruamento próximo do Teatro D. Maria II que a edilidade decidiu perpetuar como Praça, o nome do dramaturgo D. João da Câmara, com a legenda «Figura Gloriosa do Teatro Português, 1852–1908», embora o edital de 1924 tenha por lapso mencionado Largo e, durante décadas, se tenha mantido a duplicação de referências, ora como Largo ora como Praça.

Praça Dom João da Câmara [Início do séc. XX]
Antigo
Largo de Camões;

Confluência da Rua 1º de Dezembro, Praça D. Pedro IV e Largo do Regedor.
Estação do Rossio; Hotel Avenida Palace
Alexandre Cunha, in Lisboa de Antigamente

Dom João Gonçalves Zarco da Câmara (1852-1908), alfacinha do nascimento à morte, viveu no Palácio Ribeira Grande, à Junqueira, (vide artigo anterior) e embora fosse engenheiro dos caminhos-de-ferro dedicou-se à escrita, sobretudo a de teatro, tendo-se estreado em 1876 no teatro D. Maria com a comédia «Ao Pé do fogão». Como seus êxitos maiores destacam-se as operetas «O burro do Sr. Alcaide» (1891) e «Cocó, reineta e facada» (1893), bem como as peças «Bernarda no Olimpo» (1874), «Meia-Noite» (1890), «D. Afonso VI» (1890), «Alcácer Quibir» (1891), «Os Velhos» (1893), «A Toutinegra Real» (1894), «O Amigo das mulheres» (1896), «Triste Viuvinha» (1897), «Rosa Enjeitada» (1901) e «Ali-babá» (1904). Dom João da Câmara publicou também poemas, romances e contos para além da sua colaboração na revista «O Occidente» e de ensinar Arte de Representar no Conservatório de Lisboa.[cm-lisboa.pt]


Praça Dom João da Câmara [Início do séc. XX] 
Antigo Largo de Camões;
Confluência da Rua 1º de Dezembro, Praça D. Pedro IV e Largo do Regedor
Café Suisso; Teatro D. Maria; Castelo São Jorge; Café da Gare; Praça Dom Pedro IV
Alexandre Cunha, in Lisboa de Antigamente

Esta artéria era o Largo de Camões, já assim denominado em 1858 no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa de Filipe Folque.
Há quem suponha que este Camões é o nosso épico Luiz de Camões. Errada suposiçãoJoão Paulo Freire  — jornalista, poeta, ensaísta, novelista — esclarece o motivo das trocas e baldrocas com este topónimo:
O Camões do Rossio nada tem que ver com o Camões das Duas Igrejas [actual Praça de Luís de Camões]. Este é o épico. Aquele é apenas o seu homónimo por antonomásia — Caetano José da Silva Souto Mayor, poeta epigramático, muito espirituoso, e que foi corregedor da corte de D. João V, juiz do Crime do Bairro da Mouraria, e corregedor do Bairro do Rossio, onde morava, pois residiu sempre no prédio onde mais tarde se construiu o actual que é ocupado pela Brasileira. A Câmara do tempo, querendo perpetuar-lhe a memória e galardoar-lhe os serviços teve a péssima ideia de dar ao Largo que resultou das construções e rectificações de 1840 o nome que os condiscípulos de Caetano José lhe haviam aplicado nos bons tempos de Coimbra, e a vereação que já no nosso tempo mudou o nome para D. João da Câmara, supondo que este Camões era o das Duas Igrejas, foi igualmente estúpida porque o célebre Corregedor merecia bem que o seu nome figurasse no pequenino Largo que foi quasi que ideia sua, entusiasmo seu e seu prazer.
Assim é que estava certo e ficava bem, mas para isto era preciso que quem fez a mudança soubesse primeiramente quem era o Camões que tinha dado nome ao Largo. Porque foi desta ignorância primária que partiu aquela asneira de palmatória.
(FREIRE, João Paulo, Lisboa do meu tempo e do passado, Lisboa, 1931-1939)

Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, sob orientação de Filipe Folque, [1858]
Assinalado a vermelho, o largo de Camões, hoje Praça Dom João da Câmara
in Lisboa de Antigamente

3 comments:

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    Permita-me apenas um comentário. Dom João da Câmara viveu e morreu na rua da Junqueira, no palácio dos Condes da Ribeira (antigo liceu Rainha Dona Amélia). Na fachada desse palácio existe uma placa alusiva ao poeta, colocada pela CML em 1922.

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