Sunday, 21 December 2025

Monumento ao Marquês de Pombal

Em 1910, poucos anos depois das comemorações das comemorações do Centenário da Índia, a Praça Marquês de Pombal estava edificada como hoje [em 1939].
Quedemo-nos uns momentos diante do monumento ao Marquês de Pombal. 


A ideia de se erguer um monumento ao estadista, reedificador de Lisboa, é antiga, mas só lhe foi dada expressão pública em 1882, ano em que o Parlamento autorizou o Estado a ceder o bronze necessário. Em Abril daquele ano — recorda o ilustre olisipógrafo Norberto de Araújo — constituiu-se uma comissão encarregada de promover a subscrição nacional, presidida por Rodrigues Sampaio.
Os trabalhos não tiveram sequência, e só em 1905 se voltou a um plano prático, constituindo-se nova comissão, presidida pelo Conselheiro Veiga Beirão, havendo a subscrição pública sido iniciada a 6 de Maio. Contudo, ainda desta vez a iniciativa não foi coroada de êxito, talvez porque logo em 1906 começou a agitação política que dominava todos os pensamentos.
Proclamada a República, a ideia de dar realização séria à iniciativa de havia quarenta anos, ressurgiu. Em 1913 realizou-se o concurso para o monumento, sendo apresentados catorze projectos, e aprovados quatro; destes, acabou por ser preferido (5 de Abril de 1914) aquele que sob a legenda «Gloria Progressus - Delenda reactio» era assinado por Adães Bermudes, António Couto e Francisco Santos. A escolha, feita por um júri idóneo, ao qual presidia o professor e director da Escola de Belas Artes, José Luiz Monteiro, provocou enorme celeuma, havendo muitas personalidades de categoria artística e intelectual que preferiam o projecto do arquitecto José Marques da Silva e do escultor António Alves de Sousa (ambos artistas portuenses).
A primeira pedra para o Monumento foi colocada em 15 de Agosto de 1917, mas em 13 de Maio de 1926 a cerimónia repetiu-se, havendo discursado o Dr. Bernardino Machado, Presidente da República, e D. Tomaz de Vilhena, descendente do «Grande Marquês» qualificativo tradicional da família — , e ao tempo deputado monárquico.

Monumento ao Marquês de Pombal
Fundações da estátua |1927|
Fotógrafo não identificado, in LdA

Monumento ao Marquês de Pombal
Obras de desaterro |1924|
Fotógrafo não identificado, in LdA




















As obras vinham-se arrastando, por falta de verba, desde 1914. Em Março de 1924 foi nomeada uma nova comissão, à qual presidia o Dr. Magalhães Lima, estando na vice-presidência o general Vieira da Rocha; o rendimento dos selos emitidos em Dezembro de 1924 não satisfez, mas as obras de 1925 para diante entraram na fase definitiva da sua actividade. Em 13 de Maio de 1930 o Presidente da República, general Oscar Carmona, visitou as obras, já em vulto neste local. A grande estátua foi completamente assente sobre o alto fuste em 2 de Dezembro de 1933.
Finalmente em 13 de Maio de 1934 foi inaugurado o monumento, sem a solenidade que parecia de supor; assistiram o Ministro das Obras Públicas, engenheiro Duarte Pacheco, o presidente da Câmara Municipal, tenente-coronel Linhares de Lima, o governador civil, tenente-coronel João Luiz de Moura, e o presidente da Comissão, general Vieira da Rocha.
Estas anotações cronológicas, apesar de deficientes, reputo-as necessárias, pois andavam dispersas. Dêmos volta ao monumento.
Vejamos primeiramente o pedestal. Essa figura de mulher, constituída por dois blocos de pedra que pesam 17.250 quilos, na frente do monumento, representa «Lisboa reedificada»; tem cinco metros de altura — não o dirias. Sob o plinto em que ela assenta, vemos a proa de uma nau simbolizando a libertação da marinha mercante. Em baixo, dos lados, representa-se o cataclismo que assolou Lisboa na terra e no mar; destacam-se as esculturas de Plutão e Poseidon, este simbolizado num cavalo-marinho.

Monumento ao Marquês de Pombal
Ao fundo nota.se o estaleiro de obra |1934|
Tomada da Braamcamp para a Av. Fontes.
Fotógrafo não identificado, in LdA
Monumento ao Marquês de Pombal
Cabeça da figura do Marquês |1934|
Ao fundo ve-se a R. Braamcamp.
Ferreira da Cunha, in LdA



























Analisemos agora os grupos escultóricos laterais do pedestal, em seu conjunto admiráveis, apesar de algum senão que lhes possas notar. No grupo da esquerda, lado nascente, simboliza-se a agricultura, com o trabalho da lavoura, através de uma junta de bois, e de figuras bem tratadas escultoricamente, e das quais sobressaem o homem que sustenta o arado e a mulher que transporta o cabaz com uvas. O grupo do lado oposto simboliza a indústria e a pesca: um cavalo arrasta as redes, e um operário sopra o vidro; eis um conjunto também de merecimento, não apenas pela disposição mas pelo lavor das várias figuras.
Os escultores, professor Simões de Almeida e Leopoldo Neves de Almeida, que já eram colaboradores do ilustre Francisco Santos, falecido em Abril de 1930, foram os realizadores destes trabalhos, como aliás de outros que valorizam o monumento.
Na face norte (posterior) do monumento construiu-se uma alegoria objectiva à reforma da Universidade de Coimbra [vd. imagem seguinte]. Destaca-se — nota — essa figura de Minerva, em bronze, sentada, adiante do pórtico da «Universitas Conimbricensis».


Monumento ao Marquês de Pombal, face norte (posterior) |1953|
Destaca com a presença, na fachada, de um edifício clássico que simboliza a Universidade de Coimbra, à frente do qual está uma estátua de Minerva, sentada, em bronze.
Em primeiro plano nota-se o Lago do Parque Eduardo VII.
Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente

No fuste, de grande superfície, vêem-se nas suas quatro faces legendas que exaltam o estadista e reformador; na face principal lês, comigo: «Ao genial estadista Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal — a Pátria reconhecida — MCMXXXIV».
O capitel do obelisco ostenta quatro medalhões, enlaçados nos cunhais por quatro águias; no medalhão da frente enquadra-se  a efigie de Machado de Castro, no do poente as de D. Luiz da Cunha, Eugénio dos Santos e Manuel da Maia, no posterior a de Ribeiro Sanches, e no do lado nascente as de Luiz Verney, Serra da Silva e Conde de Lipe. Foram estes os principais colaboradores de Pombal.
Finalmente, ao alto, está o grupo fulcro do monumento — que mede, de alto abaixo, 36 metros: o Marquês, de corpo inteiro, assenta o braço sobre o dorso de um leão, na simbólica da serenidade e da força. Este grupo, de grandes dimensões (basta dizer que tem a altura de cinco homens) é de realização primorosa, prejudicada contudo na visão perspectival à distância, quando tomada do Norte e do Poente.

Monumento ao Marquês de Pombal (em obra) |1934-04-05|
No topo do monumento, sobressaem quatro medalhões que retratam os principais colaboradores de Pombal, incluindo Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Machado de Castro.
Perspectiva tomada da Av. da Liberdade.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Também este grupo principal foi concluído por Simões de Almeida; a cabeça da figura do Marquês [vd. imagem acima], ainda em formação no barro, com 1,80 de altura , de enorme peso, ruíra no atelier de Francisco Santos no próprio dia em que o artista morrera (29 de Abril de 1930).
Quatro grandes colunas de mármore nobre , cada uma com quatro candelabros de braço, em bronze, decoradas com florões e laços — bom trabalho de «atelier» e de fábrica , mas de gosto discutível — guarnecem o monumento.
E aí tens num dos degraus da escadaria do sopé: «Autores: Adães Bermudes, arquitecto; António Couto, arquitecto; Francisco Santos, estatuário; colaboradores, Leopoldo de Almeida, estatuário; Simões de Almeida, estatuário».

 

Inauguração do monumento ao marquês de Pombal |1934-05-13|
 O Marquês, de corpo inteiro, assenta o braço sobre o dorso de um leão, na simbólica da serenidade e da força.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

E, Dilecto, com paz na consciência, e sem beliscadura de sectarismo, digamos adeus ao monumento a Pombal. Antes, porém, anota as legendas cronológicas da vida do Marquês, e que no empedrado à portuguesa ilustram as placas que compõem a Praça.

Monumento ao Marquês de Pombal |1938-10-06|
Na base, várias figuras alegóricas dão vida à cena, como uma figura feminina que simboliza Lisboa reconstruída e três grupos escultóricos que representam as reformas de Pombal na agricultura, indústria e ensino.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa», vol. XIV, pp. 44-48, 1939.
BRITO, Francisco Nogueira de, Roteiro ilustrado de Lisboa e arredores, 1935.

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