Em 1910, poucos anos depois das comemorações das comemorações do Centenário da Índia, a Praça Marquês de Pombal estava edificada como hoje [em 1939].
Quedemo-nos uns momentos diante do monumento ao Marquês de Pombal.
A ideia de se erguer um monumento ao estadista, reedificador de Lisboa, é antiga, mas só lhe foi dada expressão pública em 1882, ano em que o Parlamento autorizou o Estado a ceder o bronze necessário. Em Abril daquele ano — recorda o ilustre olisipógrafo Norberto de Araújo — constituiu-se uma comissão encarregada de promover a subscrição nacional, presidida por Rodrigues Sampaio.Os trabalhos não tiveram sequência, e só em 1905 se voltou a um plano prático, constituindo-se nova comissão, presidida pelo Conselheiro Veiga Beirão, havendo a subscrição pública sido iniciada a 6 de Maio. Contudo, ainda desta vez a iniciativa não foi coroada de êxito, talvez porque logo em 1906 começou a agitação política que dominava todos os pensamentos.Proclamada a República, a ideia de dar realização séria à iniciativa de havia quarenta anos, ressurgiu. Em 1913 realizou-se o concurso para o monumento, sendo apresentados catorze projectos, e aprovados quatro; destes, acabou por ser preferido (5 de Abril de 1914) aquele que sob a legenda «Gloria Progressus - Delenda reactio» era assinado por Adães Bermudes, António Couto e Francisco Santos. A escolha, feita por um júri idóneo, ao qual presidia o professor e director da Escola de Belas Artes, José Luiz Monteiro, provocou enorme celeuma, havendo muitas personalidades de categoria artística e intelectual que preferiam o projecto do arquitecto José Marques da Silva e do escultor António Alves de Sousa (ambos artistas portuenses).A primeira pedra para o Monumento foi colocada em 15 de Agosto de 1917, mas em 13 de Maio de 1926 a cerimónia repetiu-se, havendo discursado o Dr. Bernardino Machado, Presidente da República, e D. Tomaz de Vilhena, descendente do «Grande Marquês» qualificativo tradicional da família — , e ao tempo deputado monárquico.
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| Monumento ao Marquês de Pombal Fundações da estátua |1927| Fotógrafo não identificado, in LdA |
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| Monumento ao Marquês de Pombal Obras de desaterro |1924| Fotógrafo não identificado, in LdA |
As obras vinham-se arrastando, por falta de verba, desde 1914. Em Março de 1924 foi nomeada uma nova comissão, à qual presidia o Dr. Magalhães Lima, estando na vice-presidência o general Vieira da Rocha; o rendimento dos selos emitidos em Dezembro de 1924 não satisfez, mas as obras de 1925 para diante entraram na fase definitiva da sua actividade. Em 13 de Maio de 1930 o Presidente da República, general Oscar Carmona, visitou as obras, já em vulto neste local. A grande estátua foi completamente assente sobre o alto fuste em 2 de Dezembro de 1933.Finalmente em 13 de Maio de 1934 foi inaugurado o monumento, sem a solenidade que parecia de supor; assistiram o Ministro das Obras Públicas, engenheiro Duarte Pacheco, o presidente da Câmara Municipal, tenente-coronel Linhares de Lima, o governador civil, tenente-coronel João Luiz de Moura, e o presidente da Comissão, general Vieira da Rocha.
Estas anotações cronológicas, apesar de deficientes, reputo-as necessárias, pois andavam dispersas. Dêmos volta ao monumento.
Vejamos primeiramente o pedestal. Essa figura de mulher, constituída por dois blocos de pedra que pesam 17.250 quilos, na frente do monumento, representa «Lisboa reedificada»; tem cinco metros de altura — não o dirias. Sob o plinto em que ela assenta, vemos a proa de uma nau simbolizando a libertação da marinha mercante. Em baixo, dos lados, representa-se o cataclismo que assolou Lisboa na terra e no mar; destacam-se as esculturas de Plutão e Poseidon, este simbolizado num cavalo-marinho.
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Monumento ao Marquês de Pombal Ao fundo nota.se o estaleiro de obra |1934| Tomada da Braamcamp para a Av. Fontes. Fotógrafo não identificado, in LdA |
| Monumento ao Marquês de Pombal Cabeça da figura do Marquês |1934| Ao fundo ve-se a R. Braamcamp. Ferreira da Cunha, in LdA |
Analisemos agora os grupos escultóricos laterais do pedestal, em seu conjunto admiráveis, apesar de algum senão que lhes possas notar. No grupo da esquerda, lado nascente, simboliza-se a agricultura, com o trabalho da lavoura, através de uma junta de bois, e de figuras bem tratadas escultoricamente, e das quais sobressaem o homem que sustenta o arado e a mulher que transporta o cabaz com uvas. O grupo do lado oposto simboliza a indústria e a pesca: um cavalo arrasta as redes, e um operário sopra o vidro; eis um conjunto também de merecimento, não apenas pela disposição mas pelo lavor das várias figuras.Os escultores, professor Simões de Almeida e Leopoldo Neves de Almeida, que já eram colaboradores do ilustre Francisco Santos, falecido em Abril de 1930, foram os realizadores destes trabalhos, como aliás de outros que valorizam o monumento.Na face norte (posterior) do monumento construiu-se uma alegoria objectiva à reforma da Universidade de Coimbra [vd. imagem seguinte]. Destaca-se — nota — essa figura de Minerva, em bronze, sentada, adiante do pórtico da «Universitas Conimbricensis».
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Monumento ao Marquês de Pombal, face norte (posterior) |1953| Destaca com a presença, na fachada, de um edifício clássico que simboliza a Universidade de Coimbra, à frente do qual está uma estátua de Minerva, sentada, em bronze. Em primeiro plano nota-se o Lago do Parque Eduardo VII. Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente |
No fuste, de grande superfície, vêem-se nas suas quatro faces legendas que exaltam o estadista e reformador; na face principal lês, comigo: «Ao genial estadista Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal — a Pátria reconhecida — MCMXXXIV».O capitel do obelisco ostenta quatro medalhões, enlaçados nos cunhais por quatro águias; no medalhão da frente enquadra-se a efigie de Machado de Castro, no do poente as de D. Luiz da Cunha, Eugénio dos Santos e Manuel da Maia, no posterior a de Ribeiro Sanches, e no do lado nascente as de Luiz Verney, Serra da Silva e Conde de Lipe. Foram estes os principais colaboradores de Pombal.Finalmente, ao alto, está o grupo fulcro do monumento — que mede, de alto abaixo, 36 metros: o Marquês, de corpo inteiro, assenta o braço sobre o dorso de um leão, na simbólica da serenidade e da força. Este grupo, de grandes dimensões (basta dizer que tem a altura de cinco homens) é de realização primorosa, prejudicada contudo na visão perspectival à distância, quando tomada do Norte e do Poente.
Também este grupo principal foi concluído por Simões de Almeida; a cabeça da figura do Marquês [vd. imagem acima], ainda em formação no barro, com 1,80 de altura , de enorme peso, ruíra no atelier de Francisco Santos no próprio dia em que o artista morrera (29 de Abril de 1930).Quatro grandes colunas de mármore nobre , cada uma com quatro candelabros de braço, em bronze, decoradas com florões e laços — bom trabalho de «atelier» e de fábrica , mas de gosto discutível — guarnecem o monumento.E aí tens num dos degraus da escadaria do sopé: «Autores: Adães Bermudes, arquitecto; António Couto, arquitecto; Francisco Santos, estatuário; colaboradores, Leopoldo de Almeida, estatuário; Simões de Almeida, estatuário».
E, Dilecto, com paz na consciência, e sem beliscadura de sectarismo, digamos adeus ao monumento a Pombal. Antes, porém, anota as legendas cronológicas da vida do Marquês, e que no empedrado à portuguesa ilustram as placas que compõem a Praça.
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa», vol. XIV, pp. 44-48, 1939.
BRITO, Francisco Nogueira de, Roteiro ilustrado de Lisboa e arredores, 1935.ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa», vol. XIV, pp. 44-48, 1939.







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