No fundo Norte deste Rossio — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , no sítio onde se levantou o teatro, mas a cair mais sobre Poente, foi construído, crê-se, com fundamentos, que pelo Infante D. Pedro (o mais nobre dos filhos de D. João I) o famoso Paço dos Estaus (cerca de 1450), para hospedagem de príncipes e de embaixadores, e a fim de poupar o povo ao tributo oneroso e vexatório das «aposentadorias», quando vinha algum senhor de fora ou mesmo do próprio Reino.
Na primeira metade de quinhentos, com certeza antes de 1566 — os «Estaus» foram arrancados ao seu seu destino, e convertidos em casa da Inquisição (que funcionara primeiro quando do seu estabelecimento em Portugal — 1536 — no Convento da Trindade). [...] Em 14 de Julho de 1836 um incêndio pavoroso devorou todo o edifício, de que ficaram paredes. Pensou-se em reedificar o edifício mas desistiu-se da ideia. [...]
Havia um homem que estava à espreita: Almeida Garrett. Pouco depois erguia-se o Teatro de D. Maria II. [Araújo: 1939]
Paço dos Estaus [c. 1844] Antigo palácio da Inquisição, destruído em 1836 por um incêndio. O Paço dos Estaus, edificado por volta de 1439 no local onde é hoje o Teatro Nacional Dona Maria II, serviu de alojamento para a corte, de aposentadoria de embaixadores e mesmo de Paço Real. A partir de meados do século XVI passa a ser sede do Tribunal do Santo Ofício. Legrand, C., 1839-1847; Litografia de Manuel Luís da Costa |
O Teatro
Nacional abriu as suas portas a 13 de Abril de 1846, durante as
comemorações do 27.º aniversário da rainha Maria II (1819-1853),
passando por isso a exibir o seu nome na designação oficial. Na
inauguração, foi apresentado o drama histórico em cinco actos O Magriço e
os Doze de Inglaterra, original de Jacinto Aguiar de Loureiro. Mas a
história do Teatro Nacional D. Maria II começa dez anos antes da sua
inauguração.
Teatro Nacional D. Maria II [c. 1858] Praça Dom Pedro IV e o «Galheteiro» do Roccio Amédée Lemaire de Ternante |
Na sequência da
revolução de 9 de Setembro de 1836, Passos Manuel assume a direcção do
Governo e uma das medidas que tomou nesse mesmo ano foi encarregar, por
portaria régia, o escritor e político Almeida Garrett de pensar o Teatro
português em termos globais e incumbi-lo de apresentar «sem perda de
tempo, um plano para a fundação e organização de um teatro nacional, o
qual, sendo uma escola de bom gosto, contribua para a civilização e
aperfeiçoamento moral da nação portuguesa».
Por esse mesmo
decreto, Almeida Garrett ficou encarregue de criar a Inspecção-Geral dos
Teatros e Espectáculos Nacionais e o Conservatório Geral de Arte
Dramática, instituir prémios de dramaturgia, regular direitos autorais e
edificar um Teatro Nacional «em que decentemente se pudessem
representar os dramas nacionais».
Teatro Nacional Dona Maria II, fachada principal [c. 1890] Praça D. Pedro IV Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente |
Entre 1836, data da criação
legal do teatro, e 1846, data da sua inauguração, o já existente e
decrépito Teatro da Rua dos Condes funcionou como provisório Teatro
Nacional. Após muita polémica, o local escolhido para instalar o
definitivo Teatro Nacional foram os escombros do palácio dos Estaus,
antiga sede da Inquisição e que, também em 1836, tinha sido destruído
por um incêndio. A escolha de um arq. italiano, Fortunato Lodi, para
projectar e executar o Teatro Nacional não foi isenta de críticas e só
em 1842 Almeida Garrett consegue dar início às obras.
Teatro Nacional Dona Maria II, fachada lateral sobre o de Largo S. Domingos [c. 1890] Praça D. Pedro IV Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente |
Durante um
largo período de tempo, o Teatro Nacional foi gerido por sociedades de
artistas que, por concurso, se habilitavam à sua gestão. Após a
implantação da República, passou a chamar-se Teatro Nacional de Almeida
Garrett.
Em 1964, o Teatro Nacional foi palco de um brutal
incêndio que apenas poupou as paredes exteriores e a entrada do
edifício. O edifício que hoje conhecemos, e que respeita o original
estilo neoclássico, foi totalmente reconstruido e só em 1978 reabriu as
suas portas.
(in teatro-dmaria.pt )Teatro Nacional Dona Maria II, fachada lateral virada à Praça D. João da Câmara [c. 1890] Praça D. Pedro IV Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
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