Nestes limites e extremos do Bairro Alto,
raros documentos citadinos oferecem um interesse tão simpático como este
Recolhimento das Órfãs, dependente da Misericórdia de Lisboa, aqui na
curva e esquina da Rua Luísa Todi, antiga Travessa da Estela; é mesmo uma das mais antigas instituições de assistência moral e educativa da velha Santa Casa.
O pequeno edifício, aliás gracioso, foi o do antigo Convento de S. Pedro de Alcântara, que deu nome ao local. Aí estás a ver a Casa, com seu portal agradável, com seu painel de azulejo, logo na frente do patim, à vista da Rua, e que representa S. Francisco, com sua escadaria que se desdobra, com seu adro simples e a galilé pequenina, que abre de três arcadas singelas e decorativas.
Erigido no Largo Rua de S. Pedro de Alcântara, no local onde foi o Palácio dos Condes de Avintes, e nos outros tempos, uma nobre morada de casas de Marcos Tinoco (Secretário da Mesa da Consciência e Ordens), este convento foi fundado pelo 1.° Marquês de Marialva, D. António Luís de Meneses, em 1680, para os religiosos Arrábidos, em cumprimento de um voto feito na Batalha de Montes Claros.
O edifício tinha inicialmente uma pequena igreja, e a cerca abrangia todo o quarteirão entre a Rua da Rosa, a Travessa do Sacramento e a Rua do Príncipe Real [actual D. Pedro V].
Os frades Arrábidos tomaram posse do terreno e das casas em 1672, mas apenas em 1680 seria lançada a primeira pedra na igreja, mudando-se os religiosos para lá só em 1685. Eram pouco mais de 40 frades.
Vivia esta Ordem em austeridade na Serra da Arrábida, conforme as regras iniciadas por Frei Martinho e Frei Pedro de Alcântara.
Em 1707, possuía a Congregação, na chamada Província de Portugal, cerca de 22 conventos, dos quais 20 pertenciam ao Bispado de Lisboa.
Com o terramoto de 1755 ficou bastante deteriorado. A igreja caiu inesperadamente, esmagando muitos seculares e especialmente algumas mulheres que assistiam ao culto do dia.
Foi posteriormente restaurada.
A Casa do Capítulo (da autoria de Manuel da Maia), o refeitório e os dormitórios (restaurados em tempos de D. João V), resistiram ao sismo.
Na igreja jaz o grande General da Restauração, que foi ao mesmo tempo fundador do convento, e no adro o Arcebispo de Évora, D. Veríssimo de Lencastre.
O 2.° Marquês de Marialva, D. Pedro António de Meneses, viria a promover o aumento da igreja com a reconstrução da capela-mor.
De referir no seu interior:
A escadaria com painéis de azulejos Setecentistas;
A entrada sob uma galilé de 3 arcos;
A célebre Capela dos Lencastres, com tectos de Pierre Bordes [tecto pintado em trompe l’oeile] telas atribuídas a Pedro Alexandrino [A Pregação de São João Baptista], Wolkmar Machado e Quillard [A Coroação da Virgem].
A igreja foi restaurada em 1878, já depois da extinção das Ordens Religiosas.
Serviu depois para recolhimento de raparigas desamparadas, com o nome de Asilo da Apresentação de Maria (Assistência Social), estando actualmente dependente da Misericórdia de Lisboa [por decreto de D. Pedro, Duque de Bragança, ex-imperador do Brasil, a 31 de Dezembro de 1833].
N.B. Em 1943 passou a ser administrado, em acordo de cooperação, pelas Irmãs da Província Portuguesa da Congregação da Apresentação de Maria. Actualmente designa-se por Instituto de S. Pedro de Alcântara. Este imóvel insere-se no tecido consolidado do Bairro Alto, classificado Conjunto de Interesse Público.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, p. 73, 1938
CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os conventos de Lisboa, p. 145, 1954
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