Sunday 26 April 2020

Lago do Parque Eduardo VII

A Avenida tinha os seus coretos onde aos domingos tocavam as bandas, a Rotunda tinha os tapumes de metro e meio para a futura estátua do Marquês e o Parque de Eduardo VII era um terreiro escalvado que servia para tudo, como os campos da feira das terras da província. Havia revoluções, o primeiro golpe estratégico era conseguir ocupar a Rotunda. Abriam-se trincheiras, colocavam-se peças e começavam a bombardear da Rotunda. Nos intervalos das escaramuças políticas, o alfacinha pegava no farnel e no garrafão e ia arejar para a Rotunda.

Lago do Parque Eduardo VII |1931|
Ao fundo destaca-se o monumento ao Marquês de Pombal em construção.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
Aparecia uma companhia de circo com montanha russa e fantoches, acampava na Rotunda. (...). Quando o futebol ensaiou os primeiros passos, ainda não se adivinhava o futuro do empolgante e glorioso desporto, o campo de futebol instalou-se na Rotunda. Como se isto não chegasse, a Câmara resolveu um dia favorecer a cidade com um lago [1929] com barquinhos.. 

Lago do Parque Eduardo VII |1931|
Ao fundo destaca-se o monumento ao Marquês de Pombal em construção.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Na Rotunda caía Lisboa em pesoComia-se um petisco e dava-se um passeio nas águas mansas já que a ida até Cacilhas era um prazer muito experimentado.
(AMARO, José, Cartas de um moinho saloio, p. 161, 1974) 

Lago do Parque Eduardo VII |c. 1940|
Ao fundo destaca-se o monumento ao Marquês de Pombal inaugurado em 1934.
Álvaro Torres (postal fotográfico), in Lisboa de Antigamente

Friday 24 April 2020

Rua do Sol ao Rato

Pois subamos a Rua do Sol — convida Norberto de Araújo. Esta, sim, que é artéria muito antiga – em relação à idade da freguesia – a velha Rua do Rato para o Salitre, descendo desde a extrema de S. João dos Bem-Casados [R. Silva Carvalho], ainda quando esta artéria não tinha a orientação actual. Os prédios desta Rua do Sol, do lado esquerdo, acusam quási todos cabelos brancos, na sua modéstia. Do lado direito, no começo, ficavam os amplos terrenos da Cêrca do Convento das Trinitárias do Rato, e que no meado do século passado [XIX] foram sendo retalhados para construções, que orlam a rua no primeiro trôço.

Rua do Sol ao Rato |post. 1933|
Junto à Rua da Páscoa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
 
O sol de Lisboa está presente na toponímia de diversos arruamentos da cidade e, um deles é este que liga o Largo do Rato à Rua Silva Carvalho e, que desde a década de cinquenta do século XX também refere a sua proximidade ao Largo do Rato: a Rua do Sol ao Rato.

Antiga Rua Direita do Rato (hoje Largo do Rato) e Rua do Sol ao Rato esquina com a Rua de S. Bento |1911|
Cantina escolar de São Mamede
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 67, 1939.

Sunday 19 April 2020

Igreja das Chagas (de Cristo)

Aqui temos a Igreja das Chagas — cujo adro foi um admirável miradouro de Lisboa. «As Chagas» é designação de ressonância bairrista, com projecção olisiponense. Anos houve em que a missa das Chagas tinha tom. Hoje, simpática, aprazível de local a-pesar-de «entaipada» de edificações, pouco mais é que uma evocação. 
A primitiva Igreja das Chagas datava de 1542, e sucedera a uma Capela que existia no Convento da Trindade, pertencente a uma Confraria das Chagas de Cristo, instituída em 1493 naquele Mosteiro por Fr. Diogo de Lisboa, e de que só eram irmãos os marítimos das Carreiras da Índia e Ultramar. O mesmo frade fez erguer aqui a Igrejinha, que era a paróquia dos homens da Índia, sujeita à Basílica romana de S. João Latrão. A imagem tradicional era a de N. Senhora da Piedade, chamada das Chagas de Cristo, que um mercador trouxera da Índia.

Panorâmica de Lisboa e do rio Tejo, vendo-se a Igreja das Chagas |1905|
Rua do Ataíde, Igreja; Rua das Chagas, 4-10
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A Igreja das Chagas tinha, em flanco, uma alta torre. O Terramoto reduziu a Igreja a escombros e o recheio a cinzas. Foi depois, reedificada como estás vendo: pobre e alegre.

Igreja das Chagas de Cristo, gravura
Rua do Ataíde, Igreja; Rua das Chagas, 4-10
in Lisboa de Antigamente

Pois entremos no pequeno templo — prossegue Norberto de Araújo — , aureolado de lendas e tradições, entre as quais aquela que nos diz que Luiz de Camões aqui se enamorou, durante uma solenidade de Sexta-feira Santa, de D. Catarina de Ataíde. A versão, sem fundamento histórico, está desfeita; nós, porém, temos uma certa ternura pelas lendas. E por isso te digo, Dilecto, com uma respeitável convicção, que «foi aqui que um grande poeta, ainda moço, se enamorou certa noite de uma linda menina, dama que foi da côrte, a lírica Natércia que havia de ser a «alma minha gentil...», etc.[...]
E êste sim, o soneto, é que não é lenda, e viverá enquanto houver literaturas no mundo!

Igreja das Chagas, fachada |1949|
Rua do Ataíde, Igreja; Rua das Chagas, 4-10
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 52-53, 1939.

Friday 17 April 2020

Venda das amêndoas em Sexta-feira Santa

Dia de sol. Mulheres veladas de negro em visita aos templos. Mais bichas a formigar pelos passeios do Chiado. Desta feita, bichas gulosas roendo amêndoas, saboreando o açúcar que vai faltando no café. E o corrupio passa, dá a volta à Baixa, alastra-se pelo Rossio e entra em S. Domingos. A quinta-feira santa é toda a Lisboa tradicional cheirando a rosmaninho. Que lindo dia de sol!
(in Arquivo nacional, Emprêsa Nacional de Publicidade, 1942)

Venda das amêndoas em Sexta-feira Santa |15 de Abril de 1927|
Cruzamento das antigas Ruas da Palma e do Martim Moniz (antiga zona da Guia)
Estas artérias foram extintas e substituídas pela actual Praça do Martim Moniz na década de 1940-50.
Fotógrafo: não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

Crianças junto da tômbola das amêndoas da Casa Pia de Lisboa [1907-04]
Joshua Benoliel, in AML

Sunday 12 April 2020

Chafariz do Rato

É curioso este Chafariz do Rato — recorda-nos Norberto de Araújo — , com fundo natural do muro dos jardins Palmela, e cujo nicho decorativo foi mutilado numa revolução, o célebre 7 de Fevereiro de 1927. No estado em que ainda sobrevive, o Chafariz data de 1794, embora desde meio século antes aqui perto, corresse água.


Chafariz localizado  na esquina entre a Rua da Escola Politécnica e a Rua de Salitre foi edificado em Março de 1794, de acordo com os planos de Carlos Mardel. Durante o dia era proibido por decreto real, os carreiros encherem pipas de água para as obras e regas das hortas, caso o fizessem pagariam uma multa de 4$000 réis na cadeia.

Chafariz do Rato e aguadeiros |Início séc. XX|
Largo do Rato; Ruas do Salitre e da Escola Politécnica

No início do século a maioria da população para se abastecer de água tinha de o fazer nos chafarizes, bicas ou fontes, pois eram poucos os edifícios particulares que a tinham canalizada.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Este foi o primeiro chafariz a ser construído, integrado nos planos do Aqueduto das Águas Livres. Era abastecido pela Mãe de Água das Amoreiras. Os seus sobejos eram para o arquitecto Manuel Caetano de Sousa e depois passaram a ser para o conde da Póvoa, sucedendo-se o marquês do Faial.

Chafariz do Rato e aguadeiros |1907|
Largo do Rato

Tanque e bica do lado esquerdo destinados a particulares e aguadeiros.
 Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Chafariz do Rato e aguadeiros |post. 1901|
Largo do Rato

Tanque ao nível térreo com um bebedouro destinado a animais..
  Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
É um chafariz de espaldar em estilo barroco, construído em pedra lioz, encimado por arco de volta perfeita, formando um nicho, gradeado a ferro e integrado na balaustrada do Palácio dos Duques de Palmela.
A água corre em 2 níveis, um mais elevado, onde dois tanques semicirculares, de perfil galbado e bordo boleado, chapeado a ferro recebe água de 2 bicas destinadas a particulares e aguadeiros, e um tanque rectangular, com os ângulos exteriores côncavos, de bordo saliente e chapeado a ferro de proporções menores, ao nível térreo, utilizado para bebedouro dos animais. Este chafariz era alimentado por um encanamento especial, que saía directamente da Mãe de Água das Amoreiras.
Tinha em meados do século XIX (1851) 3 bicas, 3 Companhias de Aguadeiros, 3 capatazes e 99 aguadeiros e 1 ligeiro.

Chafariz do Rato |c. 1952|
Largo do Rato; Palácio dos Duques de Palmela

Salvador de Almeida Fernandes,in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 34, 1939.
VELOSO DE ANDRADE, José Sérgio , Memória sobre Chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém e muitos lugares do Termo., 1851.
OLIVEIRA, Eduardo Freire de, Elementos para a História do Município de Lisboa, Vol. XV, 1882.

Friday 10 April 2020

Rua Conselheiro Arantes Pedroso, antiga da Inveja

Este arruamento, por deliberação camarária de 18/03/1897 substituiu o topónimo da antiga Rua da Inveja, na Freguesia da Pena, a saber: “Faço saber que a mesma Câmara, no uso da attribuição que lhe confere o artº 50º.numero 5, do Código Administrativo, e em homenagem á memória do fallecido Conselheiro José António Arantes Pedroso, illustre director da Escola Medico-cirurgica de Lisboa, resolveu em sessão de 18 do corrente mez que a Rua da Inveja, no 2º bairro, passe a ter a denominação do Conselheiro Arantes Pedroso. E para que conste e esta deliberação surta os effeitos legaes é o presente edital publicado no Diário do Governo e idênticos editaes mando affixar nos logares públicos do estylo”.

Rua Conselheiro Arantes Pedroso [1901]
Edifícios do lado nascente
Antiga Rua da Inveja, designação toponímica de outros tempos, como a da Rua das Furçureiras,
ou Forçureiras, a sul desta Rua da Inveja, ou ainda, a norte desta, a Tv. das Salgadeiras (designação
que ainda persiste).
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

E, conforme parecer da Comissão de Toponímia, em reunião de 04/06/1957, foi resolvido que os letreiros fossem escritos: Rua Conselheiro Arantes Pedroso – Médico 1822–1897, em homenagem à memória de José António de Arantes Pedroso que nasceu, viveu, estudou, fez a sua vida profissional e faleceu em Lisboa.
Em 1845, doutorou-se na Escola Médico-Cirúrgica onde foi lente e director em 1887, mas, já em 1880, era director do banco do Hospital de São José, onde fez grandes reformas.
Foi ainda presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1854), conselheiro de Estado honorário e comendador da Ordem de Cristo.
Este conselheiro, investigador, operador e defensor da cremação, está também representado num dos medalhões da Faculdade de Ciências Médicas.[cm-lisboa.pt]

Rua Conselheiro Arantes Pedroso |1901|
Edifícios do lado poente
Antiga Rua da Inveja, designação toponímica de outros tempos, como a da Rua das Furçureiras,
ou Forçureiras, a sul desta Rua da Inveja, ou ainda, a norte desta, a Tv. das Salgadeiras (designação
que ainda persiste).
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday 5 April 2020

Largo do Terreirinho, 28-30

Edifício setecentista com quatro pisos e água-furtada. No século XIX recebeu uma platibanda e a água-furtada foi coroada por frontão triangular. A qualidade de uma intervenção recente valeu-lhe uma menção honrosa do Prémio Eugénio dos Santos em 1991.


Este largo na confluência da Calçada de Santo André com a Rua dos Cavaleiros é um arruamento antigo da Mouraria, como refere Luís Pastor de Macedo («Lisboa de Lés a Lés») citando da «Notícia histórica do Bairro das Olarias» o seguinte : «Os lagares, que posteriormente lhe deram nova denominação, eram em 1502 propriedades do referido Hospital de Todos-os-Santos e de Pedro Lopes do Carvalhal e deviam ter funcionado no triângulo formado pela rua e travessa dos Lagares e o largo do Terreirinho, que já existia em 1548». Assim, também nas plantas e descrições após a remodelação paroquial de 1770 aparece referida a «Praça do Terreirinho» na freguesia do Socorro. [cm-lisboa.pt]

Largo do Terreirinho, 28-30 [entre 1901 e 1908]
Em finais do século XVIII, o Lg. do Terreirinho é alargado para sul de modo a permitir ligação
directa entre a Calçada de St.° André e a Rua dos Cavaleiros e desviando para esta última as
funções de eixo de penetração do bairro da Mouraria.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Friday 3 April 2020

Abertura da Avenida de Roma

Antes era a Avenida nº 19 do plano de melhoramentos aprovado por deliberação camarária de 7 de Abril de 1928, compreendida entre a Rotunda a norte da Avenida de António José de Almeida (hoje, Avenida Guerra Junqueiro) e a Avenida Alferes Malheiro (hoje, Avenida do Brasil), que a partir do Edital de 27 de Dezembro de 1930 passou a ser a Avenida de Roma.

Abertura da Avenida de Roma |1945|
Ao fundo destaca-se o Hosp. Júlio de Matos
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

A Avenida de Roma, hoje pertença das Freguesias de Alvalade e do Areeiro, nasceu no último mês do ano de 1930 e nesta grandiosa artéria se ergueram sucessivamente, a partir do fim da II Guerra, três cinemas: o Alvalade, o Roma e o Londres.
Como existe uma Via Lisbona em Roma e embora se desconheça a sua data de atribuição, a Avenida de Roma em Lisboa pode ter sido atribuída apenas como retribuição. [cm-lisboa.pt]

Abertura da Avenida de Roma |1945|
A futura Avenida de Roma, ainda sem quaisquer construções, vista da porta do Hospital Júlio de Matos . À direita: terrenos de cultivo onde seria construído o Bairro de Alvalade.
Legenda da foto: «Vista tomada do Manicómio Júlio de Matos, do estado actual das obras da grande artéria que será rodeada de habitações colectivas e moradias unifamilares de renda não limitada.»
Ferreira da Cunha{?], in Revista Municipal Lisboa
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