Sunday 25 February 2024

Hotel Central

Estamos de volta ao velhinho Sitio dos Remolares, e ao afamado Hotel Central, desta vez na companhia de Marina T. Dias e de Eça de Queiroz.  Delineada pelos engenheiros do Marquês de Pombal, a futura Praça do Duque da Terceira permaneceu quase deserta até ao início do século XIX, constituindo então apenas parte dos vastos areais que delimitavam sul de Lisboa. Mesmo após a construção dos primeiros quarteirões a nascente e a poente, o rio chegava até ao extremo sul do largo, formando uma pequena praia no local onde mais tarde seria construída a estação de caminho de ferro da linha de Cascais. Contígua à praia, a Praça dos Remolares tinha já sido ampliada pelas obras de construção do Aterro, mantendo na tradição oral o nome do antigo cais: Sodré.
Falar do Cais do Sodré é também falar da Lisboa queirosiana — e do seu Hotel Central, Eça refere-o em Os Maias, A Capital, O Primo Basílio e A Correspondência de Fradique Mendes. A primeira hospedaria que ocupou o quarteirão com os números 20-27 do Largo (antigos números 3 a 11) chamava-se Estrella Branca (c. 1835). Em 1838 fora já trespassada à francesa Madame Lenglet que lhe deu o título de Hotel de France

(Grand) Hotel Central |c. 1875|
A oitocentista praça dos Remolares ainda sem a estátua do Duque da Terceira (1877) vendo-se ao fundo a primeira ponte de acesso aos barcos; no local onde se vê um candeeiro existiu, até 1874, um relógio de sol, conhecido por Meridiana dos Remolares. 
Rua Bernardino Costa antiga do Corpo Santo; à esq. nota-se a embocadura da Rua do Alecrim com o Alfaiate Rego (Rego Tailor) no gaveto leste.
J.. Laurent, in Lisboa de Antigamente

Sobre o rio, a tarde morria numa paz elísia. O peristilo do Hotel Central alargava-se, claro ainda. Um preto grisalho vinha, com uma cadelinha no colo. Uma mulher passava, alta, com uma carnação ebúrnea, bela como uma deusa, num casaco de veludo branco de Génova. O Craft dizia ao seu lado: Très chic. E ele sorria, no encanto que lhe davam estas imagens, tomando o relevo, a linha ondeante, e a coloração de coisas vivas.
(Eça de Queiroz, ln Os Maias, 1888)

Com uma sólida fama e um excelente serviço de mesa, o hotel recebeu hóspedes ilustres, entre eles o compositor Franz Liszt, na temporada de 1844-1845. Novamente trespassado (c. 1855), transforma-se no Hotel Central, supra-sumo da possível opulência lisboeta, com as suas ceias elegantes e as suas belas janelas então viradas para o Tejo.
O Central foi,  na Lisboa da segunda metade de Oitocentos, aquilo que o Avenida Palace viria a ser na Belle-Époque, ou o Aviz no tempo da Segunda Grande Guerra. Recebeu reis e diplomatas famosos, figuras mundanas e celebridades do universo das artes. Foi também num dos seus quartos que o próprio Eça de Queiroz terá pedido ao conde de Resende a mão da irmã deste, Emília de Castro Pamplona, sua futura mulher. O episódio é narrado por Luís Pastor de Macedo. 

Hotel Central |c. 1904|
Praça Duque da Terceira: Cais do Sodré. Ao fundo observa-se o extinto Arsenal de Marinha que deu lugar à Av. Ribeira das Naus.
Postal ilustrado, edição da Casa Gonçalves, in Lisboa de Antigamente
Hotel Central, depois das adaptações sofridas por volta de 1920 |c. 1936|
Praça Duque da Terceira
No gaveto norte deste edifício estiveram vários botequins célebres. À O primeiro foi o «jacobino» Café do Grego; o último foi o Café Londres, encerrado em 1935.
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

«Numa das suas vindas a Portugal, informado que o conde, vindo do Porto, se hospedara em Lisboa no Hotel Central, e apreciando em extremo a convivência daquele seu grande amigo, [Eça] mandou também as suas malas para o mesmo hotel e ali ficou durante largos dias.
Certa manhã, quando [...] se encontrava no quarto do seu amigo, justamente na ocasião em que este, de cara ensaboada, se dispunha, com a navalha na mão, a barbear-se, o criado, pedindo licença, entrou e entregou uma carta que viera pelo correio. 
   — Vê lá, menino, o que aí vem -—- diz o conde a Eça de Queiroz.
   — É uma cartada tua irmã.
   — Faze favor, abre-a e vê o que diz essa teimosa.
   O grande escritor obedeceu e ao terminar a sua leitura, depois de a dobrar vagarosamente, diz a Rezende:
   — Peço-te mão de tua irmão».
(Luís Pastor de Macedo notas em A Ribeira de Lisboa por Júlio de Castilho, vol. 4)

Hotel Central, depois das adaptações sofridas por volta de 1920 |c. 1936|
Praça Duque da Terceira; Cais do Sodré e 
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

O Hotel Central encerrou em 1919, após um breve período de crise económica, distantes que iam já os hábitos de convívio da Lisboa queirosiana. A Sociedade Estoril, nova arrendatária, mandou então proceder a obras de vulto na fachada e interiores do edifício, cujas características gerais pouco têm agora a ver com a da casa que albergou Eça, Ramalho ou Guerra Junqueiro. O próprio Cais do Sodré sofrera enormes alterações ao longo do meio século de existência do Hotel Central. Por volta de 1880 a praia chegava ainda sé ao larguinho posteriormente ajardinado (Jardim Rogue Gameiro, plantado entre 1912 e 1915), e alguns quartos do Central estavam, como era uso dizer-se, «sobre o no». Perderam esse privilégio em 1907, vendo erguer-se-lhes à frente o edifício da Administração do Porto de Lisboa (onde está o célebre relógio com a «Hora Legal»). O terreno era tão incerto (basicamente areia da praia, movimentada pelas marés) que foi necessário fazer assentar todas as paredes desse prédio sobre estacaria. Ao centro da praça esteve, até 1874,um relógio de sol muito célebre e muito troçado: a «Meridiana dos Remolares», apeada para que desse lugar ao monumento em homenagem ao Duque da Terceira.

Hotel Central, depois das adaptações sofridas por volta de 1920 |c. 1936|
Fachada S. sobre o Cais do Sodré e Travessa do Corpo Santo; Praça Duque da Terceira
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
MARINA, Tavares Dias, Lisboa Desaparecida, vol. 6, pp. 179-184, 1989.

Friday 23 February 2024

Avenida de Madrid

Pelo Edital de 29/07/1948, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu mais onze topónimos na mesma freguesia, todos ligados a personalidades de cariz internacional ou cidades estrangeiras com o objectivo de dar algum cosmopolitismo à cidade de Lisboa, a saber:
Praça Pasteur (cientista francês); Avenida Marconi (cientista italiano); Rua Cervantes (escritor espanhol); Rua Afrânio Peixoto (médico e escritor brasileiro); Avenida de Paris; Rua Vítor Hugo (escritor francês); Praça João do Rio (escritor brasileiro); Praça de Londres; Avenida Rio de Janeiro; Avenida João XXI (o único papa português).

Avenida de Madrid, junto ao n.º 11 |1953|
Claudino Madeira, in Lisboa de Antigamente

Monday 19 February 2024

Cais da Rocha Conde de Óbido: o "Hidenburgo" em Lisboa

Em 1936, pelas 12H330, o dirigível Hindenburg chega a Lisboa onde lançou cabos para recolher o correio destinado ao Rio de Janeiro. Horas antes, um avião Heinkel da Lufthansa deixara os sacos de correio vindos de Frankfurt. Lisboa já antes tinha sido visitada pelo "Graf Zeppelin" em 24 de Abril de 1929 [vd. 2ª imagem].
O dirigível Hindenburg, o maior e mais moderno dirigível do mundo, tinha 245 metros, era impulsionado por quatro motores Mercedes-Benz de 1.200HP cada e hélices de 6mt; possuía uma gôndola de 2 andares, com biblioteca, bar com piano, varanda, camarotes e restaurante para 80 pessoas. Era um luxo!

O "Hidenburgo" em Lisboa |7 de Setembro de 1936|
Cais Rocha Conde de Óbidos, junto à Ponte Giratória 
Fotografia DN, in Lisboa de Antigamente

Os dirigíveis alemães Zeppelins, designadamente o LZ 127 (Graf Zeppelin) e o LZ 129 (Hindenburg) realizaram voos notáveis que muito prestigiaram a indústria alemã. Todavia, o sucesso foi interrompido após a catástrofe que destruiu totalmente este último, em Maio de 1937, em Lakehurst (Nova Jérsia, EUA), durante uma violenta trovoada que provocou a explosão do dirigível pela electricidade estática acumulada. O dirigível estava cheio de hidrogénio, embora tivesse sido construído para actuar com hélio. Porém a escassez deste levou a que se optasse pela utilização de hidrogénio.
(in Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, vol. VI, 1981)

O dirigível Conde Zeppelin sobrevoa Lisboa |24 de Abril de 1929|
Largo do Chiado 
Fotografia DN, in Lisboa de Antigamente

Friday 16 February 2024

Beco da Maria Luíza, esquina com o Largo de Santa Bárbara

De acordo com Luís Pastor de Macedo, tem a seguinte origem: «Vêmo-lo apontado pela primeira vez em 1799 — "às Fontaínhas no Beco da Maria Luíza" — e pouco depois, ainda no mesmo ano, em 3 de Dezembro, vemos que faleceu a moradora que ainda se conserva memorada nos dísticos da insignificante serventia. Era casada com um tal Francisco Xavier, e foi sepultada na igreja dos Anjos.
 (MACEDO, (Luís Pastor de, Lisboa de Lés a Lés», vol. IV)

Beco da Maria Luíza, esquina com o  de Santa Bárbara |c. 19011
Neste prédio funcionou na década de 1960-19?? o Centro Escolar Doutor Salgueiro de Almeida.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Nas trabalhosas e valiosíssimas notas do fim do seu Roteiro das ruas de Lisboa, Queiroz Velloso diz que «desde o beco de Maria Luiza até à Charca , se denominava isso tudo antigamente Campo de Santa Bárbara; e e quanto ao largo, observa que o vulgo lhe chamava ora terreirinho de Santa Barbara, ora largo das Fontainhas; e que o edital de 1 de Setembro de 1859 determinou que a parte que fazia frente ao largo que se denominava rua direita dos Anjos ficasse pertencendo ao largo de Santa Barbara.
(in Roteiro das ruas de Lisboa e immediações, por Eduardo O. Pereiro Queiroz Velloso, 1869)

Beco da Maria Luíza, esquina com o  de Santa Bárbara |c. 19011
Neste prédio funcionou na década de 1960-19?? o Centro Escolar Doutor Salgueiro de Almeida.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday 11 February 2024

Rua Vicente Borga, à Madragoa

Dístico de 1859 originado por corruptela de Vicente Borchers — filho de um negociante alemão, um tal Conrado Bicker, natural de Hamburgo — , que morou na antiga Rua da Madragoa após ter casado com Maria Clara Sousa Peres, no séc. XVIII, e acabou por substituir o antigo topónimo.

O autêntico nome que substituiu o de Madragoa é, reverendo leitor, o de Vicente Borchers — refere o olisipógrafo Luiz Pastor Macedo. Vicente Borchers e não Vicente Borga.
Nem mais, nem menos.
Declaramo-lo peremptoriamente e por nossa honra, como se fossemos em pessoa o próprio Borchers que há um século, já passante — Deus saberá com que desgosto —  ouve pronunciar mal o seu apelido e há um ror de lustros o vê mal grafado nas esquinas da sua rua. Vicente Borchers e não Vicente Borga é que é, e vamos já, já ver porquê.

Rua Vicente Borga |1936|
Perspectiva tomada da Cç. Castelo Picão para a Travessa do Pasteleiro
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Vicente Bernardo Borchers Maldonado, nasceu em 15 de Setembro de 1739 numa casa da Rua Direita dos Anjos; casou, morando então na freguesia de S. Paulo, em 28 de Setembro de 1776, com D. Maria Clara de Sousa Peres, e foi depois aquele morador da velha Rua da Madragoa que originou a substituição do seu vocativo. Não temos .a menor dúvida a esse respeito. Foi deste Vicente Borchers, uma das pessoas mais importantes que por aqueles tempos moraram na rua, que nasceu nos soalheiros do sítio o Vicente Borga que a: pouco e pouco foi destronando, até se fixar oficialmente na artéria, a decrépita denominação de Madragoa.

Rua Vicente Borga |1945|
(Na direcção Rua das Trinas)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Júlio de Castilho, algum tempo antes do dia 1 de Julho de 1893, explicou a razão por que, segundo lhe parecia, a uma das ruas do antigo bairro do Mocambo dera o povo o nome de Madragoa. E foram estas as palavras de que se serviu para a sua explicação:

O Mosteiro das Bernardas, com a invocação de Nossa Senhora da Nazaré, foi fundado em 1652. Pela sua parte oriental, na Rua das Madres, que vai da Calçada do Castelo Picão para a Travessa do Pasteleiro, ficava o antigo recolhimento de Santa Isabel da Hungria, fundado em dias da Raínha D. Catarina: por uma Isabel de Jesus, falecida em 1612, isto segundo o Agiológio Lusitano de Jorge Cardoso. título da Rua das Madres é abreviatura do outro que a rua teve, Rua das Madres Bernardas, para se diferençar da outra travessa superior, e paralela, que se chamou das Madres de Goa, por causa de um hospício ou recolhimento de senhoras da India, que existia na casa que ficou fazendo esquina para a íngreme Rua das Trinas, desde que alargaram esta última. Pois o nome de Rua das Madres de Goa corrompeu-se em Rua da Madragoa, de imunda e torpe memória; e tão torpe, que obrigou o letreiro a mudar-se no de Rua de Vicente Borga, sujeito que não conheço. 

A marcha infantil da Rua Vicente Borga |1935-06-09|
(Junto ao jornal o Seculo)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Porém — temos de declará-lo —  nem foram as madres de Goa que deram origem à denominação da rua, nem ela foi pelo vulgo baptizada com o extravagante nome de Mandrágora. As vezes sucedem coisas —   acrescenta Pastor de Macedo —  , até aos Mestres, especialmente quando a documentação anda arredia ou escasseia, e surge portanto aliciante e convidativo o campo das hipóteses.
A quinhentista denominação da rua (data pelo menos do ano 1579) provém, reverendo leitor, duma Mandragoa, mulher dum Mandragão. Não tenhamos dúvida alguma a esse respeito. Mandragão,
apelido duma família que viveu na Ilha da Madeira, deu em Mandragoa quando na cola de nome de dona ou  de moça, talqualmente sucedeu com os apelios de Leitão, Falcão, Varejão e outros, que, consoante o melhor jeito, se transformavam ou não em Leitoa, Falcoa e Varejoa. E que a rua primitivamente teve em vez de Madragoa o vocativo de Mandragoa também não se nos oferece dúvida alguma, pois que assim a topamos nos documentos antigos e assim a encontramos ainda nas obras impressas na primeira metade do século XVIII.=

N.B. Nesta artéria, no nº 33, nasceu no dia 26 de Julho de 1820, Maria Severa Onofriana, filha de Ana Gertrudes Severa (conhecida como a Barbuda) e de Severo Manuel de Sousa. Por isso, no dia em que se celebrava o 193º aniversário do nascimento da fadista, a Câmara lisboeta e a Junta de Freguesia de Santos-O-Velho colocaram uma placa evocativa no prédio do evento com os seguintes dizeres: 
Neste local
onde sua mãe tinha uma taberna
segundo a tradição nasceu/
em 26 de Julho de 1820
a mítica fadista
Maria Severa Onofriana
______________________________________________________________________________________________
Bibliografia
A Madragoa e o Vicente Borga, artigo de Luís Pastor de Macedo, em Olisipo, VII, 26, pp, 81-84, 144, 1944.
Grande Enciclopédia Portuguesa E Brasileira, p. 213.

Friday 9 February 2024

Praça do Comércio: «Lisboa e Madrid começam a conversar pelo telefone»

Sobre o Terreiro do Paço, operários na torre da Central Telegráfica, a 16 de Maio de 1928. No dia seguinte, às 10H30, o Presidente Carmona e o Rei Afonso XIII, fazem o primeiro telefonema entre Lisboa e Madrid.

Praça do Comércio vulgo Terreiro do Paço |1928|
«Lisboa e Madrid começam a conversar pelo telefone»
Fotografia DN, in Lisboa de Antigamente

Sunday 4 February 2024

Café Cristal

Localizado em plena Avenida da Liberdade, 131-137, nas proximidades do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, o Cristal começou por ser um simples café. A sua criação terá ocorrido por volta de 1940, data em que o célebre arquitecto Cassiano Branco submeteu um primeiro projecto de decoração revelador de uma enorme influencia do estilo Art-Déco.


A importância do estabelecimento como centro de espectáculos emergiu a partir de Novembro de 1941, com a inauguração do Bar Cristal. O passo seguinte foi a abertura, em Janeiro de 1942, do dancing, faceta que acrescentou ao Cristal a valência de cabaré com animação nocturna entre as 23.00 e as 5.00 horas. Para esta última etapa contribuiu o encerramento do Maxim's, ocorrido em 1940, como se depreende de um anúncio publicado no Diário de Lisboa: «Não há nenhum português de categoria e cremos, até, dos estrangeiros nossos hóspedes, anos atrás, que não sintam o desaparecimento do Maxim's [...]. 

Café Cristal |1941|
Avenida da Liberdade, 131-137 (edifício demolido em 1989)
Estúdio Mário Novais,in Lisboa de Antigamente
Café Cristal |1941|
Avenida da Liberdade, 131-137 (edifício demolido em 1989)
Estúdio Mário Novais,in Lisboa de Antigamente
Café Cristal |1941|
Avenida da Liberdade, 131-137 (edifício demolido em 1989)
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

A direcção do Bar Cristal Dancing, sentindo também essa falta e dentro das suas possibilidades, pretende, em parte, proporcionar ao público o ambiente, luxo e conforto que ali se desfrutavam».
Pelo Cristal, situado ao lado do Café Lisboa e junto ao Parque Mayer, passaram ao longo dos anos várias orquestras e agrupamentos nacionais e estrangeiros ligados aos primórdios do jazz. A primeira foi a Orquestra Caravana, contratada para inaugurar o estabelecimento, que ali actuou nos seus primeiros três meses de actividade. Sucederam-lhe, entre outras, a orquestra Sousa Pinto e Manolo Bel (1945) e, já nos anos 50, a orquestra de Tavares Belo com o vocalista Moniz Trindade, Harlem Jazz, com o cantor Ernâni Ribeiro, Night and Day e Blue Skies. As pequenas formações foram também contempladas, nomeadamente com a cantora espanhola Mari Merche, acompanhada pelo Quarteto Swing (1943), o Quinteto Murilo, com o pianista espanhol Pedro Masmitja (1944), e os Five Swings (1944).

Café Cristal |1941|
Avenida da Liberdade, 131-137 (edifício demolido em 1989)
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

O Cristal terá entrado em crise a partir de 1954, ano em que a sua publicidade na imprensa da época começou a escassear, num total contraste com a profusão anunciadora dos anteriores 12 anos. Não surpreende, pois, que em Fevereiro de 1958 tenha sido substituído pelo Pasapoga, que já não teve, porém, qualquer relevância no panorama do jazz nacional, uma vez que optou por uma programação que privilegiava sobretudo as artistas espanholas de variedades, não obstante a actuação pontual da orquestra de Almeida Cruz.

Café Cristal (1941-1958)
Avenida da Liberdade, 131-137

Bibliografia
SANTOS,  João Moreira dos, Roteiro do Jazz na Lisboa dos anos 20-50 : guia ilustrado de 40 espaços históricos dos primórdios do Jazz em Portugal 2012.

Friday 2 February 2024

Praça da República: venda ambulante de queijadas e travesseiros de Sintra

A chamada Praça da República, designação que o povo de Sintra nunca aceitou como boa, persistindo em chamar-lhe o Largo da Vila que actualmente se acha reintegrado no seu primitivo nome de Praça da Rainha D. Amélia.
Chegando ao Largo da Rainha D. Amélia, onde se aglomera o comércio em todos os ramos da sua actividade, depara-se-nos finalmente o velho Paço de Sintra, monumento notabilíssimo sob qualquer aspecto — arquitectónico ou histórico.

Praça da República antigo Largo Rainha D. Amélia |1924-08-10|
Vendedor ambulante queijadas e travesseiros de Sintra; 
Palácio Nacional de Sintra
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Como já tivemos ocasião de notar, é este palácio um conjunto irregular de construções diversas no seu tipo que tira dessa mesma irregularidade o principal motivo da sua estranha harmonia e também talvez o seu maior encanto Do corpo central, correspondente aos primitivos paços joaninos, olham sobre o eirado cinco elegantes janelas geminadas estilo mourisco — a do centro com arcos peraltados e denticulados sobre impostas cortadas nas faces, com capitéis mouriscos e fustes elegantemente torcidos que evocam troncos enlaçados de árvores despidas de folhas, e as outras quatro com fustes lisos e encurtados por parapeitos.

Largo Rainha D. Amélia |c. 190-|
Vendedor ambulante queijadas e travesseiros de Sintra; 
Entrada do Palácio Real
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Oh! nobres paços da riosnha Cintra
Não sobre a roca erguida mas pousados,
Na planicie tranquilla, que memorias,
Não estaes recordando saudosas,
Dos bons tempos de Lysia!
(in Roteiro Lirico de Sintra, de Oliva Guerra, 1967)

 

Largo Rainha D. Amélia, recanto |c. 1910|
Vendedor ambulante queijadas de Sintra

Artur Bensabat Benarus, in Lisboa de Antigamente

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