Wednesday 28 February 2018

À roda de São João Nepomuceno

Este Largo — na confluência das Escadinhas de São João Nepomuceno e da Calçada Salvador Correia de Sá —, já aparece referido nas plantas da remodelação paroquial de 1780. Deriva o topónimo da proximidade à Calçada que originalmente se denominava Calçada de São João Nepomuceno e que por edital municipal de 14/10/1915 passou a designar-se Calçada Castelo Branco Saraiva e mais tarde (1950) tornou-se Calçada Salvador Correia de Sá.

Largo de São João Nepomuceno [1944]
Calçada de Salvador Correia de Sá (dir.)
Fernando Martinez Pozal, in AML

A origem do topónimo remete-nos para a existência neste local da antiga Igreja e Convento de São João Nepomuceno — santo patrono da Boémia —, conforme refere Norberto de Araújo nas suas Peregrinações: «No pequeno Largo, que mantém o dístico antigo, se encontra o Asilo de Santa Catarina [arqº Carlos Mardel, 2ª foto], com seu pequeno pátio fronteiro, instituição fundada neste sítio em 10 de Setembro de 1861. Existiu aqui o Convento dos Carmelitas Descalços alemães, edificado em 1737 pela Rainha D. Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V.»

Asilo de Santa Catarina [1948]
Largo São João Nepomuceno, 7

Eduardo Portugal, in AML

N.B. Em 1754, a igreja do hospício recebeu os restos mortais da sua fundadora — D. Maria Ana de Áustria — que elegera a igreja como local de sua sepultura. Em 1910, a antiga igreja conventual (que funcionava como capela do asilo) foi profanada e posteriormente demolida; 1954 — instituição do colégio de Santa Catarina da Casa Pia de Lisboa e sua instalação no imóvel; 1973 — a Casa Pia de Lisboa começa a reconverter este colégio em residencial masculino e feminino.

Escadinhas de São João Nepomuceno [1944]
Vista tomada da Tv. do Marquês de Sampaio na direcção do Largo São João Nepomuceno que se pode observar na 1ª foto.
Fernando Martinez Pozal, in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 74, 1939.
monumentos.pt.
cm-lisboa.pt.

Sunday 25 February 2018

Associação do Registo Civil e Administração do Jornal «O Livre Pensamento»

Porventura a mais emblemática instituição para-maçónica activa no advento da República, a Associação do Registo Civil foi fundada pela Maçonaria, em 5 de Agosto de 1895. A sua designação inicial foi alterada e, em 1911, o complemento que é aposto evidencia os seus propósitos: Associação Propagadora da Lei do Registo Civil. Estava sedeada na Travessa dos Remolares, 30, 1º, com uma dependência e Administração do Jornal «O Livre Pensamento»  no Largo do Intendente Pina Manique, 45, 1º.

 
Entre os seus milhares de associados contam-se Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luís da Costa, a quem a História consignaria o epíteto de regicidas. Apesar de este acontecimento ter sido relatado na imprensa coeva como uma tragédia, é certo que muitas mulheres, à época, lutando pela implantação da República, se manifestaram claramente a favor do assassinato do Rei e príncipe portugueses, mostrando-se solidárias com as viúvas e filhos dos revolucionários, associando-se às iniciativas da «Associação do Registo Civil». Maria Veleda, em «A Vanguarda», num texto editado a 9 de Fevereiro de 1908, dirigido «Às Mulheres Portuguesas», interpela com veemência:
Por quem andam V. Ex.asde luto, minhas senhoras? É pelo seu rei? Pelo homem que, se ainda vivesse, teria lançado na consternação, no desespero, trezentas famílias dos presos políticos, ameaçados com a deportação, em paragens longínquas, varados pelos raios brasadores de um sol que assassina, expostos a toda a sorte de maus tratos e de ignomínias e para quem a morte constituiria a única libertação?
 
Associação do Registo Civil e Redacção e Administração do Jornal «O Livre Pensamento» [1911]
Largo do Intendente [Pina Manique :1955], 45
A importância desta Associação reflectiu-se na toponímia da época, sendo que o troço da Rua dos Anjos (
s nºs 1 a 47 e 2 a 38) foi primeiramente chamado  do «Registo Civil» (1920), passando novamente a Rua dos Anjos (1937)
Joshua Benoliel, in AML
 
Em rigor, a militância feminina evidenciou-se nesta associação como plataforma de luta comum, pois pugnava pela Lei do Divórcio (aprovada logo em 1910), tendo a dessacralização da vida quotidiana nos seus principais actos — registos de nascimento, casamento e óbito — assumido primordial importância. A laicidade do Estado foi o estandarte deste movimento social que saudou vivamente a Lei da Separação da Igreja e do Estado (22 de Abril de 1911). De tal modo este dia se tornara emblemático que as escolas da Associação passaram a desfrutar de uma semana de férias de modo a celebrá-lo condignamente.

Associação do Registo Civil [c. 1911]
Travessa dos Remolares, 30
Associação do Registo Civil; Redacção e Administração do Jornal «O Livre Pensamento»
Joshua Benoliel, in AML
 
Tal facto terá por certo concorrido para que algumas associadas se declarassem apenas  livres-pensadoras e não tivessem querido aderir, para além desta, a qualquer organização de  índole partidária.  Aderiram  a  esta  associação  mulheres  como  Deolinda  Lopes  Vieira  [Quartin]  e  Sofia  Quintino, para só lembrar duas.  Esta  colectividade  desenvolveu  uma  intensa  actividade  cívica,  criou  várias  escolas  e  organizou quatro congressos nacionais e um internacional. Foi encerrada e extinta, em  1938, pelo regime ditatorial (1926-1974). No dia 5 de Abril de 1907, o baluarte republicano  «O Mundo»  anuncia que se encontrava a  decorrer a subscrição para a compra de uma carreta  funerária e respectiva bandeira para as  exéquias fúnebres destinada:
Aos liberais e livres-pensadores 
Chamamos a atenção dos liberais e livres-pensadores para a subscrição  pública que esta colectividade está fazendo para a construção de uma  carreta funerária especial, que se distingue das outras  carretas que servem  para funerais católicos, e também para a confecção de  uma bandeira para  arvorar na sede da associação e para cobrir os ataúdes civis.  As  listas  para  esta  subscrição  encontravam-se  expostas   em  vários  estabelecimentos comerciais.

Manifestação anticlerical promovida pela Associação do Registo Civil de apoio ao ministro da Justiça, António Maceira [1912-01-14]
Praça do Comércio
Joshua Benoliel, in AML

 
Pela sua actividade cívica, cultural e benéfica foi considerada benemérita de instrução em 1925 e de utilidade pública em 1926. Em 1938 esta Associação foi administrativamente encerrada e extinta pelas autoridades.
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Bibliografia
unl.pt/Associação do Registo Civil, texto IL e MG, 2010.
Rede de Bibliotecas de Lisboa.

Friday 23 February 2018

Palácio dos condes de S. Martinho e de Sá da Bandeira das Picoas

No troço da Avenida Sá da Bandeira Rua Marquês de Sá da Bandeira, que ladeia, pelo Poente, o Palácio Almeida [Vilalva], vê-se o prédio apalaçado, n.° 45, com reminiscências setecentistas, no qual viveu o Marquês de Sá da Bandeira, e hoje ainda dos seus descendentes. Quási na sua esquina abre a Rua António Cândido, dístico que desde 1931 substituiu o da velha Travessa das Picoas.

Palácio Sá da Bandeira [c. 1940]
Também conhecido por Palácio das Picoas
Largo de São Sebastião da Pedreira, 45; Rua Marquês de Sá da Bandeira
Eduardo Portugal, in AML

Breve noticia histórica: Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, 1.º barão, 1.º visconde e 1.º marquês de Sá da Bandeira, nasceu a 26 de Setembro de 1795 em Santarém e faleceu em Lisboa a 6 de Janeiro de 1876. Foi fidalgo da Casa Real, Par do Reino, Ministro de Estado, Marechal de campo, Director da Escola do Exército, entre outros cargos e actividades. Destacou-se pela sua bravura no campo de batalha, primeiro durante as Invasões Napoleónicas e mais tarde durante as Guerras Liberais, onde tomou o partido dos liberais contra os miguelistas. 
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 59.
Álvaro Duarte de Almeida e Duarte Belo, Portugal Património, Vol. VII Lisboa, 2007.
cm-lisboa.pt.

Wednesday 21 February 2018

Igreja paroquial dos Anjos

A igreja paroquial dos Anjos — no dizer do distinto olisipógrafo Norberto de Araújo — é uma construção do final do século passado, custeada pela Câmara Municipal de Lisboa, e levada a efeito para compensar a demolição que veio a realizar-se, em 1908, da primitiva igreja, situada na Rua dos Anjos, no local onde nela se inseria o Regueirão. A demolição impôs-se para abertura da avenida D. Amélia, actual Almirante Reis.
Foi arquitecto do novo templo o professor José Luís Monteiro, que subordinou o plano da nave e capelas ao da antiga igreja, a fim de se aproveitar e ajustar o recheio sacro e materiais. 


Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos |c. 1910|
Também denominada «Igreja dos Anjos»
Avenida Almirante Reis
As fachadas laterais e posterior, rasga das de janelas, e servidas por portas travessas correspondentes aos anexos e cartório. A torre, situada no posterior do templo, no mesmo estilo neo-clássico da frontaria, única deste género em Lisboa.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A primitiva igreja de «Os Anjos» foi construida no tempo dos reis Filipe II e III de Portugal, no local onde já em 1551 existia uma ermida com aquela· invocação, ao fundo do Vale de S. Jordão, que veio a ser o ainda existente Regueirão dos Anjos. 
A paróquia foi criada (e na igreja teve sede) em 1563 ou 1564 pelo cardeal-arcebispo D. Hen­rique em território desanexado do de Santa Justa. 
No meado do século XVIII denominava-se de Nossa Senhora dos Anjos, pela circunstância de nela haver uma confraria com aquela invocação
As obras da nova igreja, na antiga avenida D. Amélia, começaram em 18 de Fevereiro de 1889, mantendo-se o culto e a paroquial no templo antigo até Janeiro de 1908, instalando-se então numa capela simples, provisória, de madeira, levantada junto da igreja em construção. Em 11 de Março de 1910 efectuou-se a inauguração do novo templo paroquial, mas já a sua posse havia sido dada ao pároco e irmandades em Março de 1908. A conclusão das obras só se verificou em 1911.¹

Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos |1911|
Avenida Almirante Reis
A Frontaria, em corpo único, de pilastras simples, e nela: Três portais, entre colunas dóricas de mármore rosa, sendo o central mais alto, coroado por tímpano aberto; balcão rosa, em cantaria de ornatos, sobre o qual se rasgam três janelas iluminantes, entre acrotérios decorativos, coroadas de áticas; o frontão, com óculo, e ladeado por acrotérios
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O interior, integralmente recuperado aquando da demolição da antiga igreja, mostra o típico espectáculo da «arte barroca total» que caracteriza os espaços portugueses dos séculos XVII e XVIII, com sete altares de talha dourada do chamado Estilo Nacional, tecto com apainelado de caixotões de pintura com cenas da Vida da Virgem e alegorias bíblicas, o revestimento integral de superfícies recorrendo à conjugação de linguagens díspares, a escultura de vulto dos altares e ciclo de telas tenebristas de pintores como Bento Coelho da Silveira e António Machado Sapeiro. O segundo altar da banda direita preserva uma pintura mais antiga, «Santa Irene sarando as feridas de São Sebastião», do fim do século XVI, obra do pintor maneirista Diogo Teixeira. Na sacristia, encontra-se uma rara representação de Santo António de Lisboa em tela provavelmente quinhentista.²

Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos |post. 1941|
Avenida Almirante Reis
A igreja dos Anjos reveste-se de semblante seiscentista, rico de talha dourada 
e aquecido de telas que quase por inteiro cobrem as paredes. 
Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, Fasc. XII, 1950.
² Direcção Geral do Património Cultural: DGPC

Sunday 18 February 2018

Av. Almirante Reis, 22: edifício Bezelga

As chamas devoraram há dias o prédio de gaveto da  Avenida Almirante com a Rua Andrade.  Construido nos alvores do século XX «é o único edifício cuja cantaria foi toda talhada para albergar uma farmácia, com símbolos como o caduceu, a cobra, a taça, etc. Único exemplar em Lisboa e, provavelmente, em todo o país. É uma maravilha lavrada em pedra.» (Dias;1998). Aqui estava estabelecida a antiga farmácia do Bezelga, um republicano propagandista e fundador de jornais, que viveria no terceiro andar do mesmo edifício João Bezelga, «que foi o maior farmacêutico da cidade», tinha também veia de poeta, como atesta este excerto de uma conferencia  feita pelo  Dr.  Eduardo da  Silva  Neves na  sede dos «Amigos de Lisboa», em  4  de  Março  de  1950:

Avenida Almirante Reis [1965]
Rua Andrade; os adornos do topo do prédio foram apeados e vendidos por volta da década de 1960/70; obras do Metropolitano
Artur Goulart, in A.M.L.

Mais tarde, no cimo da subida, já na nova avenida, primeiro dos Anjos, depois de D. Amélia e agora Almirante Reis, o grande prédio, tendo uma enorme palmeira com urna cobra enrolada no tronco, emblema de farmácia, propriedade do farmacêutico João Bezelga, cujas excentricidades e anedotas ainda hoje são lembradas. Era este farmacêutico autor dum livro de versos «As canções da Arada», publicado em 1903 e dedicado ao Prof. Custódio Cabeça. Desse livro não resisto a reproduzir aqui os seus primeiros versos, de mais a mais porque têm sabor lisboeta, visto terem sido feitos a Santo António e para as festas da noite do mesmo Santo na demolida Praça da Figueira: 

Milagroso Santo António
Fazei-me o milagre a mim,
Trazei-me de lá dos Céus
Um bigodinho... sim?

Não quero com grandes barbas
Causar medo à namorada,
Não quero que me confundam
Com algum ladrão de estrada.

Não quero pêra comprida
Que me assemelhe a algum bode,
Não quero mosca atrevida,
O que eu quero... é um bigode.

Avenida Almirante Reis [1965]
Prédio da antiga Farmácia Bezelga depois transformada no bar As Palmeiras dos Anjos, como se pode ler na bandeira de porta no nº 22. Observe-se os símbolos como o caduceue a cobra
Artur Goulart, in A.M.L.

Arada era a terra do Poeta, no concelho de Ovar. 
A farmácia foi primitivamente na Rua Andrade quase junto à Rua Maria da Fonte, onde se reunia curiosa tertúlia, que deu origem a alguns jornais charadísticos, humorísticos e literários, tendo sido um deles: «Economia», fundado pelo Dr. Forte de Lemos, que possuiu consultório por cima da Farmácia Bezelga, em que colaboraram Raimundo Alves, José Pedro do Carmo, José Gomes Ventura, João Bezelga, o poeta António Correia de Oliveira, etc. Promoveu vários concursos e campeonatos charadísticos, onde colaboraram os melhores charadistas do tempo. Foi morrer à Rua Pascoal de Melo, residência do fundador. Um outro foi o «Boémio», humorístico e teatral, onde Bezelga publicou uma quadra que deu larga polémica com «Caracoles» — Cruz Moreira — director de «Os Ridículos»:
Quem o seu fósforo requeira
Vá ao Bombarda a Rilhafoles
Que o não tem Cruz Moreira
Na caixa do... Caracoles.
Entre as numerosas anedotas verídicas, possíveis de contar, pois algumas são demasiado realistas, para se reproduzirem, conta-se a passada com um filho menor de um conhecido revolucionário do 5 de Outubro, então morador nas cercanias, e logo após a mudança do regime, e quando da passagem de réis para centavos
O pequeno apareceu na farmácia com urna moeda de cinco tostões, a pedir malvas, e trazia num papel escrito «40 de malvas», o vulgar pataco ou 40 réis. Bezelga, atendendo a que o remédio era para um adepto da República nascente, interpretou logo por 40 centavos e forneceu ao pequeno um enorme cartucho com um cruzado de malvas, e de tal se pagou.
Não tardou que o Pai, exasperado ante a quantidade das ervas e o exagerado do preço (um cruzado ao tempo era dinheiro) viesse vociferar ante o impassível farmacêutico, que, com os óculos a descerem pelo nariz e a olhar por cima dos vidros, ia dizendo: — Não se trocam medicamentos, quarenta só pode ser centavos, porque, segundo a lei, já não há réis». O freguês, exaltado, bate rio balcão com uma forte bengala e, dizendo uma frase sonora, atira para dentro do balcão o pacote das malvas. Na descida da rampa para o Intendente, ouvindo chamar, volta-se, e vê, sorridente, no portal, o nosso farmacêutico poeta, que curvando-se e acentuando as palavras, diz:«Obrigado, ficaram os. 40 centavos e ... mais as malvas !» 
Num dos seus versos disse algures, definindo um vate: «Poeta é dementeque sofre e que sente» ... E o infeliz, que poetou, veio a morrer louco, no Telhal. ==

Avenida D. Amélia, actual Av. Almirante Reis [c. 1900]
À direita na embocadura da Rua Andrade com Rua dos Anjos, vê-se o prédio da Farmácia Bezelga ainda em obra; do lado esquerdo ainda se observam os escombros da antiga Igreja dos Anjos
Machado & Souza, in A.M.L.

Bibliografia
DIAS, M. Tavares, Lisboa Desaparecida, vol. 2, 1998.
Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", vol.13, 1950.

Friday 16 February 2018

O viaduto de Xabregas (e seus arcos)

Coloca-te comigo defronte da Fábrica de Tabacos — convida Norberto de Araújo — e contempla êste quadro pitoresco que nos é dado pelo desenho dos três viadutos sucessivos da linha férrea; ao fundo norte, sôbre a cortina de guarda da ponte na extrema da Rua da Madre de Deus, espreita a agulha da antiga igreja, e à nossa direita desenha-se a aguarela pobre de um mercado de ar livre, sob a fachada poente da Escola Profissional D. Maria Pia, no Largo da Marquesa de Niza. 


Viaduto de Xabregas [1938]
Rua de Xabregas; á direita avulta o Palácio do Marquês de Nisa e à esquerda espreita a agulha da Madre de Deus.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Não me fatigo na repetição do fenómeno da paisagem social: tudo isto há dois séculos atrás era de feição conventual e nobre: o Palácio dos Marqueses de Niza, a um lado, o convento dos franciscanos de Santa Maria de Jesus, a outro. Sem linha férrea nem passagens sobre viadutos, sem edifícios fabris, armazéns e oficinas, sem cortinas de prédios a encobrir o rio — largo como um mar —, Xabregas, «Enxobregas» dos séculos velhos, era arrabalde, tímido de póvoas ao acaso, luminoso e lavado.
No século passado, aí por 1840, a transição estava feita. já to disse atráso silvo substituiu o sino, o americano› tomou o lugar das sejes, o fumo das chaminés confundiu o cheiro dos incensos e das flores dos jardins.
Mutação assim em parte alguma de Lisboa se verificou.¹

Ponte de Xabregas [1857]
Desenho de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, gravura em madeira de João Maria Baptista Coelho
in Archivo pittoresco

A gravura representa a ponte de Xabregas — pode ler-se no Archivo pittoresco datado de 1857 —, lançada enviesada a 33º 30' sobre a estrada publica. Compõe-se de três arcos. Dos dois do lado da trincheira, á direita, a gravura só representa o primeiro; são de pedra em arco de circulo, de 1,52 de flecha; 2,97m d'altura de pés direitos; e 6,85m de abertura de cada um. A abertura do arco do lado do aterro, á esquerda, que cobre a estrada propriamente dita, é de 15,58m, formado por 6 cambotas de ferro de forma abatida. A largura entre as testas da ponte é de 7,72m. A parte de ferro [substituída em 1954] é obra de Inglaterra [John Sutherland e Valentine C. L]. O espectador, colocado entre a ponte e a fonte da Samaritana, vê desfilar por sobre a ponte, em direcção á estação principal, um comboio; por cima correm os fios do telegrafo eléctrico; á direita, e próximo, sobressai, o angulo oriental do grande Palácio do Marquês de Niza; á esquerda, a pouca distancia, aparece a cruz, que remata o frontispício da igreja do convento da Madre de Deus. ²

Mercado de Xabregas [1939]
 O Viaduto de Xabregas tomado do Largo Marquês Nisa; Palácio dos Marqueses de Niza
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, pp. 72-73, 1939.
² Archivo pittoresco: semanario illustrado - Vol. 1, 1857.

Wednesday 14 February 2018

Rua Aquiles Monteverde

Seguindo os passos de mestre Norberto de Araújo «Chegamos ao viaduto sob a Rua Pascoal de Melo, assim designada em 1884, obra de engenharia municipal que se ampara a edificações primitivas do arruamento. À esquerda sai a Rua Aquiles Monteverde, que leva ao Bairro da Estefânia e, por umas escadas que ladeiam o viaduto, nos transportamos ao antigo Jardim Constantino«Rossio» da Estefânia [do] fim do século XIX.»

Rua Aquiles Monteverde |1944|
Até 1916, Rua do Conselheiro Monteverde, antes Travessa Cruz do Tabuado
Ao fundo observa-se a Rua de Arroios e o viaduto sob a Rua Pascoal de Melo (em cima).
Fernando M. Pozal, in Lisboa de Antigamente

Emílio Aquiles Monteverde (1803-1881) foi diplomata e publicista. Entrou muito novo no serviço público, sendo nomeado, em 1821, adido à legação portuguesa de Madrid, onde serviu perto de dois anos. Incluído no quadro da secretaria dos negócios estrangeiros como amanuense de 2ª classe em 1822 aí passou quase toda a sua vida de funcionário de estado, tendo chegado a chefe da direcção política em 1869. Recebeu o título de conselheiro em 1850. Escreveu diversas obras no âmbito da língua portuguesa, nomeadamente enciclopédias e gramáticas, entre os quais O Recreio, Jornal das Famílias 1835-1842, em oito tomos, Método Facilíssimo para Aprender a Ler, 1836, e Manual Enciclopédico para Uso das Escolas de Instrução Primária, 1837.

Rua Aquiles Monteverde |1964-03|
Até 1916, Rua do Conselheiro Monteverde, antes Travessa Cruz do Tabuado
Ao fundo observa-se a Rua de Arroios e o viaduto sob a Rua Pascoal de Melo (à dir.).
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 81, 1938.
cm-lisboa.pt

Sunday 11 February 2018

Rua dos Sapadores, 47: casa onde nasceu Latino Coelho

Nesta vetusta casa da Rua dos Sapadores, 47 — que faz esquina e tem Lápide com o medalhão de Latino Coelho a fachada principal para a Rua do Vale de Santo Antónionasceu Latino Coelho corria o ano de 1825. Era conhecida no sítio pela «casa dos frades», em razão duns columnelos de pedra (frades), que havia a pouca distância duma das suas paredes. Nessa casa, e na frente que dá para a Rua do Vale de Santo António, foi colocada, e solenemente inaugurada no dia em que se completava o 104.° aniversário do nascimento do grande escritor, uma lápide comemorativa com um medalhão de bronze, obra do falecido escultor César Barreiros, e cujo desenho, também obra sua, a nossa estampa reproduz [vd. 2ª foto]. Victimado por um ataque de «influenza de forma tifoide», faleceu Latino Coelho em Sintra, onde estava passando o verão, numa casa do Largo que hoje tem o seu nome, na madrugada do dia 29 de Agosto de 1891

Rua dos Sapadores, 47 [1934]
Esquina com a Rua do Vale de Santo António, 273-276
Casa onde nasceu (José Maria) Latino Coelho (1825-1891)
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

N.B. (José Maria) Latino Coelho (1825-1891). General de brigada do estado-maior de Engenharia, ministro da Marinha, sócio efectivo e secretario perpétuo da Academia Real das Ciências de Lisboa, lente na Escola Politécnica, vogal do Conselho Geral de Instrução Pública, deputado, par do Reino, jornalista, escritor.

Rua do Vale de Santo António, 273-276 [1942]
Esquina com a Rua dos Sapadores, 47
Casa onde nasceu (José Maria) Latino Coelho (1825-1891); na frontaria da casa virada à Rua do Vale de Santo António, 272-276 foi colocada, em 1929, uma lápide da iniciativa dos habitantes da Graça, atestando que ali nasceu, em 1825, o escritor.
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
VARELA, Arlindo, «Latino Coelho poeta e amoroso», pp. 109-110, 1933.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, 1938.

Friday 9 February 2018

Café Royal: — Agora sim, agora temos bife!

Aqui, no Cais do Sodré, existiu até há bem pouco tempo, o Café Royal, que pelo nome seria um chamariz para a marinhagem estrangeira que frequentava o local. Teve mais poder a banca que o adquiriu, desmantelou-o, e ali instalou a sua agência. E foi pena, porque este curioso café era ainda o símbolo de uma época, com a fachada revestida de belos azulejos, um alpendre envidraçado construído sobre ferrajaria desenhada à arte nova e bons espelhos no interior. 


Ainda conhecemos os empregados que serviam a clientela, vestidos de preto, laço no colarinho e largo avental branco tapando-lhe as pernas, à velha maneira, como ainda se encontram em algumas «terrasses» parisienses. Um destes servidores, bom cavaqueador, contou-nos a seguinte anedota verdadeira...

Café Royal [c. 1912]
Praça Duque da Terceira, vulgo Cais do Sodré, e Rua do Alecrim (esq.)
Alberto Carlos Lima,  in Lisboa de Antigamente

À hora do almoço, o Café enchia-se de fregueses, empregados das agências de navegação existentes na área. Entre os habituais, um trazia debaixo do braço uma molhada de jornais e enquanto lhe preparavam o habitual bife com batatas — que o Café tinha fama em os servir  — foi lendo. Na devida altura o criado colocou sobre a mesa a frigideira rechinando, a meia garrafa do Colares, o apetitoso pãozinho branco, a manteiga, os talheres e o copo. Mas o freguês continuou a ler o jornal. Até que, reparando na mesa, largou as notícias e iniciou o ataque ao bife. Porém, às primeiras dentadas, contra o habitual, verificou que a carne era rija! E reclamou:
Ó, Chico, este bife é intragável!
O criado, pacientemente, devolveu a frigideira ao guiché dizendo para o cozinheiro: — Olha lá isso, ó pá! O freguês diz que essa carne é rija! 
O cozinheiro, que não estaria em dia de boa disposição, disse de sua justiça e, violentamente, acompanhou as frases, ferrando com o bife no chão, espezinhando-o com a serradura. O freguês voltara à leitura dos jornais. Mas a certa altura, gritou: 
— Então, esse bife!?
Tanto o criado como o cozinheiro se haviam esquecido da reclamação, e quando aquele voltou à portinhola a gritar pelo bife — que o freguês estava furioso! — o cozinheiro olhou em volta, embaraçado esquecendo-se do que lhe havia feito! Mas ao olhar o chão, deparou com a carne negra, empapada na serradura. Apanhou-a, sacudiu-a, deu-lhe duas palmadas e ferrou com o bife na frigideira que estaria sempre sobre o fogão, fervendo a mesma gordura que servia a todos. Quando julgou que a coisa estaria em condições, prantou-a no barro limpo que servia à mesa, ajeitou-lhe umas batatas em volta, o ovo da praxe e gritou para o Chico: 
— Pronto, aqui está um esplêndido bife!
O freguês de novo largou o jornal e à primeira garfada, exclamou: 
 — Agora sim, agora temos bife!...

Café Royal [c. 1912]
Praça Duque da Terceira, vulgo Cais do Sodré, e Rua do Alecrim (esq.)
Alberto Carlos Lima,  in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo (1900-1974), pp. 46.48, 1986.

Wednesday 7 February 2018

Café-Restaurante Royal

O «Café Royal» tem boa situação na Praça, entre tabacarias que se distinguem — tal as do Rossio — pela profusão de revistas e jornais estrangeiros; não tem história recuada. Foi fundado em 1906[1904] pelos donos do Cafe Central da Calçada do Carmo (...)

Era neste Café-Restaurante que costumava almoçar nos últimos anos da sua vida, sempre acompanhado de sua espôsa, o pintor Columbano.¹


O Café Royal — recorda M. Tavares Dias na sua Lisboa Desaparecida — constitui sozinho uma página importante da história do Cais do Sodré. Em estampas oitocentistas o gaveto nascente da Praça Duque da Terceira com a Rua do Alecrim é ainda morada do alfaiate Rego. Como de costume, inscrições do toldo e da fachada exibem publicidade em inglês: Rego Tailor.

 Café Royal |c. 1912|
Praça Duque da Terceira e Rua do Alecrim (Hotel Bragança); Rua Bernardino Costa (dir.)
Alberto Carlos Lima,  in Lisboa de Antigamente

O estabelecimento foi trespassado em 1902, adquirido por um brasileiro de torna-viagem que ali pretendia instalar um café elegante. Esmerou-se nas decorações exteriores, encomendando a J. Bonnadove desenhos vários, alusivos aos prazeres da gastronomia e da boémia. A partir deles foram estampados belos painéis de azulejo para enquadramento das portas e embelezamento das fachadas. Apeados inteiros na altura em que o café encerrou, esses azulejos versavam sete temas distintos, cujo levantamento aqui deixo a partir de fotografias e outros documentos da época.

Café Royal |1958|
Painel (central) de azulejos assinados

por J. Bonnadove
Armando Serôdio, in L.A.
Painel central sobre a praça: publicidade à Água Castello (figura feminina exibindo uma garrafa) [vd. 2ª foto]. Painel lateral nascente, sobre a praça: piquenique campestre com quatro convivas. Painel lateral poente sobre a praça: interior de café (três homens à mesa).  Painel poente tornejando para a Rua do Alecrim: cena de brinde com champanhe; várias figuras à mesa (uma delas, de cálice erguido, ocupava o friso vertical que constituía o gaveto do quarteirão) [vd. 3ª foto]. Painéis pequenos virados para a Rua do Alecrim: dois com motivos campestres e, ao centro, o «painel do caçador» (que teria sido inspirado pelo poeta Bulhão Pato).
A tempos espaçados estiveram inteiramente cobertos os dois painéis, à esquerda da entrada, pois desse lado instalara-se a tabacaria do café com as suas vitrinas repletas de estampas e de postais. Os desenhos acompanhavam quase toda a altura da fachada do café (piso térreo do edifício), começando a cerca de um metro do solo. Todos estavam enquadrados por molduras em relevo com motivos arte-nova, cuja policromia contrastava com o azul ferrete dos motivos principais.

Café Royal |1958|
Painel de azulejos no gaveto do
quarteirão assinados por J. Bonnadove
Armando Serôdio, in L.A.
Os interiores também eram modern-style (mesas monogramadas e espelhos debruados a ouro), pelo que a casa inaugurou no pino da moda em artes decorativas. Nesse ano de 1904 o Café Royal adivinhava-se futuro centro de muitas e ilustres tertúlias. Alguns meses após a fundação já o proprietário inicial o tinha em praça para trespasse por preço disso condigno, encontrando imediatamente muitos colegas interessados. O café seria então — 1905 adquirido pela família Blanco, em cujas mãos se manteve até 1959, ano do encerramento. Entre estas duas datas um mundo de luzes cintilou em volta das suas mesas. Na lista dos clientes do Royal poder-se-ão apontar, entre muitos outros, Columbano e Raphael Bordallo Pinheiro, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro. Fernando Pessoa. Almada Negreiros, António Botto, Gago Coutinho, Reinaldo Ferreira (Reporter X), Armando Portela, Rocha Martins, Cunha Leal, Lopes Graça. Luiz Pacheco, Helder Macedo, Virgílio Martinho. António José Forte, Ernesto Sampaio, Mário Cesariny e Mário Domingues.

Foi este último escritor, conhecedor do café desde a segunda década do século [XX], quem fez a elegia da casa num panfleto publicado pouco antes do encerramento: «Conheci naquele aconchegado café tantos tipos humanos, presenciei tanto drama, escutei tanta confidência. lidei com gente tão fraternal e, por vezes, com patifes. escroques internacionais, mal disfarçados espiões que se acotovelavam com ingleses gelados e rígidos por fora e sentimentais por dentro, holandeses saudáveis, americanos mal-educados mas good-fellows; impregnei-me de tanta humanidade, armei-me de tanta compreensão e tolerância que considero o Royal o maior tesouro espiritual da minha vida.» Estas palavras de homenagem reflectem bem as múltiplas faces do mundo que, entre as duas guerras, desaguava no Cais do Sodré, encaminhando os passos para o seu principal pólo de vida: as mesas do célebre café.²

 Café Royal |c. 1910|
Praça Duque da Terceira; Rua Bernardino Costa (dir.)
Joshua Benoliel,  in Lisboa de Antigamente

N.B.  No próximo artigo — e ainda a propósito deste curioso  café — contaremos uma história picaresca em que contracenam o freguês «exigente», o empregado de mesa — um tal de Chico —, um cozinheiro pouco zeloso e ainda... um  bife. A não perder.
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Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p.39, 1939.
² MARINA, Tavares Dias, Lisboa Desaparecida, vol. 6, pp. 179-184, 1989.

Sunday 4 February 2018

Rua Fernandes da Fonseca, antiga Carreirinha do Socorro

Já agora te digo que esta Rua Fernandes da Fonseca — escreve Norberto de Araújo — (que celebra a memória do fundador da Sociedade de socorro mútuo dos Artistas Lisbonenses) recebeu esta designação em 1888; antes foi a Carreirinha do Socorro, dístico de ressonância local e alfacinha, que, fazendo parte da Mouraria campestre, foi o primeiro caminho estabelecido do Socorro, pelos Cavaleiros (antes Calçada) até Santo André. Os grandes edifícios urbanos da Rua são quási todos do segundo e terceiro quartéis do século passado.

Rua Fernandes da Fonseca [c. 1900]
Convergência da Rua dos Cavaleiros (tomada da foto), Calçada da Mouraria (1ª dir.) e 
Rua do Benformoso (2ª dir.); o 3º arruamento à dir. é o Beco da Barbadela;
 ao fundo, vê-se o extinto Elevador da Graça e a Rua da Palma.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

É de típica designação bairrista o Beco da Barbadela, nesta Rua Fernandes da Fonseca, e tão antigo como a Carreirinha do Socorro, pois é registado no século de quinhentos; o seu nome de principio era o de «Barbaleda» dando-se com a designação o mesmo fenómeno de corruptela toponímica, e alternada, que se deu com «Boi e Bem Formoso».
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, p. 22, 1938.

Friday 2 February 2018

Largo da Boa Hora

Aqui temos o Largo da Boa Hora — diz Norberto de Araújo —, com seu sinistro casarão do Tribunal, o repulsivo Tribunal da Comarca de Lisboa, actualmente em obras, mas que continuará. a ser, mesmo asseado e limpo, um aleijão, simulacro ridículo de um vago Palácio da Justiça — que, parece, nunca veremos de pé.

Largo da Boa-Hora [1968]
Tribunal da Boa-Hora
Armando Serôdio, in Arquivo Municipal Lisboa

Neste sítio existiu, até ao Terramoto, o Convento dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, construído em 1633 com esmolas do povo, mas de seu começo ocupado pelos irlandeses dominicanos que nele habitaram até 1668, entrando depois o Convento na posse dos Congregados do Oratório de Felipe Nery, que nele permaneceram até 1674. Neste ano entraram os citados agostinhos, e só então o Convento passou a ser de N. Senhora da Boa Hora, datando dessa época (1677) a segunda Igreja, de que foram padroeiros os vizinhos Senhores de Barbacena, cujo grande palácio assentava nas cercanias do Convento. Em 1755 a casa dos frades da Boa Hora ruiu, assim como a casa nobre dos Barbacenas; o Convento reedificou-se.

Largo da Boa-Hora [965]
Tribunal da Boa-Hora; Rua Nova do Almada
Armando Serôdio, in Arquivo Municipal Lisboa
 
Em 1834, pela Extinção das Ordens, logo se estabeleceram no edifício os tribunais da comarca e seus cartórios, com calabouços anexos — e que calabouços!

Tribunal da Boa-Hora, claustro [1907]
Largo da Boa-Hora
Joshua Benoliel, in Arquivo Municipal Lisboa


Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p. 32, 1939. 

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