Sunday 29 April 2018

Escadinhas da Praia

As Escadinhas da Praia (antiga travessa das Escadinhas da Praia, vd. carta topográfica), que, antes de existir a Rampa de Santos aberta em 1859-60 — hoje Calçada Ribeiro Santos —  ligavam o adro da Igreja de Santos-o-Velho à antiga praia de Santos. No ano de 1501 começou a construção do Paço Real de Santos, no sítio das Comendadeiras de Santiago, no que era propriedade de Fernão Lourenço — que era feitor das Casas da Mina e da Índia —, e a vai ceder a D. Manuel I, sendo que então as águas do Tejo batiam no muro sul da cerca. O Paço ergueu-se sobre o rio e esteve ocupado pelos reis portugueses até à partida de D. Sebastião para Alcácer Quibir.

Escadinhas da Praia [1944]
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Em 1843 ainda o Tejo banhava a muralha do jardim do Palácio dos Marqueses de Abrantes [dele falaremos num próximo artigo] e é em 1850 que Lisboa vai conquistar terrenos ao Tejo. É a construção do «Aterro da Bôa Vista» e da linha Lisboa-Belém, em 1886, que afasta a Madragoa do rio. [cm-lisboa.pt]

Escadinhas da Praia, antiga travessa das Escadinhas da Praia, 1856 [a azul]
Palácio Marquês de Abrantes [actual Embaixada de França, a vermelho]
Ao centro, a Igreja de Santos
Levantamento topográfico de 1856 por Filipe Folque [excerto], in Lisboa de Antigamente

Friday 27 April 2018

Lojas de Antanho: Papelaria Fernandes

A génese da Papelaria Fernandes remonta a 1891, ano em que Joaquim Lourenço e o seu sobrinho Artur Lourenço fazem uma sociedade tomando de trespasse uma loja na então Rua do Rato, onde hoje encontramos o Largo do Rato, em Lisboa.

Papelaria Fernandes |1932|
Rua Áurea, 145
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O nome «Fernandes» foi herdado do anterior proprietário da loja, mas o facto de os clientes assim tratarem Artur Lourenço, levou os dois sócios a adoptar oficialmente a designação de "Fernandes & Companhia, Lda" em 1919

Papelaria Fernandes [Início séc. XX]
Antiga Rua do Rato hoje Largo do Rato, 13
DN, in Lisboa de Antigamente

Wednesday 25 April 2018

Palácio de Sant'Anna

O Palácio de Sant'Anna — situado no cimo da Calçada de Sant'Ana tornejando para a antiga Rua do Convento de Sant'Anna, hoje Rua do Instituto Bactereológico  — é um exemplar puro da Arquitectura Neoclássica portuguesa do século XVIII.


No Palácio de Sant'Anna funcionou a Embaixada do Império Austro-Húngaro entre 1867 e 1918. O 4º Conde de Mafra, D. Tomáz de Mello Breyner, médico pessoal e amigo do Rei D. Carlos, refere no seu livro «Memórias do Conde de Mafra» que tendo ido almoçar ao Palácio de Sant'Anna a convite do Embaixador, ficou encantado com a beleza da Casa.
Foi adquirido no início do século XX, para sua residência familiar, pelo Prof. Dr. António Lino Nettoeminente Advogado no seu tempo, Professor e Reitor do Instituto Superior de Economia, Vice-Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Presidente do Centro Católico Português e Presidente da Assembleia Nacional no tempo de Sidónio Pais.
 
Palácio de Sant'Anna [1901]
Calçada de Santana, 214
Machado & Souza, in AML

Entre 1930-90, foi arrendado à Direcção Geral de Viação, tendo sido posteriormente, já no final do século, adquirido por uma neta do proprietário aos restantes herdeiros. O restauro do edifício iniciado em 10 de Abril de 2000 foi concluído em 2 de Novembro de 2002 e teve como preocupação sempre presente a conservação e respeito pelos elementos construtivos, arquitectónicos e decorativos que constituem e caracterizam o Palácio, assim como pelas intervenções ao longo dos séculos que completam e enriquecem a sua personalidade.

Palácio de Sant'Anna [1961]
Frente virada
à Rua do Instituto Bacteriológico; torre sineira da Igreja da Pena (dir.)
Arnaldo Madureira, in AML

Bibliografia
palaciodesantanna.com.

Sunday 22 April 2018

Igreja e de S. Roque: da Patriarcal à Capela Real de S. João Batista — a Encomenda Prodigiosa

Último passo da jornada de hoje — o lanço monumental e artístico desta Peregrinação: a Igreja de S. Roque, e o Museu de Arte Sacra, seu anexo. A influência da Casa professa dos jesuítas neste bairro, como ainda hoje a projecção da Misericórdia, foi grande, e disso te pudeste aperceber no passo anterior mais por tua atenção e bom aviso do que por minhas letras.

Toque! Toque!Toque!
Vamos a S. Roque.

Igreja de São Roque [Início séc. XX]
Largo Trindade Coelho antigo de S. Roque; Rua S. Pedro de Alcântara
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

Ouviste já como de uma ermida, erguida em 1506, nasceu a Casa dos jesuítas e o seu formoso templo começado a erguer, em 1555. Não desejo forçar a nota, mas não quero privar-te de alguns elementos retrospectivos, resumidos ao máximo, segundo o nosso plano. 
Quando neste sítio se erguia apenas a pequenina Ermida de S. Roque, principios do século XVI, assentou aqui o «Adro da Peste» (fôra a peste que originara a construção do templozito, como te disse), Adro «consagrado por mandado de El-Rei Nosso Senhor (D. João III) em 24 de Maio de 1527 pelo Bispo D. Ambrosío», — o que tudo se interpreta de uma lápíde que no local existiu, e se encontra hoje colocada na parede do corredor do edifício da Misericórdia. Vieram os jesuítas; planeou-se o novo templo grandioso (cuja primeira pedra foi lançada pelo Padre jesuíta Nunes Barreto,  Patriarca da Etiópia, e do qual o risco inicial não sabemos ao certo de quem foi-talvez do Padre Diogo Miron —, conhecendo-se apenas que concebia cinco naves. Os trabalhos foram arrastados, até porque voltou a peste a Lisboa, mas em 1573 as paredes estavam de pé. A construção da abóbada constituiu um problema, que afinal Felipe Terzi, já depois de 1580, resolveu, fazendo-a construir em madeira. A fachada, pobre de linhas, austera, quási de construção civil, não diferia muito do que hoje é; tinha a mais uma varanda sôbre a cimalha, e um nicho de S. Roque no tímpano.
O adro era avançado, quási até ao meio da praça, e no ângulo, próximo da entrada da Misericórdia de hoje, abria-se a portaria conventual.  
A Igreja era rica, adornada de boas obras de arte, e constantemente objecto de generosidades régias, especialmente no tempo de D. João V, que fêz construir a opulenta Capela de S. João Baptista
O Terramoto causou em S. Roque bastantes estragos-principalmente na fachada, que caiu e arrastou uma parte extrema do teto —, mas não arruinou sensivelmente o templo; as obras de restauro que se seguiram foram importantes, e, depois, em vários períodos, beneficios e melhoramentos têm sido levados a efeito, mormente em 1862 e 1892. Limpezas e arranjos têm continuado sempre, de resto, e ainda agora S. Roque está recebendo pequenas obras. 

Igreja de São Roque [ant. 1900]
Largo Trindade Coelho antigo de S. Roque
Coluna mandada erguer pela colónia italiana, comemorando o casamento do 

Rei Dom Luís I com Dona Maria Pia de Sabóia em 1862
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

A Casa de S. Roque deixou de pertencer à Companhia de Jesus desde a confiscação dos bens dos jesuítas — 19 de Janeiro de 1759 — após a sua expulsão de Portugal. Em 1768, como atrás te disse, todo o edifício, seus bens e terrenos, passaram à Misericórdia, excepto uma parte da cêrca arborizada, que chegava aos Restauradores de hoje, e que foi doada em 1765 ao 4.° Conde, l.° Marquês de Castelo Melhor. 
E a-pesar-de os Padres de Santo Inácio terem sido autorizados a regressar em 1830 (D. Miguel), para serem novamente expulsos em 1833 (D. Pedro IV)a verdade é que a Casa de S. Roque acabara para a Companhia de Jesus.

Friday 20 April 2018

Quiosque dos Libertários

As primeiras dessas popularíssimas quitandas, que são de origem oriental, e se destinam normalmente à venda de tabacos, refrescos, jornais, revistas e lotarias, foi em Janeiro de 1869 que tiveram a aprovação do Município, a instâncias de Tomás de Melo, uma curiosa figura da Lisboa de ontem, associado com Porto Miguéis.  

 
De entre todos os Kioskes alfacinhas, teve um sombrio destaque o que se situou em freme à Calçada do Carmo, ponto preferido para a reunião de anarquistas e outros políticos avançados, em combinações revolucionárias.¹

Quiosque dos Libertários [entre 1908 e 1914]
Praça D. Pedro IV (vulgo Rossio)
Charles Chusseau-Flaviens, in GEH

Segundo parece, foi o primeiro Quiosque a aparecer em Lisboa. Chamavam-lhe o «Elegante». O povo conhecia-o com o nome de «A Bóia». Era um ponto de encontro e reunião de progressistas, cujo movimento sindicalista se radicalizava, e por isso mesmo era também conhecido por «Quiosque dos Libertários»
O povo incendiou-o em 1913, aquando de um cortejo em honra de Camões integrado nas «Festas da Cidade», após o rebentamento de uma bomba lançada da ponte do Elevador do Carmo sobre a turba incorporada no cortejo. O atentado, imputado aos anarquistas, serviu de pretexto para a detenção de militantes sindicalistas e para o encerramento da Casa Sindical.²
 
Incendio do quiosque dos Libertários [1913-06-10]
Praça D. Pedro IV (vulgo Rossio)
António Novais, inAML
 
Foi reconstruido e explorado por novo dono, João Dionísio da Silva Gama, que foi sócio da firma Gama & Silva, estabelecida como tabacaria na Praça de D. Pedro, n.° 36, que ficava quase em frente do quiosque, na antiga escada do prédio que foi adquirido pela sociedade do Café Chave de Ouro¹

Estrutura 
Base de alvenaria. Secção hexagonal. Corpo de madeira, com janelas para todos os lados, envidraçadas. Cúpula hexagonal muito baixa. Toldo de lona.
 
Particularidades 
Particular.

Quiosque dos Libertários [entre 1908 e 1911]
Praça D. Pedro IV (vulgo Rossio)
Joshua Benoliel, in AML
__________________
Bibliografia
¹ Revista municipal Lisboa, 1959.
² CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os quiosques de Lisboa, p. 51, 1987.

Wednesday 18 April 2018

Um eléctrico na Rua do Amparo

Como já te acentuei — diz Norberto de Araújo, o Rossio do lado oriental tem uma fisionomia, e até um movimento, em tudo diverso da do lado oposto. Forçando um pedaço a notaconfessodir-se-á que persiste aqui a tradição das tendas e lojas das arcarias sob o Hospital de Todos-os-Santos, e isto mais se acentua no último quarteirão que vamos percorrer, passada que seja a embocadura da Rua do Amparo.
Quero dizer-te já que nesta Rua do Amparo, precisamente no cruzamento com a Rua dos Correeiros (troço antigo da Rua das Galinheiras), e no eixo da rua, existiu a Ermida de N. Senhora do Amparo, dependente do Hospital de Todos-os-Santos, e desaparecida em 1755; dela adveio o nome a esta artéria. (...)

Rua do Amparo [entre 1910 e 1920]
À esquerda, a antiga loja de ferragens Viúva Thiago da Silva (1850) e o Hotel Continental; à direita a Casa Suissa, nome de 1910, à data da foto um estabelecimento de fazendas e retrosaria
 Fotógrafo não identificado, in AML

N.B.  Até ao Edital da CML de 28/8/1950, a Rua do Amparo estendia-se da Praça D. Pedro IV (Rossio) à Rua do Arco do Marquês de Alegrete (Poço do Borratém); a partir desta data, este arruamento ficou limitado pelas Praças de D. Pedro e da Figueira.
______________________________
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, pp. 77-78, 1939.

Sunday 15 April 2018

Bairro Azul

Começou por escolher o bairro onde mais gostaria de morar. Pensou em vários, e às suas preferências nunca era alheia a recordação dos tempos, ainda tão próximos, em que fora criada de servir. Gostaria, por exemplo, de ir pôr casa no Bairro Azul, só para «fazer ver» [...]¹


Estando embora em presença de uma Arquitectura civil, o Bairro Azul — Ruas Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão e Avenida Ressano Garcia — constitui um conjunto arquitectónico que se reveste de uma homogeneidade ímpar, datado da década de 30 do Século XX com prédios dotados de esquerdo-direito ao gosto Art Deco e burguês, destinado a servir uma classe média que culminaria a sua ascensão no período salazarista, e que se procurava rodear de algum luxo e dignidade.

Rua Marquês de Fronteira |1967|
Edifícios do Bairro Azul; esta designação devia-se à aparente  «mancha azul» formada pela cor das persianas, das portas e das caixilharias.
Artur Bastos, in Lisboa de Antigamente

O ângulo estranho do plano do bairro resultava do desenho de Cristino da Silva para uma vasta urbanização inicial que, cerca de 1930, deveria ter sido o remate do prolongamento da Avenida da Liberdade. Devia apresentar-se com arruamentos em simetria, nos dois lados do Parque Eduardo VII. Contudo, o bairro ficou isolado, pois o restante projecto não se realizou, repetindo-se a vocação lisboeta para os tecidos incompletos e para a justaposição de bairros de origens diversas, característicos do início do Séc. XX. Trata-se, ainda assim, de um projecto e de uma ideia subjacente de Cidade.

Panorâmica sobre o Bairro Azul e zonas circundantes |c. 1950|
Av. António Augusto de Aguiar
Edifícios do Bairro Azul; esta designação devia-se à aparente ‘mancha azul’ formada pela cor das persianas, das portas e das caixilharias.
Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente

Apresenta-se com uma hierarquia estabelecida e está dotado de aparatosos pórticos de entrada no Bairro. O seu isolamento apenas lhe veio confirmar a sua integridade e a sua autenticidade, patente no grande enriquecimento formal de fachadas e átrios de entrada, ganhando simplicidade formal ou opulência consoante a categoria social dos espaços o ditava. Baixos-relevos em estuque ou cimento, painéis policromados de mosaico cerâmico, ornatos salientes, pilastras e frisos, balaustradas, frontões e alpendres são motivos que aparecem com abundância neste vocabulário decorativo, de leitura complexa.

Avenida Ressano Garcia |1935|
Ressano Garcia (1847–1911) que enquanto engenheiro da CML foi responsável pela expansão de Lisboa para norte, a partir do eixo da Avenida da Liberdade com o projecto das Avenidas Novas integrou a toponímia de Lisboa ainda em vida, no ano de 1897, na artéria que hoje conhecemos como Avenida da República e, depois, no ano de 1929, regressou para uma Avenida no Bairro Azul.
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Tratando-se de um conjunto particularmente notável quanto à sua Arquitectura e aos motivos decorativos nela integrados, faz sentido classificar o conjunto com estas características estilísticas, pois manteve uma relação de sentido com os seus moradores, uma relação de autenticidade e integridade, o que se veio a verificar até à actualidade. É de realçar a autenticidade que o conjunto manteve ao longo dos tempos, pois é o conjunto, patente nas suas íntimas relações estilísticas que se mantiveram intactas e podem ser observadas.²

Bairro Azul |194-|
Perspectiva tomada da Rua Marquês de Fronteira vendo-se Avenida Ressano Garcia, ao centro, e a Av. António Augusto de Aguiar à dir..
Amadeu Ferrari, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ANÍBAL Nazaré, Maria, uma Sua Criada. capa e ilust. Stuart. Lisboa, 1958.
² Carlos Cabaço e João Reis, lisboapatrimoniocultural.pt

Friday 13 April 2018

Rua (da) Augusta (Figura do Rei)

O olisipógrafo Norberto Araújo caracteriza da seguinte forma este arruamento da Baixa de Lisboa:
A Rua Augusta foi destinada, de seu começo, aos mercadores de tecidos de seda e de lanifícios, e cinco anos depois do Terramoto era já citada; foi das mais apressadas em fazer-se «cidade», pois onze anos depois do cataclismo já possuía trinta e um prédios, e dez anos acrescentados as suas edificações perfaziam o número de cinquenta e três.
Este pormenor — que devemos a Luiz Pastor de Macedo, investigador conscienciosíssimo, e especialista na complexa matéria da história das ruas de Lisboa — dá-nos bem a impressão do quadro evolutivo da nova Baixa, terraplanada que foi a ruína imensa que o Terramoto provocou.

Rua (da) Augusta (Figura do Rei) [1930]
A Rua da Augusta Figura do Rei leva-nos a direito para a estátua do monarca
que homenageia: D. José I, o soberano que inaugurou em Lisboa a prática
da atribuição de nomes de ruas por decreto de 5 de Novembro de 1760.
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

Esta Rua Augusta — menos do que a Rua do Ouro se tem modernizado; menos pombalina que a Rua da Prata, e sobretudo do que as dos Douradores e Fanqueiros, a sua fisionomia transpira o jeito da transição de setecentos para oitocentos. Se a olhares, em perspectiva, aos domingos ao fim da tarde, quando ela vai deserta, e se pelo poder da imaginação lhe puseres no meio uma traquitana e suspensos das paredes dois candeeiros de cegonha — terás Lisboa do tempo dos franceses.==

Rua (da) Augusta (Figura do Rei) [1911]
Cortejo comemorativo da proclamação da República.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, pp. 47-48, 1939.

Wednesday 11 April 2018

Rua da Penha de França

A Rua da Penha de França — recorda-nos  Norberto de Araújo — antiga Estrada, mantém ainda a linha levemente sinuosa do século XVII; sua rectificação, aqui e ali iniciada, não se fará demorar. 

Rua da Penha de França, norte |1952|
Junto aon.º 23 e ao  actual Mercado de Sapadores (dir.)
Antiga Estrada da Penha de França. A origem do topónimo advém da imagem de N. S. da Penha de França (uma invocação de um santuário de Salamanca) criada por António Simões (c. 1600).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Também por aqui alguns prédios modernos acotovelam outros, nobres de tipo de casa do campo, de há trezentos anos. (...) Há oitenta anos [c. 1860], nem talvez tanto, as edificações por esta Estrada eram poucas; foi depois de 1875 que se começaram a erguer esses prédios pelos quais vamos passando, indiferentemente. Olha: aqui temos um pedaço de Estrada antiga, com uma série de de casebres simpáticos, que já saem fora do alinhamento rectificado. Diz-lhes adeus...¹

Rua da Penha de França, nascente |195-|
[Junto ao n.º 121 onde estaciona o automóvel]
Antiga Estrada da Penha de França. A origem do topónimo advém da imagem de N. S. da Penha de França (uma invocação de um santuário de Salamanca) criada por António Simões (c. 1600)
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», vol. VII, pp. 22-24, 1938.

Sunday 8 April 2018

Edifício Heron Castilho

Projectado em 1921 pelo arq. Norte Júnior, este edifício de gaveto e planta em L, com uma feição marcadamente ecléctica, associa elementos decorativos tardios ao gosto Arte Nova, patentes nas mísulas talhadas de carácter antropomórfico (figurando cabeças femininas), que suportam as varandas de grandes dimensões da fachada principal, a uma linguagem classicizante, patente nas balaustradas e no monumental arco de volta perfeita, que remata o corpo do gaveto, assim como nas pilastras, que marcam o ritmo e definem a espacialidade exterior do imóvel. Os planos das fachadas surgem rasgados por fenestrações, isoladas ou agrupadas pelos emolduramentos de cantaria e reboco, cuja verticalidade e grande dimensão acentuam a sua monumentalidade e volumetria. 

Edifício Heron Castilho [c. 1930]
Rua Braamcamp, 40-40D; Rua Castilho, 42-42B
F.S. Cordeiro, in Lisboa de Antigamente

Após um processo crescente de abandono e obsolescência, que culminou na sua quase total demolição, este edifício foi objecto de um projecto de reconstrução a partir de 1985, segundo o risco dos arquitectos Henrique Tavares Chicó, João Pedro Conceição Silva e Francisco Manuel Conceição Silva. Reabriu, em 1992, como centro de serviços terciários, conservando apenas os muros exteriores do primitivo imóvel, sendo que as características técnicas e formais de todo o edifício, incluindo dos 4 pisos novos, nada têm a ver com a construção inicial. Fenómeno bem visível nos alçados completamente envidraçados dos últimos pisos, com terraço de cobertura, que foram erguidos acima do remate da fachada, num plano ligeiramente recuado. [cm-lisboa.pt]

Edifício Heron Castilho [1960]
Rua Braamcamp, 40-40D; Rua Castilho, 42-42B
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Friday 6 April 2018

Rua Ferreira Borges

Entramos agora no Bairro (novo) de Campo de Ourique — diz Norberto de Araújo — pela sua Rua mais representativa, a de Ferreira Borges, e que é a Avenida do sítio. Fica-nos à [direita] o muro da parada do Quartel de Sapadores de Caminhos de Ferro, cujo portão principal de ingresso se rasga, ao fundo de uma passagem entre muretes, na extrema nascente da Rua de Infantaria 16.¹

Rua Ferreira Borges  [c. 1940]
Antiga Avenida do Campo de Ourique, antes Rua do Campo da Parada
À direita, o antigo lanço do Aqueduto das Águas Livres, ramal da Estrela e, acima deste, o Quartel de Campo de Ourique, mandando construir em 1762 pelo Conde de Lippe, a pedido do Marquês de Pombal; ao fundo, as Amoreiras.
Eduardo Portugal. in Lisboa de Antigamente

Neste arruamento (1880) consagra-se José Ferreira Borges (1786-1838), jurisconsulto e político, formado em Cânones pela Universidade de Coimbra que foi o autor do primeiro Código Comercial Português.²

Rua Ferreira Borges  [post. 1952]
Antiga Avenida do Campo de Ourique, antes Rua do Campo da Parada
À direita, a Rua de Campo de Ourique; ao fundo, à esquerda, o «Lycée Français Charles Lepierre» (1952). À sua direita, a Estação da Carris, inaugurada em 1938 e demolida em 1981 para dar lugar ao Complexo das Amoreiras, inaugurado em 1985. Em frente, os terrenos da EPAL onde, em 1998, começou a ser construído o Clube de Golfe das Amoreiras, nunca utilizado e desde então ao abandono.
Judah Benoliel. in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, «Peregrinações em Lisboa», vol. XI, p. 74, 1939.
² cm-lisboa.pt.

Wednesday 4 April 2018

Lojas de Antanho: fábrica de chapéus Jayme Pinto, Rua Áurea, 255

Com entrada pela escada n.º 259 — lê-se em A Capital de 1916 — cujo átrio foi há pouco transformado em montra, existe um prédio que essa escada serve a primeira fabrica de chapeus para senhora. que até hoje se tem fundado em Lisboa. O Jayme Pinto tem a gloria de ter sido, senão o iniciador d'essa nova industria, pelos menos o seu transformador. Todo o seu empenho intelligente tem consistido em radicar no espírito da sua clientela o principio de que nenhuma senhora deve contentar-se com os modelos que lhe apresentam quando pretende adquirir um chapeu. Compete-lhe crear uma moda para seu uso, dentro da moda geral. 

Fábrica de chapéus Jayme Pinto |c. 1920|
Rua Áurea, 255-259: Rua de Santa Justa (actual Torres Joalheiros)
Postal ilustrado, in Lisboa de Antigamente

E assim, quando se encontrar diante do fornecedor, ella deve levar já traçado na sua mente o feitio do chapeu que lhe serve e fazel-o executar. Comprehendendo-se, facilmente, quanto esta doutrina estética contribue para apurar o gosto das senhoras e para dar uma maior expansão à industria da especialidade. A exportação de chapeus que o Jayme Pinto faz para todo o Paiz, é já importantíssima, sendo manifesta a tendencia que ella acusa para se desenvolver. Com cerca de 100 operarias, trabalha só mechaanicamente por electricidade.==

Fábrica de chapéus Jayme Pinto |s.d.|
Rua Áurea, 255-259: Rua de Santa Justa (actual Torres Joalheiros)
Fotografia anónima

N.B. O Marco Postal que se observa na 1ª imagem  — um dos primeiros a ser colocado nas ruas da capital — é um modelo de 1895. Cilíndrico, em ferro fundido e fabricado em Portugal, era semelhante ao dos marcos que foram instalados em Lisboa, em 1882, e que mereceram um artigo na Revista “O Occidente”, no seu número do mês de Novembro. Nesse artigo relata-se a existência em algumas praças de “...Marcos de ferro, pintados de vermelho, muito vistosos com uma uma fenda horizontal na parte superior, por baixo da fenda uma porta fechando com segurança e por meio de chave, e um pequeno quadro indicando as horas das tiragens das correpondencias.”
 _____________
Bibliografia
A Capital  diário republicano da noite, 1916

Sunday 1 April 2018

Chalet e Jardim da Condessa d'Edla

De vez em quando aparecia um bocado da serra, com a sua muralha de ameias correndo sobre as penedias, ou via-se o castelo da Pena, solitário, lá no alto.¹


Na segunda metade do século XIX, D. Fernando II e a sua futura segunda mulher, Elise Hensler, Condessa d’Edla, criaram no Parque da Pena um Chalet e um Jardim de carácter privado e sensibilidade romântica, espaço de refúgio e recreio do casal. Localizado de forma estratégica a poente do Palácio da Pena, o edifício segue o modelo dos Chalets Alpinos, então em voga na Europa. Da ecléctica decoração sobressaem as pinturas murais, os estuques, os azulejos e o uso exaustivo da cortiça como elemento ornamental. No exterior, o jardim que envolve o Chalet reúne vegetação autóctone e espécies botânicas provenientes dos quatro cantos do mundo, conformando uma paisagem exótica em que se destacam a Feteira da Condessa, o Jardim da Joina, o Caramanchão e os lagos

Chalet e Jardim da Condessa d'Edla [1869]
No alto da serra -se o Palácio da Pena

J. Laurent, in F.P.E.

Entre 1864 e 1869 foi construído o denominado Chalet da Condessa d’Edla e desenvolvida uma forte intervenção paisagista na área envolvente. Influenciados pelo espírito romântico da época, D. Fernando e Elise Hensler, futura Condessa d’Edla, idealizaram uma das zonas mais idílicas e pitorescas dentro de aquele que é considerado o maior e mais emblemático parque romântico alguma vez concebido em Portugal.
O Chalet é um pequeno edifício de forte carga cénica, caracterizado no exterior pela marcação horizontal da pintura do reboco exterior, a simular pranchas de madeira, e pela cortiça que reveste balaústres, perfila beirados, emoldura vãos e finge trepadeiras.
A proximidade de um grupo de pedras de granito monumentais, inserido no jardim, e as vistas para o vale, o mar, o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e a Cruz Alta, acentuam o dramatismo, quer da construção, quer do conjunto paisagístico.

Chalet e Jardim da Condessa d'Edla [1869]
No alto da serra vê-se o Palácio da Pena

J. Laurent, in F.P.E.

O Jardim integra uma colorida zona formal com camélias, rododendros e azáleas, e uma exótica intervenção na paisagem – composta por mais de duzentas espécies botânicas e repleta de recantos, caminhos, bancos e miradouros – que permite um passeio entre o Chalet e o Palácio da Pena. Os elementos ornamentais e de fruição da ambiência, presentes de forma quase inesperada, integram-se neste percurso ao longo da descida até à Feteira da Condessa. O vale situado a nascente foi o local escolhido para a criação da Feteira, primeira colecção de fetos no Parque da Pena, de que são especial exemplo os fetos arbóreos da Austrália e Nova Zelândia.
Adjacentes ao Jardim da Condessa encontram-se as estruturas da Quinta da Pena, que inclui a Abegoaria, novas cavalariças e um espaço para as charretes que realizam passeios no Parque da Pena.²
______________
Bibliografia
¹ QUEIROZ, Eça de,  Os Maias, p. 190, 1888.
² parquesdesintra.pt.
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