A moda feminina mudara radicalmente durante a Grande Guerra, perdendo os contornos ditados pelo espartilho.
Pilar da coesão social própria comunicação gestual, a roupa determinou completa a postura, o movimento e a atitude, sociabilizando o corpo. No jogo das aparências, qualquer requinte de uma toilette elegante foi, durante largos anos, mais rigoroso dos que os próprios preceitos da higiene íntima. Até à segunda metade deste século, e apesar do culto oitocentista de "mente sã em corpo são", era mais importante ostentar o último capricho da moda do que tomar banho diariamente. O gosto aristocrático e refinado podia coabitar com a falta de asseio, mas nunca com a ausência da representação social do trajo.
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Praça Dom João da Câmara que foi Largo de Camões |1921-12-29| Elegantes da década de 20, de estola e chapéu, passeando no antigo Largo de Camões — hoje Praça D. João da Câmara — com o afamado Café Martinho e o luxuoso hotel Avenida Palace como pano de fundo. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
A linguagem da aparência vai até onde chegam os olhos alheios. Por isso se queixa o autor português Alfredo Gallis (1859-1910):
«Quantas, às nove da manhã, espera à janela, lindamente penteadas, o seu namorado, no entanto ainda não lavaram os pés nem tencionam levá-los?» (O Que as Noivas Devem Saber, 1910)
N.B. Foi neste arruamento próximo do Teatro D. Maria II que a edilidade decidiu perpetuar como Praça, o nome do dramaturgo D. João da Câmara, com a legenda «Figura Gloriosa do Teatro Português, 1852–1908», embora o edital de 1924 tenha por lapso mencionado Largo e, durante décadas, se tenha mantido a duplicação de referências, ora como Largo ora como Praça.
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Praça Dom João da Câmara que foi Largo de Camões |1921-12-31| Depois de passar, provavelmente, pela Kermesse de Paris para fazer umas compras de última hora. vamos lá preparar a passagem de ano. Ano Novo. Há concertos, fogos de artifício, inúmeras manifestações de alegria. No convívio da família e família e cumprindo tradições, também se vive a passagem do ano, desejando saúde, dinheiro e realização. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |


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