Friday 26 July 2024

Avenida Cinco de Outubro

Cinco de Outubro, data da implantação da República no ano de 1910, foi fixada pela edilidade lisboeta logo no seu primeiro Edital de toponímia, um mês após a implantação da República, em 5 de Novembro de 1910.
Até aí esta artéria designava-se Rua António Maria de Avelar, por deliberação camarária de 12 de Agosto de 1897, tendo passado a Avenida, por deliberação camarária de 4 de Dezembro de 1902, homenageando um engenheiro (1854–1912) e funcionário da Câmara de Lisboa desde 1879, ligado ao plano das Avenidas Novas já que substituiu por longos períodos o director-geral das Obras Municipais, Ressano Garcia. A proposta para ser alterada para Avenida Cinco de Outubro partiu do vereador Nunes Loureiro na reunião de câmara de 6 de Outubro de 1910 e foi aprovada por aclamação. [cm-lisboa]

Avenida Cinco de Outubro, 81 |1955-06-28|
Esquina com a Av. Miguel Bombarda. O prédio mais alto, ao fundo, com o número de policia 63, no gaveto com a Av. João Crisóstomo, ainda lá está. 
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): mais uma imagem erradamente catalogada no abandalhado aml como «Avenida Conde de Valbom»

Sunday 21 July 2024

Escadinhas da Costa do Castelo

Retempera uns momentos a tua vista no trecho de panorama que daqui já se desfruta e prossigamos, Dilecto companheiro, deixando à direita as escadinhas que levam ao Largo da Rosa.

Assentou aqui a casa nobre quinhentista de Luís de Brito de Nogueira — prossegue Norberto de Araújo — , senhor dos morgados de S. Lourenço, de Lisboa, e de Santo Estêvão, de Beja, e descendente do cavaleiro, alcaide-mor de Lisboa, Afonso Ennes Nogueira, já no local proprietário da casa nobre no século XIV. 
Foi Luís de Brito o fundador (1619) do Convento da Rosa das religiosas dominicanas, que avultou à direita das actuais Escadinhas da Costa do Castelo, e que, destruído pelo Terramoto, caldo em ruínas, desapareceu de todo no começo do século passado [XIX].==

Escadinhas da Costa do Castelo |c. 1960|
Perspectiva tomada da Costa do Castelo; ao fundo vê-se o Largo da Rosa; a dir. avulta o
Palácio da Rosa (Castelo Melhor).

Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto está mal identificado no arquivo (aml)

A chamada Costa do Castelo — diz o Guia de Portugal — constitui parte da antiga estr. de circunvalação que, anteriormente à conquista de Lisboa, corria a meia altura da encosta do monte do Castelo, partindo das portas de Alfofa (no cruzamento das ruas do Milagre de Santo António e S, Bartolomeu [de Gusmão]), rodeando a antiga cerca visigótica, passando a S. Lourenço e Santo André, e vindo terminar no Largo das Portas do Sol. Paralelamente a ela e na base do monte corria na mesma época outra estr., que começava na Porta do Ferro (Largo de Santo António da Sé) e findava na de S. Vicente (arco do Marquês de Alegrete).
A Costa do Castelo termina no lugar onde se erguiam as Portas de Santo André, e onde há pouco se via o arco do mesmo nome, demolido para passagem dos eléctricos.==
 
Escadinhas da Costa do Castelo |1946|
Perspectiva tomada do Largo da Rosa com 
o Palácio da Rosa à esq..
Fernando Pozal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III,p. 16,  1938.
idem, Inventário de Lisboa, 1950.
Guia de Portugal: Generalidades. Lisboa e arredores, p. 272, 1924.

Friday 19 July 2024

Costa do Castelo

Encontrámos o verdadeiro, o original Costa do Castelo.
Ei-lo aqui, encosta do Castelo de S. Jorge abaixo, todo aperaltado na sua fatiota de três peças, relógio de bolso com corrente, chapéu de coco e guarda-chuva. Tudo como mandava o figurino.


Chegámos à Costa do Castelo, que constitui o passeio de circunvalação da antiga cidadela e fortaleza, e abrange quase dois terços da sua cintura desde este ponto até o extremo da Rua do Milagre de Santo António, que morre nos Lóios. Ficava na meia-encosta — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , quase despovoada no seu começo, verdejante de olivais, hortas e algumas terras de semeadura. Em verdade, só no século passado entrou a ganhar significação urbana; não é necessário fazeres um grande esforço de imaginação para, através do que foi «plantado» ordenadamente em prédios, há pouco mais de cem anos, reconheceres a rústica Costa das estampas antigas.

Costa do Castelo |c. 1900|
Encontrámos o verdadeiro, o original Costa do Castelo.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 14, 1938.

Sunday 14 July 2024

Estação de Benfica

É no fim do séc. XIX que é inaugurada a Linha de Sintra (1887) e consequentemente a Estação de Benfica. Apesar de trazer grandes vantagens à zona e proporcionar um maior e mais rápido desenvolvimento, uma linha férrea cria uma barreira muito marcante na cidade. Foi esse o caso da linha de Sintra. O bairro do Calhariz de Benfica ficou separado de Benfica pela linha do comboio, e isso criou grandes dificuldades no seu desenvolvimento. Foi a partir desta data que Benfica começou a crescer exponencialmente, mas por outro lado a zona do Calhariz ficou completamente “paralisada” com esta separação. É também com a instalação da linha férrea que é criada a “rua da estação” a actual Av. Gomes Pereira, que estabelece a ligação entre a estrada de Benfica e a estação ferroviária.
(José Santos Pereira, projecto urbano para a estação de Benfica, 2012)

Estação de Benfica |1964|
Estação ferroviária sita ao cimo da Avenida Gomes Pereira/R. da Venezuela; o vulgo apelidou-a de “Rua do Comboio”, “Rua da Estação”, “Rua do Cinema” ou “Rua da Fábrica”.
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

Friday 12 July 2024

Casal da Viúva Teles à Rua Maria Pia

O Casal da Viúva Teles (Casal Ventoso), já demolido, situava-se a ocidente da Rua Maria Pia, junto ao chafariz da Meia-Laranja.
 
Casal da Viúva Teles à Rua Maria Pia (ao fundo) |1968|
João Hermes Goulart, in Lisboa de Antigamente

Foi pelo Edital de 07/11/1901 que parte da Estr. de Circunvalação, do lado sul da antiga ponte de Alcântara e até ao cruzamento com a Rua do Arco do Carvalhão, se passou a denominar Rua Maria Pia, mas segundo Norberto Araújo, já desde o final do séc. XIX que o povo a denominava assim.

Sunday 7 July 2024

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz

Ora aí temos o Arco do Marquês do Alegrete — diz Norberto de Araújo — no aspecto de 1674, ano em que foi transformada a velha porta de S. Vicente da Mouraria, assim chamada ainda em 1554. Intitula-se do Marquês do Alegrete, porque a ele se encostou o palácio construído pelo Conde de Vilar Maior, antecessor da Casa dos Alegretes, depois Penalvas e Taroucas (Teles da Sylva).
 
 
O boletim trimestral — Olisipo do grupo de Amigos de Lisboa — , apurou em Abril de 1945: «Passam por hora sob o Arco do Marquês de Alegrete: mais de 100 eléctricos, 200 automóveis, 6000 pessoas a pé e muitos caminhões. Apesar de algumas dúvidas nas quantidades, sobretudo no exagero de tantos eléctricos por hora quando competiam num buraco de agulha, além da multidão, com «caminhetas e carretas», cito o rol feito pelo olisipógrafo Luís Pastor de Macedo — a quem vamos sempre seguindo.

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1946|
Arco do Marquês do Alegrete
 — durante as demolições na Mouraria; Salão Lisboa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

A tradição conta-nos que Martim Moniz era um dos cavaleiros de D. Afonso Henriques que em 1147, na conquista de Lisboa, se atravessou numa porta da muralha do Castelo dos Mouros, impedindo o seu fecho e, sendo de imediato morto pelos sitiados enquanto garantia a abertura necessária para a entrada dos exércitos cristãos conquistarem a cidade.
Em 1908 o herói Martim Moniz ganhou uma placa evocativa na porta do seu sacrifício e, em 1915, ficou também imortalizado na toponímia da Mouraria já que a Rua de São Vicente à Guia – que se situava entre a Rua da Mouraria, Rua do Arco do Marquês de Alegrete e a Calçada do Jogo da Pela – se passou a denominar Rua Martim Moniz, pelo Edital de 14 de Outubro de 1915. Contudo, as alterações urbanísticas do local iniciadas a partir da década de 30, a pretexto de ligar a Avenida Almirante Reis ao Rossio, acabaram por fazer desaparecer o Mercado da Figueira, parte da Mouraria e este arruamento.

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1945|
Arco e Palácio do Marquês do Alegrete e Salão Lisboa
André Salgado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 1961 foi finalmente empreendida a controversa destruição do Arco do Marquês de Alegrete, o último resquício das portas da Cerca Fernandina, a Porta da Mouraria, e recordado em versos:

Arco do Marquês de Alegrete
O quadro ilustra bem
Uma imagem que morreu
Será que existe alguém
Que este passado viveu?
Era palácio e cinema
Eléctricos, engraxadores
Eis a leitura do tema
Ao Arco dos meus Amores.
(Baguinho: 1999)

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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.
MENEZES, Marluci, Mouraria, Retalhos de Um Imaginário: Significados Urbanos de Um Bairro de Lisboa, 2023.
FERNANDES, José Ferreira, Martim Moniz - Como o Desentalar e Passar a Admirar, 2024.

Friday 5 July 2024

Rua Garrett, antiga do Chiado

O topónimo Rua Garrett, foi atribuído no âmbito das Comemorações do tricentenário da morte de Camões em 1880 à velhinha Rua do Chiado.

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854). Iniciador do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna, jornalista, político, legislador, Garrett é um exemplo de aliança inseparável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta. É considerado, por muitos autores, como o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários.

Rua Garrett, antiga do Chiado |1926-09-09|
Lojas na esquina da Cç. do Sacramento: Ao Último Figurino fund. 1910; a Antiga Casa José Alexandre fund. 1840; ao fundo os Armazéns do Chiado fund. 1894.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Bando precatório a favor das vítimas do terramoto no Faial»

De origem irlandesa, a grafia do seu último apelido «garet» foi por ele próprio alterada na sua assinatura para «garrett» com o objectivo que as pessoas lessem a letra tê para pronunciar correctamente o seu nome como «garrete».

Rua Garrett, antiga do Chiado |1951|
Na imagem merecem destaque a antiga Tabacaria Estrela Polar , o Café Chiado à dir,  a Basílica dos Mártires e, encimando a foto, a Igreja de Encarnação.
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Sunday 30 June 2024

Rua do Terreiro do Trigo, 6-26

As nascentes de água quente de Alfama (termo árabe Alhama, que significa fonte quente) do Grupo das Alcaçarias encontram-se alinhadas na zona entre o largo do Chafariz de El-Rei e o Largo do Chafariz de Dentro, ao longo da Rua do Terreiro do Trigo e deram origem a um conjunto de ocorrências que foram exploradas, ainda no século XIX, como “balneários públicos” ou "banhos" durante algumas décadas.
Os registos históricos e hidrogeológicos destas nascentes, grande parte das quais com temperatura acima de 20ªC, que tiveram condições para, no final do século XIX serem qualificadas de “águas minero-medicinais” pela então Inspecção de Águas, põem a descoberto um aspecto da vida da cidade de Lisboa, hoje praticamente desconhecido. 

Rua do Terreiro do Trigo, 6-26 (Cerca Fernandina) |c. 1949|
Os banhos do Robles
As nascentes encontram-se situadas extramuros relativamente à “Cerca Moura” de Lisboa, pelo que Alfama era um local que só com o desaparecimento da muralha moura anexou uma parte da cidade, até à Sé. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
  
De acordo com Acciaiuoli (1944), o primeiro estabelecimento termal que se fundou na zona de Alfama, com água das Alcaçarias, foi o do Duque do Cadaval, em 1716; em 1725, havia dois estabelecimentos, o do Duque e outro particular; em 1810, havia o do Duque, os Banhos de D. Clara e os Banhos do Doutor.
Registam-se também na literatura os Banhos do Mosteiro de Alcobaça, intramuros em relação à Cerca Fernandina, num edifício que simultaneamente dá para o Largo do Chafariz de Dentro e para a Rua do Terreiro do Trigo e localizados na Rua do Terreiro do Trigo, nºs 14 a 18. Em 1945 ainda se aproveitava a água desta nascente, extraída com uma bomba.

Pontos de água na Rua do Terreiro do Trigo e a sua localização em relação à “Cerca Moura” e à Cerca Fernandina, a partir de Vieira da Silva (1987).

Bibliografia
SILVA, Augusto Vieira da - A cerca fernandina de Lisboa, 1987.
Elsa Cristina Ramalho 1 e Maria Carla Lourenço, As águas de Alfama, 2005.
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