Friday 13 September 2024

Avenida Álvares Cabral

Pelo edital de 18/11/1910 «a Avenida que deve ligar o Largo da Estrella com o antigo Largo do Rato, hoje Praça do Brazil» passa a denominar-se de Avenida Álvares Cabral.

No 1º Edital após a implantação da República, datado de 5 de Novembro de 1910, foram atribuídos ao Largo do Rato o topónimo Praça do Brasil e, à Praça do Príncipe Real, o de Praça do Rio de Janeiro. O primeiro foi em "homenagem ao grande País nosso amigo e irmão e à passagem do seu chefe de Estado por esta capital"

Avenida Álvares Cabral SN|1944|
Antiga Pedro Álvares Cabral
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Na realidade, a circunstância do Presidente Hermes da Fonseca ter estado em Lisboa nos dias 4 e 5 de Outubro, conferia ao Brasil a condição de ser o primeiro país a reconhecer o novo regime. Percebe-se assim que o 2º Edital datado de 18/11/1910 denomine a artéria que desemboca na então Praça do Brasil com o nome do navegador português que primeiro chegou às Terras de Vera Cruz: Pedro Álvares Cabral.

Avenida Álvares Cabral N→S |c. 194.|
Antiga Pedro Álvares Cabral
C. Salgado, in Lisboa de Antigamente

Sunday 8 September 2024

Rua de Santo António dos Capuchos

Santo António dos Capuchos (Rua de) — Em 1786 se lhe chamava «Rua Nova de Santo António dos Capuchos». Por esta rua transitou o cadáver da rainha de Inglaterra [Catarina Henriqueta de Bragança, vd. Nota(s)], indo a seu enterro em Belém. [Brito: 1935]
O topónimo do arruamento deriva da Convento de Santo António dos Capuchos (hoje hosp.) — dos religiosos franciscanos da província de Santo António — fund. neste local em 1570.

Rua de Santo António dos Capuchos, 35 |1942|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): Dona Catarina de Bragança (1638-1705) morreu no Paço da Bemposta. Enterrada no real convento de Belém ou Igreja dos Jerónimos, o seu corpo foi depois trasladado para o panteão dos Braganças em São Vicente de Fora.

Friday 6 September 2024

Pátio do Pimenta

Na casa cujo piso térreo aqui se vê à dir. com o novo nº de policia «1», morou Almeida Garrett, em 1836, «na casa que fica á esquerda, entrando, com um jardinzlnho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A. Casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sobre o Tejo».

Vítor parou, resolveu esperar. A chuva caía e, envergonhado do cocheiro, tinha-se refugiado à esquina, na Calçada do Pimenta; não tirava o olhar da janela mas nenhuma mulher passava sob a vidraça da janela; e a luz, um pouco fraca, parecia ser das velas sobre o toucador. [QUEIROZ, Eça de, Tragédia da Rua das Flores, 1877]

 

Pátio do Pimenta com Rua do Ataíde que desce ao fundo, passado o arco. |1954-10|
 Na casa cujo piso térreo aqui se vê à dir. com o novo nº de policia «1», morou Almeida Garrett, em 1836, «na casa que fica á esquerda, entrando, com um jardinzlnho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A. Casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sobre o Tejo».
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Eça de Queiroz chamou à Rua do Ataíde «Calçada do Pimenta». No cimo desta Calçada existe, de facto, o chamado «Pátio do Pimenta», onde morou o sobrinho de Almeida Garrett, companheiro do cunhado de Eça, o conde de Resende, e participante da verdadeira tragédia da Rua das Flores com Vieira de Castro. Descobrindo este que a mulher o enganava com o sobrinho de Garrett, resolveu matá-la, o que fez sufocando-a com uma almofada.
O pátio do Pimenta, ainda hoje existente, encontrava-se aí demarcado, podendo assim concluir-se que a «Calçada do Pimenta» referida por Eça era a Rua do Ataíde, já com essa designação no tempo do romancista, à esquina da qual se localizava o andar onde Genoveva se suicidaria.

Sunday 1 September 2024

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia

Alcântara urbanizada não leva duzentos anos: de arrabalde fez-se cidade em fins de setecentos. Mas é lisboeta de casco e sumo. Rescende alguma coisa de um passado evocativo. Já lá não está a ponte de Alcântara com S. João Nepomuceno — recorda o ilustre Norberto de Araújo. Mas o Prior do Crato resiste no letreiro da artéria principal do bairro. 
(ARAÚJO, Norberto de, «Legendas de Lisboa», p. 143, 1943)

Originalmente, o topónimo foi aprovado como Rua Prior do Crato (Dom António) e passou a ter a grafia actual após uma decisão da reunião de Câmara de 14/12/1943. Também apesar de não constar na placa toponímica, foi o topónimo aprovado com a legenda «O Glorioso vencido da Ponte de Alcântara em 25 de Agosto de 1580»-

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia |1966|
Cruzamento das Ruas Prior do Crato e Maria Pia
A velha ribeira pode ter sido encanada. A vetusta ponte pode ter desaparecido, mas eis que logo outra surge, lá ao fundo, no horizonte.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Foi pelo Edital de 07/11/1901 que parte da Estr. de Circunvalação, do lado sul da antiga ponte de Alcântara e até ao cruzamento com a Rua do Arco do Carvalhão, se passou a denominar Rua Maria Pia, mas segundo Norberto Araújo, já desde o final do séc. XIX que o povo a chamava assim.

Antigo Largo de Alcântara: Ruas Prior do Crato e Maria Pia |1949|
Largo de Alcântara [sítio da ponte de Alcântara], cruzamento das ruas Maria Pia e Rua Prior do Crato.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday 30 August 2024

Rua de São Pedro de Alcântara que foi «da Tôrre de S. Roque»

S. Pedro de Alcântara teve o seu período de moda. Era o «Passeio», a «Alameda», o «Jardim» de S. Pedro de Alcântara, com a sua ingenuidade alfacinha, e o seu traço espiritual de romantismo.  (ARAÚJO: 1938)

A denominação deriva do antigo Convento de S. Pedro de Alcântara (ou dos Arrábidos) que ainda hoje encontramos na esquina da Rua Luísa Todi. Fundado por D. António Luiz de Menezes, Conde Cantanhede e Marquês de Marialva, em 12 de Agosto de 1680, em cumprimento do voto feito na Batalha de Montes Claros que ganhou aos espanhóis na guerra da Restauração, logo ali se instalaram os franciscanos arrábidos.

Rua de São Pedro de Alcântara que foi «da Tôrre de S. Roque» |entre 1908 e 1914|
Destaque para a Calçada Portuguesa junto à Alameda de S. Pedro de Alcântara. 
Ao fundo vê-se o inicio da Rua de D. Pedro V. 
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Este topónimo já surge nas plantas da remodelação paroquial de 1780, como Rua de São Pedro de Alcântara e Rua Direita de São Pedro de Alcântara. Mas 79 anos depois, pelo edital do Governo Civil de Lisboa de 01/09/1859, a Rua da Torre de S. Roque (também vulgarmente conhecida como Torre do Relógio) e o Largo de São Pedro de Alcântara passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua de São Pedro de Alcântara.

Sunday 25 August 2024

Sítio de Belém

Assinala Norberto de Araújo que Belém — orgulhoso sítio da antiga Lisboa arrabaldina — nasceu do Restelo, praia e lugar, Barra ou Surgidouro do Restelo, ao qual as navegações do século XV emprestaram notoriedade, ainda que o Restelo já de si falasse nos séculos anteriores. [...]

Rua de Belém |1930-11-09|
Legenda no arquivo: «A chegada do príncipe do Japão ao palácio de Belém».
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Em 1835 tornou-se concelho independente do de Lisboa, e assim, com sua Câmara Municipal, viveu até 1885, ano de reorganização administrativa, ficando, então, como hoje, Belém a constituir uma freguesia senhora de si.

Rua de Belém |1939-02|
Lado S. antes das demolições de prédios e de alguns arruamentos por ocasião da Exposição do Mundo Português que teve lugar em 1940. Ao fundo nota-se o Mosteiro dos Jerónimos.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

No quarteirão entre as Travessas das Linheiras e da Praça na esquina poente, podes observar esse prédio altaneiro, com ar solarengo vencido pela desfortuna, e que contribui para tornar simpático este troço da velha Belém.

Rua de Belém com a Tv. da Praça |190-|
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 67-73, 1939.

Friday 23 August 2024

Antigo Capilé do Camões

Dias de calor horrível, logo desde manhã abrasando — escrevia João da Camara em O Occidente nos idos de Agosto de 1898.  Não bole uma folha nas árvores; n'ellas se não ouve o pio d'um pássaro. O catavento imóvel aponta para leste. Todos ofegantes suspiram para que chegue a tarde. Calam-se todas as paixões, apaga-se nos cérebros o pensamento O capilé é rei, a cerveja imperatriz. Enquanto quase todos sofrem, folgam apenas os donos de cafés e as limonadeiras do Rocio.

Praça Luís de Camões, 41 |1929|
[Junto à Rua das Gáveas]
Antigo Capilé do Camões, uma verdadeira loja de conveniência: há lá coisa melhor
que um capilé, ou uma carapinhada, para 'empurrar' uns pastéis de Belém.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Fim de Agosto. Lisboa é como morta, dormindo a longa sesta. De quando em quando, abre um olho para ver um simulacro de toirada, move uma perna em direcção a um arraial; mas não são movimentos voluntários: apenas uns espreguiçamentos. 
E quem fala é só para queixar-se. A enfiada dos lugares comuns: Que tempo horrível! — Mil vezes o Inverno,  — Fins d'Agosto são sempre assim.  — Antes na África.==

Praça Luís de Camões, 41 |1934|
[Junto à Rua das Gáveas]
Antigo Capilé do Camões, uma verdadeira loja de conveniência: há lá coisa melhor
que um capilé, ou uma carapinhada, para 'empurrar' uns pastéis de Belém.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday 18 August 2024

Rua do Instituto Virgílio Machado

Instituto Virgílio Machado (Rua do) — A denominação antiga era rua da Ribeira Velha. Principia na rua João Evangelista [actual Av. Infante Dom Henrique], e finda na rua da Alfândega. Legalizada pelo Edital de 6 de Novembro de 1903. Freguesia de Santa Maria Maior.
É uma das vias públicas modernamente abertas, tendo-lhe sido dada, primitivamente, a denominação de «rua da Ribeira Velha» pelo edital de 29 de Novembro de 1902. Foi entregue à Câmara pelo Ministério das Obras Públicas em 22 de Fevereiro de 1901. A actual denominação rende homenagem ao conselheiro dr. Virgílio Cesar da Silveira Machado, que ali mandou construir um Instituto para tratamento de doenças nervosas.

Rua do Instituto Virgílio Machado, 14 |1930|
Fachada do Instituto Médico Virgílio Machado vista da Rua da Alfândega.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Virgílio César da Silveira Machado (1859-1927) formou-se em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e foi médico (radiologista e neurologista) e químico. Entre as funções profissionais e públicas que exerceu, destacam-se as de: lente de Química no Instituto Industrial de Lisboa; emissário especial de Portugal na Exposição Internacional de Electricidade em Paris; médico honorário da Real Câmara; médico extraordinário no Hospital de São José; fundador do Instituto Médico Virgílio Machado; e membro do Conselho do Rei. Pertenceu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.

Rua da Ribeira Velha hoje «do Instituto Virgílio Machado», 14 |1902|
Fachada do Instituto Médico Virgílio Machado vista da Rua da Alfândega.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
BRITO, Gomes de) Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935.
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