Sunday, 30 January 2022

Rua Vieira Portuense

É curiosa pelo seu pitoresco natural e semblante «muito Belém» esta ala de prédios desde a esquina da Praça [Afonso de Albuquerque], pela Rua Vieira Portuense, até à Travessa das Linheiras, dos n.°s 40 a 52; serão alindados para se integrarem, em 1940, na área da Exposição do Mundo Português. As suas colunas estão «comidas» no sopé pela areia: tem poesia bairrista, um certo ar decrépito mas que transpira verdade pitoresca.==
(ARAUJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 73)

Rua Vieira Portuense |1965|
Antiga Rua do Cais
As Casas velhas e pitorescas de Belém Velho, do lado sul, com face voltada ao mar.
Armando Serôdio, in AML

O topónimo homenageia Francisco Vieira (1765-1805), pintor, lente de desenho na Academia do Porto, cognominado «Vieira Portuense», por ter nascido nessa cidade, e para se diferençar doutro seu afamado contemporâneo, conhecido pelo nome de «Vieira Lusitano», por ter nascido em Lisboa.
Figura ímpar, entre os grandes mestres da pintura setecentista, Vieira Portuense é um exemplo a seguir pela persistência da sua actividade artística e pelo estudo aturado que o levou a todos os lugares da Europa onde a arte se sacralizava, e fez dele o maior pintor do Século XVIII, com méritos reconhecidos em Itália, Alemanha e Inglaterra, bem como em Portugal, onde D. João VI o chamou à Corte, nomeando-o primeiro pintor da Real Câmara.

Rua Vieira Portuense |1968|
Antiga Rua do Cais
À esq. nota-se um troço da Rua de Belém e, do lado oposto vislumbra-se o Monumento a Afonso de Albuquerque; no terreno baldio virá a nascer na década de 1980 o Jardim Vasco da Gama.
Armando Serôdio, in AML

Friday, 28 January 2022

Rua Vieira Portuense: antiga casa do «António das Caldeiradas»

Um pouco mais à frente, na Rua Vieira Portuense, a antiga rua do Cais — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , temos essa ala de prédios que «serão alindados para se integrarem, em 1940, na área da Exposição do Mundo Português», «São casas do tempo em que o rio lhes beijava os pés dourados de areia.» 
(ARAÚJO, Norberto de, «Peregrinações em Lisboa», vol. IX, p. 54)

Rua Vieira Portuense, antiga do Cais [c. 1900]
Pitoresca Casa das Colunas, onde no  século XIX, campeava «o António das Caldeiradas».
José Artur Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Aí ficava o «caldeirista-mor da rigolade alfacinha, António de Belém, perto dos Arcos», verdadeiro «génio do refogado», tão gabado por Fialho de Almeida, em especial «nas suas relações sociais e aperitivas com o peixe era tão alto, que o crítico francês Charles Yriarte, jantando ali uma vez comigo, prometeu mandar-lhe de Paris o diploma de sócio do Instituto.» 
(ALMEIDA, Fialho de, «Os Gatos»,  vol.4, 1889-1894)

Rua Vieira Portuense, antiga casa do «António das Caldeiradas»
Lisboa Velha, Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)

Sunday, 23 January 2022

Lojas na Muralha da Rua do Carmo

Na Rua do Carmo, a muralha de suporte das ruínas do convento foi levantada anos depois do Terramoto —  não se sabe o ano certo, As lojas, até ao n.° 87, inclusive, foram abertas em 1901, continuando, durante uma vintena de anos, a parte da muralha de ali para baixo a ser «cega» — paredão de alto a baixo. Entre 1920 e 24  foram perfuradas na «Muralha da Rua do Carmo» as outras lojas a seguir ao n.º 81 — antiga Luvaria Paladini, (vd. 2ª imagem).

Rua do Carmo, 87A-87D [post. 1925]
Luvaria Ulisses, Joalharia do Carmo,  Companhia Wagons Lits e Sapatearia Atlas
Ferreira da Cunha. in AML

A Joalharia do Carmo, n.º 87B, foi fundada em Outubro de 1924, por Alfredo Pinto da Cunha. A fachada em meio-arco, decorada a ferro forjado, e os interiores em art deco recordam o Chiado de outros tempos. A estreita Luvaria Ulisses, n-º 87A, instalou-se em  Junho de 1924 por Joaquim Rodrigues Simões. A Companhia Wagons Lits, n.° 87C, em Agosto e a Sapatearia Atlas, n.º87D, em Junho do mesmo ano.

Rua do Carmo, lojas até ao n.º 87 [c. 1910]
Lojas abertas na Muralha por volta de 1901; ao fundo nota-se a Luvaria Paladini, n. 81.
Joshua Benoliel. in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, 1939-

Friday, 21 January 2022

Rua Nova do Loureiro

Com seu arco e suas grinaldas de flores e de folhas de parreira, que caem dos muros de regalo dos prédios da Rua da Vinha — a Rua Nova do Loureiro dá uma aguarela. Pode mesmo afirmar-se: a única aguarela bucólica do Bairro Alto.
(ARAÚJO, Norberto de, «Legendas de Lisboa», p. 146, 1943)

Rua Nova do Loureiro [c. 1900]
Machado & Souza, in AML
Rua Nova do Loureiro esquina com a Calçada do Tijolo [c. 1900]
Machado & Souza, in AML

Sunday, 16 January 2022

Rua Domingos Sequeira

Pois desçamos de novo a Rua da Estrela; estamos no começo da moderna Rua Domingos Sequeira — recorda Norberto de Araújo —, cujo lado oriental é moderno, em contraste com as casas e velhos pátios do lado poente. O edifício do Dispensário da Associação Nacional aos Tuberculosos data de 1932; adiante desta graciosa edificação vê-se ainda parte dos barracões, o pitoresco «car-barn» [ao fundo à esq.] dos ascensores da Estrela, os famosos «maxibombos» que precederam nesta linha, há cerca de trinta e cinco anos, a viação eléctrica.
O «Cinema Paris», edifício que segue, foi erguido em 1930, e dele é proprietário, Máximo Pinto. Não tem nada de notável.

Rua Domingos Sequeira [1932]
«Pintor 1768-1837»
Em 04/06/1957, foi acrescentada ao topónimo a legenda «Pintor 1768–1837». 
Basílica do Coração de Jesus ou da Estrela; Convento do Coração de Jesus, actual Instituto Geográfico e Cadastral. 
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

A Rua Domingos Sequeira foi traçada, pela CML em Fevereiro de 1887, dada a necessidade de ligar o bairro de Campo de Ourique às áreas vizinhas, e, consequentemente, ao centro da cidade. Apenas em Junho de 1905 estaria em funcionamento a linha eléctrica do tramway, concretizando-se a ligação entre o Largo do Rato e a Praça da Estrela, através da Rua Ferreira Borges. [Informação prestada pela n/leitora Susana Maia E Silva]

Panorâmica da Estrela tirada do zimbório da Basílica da Estrela, vendo-se a Rua Domingos de Sequeira [1941]
Nesta, observam-se o antigo Dispensário da Associação Nacional aos Tuberculosos, hoje infantário. e o Cinema Paris. Na esq. baixa corre a Rua de Santo António, à Estrela.
O pintor Domingos Sequeira foi colocado há 129 anos na toponímia de Lisboa, por deliberação camarária de 4 de Novembro de 1887. 
Judah Benoliel, in AML

Nota(s): O topónimo homenageia Domingos António Sequeira, pintor que em 1802 foi nomeado pintor real e co-director da pintura do Palácio da Ajuda. Também em 1806 foi director da Aula de Desenho, no Porto. A Vilafrancada fê-lo emigrar para Paris e em 1826 fixou-se em Roma onde executou obras sacras. Foi também gravador e aquele que executou as primeiras litografias em Portugal. A sua obra está representada no Museu Nacional de Arte Antiga. [cm-lisboa-pt]
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 54, 1939.

Friday, 14 January 2022

Rua da Estrela que foi Travessa dos Ladrões

Defronte, à direita, sai-nos a Rua da Estrela, dístico de 1852, que substituiu o de Travessa dos Ladrões (que ainda hoje os velhos usam); no final do século XVIII e durante alguns anos, chamou-se a esta serventia, Travessa de N. Senhora dos Milagres.
Este nome — recorda Norberto de Araújo — adveio desta Ermidinha, encravada entre dois prédios [...], tão modesta que quási se não dá por ela*. Foi erguida por Manuel de Jesus, em 1753, e pelo mesmo devoto reformada, conforme se atesta na pedra que faz a verga do pórtico, muito simples. Pertence à Irmandade de N. Senhora dos Milagres, e tem culto.

Rua da Estrela [c. 1910]
Antiga Travessa dos Ladrões; Basilica da Estrela
Joshua Benoliel, in AML

Como observas, esta rua é discreta, com alguns prédios já de feitio de palacete, do meado do século passado, e outros de construção do tipo, hoje considerado pitoresco, setecentista, com as clássicas trapeiras copiadas do tipo das casas da Baixa, post-Terramoto.==

Nota(s): Depois do Ultimato britânico de 1890 contra as pretensões portuguesas em África, na Capital, o povo muda a placa toponímica da «Travessa das Inglesinhas» para «Travessa dos Ladrões» e a placa «Travessa do Enviado de Inglaterra» para «Travessa do Diabo que os Carregue e os estudantes são dispensados, por decreto, do exame de língua inglesa.

Rua da Estrela [c. 1910]
Antiga Travessa dos Ladrões; Cemitério dos Ingleses
Joshua Benoliel, in AML

N.B. A origem do topónimo "Estrela" radica nos frades beneditinos que dedicaram a sua igreja a N ª Srª da Estrela, ou da Estrelinha. Os frades chegaram a Lisboa no séc. XVI e fundaram o seu primeiro convento – concluído em 1571 – onde hoje é a hospital, jardim e Praça da Estrela. Quando passaram para o maior, abaixo, de São Bento da Saúde, o da Estrelinha ficou para ensino dos noviços. O terramoto destruiu parte. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, alargou o exército a ocupação pelo que em 1837 era Hospital Militar.
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Bibliografia
ARAUJO, Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 53, 1939.

Sunday, 9 January 2022

Teatro da Rua dos Condes, hoje Cinema Condes

O Teatro da Rua dos Condes, hoje Cinema Condes, representou grande papel na vida nacional. Construído entre 1756 e 1765 no Pátio dos Condes, assim chamado por ali estar o palácio dos Condes da Ericeira, foi o campo de manobras da famosa cantora Zamperini, que fez andar a cabeça à roda à nobreza. O filho do Marquês de Pombal obrigou os comerciantes de grossos cabedais a fazerem-se accionistas do teatro, para ganho e lustre da amásia.


Aí temos o Cinema Condes, banal e que pouco diz. Tem alguma história. Era neste sítio, até ao Terramoto — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , o Pátio dos Condes da Ericeira, tornado montão de ruínas depois do cataclismo. O primitivo Teatro da Rua dos Condes datava de 1765, e foi demolido em 1882, dando o último espectáculo em 20 de Maio. Fora construído pelo arquitecto Petrónio Mazzoni, e nele se cantou ópera durante dezenas de anos. Ficou célebre a passagem por esse teatro da famosa cantora Zamperini, que tantos escândalos amorosos deu em Portugal, vendo-se o Marquês de Pombal obrigado a expulsá-la do país . O Teatro teve história, ligada à vida literária e teatral portuguesa; em 1782 passou a ser o Teatro Nacional, e no começo da século passado [XIX] a sua administração esteve ligada à de S. Carlos. 
Em 1837 intitulava-se Novo Teatro Nacional do Ginásio.

Theatro da Rua dos Condes
Demolido em 1882, no sitio onde levantou outro teatro [vd 2ª imagem], hoje Cinema Condes.
Desenho de M. de Macedo

Demolido, como disse, em 1882, construíu-se um pequeno Chalet, teatrinho contido num barracão que durou pouco mais de um ano Só em 1888 se ergueu este Teatro da Rua dos Condes [vd 2ª imagem], por iniciativa do comerciante Francisco de Almeida Grandela, sendo arquitecto Dias da Silva, e decoradores Eduardo Reis e Júlio Machado. Foi inaugurado em 23 de Dezembro com a peça «As Duas Rainhas», uma tradução de Sousa Bastos, e com um monólogo de abertura recitado por Taborda , escrito por Baptista Machado.
O Teatro foi restaurado em 1898, e, modernamente, com transformações largas, recebeu obras em 1931. Desde 1920 1915, porém, deixou de ser teatro para se converter como tantos em «Cinema Condes». [Estreou como cinema em 2 de Abril de 1915]

Teatro da Rua dos Condes,  inaugurado em 23 de Dezembro de 1888 [c. 1908]
Avenida da Liberdade com a Rua dos Condes
Em cartaz: "De olho aberto!: revista simbólica e de costumes em 3 actos e 9 quadros" de Daniel Moreira (Rei Móra). Música de Luz Junior.
Fotógrafo não identificado, in AML

O recente Cinema Condes foi construído, entre 1950 e 1952, por iniciativa da empresa teatral Variedades, no mesmo local onde existira o Teatro Condes, propriedade de Francisco Grandela. Projectado pelo arqº Raul Tojal e executado pelo construtor António Costa, apresenta planta rectangular, volumetria escalonada e cobertura em terraço. Acompanhando o declive do terreno, desenvolve-se em duas frentes, uma voltada à Avenida da Liberdade e a outra à Rua dos Condes. As fachadas em reboco pintado, com apontamentos rectilíneos de grande verticalidade em cantaria e com piso térreo totalmente revestido a cantaria, apresentam um ângulo de articulação boleado, esculpido com relevos, acentuado superiormente por remate em corpo circular de menor secção, vazado por cinco janelas e protegido por pala. 


Cinema Condes [c. 1956]
Avenida da Liberdade com a Rua dos Condes
Salvador Fernandesin AML


Cinema Condes [c. 1952]
Avenida da Liberdade com a Rua dos Condes
Estúdio Horácio Novais, in FCG



A porta principal, de verga recta, rasga-se no ângulo e permite a entrada para o interior, onde funciona, desde 2003, o «Hard Rock Café», aí instalado após grandes obras de transformação e adaptação do cinema a restaurante.
Este imóvel integra a Zona da Avenida da Liberdade, que se encontra Em Vias de Classificação. [instituto-camoes.pt]

Cinema Condes,  inaugurado em 30 de Outubro de 1951 [c. 1952]
Avenida da Liberdade com a Rua dos Condes
O Cinema Condes manteve-se como sala de projecção até 1997.
Fotógrafo não identificado, in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, pp. 25-26, 1943. 

Friday, 7 January 2022

Rua Barata Salgueiro

A Rua Barata Salgueiro, sita nas freguesias de Coração de Jesus e São Mamede, foi atribuída por deliberação camarária de 06/05/1882 no arruamento perpendicular à Avenida da Liberdade, em direcção à antiga Azinhaga do Vale de Pereiro.
As ruas Barata Salgueiro e Castilho foram calcetadas e iluminadas em 1886, ano da inauguração oficial da Avenida da Liberdade. Do mesmo plano de urbanização faziam parte, os bairros Barata Salgueiro a ocidente e Bairro Camões, a leste. Barata Salgueiro cedeu gratuitamente e a preços reduzidos terrenos para a o projecto de urbanização da Avenida da Liberdade.

Rua Barata Salgueiro |1932|
Anterior ao alinhamento e rectificação da rua e à demolição dos prédios ao centro; ao fundo vêem-se os prédios da Rua de Santa Marta.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

Nesta artéria perpendicular à Avenida da Liberdade foi homenageado o Dr. Adriano Antão Barata Salgueiro (1814-1895), advogado em Lisboa, por decisão unânime na 19ª Sessão Extraordinária da Câmara Municipal de Lisboa, em 6 de Maio de 1882, à qual presidia José Gregório da Rosa Araújo, o presidente responsável pela construção da Avenida da Liberdade entre 1879-1886.
Curiosamente, a Rua Rosa Araújo é paralela à Rua Barata Salgueiro. [cm-lisboa.pt]

Rua Barata Salgueiro |1939|
Alinhamento e rectificação depois da demolição dos antigos prédios; ao fundo vêem-se os prédios da Rua de Santa Marta.
Eduardo Portugal, in AML

Sunday, 2 January 2022

Alameda de S. Pedro de Alcântara

Nos séculos velhos — recorda Norberto de Araújo —  estes campos, muito em declive para os lados da Avenida [Liberdade] de hoje, de semeadura e de olival, altaneiros sobre o esteio do rio Valverde, depois feito charco até enxugar de todo. Já o Bairro Alto oferecia certa pompa urbanista incipiente com casas, alguns palácios, igrejas, conventos e ruelas alinhadas, ainda verdejantes sobre os restos da Quinta dos Andrades — e isto , S. Pedro de Alcântara, era um arrabalde contemplativo.
Na lomba, aos pés das Taipas de hoje, elevava-se casario, e estava desenhada a encosta da Glória, depois Calçada formalizada nos roteiros. Mas cá em cima, num plano irregular, circundada de chãos que eram de particulares, desagregados dos prazos pertencentes a Santa Maria (Sé) e a Santa Justa, o «cômoro», planície que olhava, como hoje, a Lisboa velha, não tinha foros de alameda.

S. Pedro de Alcântara no primeiro terço do sé. XIX [1821]
Neste desenho observa-se, à direita, a torre ou cúpula da Mãe de Água (1) e o Chafariz de S. Pedro (2) (hoje sito na Cç. da Glória),  distinguindo-se igualmente a igreja e o Convento de S. Pedro de Alcântara (3), e o Palácio do Marquês de Santa Iria (4), assim como a velha  muralha e parte do terreno do antigo sequeiro de S. Roque (parte do actual largo Trindade Coelho) . Na parte inferior, do lado esquerdo, notam-se algumas casas do Bairro da Glória.
Desenho por Luiz Gonzaga Pereira, in BnF

Realizavam-se por aqui passeios domingueiros, e fazia-se uma feira ou arraial que durou do começo de setecentos precisamente a 1812, ano em que foi proibida.
Do lado edificado, este à nossa direita, levantavam-se dois palácios, algumas casas, um hospício de Clérigos e um Convento de Arrábidos. Em 1732, a Câmara Municipal comprou estes terrenos, onde hoje está a Alameda, a um Fernão Pais, que os adquirira de André Dias, por tal sinal genro do navegador João da Nova. E comprou-os para aqui fazer uma grande «Mãe de Água» — variante das Águas Livres – destinada, por um aqueduto, a abastecer a Cidade Oriental, aqueduto que passaria sobre o vale, a futura Avenida. Construiu-se, e não foi imediatamente. (1752), a muralha sobre as Taipas, e fez-se obra de alvenaria neste local, com aquele bem intencionado propósito. Mas a ideia do aqueduto, aliás esboçado, não prosseguiu.
É esta a origem da Alameda de S. Pedro de Alcântara.

Alameda de  São Pedro de Alcântara [1909]
O gradeamento, que ainda hoje ali se encontra, veio do Palácio da Inquisição do Rossio, ou dos Estaus, actual Teatro D. Maria.
Joshua Benoliel, in AML

A água, contudo, foi trazida desde Campolide para S. Pedro de Alcântara, e em 1754 já existia um chafariz de cinco bicas, defronte, pouco mais ou menos do Recolhimento [de S. Pedro de Alcântara] hoje de pé, à esquina curva. Este chafariz foi passado, em 1833, para o começo da Rua das Taipas – espécie de meia circunvalação de S. Pedro de Alcântara – e mais tarde arrumou-se onde está hoje [c. 1880], no princípio da Calçada da Glória.
Isto passou a ser um monturo de pedregulhos e de imundícies, vala de despejo de animais mortos, a contrastar com a bonita e verdejante encosta que caía mais para o lado de S. Roque, sobre o fundo de Valverde, depois Passeio Público, justamente a Quinta do Marquês de Castelo Melhor.
Finalmente, nas primeiras décadas do século passado — há cem [180] anos — a Câmara começou a pensar a sério em S. Pedro de Alcântara.
Aí por 1830 estava instalado nos baixos do Palácio Ludovice, defronte da Calçada da Glória, um Quartel da Guarda Real da Polícia, e as cavalariças situavam-se aqui no recanto da Alameda, hoje tabuleiro superior, encostado ao pátio do actual Park Hotel [Rua D. Pedro V, 2 actual edifício da SCML], e a cair sobre as Taipas. Foram os oficiais que promoveram a arborização do local, que os seus soldados terraplanaram.
A Alameda de S. Pedro de Alcântara data de 1840.

Alameda de  São Pedro de Alcântara [1909]
Rua de S. Pedro de Alcântara e Rua das Taipas
Paulo Guedes, in AML

Do muito que haveria a dizer – isto basta a uma ideia rápida da evolução do sítio.
Fizeram-se dois terraplanos — o do Passeio, em cima , e o do jardim em baixo, sendo as grades colocadas em 1864, porque a muralha, com a altura de vinte metros sobre as Taipas era uma atracção dos suicidas (parte do gradeamento pertencera ao Palácio da Inquisição ao Rossio). O lago ou tanque da Alameda veio dos jardins do Paço da Bemposta. [...]
S. Pedro de Alcântara teve o seu período de moda. Era o «Passeio», a «Alameda», o «Jardim» de S. Pedro de Alcântara, com a sua ingenuidade alfacinha, e o seu traço espiritual de romantismo.

Fotografia aérea da zona do Bairro Alto e de  São Pedro de Alcântara [1950]
Igreja de São Roqu; Rua de S. Pedro de Alcântara: Rua das Taipas
Judah Benoliel, in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, p. 114-115, 1943. 
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