Friday 30 April 2021

Rua do Vale Formoso de Cima

Topónimo atribuído em data que se desconhece mas seguramente anterior a 1911, já que a informação municipal n.º 2610 da Repartição de Urbanização e Expropriações da DSUO (do processo 30278/42), mostra que pelo levantamento da planta da cidade concluído em 1911, o troço da Estr. de S. Cornélio com a extensão de cerca de 400 metros para sueste da Rua Conselheiro Dias Ferreira, fazia parte da Rua do Vale Formoso de Cima.

Rua do Vale Formoso de Cima, 77  |1966|
Artur Goulart,  in Lisboa de Antigamente
 
Também se sabe que a antiga Rua Direita do Vale Formoso de Baixo, por deliberação camarária de 18 de Maio de 1889 e respectivo Edital municipal de 8 de Junho de 1889 se passou a designar Rua do Vale Formoso.
Assim o que se pode inferir é que a toponímia local evoca a posição topográfica do sítio.
Nesta artéria foi erguida na segunda metade do século XIX a Quinta do Desterro e em 12 de Junho de 1935, foi fundado o Vale Formoso Futebol Clube. Por um ofício de 3 de Abril de 1937, sabe-se também que no nº 162 era a Quinta do Tim-Tim. [cm-lisboa.pt]

Rua do Vale Formoso de Cima, 1 |1966|
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Sunday 25 April 2021

Sítio de Santa Marinha

Eis-nos agora no Largo de Santa Marinha.
Aqui se erguia uma Igreja paroquial, da qual há notícia que remontava a 1222¹, embora uma tradição a dê como fundada por uma filha do Rei D. Diniz e de Marinha Gomes.
O certo é que era do padroado real, pois D. Diniz a doou (como fizera já à de Santo André a Aires Martins) ao seu chanceler Pedro Salgado, que lhe fez grandes acrescentamentos.
Não sofreu muito pelo Terramoto, mas acabou por ser demolida entre 1845 e 1853, para se fazer este Largo. Dela não resta um único vestígio. A paroquial havia já, em 1835, passado para a Graça.
Largo de Santa Marinha |c. 1900|
Tornejando a Calçadinha do Tijolo
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Neste tranquilo e ameno Largo de Santa Marinha nada há digno de menção: duas ou três casas com o feitio discreto ainda de «S. Vicente velho», e as restantes construídas depois do Largo aberto, cerca de 1850.

Largo de Santa Marinha |1969|
João Hermes Goulart, in Lisboa de Antigamente

Antes de continuarmos neste exame — recorda Júlio Castilho — , dêmos agora uma revista a um edifício, que acima das novas Escolas Gerais torreja, no cume do montículo, com o seu ar antiquado, as suas ogivas e gelosias, a sua Cruz, e o seu coruchéu pontiagudo a apontar para o céu.
Torreja disse eu? Torrejava deveria dizer antes. Demoliram-no também. Era Santa Marinha.

Antiga igreja paroquial de Santa Marinha do Outeiro [1809]
Largo de Santa Marinha
Luís Gonzaga Pereira, (1796-1868), in Museu de Lisboa

Ao topo da actual Calçadinha do Tijolo, ali onde hoje vemos o largo arborizado, erguia-se esta pequenina paroquial o seu vulto venerando, carregando aos ombros o peso de muitíssimos janeiros.
Carvalho da Costa descreve em 1712 esta igreja. Chama-lhe Santa Marinha do Outeiro, e mostra-a de quatro altares n'uma só nave. Ao fundo a capela-mor, com boa tribuna de talha doirada, e as imagens de Santa Marinha da banda da Epistola, e de Nossa Senhora da Conceição da banda do Evangelho.

¹ Data insustentável, de acordo com mestre Castilho. Depois de consultar de textos de vários autores, o olisipógrafo conclui que «é ignorada, pelo menos por mim, e por eles, a data da fundação de Santa Marinha».
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 57, 1938.
CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Segunda Parte. Bairros Orientais, vol. IV, 1885.

Friday 23 April 2021

Quiosque do Século à Praça da Estrela

As causas reais que levaram à demolição de muitos dos Quiosques que existiram em Lisboa são praticamente desconhecidas. Ou porque o seu estado de degradação a isso obrigasse sem que, no entanto, "merecessem" restauração, ou porque a modificação do traçado das ruas e avenidas e os melhoramentos dos passeios o tornasse imprescindível, o certo é que eles lá foram desaparecendo. E foram 45.
Aqui, fica, pois, a sua relação, acrescentando-se entre parêntesis o número de Quiosques que existiram no local, se acaso foi superior a um.

Quiosque do Século à Praça da Estrela |1909|
Foi inaugurado em 1909. No local foi erguido um outro na década de 1960.
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

Estrutura 
Secção hexagonal. Balcão de pedra todo à volta. Corpo de madeira com janelas para todos os lados. Cúpula hexagonal aos gomos com os bordos trabalhados, de ferro. Cada gomo apresentava uma estrela desenhada (pelo menos o do Largo da Estrela). Os gomos eram fechados por um tronco de prisma hexagonal, contendo em cada face uma letra da palavra «século».

Particularidades
Era propriedade de O Século, o primeiro jornal português a criar sucursais em quiosques, para venda de jornais com «placards» noticiosos das últimas nacionais e do estrangeiro.
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Bibliografia
CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os quiosques de Lisboa,  p. 41, 1987.

Sunday 18 April 2021

Rua da Glória e Palácio dos Condes de Lumiares

Foi nesta zona, contida entre as artérias de designação «Glória», com frente à Avenida de hoje, que se elevou até há meio século o Palácio dos Condes de Lumiares.


O lindo nome de «Glória», vizinho do de «Alegria», a ocidente da Avenida da «Liberdade» — trilogia invocativa que, quisesse Deus, fosse o símbolo desta cidade que tantas vezes a si próprio se nega, através dos seus homens bons — ; o nome de Glória, digo, adveio ao sítio de uma Ermida que existiu na esquina da Rua e Travessa da Glória, instituída em 1574 por Fernão Pais.

Rua da Glória, Sul  [c. 1900]
À esq. notam-se as traseiras do Palácio dos Condes de Lumiares e, ao fundo, a Calçada da Glória
Machado & Souza, in AML

Junto à Ermida havia umas casas e terrenos, que pelo andar dos tempos, e pelo cruzamento de famílias, passaram dos descendentes de Fernão Pais, numa parte senão no todo, e sucessivamente, à Condessa de Ayres, Condes da Castanheira, Comendadores de Fronteira e, finalmente, Condes de Lumiares.
Depois da Terramoto os Lumiares tinham aqui seu palácio, com frente ao Passeio Público, guarnecido de jardim, até à Calçada da Glória, prolongando-se pelas traseiras à Rua da Glória. Nele se incluía a Capela. Em 1865 o Palácio ardeu, mas foi reconstruido. No último quartel do século passado [XIX] os Lumiares desfizeram-se das propriedades e chãos, e ergueram-se então os prédios sólidos que por aí vemos.

 
 
Rua da Glória, N. [c. 1900]
Junto à Rua de Santo António da Glória e, ao fundo, a Praça da Alegria
Machado & Souza, in LdA
 
 
 
 
Rua da Glória [c. 1900]
Junto à Travessa da Glória
Machado & Souza, in LdA



A Capela foi demolida; há uns quinze anos [c. 1924], numas obras levadas a efeito num estabelecimento da Travessa, encontraram-se dela vestígios. 
Enfim, Dilecto, da «Glória» ficou o nome em quatro artérias. Não se perdeu tudo.

Localização do Palácio dos Condes de Lumiares [1857]
Delimitado pelas artérias de designação «Glória» — rua, travessa e Calçada — e pela Rua Ocidental do Passeio Público, actual Avenida da Liberdade.
Excerto de Carta topográfica de Filipe Folque, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 26, 1939.

Friday 16 April 2021

Chafariz da Infância

Nesta antiga Rua da Infância — hoje da Voz do Operário — , tornejando a Travessa de São Vicente, ficava situado o Chafariz da Infância — de data de construção e autor desconhecidos. Terá sido demolido cerca de 1912 para dar lugar à actual sede da «Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário»

A Rua da Infância — recorda o ilustre Norberto de Araújo — tem um troço moderno, que parte exactamente de onde está o edifício da Sociedade de Beneficência «Voz do Operário», e vai até à Graça; daí para baixo havia já a Travessa das Bruxas, antigamente muito estreita, à qual já aludi atrás, e que se continuava, subindo a poente, como hoje, pela actual Travessa de S. Vicente, até defronte do Convento dos Agostinhos, ou seja o dos frades da Graça.

Chafariz da Infância [centre 1903-1908]
 Actual da Voz do Operário, tornejando a Travessa de São Vicente
Charles Chusseau-Flaviens, in GEH

Já agora outra informação te dou. Esta Travessa de S. Vicente, hoje, como vês, já com prédios modernistas (1937), e relativamente larga, era a estreita Travessa das Bruxas que ia dar ao Largo de S. Vicente, antes de se abrir a Rua da Infância. Na esquina do edifício da «Voz do Operário» desta Travessa existiu, no século XVII, uma porta vulgar de quinta, chamada de «Heliche», na citada propriedade dos Abelhas, assim conhecida porque nas casas da Quinta morou, em 1667, um Marquês, espanhol, de título Elche , nome corrompido em Elice ou Heliche.

Chafariz da Rua da Infância [c. 1900]
Actual da Voz do Operário, tornejando a Travessa de São Vicente, antiga das Bruxas
Machado & Souza, in AML

Localização da Tv. de S. Vicente e do chafariz na antiga Rua da Infância em 1890

Bibliografia
ARAUJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 50-58, 1938.

Sunday 11 April 2021

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa

A Casa-Museu Anastácio Gonçalves (antiga casa-atelier de José Malhoa) situada na Avenida Cinco de Outubro, 6-8,  obteve o Prémio Valmor de 1905. Classificada Imóvel de Interesse Público pelo Dec. 28/82 de 26 de Fevereiro. Abre ao público em 1980.


Edifício projectado pelo arquitecto Norte Júnior em 1904, foi seu construtor Frederico Ribeiro, "o constructor da primeira casa de artista que fizesse em Lisboa". Dominado pela linguagem ecléctica em voga, sobressai, no entanto, o gosto pelo neo-românico. Edificada para residência e atelier do pintor José Malhoa, foi adquirida em 1932 pelo médico oftalmologista Dr. Anastácio Gonçalves (1889-1965), que a doou ao Estado, sendo mais tarde adaptada a casa-museu e recebendo obras de ampliação em 1996 sob projecto dos arquitectos Frederico e Pedro George, anexando uma moradia contígua também da autoria de Norte Júnior [vd. 2ª imagem]

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1905]
Para os autores da A Construção Moderna o edifício encontra-se “entre essas raras manifestações de arte que hão de servir de padrão de estimulo à Lisboa estética do futuro (...)”. [A Construção Moderna, ano VI, n.º 1, Fevereiro de 1905]
Avenida Cinco de Outubro com a Rua Pinheiro Chagas (esq.)
Paulo Guedes, in AML

Edifício com dois pisos e cave, sobressai o espaço correspondente ao ateliê, denunciado exteriormente por um janelão e uma clarabóia de iluminação zenital. Identificam-se três corpos: o central, avançando a fachada principal; sobre o lado esquerdo, um corpo recuado com escada e alpendre protegendo a porta de entrada; e, do lado direito, um núcleo praticamente autónomo pertencendo à zona da sala de jantar. Sublinhando a separação dos pisos, percorre o edifício um friso de azulejos em azul com elementos vegetalistas da autoria de Jorge Pinto, interpretações livres dos desenhos de Malhoa e António Ramalho, transpostos para pintura a fresco por Eloy Amaral. As esculturas das fachadas são de António Augusto Costa Mota.

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1908]
Moradia contígua à Casa-Museu Doutor Anastácio Gonçalves, também assinada por Norte Júnior, anexada ao edifício principal, em 1987; antiga Casa António Pinto da Fonseca Mota (1908). 
Rua Pinheiro Chagas, 2-6
Paulo Guedes, in AML

O grande janelão de sacada, correspondente ao atelier, é encimado por frontão onde se exibe a inscrição «PRO ARTE». Sobressaem ainda dois vitrais na sala de jantar e na sala anexa ao atelier. Merece menção a serralharia artística com elementos arte nova, destacando-se o portão principal em forma de borboleta, com desenho do arquitecto e execução de Vicente Esteves.
As janelas que se abrem no vão do arco dessa fachada, com as pedras de peito das laterais de forma curva, sugerem que todo o conjunto está confinado a um círculo. O gradeamento das varandas, em ferro, segue a tendência Arte Nova.

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1908]
Núcleo praticamente autónomo, do lado direito,  pertencendo à zona da sala de jantar.
Avenida Cinco de Outubro, 6-8
Paulo Guedes, in AML

N.B. A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é um espaço museológico da cidade de Lisboa onde se expõe o acervo reunido pelo médico coleccionador António Anastácio Gonçalves. O conjunto de cerca de 3.000 obras de arte compõe-se por três grandes núcleos: pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, porcelana chinesa e mobiliário português e estrangeiro. Existem ainda importantes núcleos de ourivesaria civil e sacra, pintura europeia, escultura portuguesa, cerâmica europeia, têxteis, numismática, medalhística, vidros e relógios de bolso de fabrico suíço e francês. Para além das obras reunidas pelo coleccionador, a Casa-Museu encerra ainda um significativo espólio documental e um conjunto de desenhos, aguarelas e pequenos artefactos pertencentes ao espólio do pintor Silva Porto.

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [191-]
Foi descrita em 1909 como uma “(...) casa artística, o ninho feliz de um grande e genial artista. (...) Quer se analyse em conjuncto, quer em detalhe, a casa do sr. Malhôa é uma casa artística em toda a accepção da palavra, e, considerada irreprehensível sob todos os pontos de vista”. [A Arquitectura Portuguesa, Lisboa, Fevereiro de 1909]
Avenida Cinco de Outubro com a Rua Pinheiro Chagas vendo-se a moradia contígua erguida em 1908 (esq.)
Joshua Benolielin AML

Bibliografia
ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património: Lisboa, 2007.
ACCIAIUOLI, Margarida, Casas com escritos: uma história de habitação em Lisboa, 2015.

Friday 9 April 2021

Inauguração do pedestal iluminado para o sinaleiro dos Restauradores

Estavam agora nos Restauradores à espera que o sinaleiro lhes autorizasse a passagem.
 — Quase uma hora! Tenho de ir andando.


Topónimo dado pela edilidade lisboeta presidida por José Gregório da Rosa Araújo à «nova praça que fica limitada do lado do nascente e do lado do poente pelos predios do antigo largo do Passeio Publico e de parte das antigas ruas Oriental e Occidental do Passeio Publico, do lado do norte pela recta que une os cunhaes formados na juncção da rua dos Condes e da calçada da Gloria com as duas ruas acima referidas, e do lado do sul pela cortina da rua do Jardim do Regedor e pelos prédios do antigo largo do Passeio Publico», conforme refere o Edital de 22/07/1884.

Inauguração do pedestal iluminado, para o sinaleiro dos Restauradores [1927]
Praça dos Restauradores
Antigo Largo do Passeio Público e parte das Ruas Oriental e Ocidental do Passeio Público 
Fotógrafo: não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

Sunday 4 April 2021

Chafariz do Loreto, de Neptuno ou dos Galegos

Já que evocámos o passado seja-nos licito lembrar o celebrado Chafariz dos Galegos, ou seja o Chafariz de Neptuno, que durou até 1859, com a sua estátua daquele «deus», obra de Machado de Castro (1771).
Ao fundo da praça, ao norte, erguia-se um vistoso chafariz, a que frei Nicolau não duvida chamar formosíssimo, com quatro bicas a correr. O chafariz tinha uma estátua de Neptuno (não sei desde que tempo), assim como o do Terreiro do Paço tinha um Apolo.


A nossa atenção vai demorar-se na recordação do antigo chafariz de Neptuno, que tão airosamente compôs este curioso centro urbano, num lapso de tempo que foi de 1780 a 1858. O conjunto arquitectónico dessa obra pública, risco dos arquitectos Miguel Ângelo Blasco e Reinaldo Manuel dos Santos, estava estava coroado pela figura mitológica — deus do mar e das águas, entre os romanos — , de tridente fundido em bronze, conjunto modelado por Machado de Castro, e que a Câmara de Lisboa encomendou em 1771, sendo executado em Itália, em mármore de Carrara

Chafariz do Loreto,  do Neptuno ou dos Galegos [c. 1842]
Largo do Chiado, antigo das Portas de Santa Catarina
Era bem curioso este Chafariz, com dois tanques ao rés-da-rua, e outros tanques no plano superior — defendido de platibandas para o qual se subia por uns escadórios. [Araujo: 1939]
Litografia de Charles Legrand

Por Chafariz de Neptuno ou Chafariz do Loreto, se designava, indiferentemente, esse monumento de grande utilidade pública. Possuía quatro tubos de correr água e estavam-lhe adscritas seis companhias de aguadeiros, seis capatazes e cabos, cento e noventa e oito aguadeiros e um ligeiro.
Quando a bonita peça de arte começou a ser desmontada, em Novembro de 1858, formou-se, em seu redor, enorme ajuntamento de povo e esboçaram-se protestos, sendo muitas as solicitações no sentido de que o chafariz fosse transferido para local próximo e acessível. 
tanque foi levado para a Rua do Tesouro Velho, actual António Maria Cardosoajustado ao muro do jardim do palácio do conde de Farrobo, onde se conservou até 1916, e a estátua representativa recolheu ao depósito de águas das Amoreiras. Depois, numa peregrinação sem brilho, saiu dali para o Museu Arqueológico do Carmo [1866], e dos Barbadinhos [1881] para a Praça do Chile [1942]. Finalmente, foi embelezar o pequeno reservatório de água que ocupa o centro do Largo de D. Estefânia [1951], sendo-lhe introduzido um vistoso sistema de iluminação.

Portas de Santa Catarina, actual largo do Chiado [c. 1842]
Chafariz do Loreto,  do Neptuno ou dos Galegos
Assentou o Chafariz do Loreto onde está, sensivelmente, a Estátua ao Chiado, e fez a delícia panorâmica deste Largo em toda a primeira metade de oitocentos, no tempo em que no prédio, que veio a dar a Joalheria do Leitão, havia ainda na esquina um candeeiro «de cegonha» [esq. Araújo: 1939]
Litografia por Charles Legrand

Esse senhor omnipotente deixou um profundo desgosto nos seus leais servidores, um regimento de aguadeiros que, numa rendida e disciplinada vassalagem, prestaram culto à carrancuda figura, que António Pedro Lopes de Mendonça, graciosamente lapidou, «Neptuno de tridente em punho, a pescar galegos».
Essa obra de arte ornamental que o camartelo levou, não foi a que primitivamente se estudara e esteve para ser executada, sob projecto de Carlos Mardel, prospecto muito mais grandioso, como se depreende da estampa inserta abaixo, cujo original se guarda no Museu de Lisboa. Conforme esclarece Matos Sequeira, o modelo «Era do género do lindo chafariz da Esperança, com a sua dupla varanda e o seu pano de fundo, de três corpos, rematado por vasos flordelizados, e ficava encostado ao casario que , depois, Francisco Higino Dias Pereira substituiu pelo seu prédio nobre.» [Palácio do Loreto, ou Pinto Basto]

Frontaria do Chafariz das Portas de Stª Catarina [1752]
O terramoto de 1755 inviabilizou a construção do chafariz de Santa Catarina e o projeto de Carlos Mardel não passou do papel. 
Desenho por Carlos Mardel (1696-1763), in Museu de Lisboa

Alçado e planta do Chafariz do Loreto, com estátua de Neptuno 
O chafariz do Loreto custou vinte e cinco contos de réis. O Neptuno deste chafariz, devido ao cinzel de Machado de Castro, foi pago com a quantia de 2015$000 réis. [Sequeira: 1917]
Imagem publicada in: RAMOS, P. O., EPAL: iconografia histórica, vol. 1, p. 65, 2007

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 100, 1939.
CASTILHO, Júlio de, A Lisboa Antiga, p. 66, 1893.
ANDRADE, José Sérgio Velloso d’ – Memória sobre chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo, 1851.
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, p. 276-277, 1987.

Friday 2 April 2021

Praça do Chile com a estátua de Neptuno

Em 1942, a Praça do Chile vai receber a estátua de Neptuno, obra do escultor Machado Castro (que dominava o celebrado Chafariz do Loreto), que será transferida mais tarde para a Estefânia, substituída (em 1950) pela estátua de Fernão de Magalhães oferecida pela República do Chile à cidade de Lisboa.

Praça do Chile |1950|
A estátua, de 1771, em mármore de Carrara, é obra do escultor Machado Castro.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O ajardinado que rodeava o lago ali existente foi substituído por outro, quando se mudou o lago para o Largo D. Estefânia e se colocou em seu lugar a estátua de Fernão de Magalhães. Desta forma foi construído em volta desta estátua um ajardinado com cerca de 532m2, arrelvado, tendo-se aberto uma pequenas «fitas» para cultura de plantas de estação, e plantado 4 arbustos. Para a construção do ajardinado houve que repor, no local do lago, uma boa quantidade de terra de boa qualidade. A construção deste ajardinado demorou apenas 3 dias.
(in Anais do Município de Lisboa, CML, 1951)

Praça do Chile |1950|
A estátua, que ornamentou, em tempos, o Chafariz do Loreto (ao Chiado), após a sua demolição, esteve colocada na Mãe de Água, no Museu do Carmo, no Depósito de Águas dos Barbadinhos e na Praça do Chile, tendo sido transferida para a sua actual localização, no Largo de Dona Estefânia, em 1951
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
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