Wednesday, 29 June 2016

Rua Braamcamp

Saem-nos, a poente, a Rua Braamcamp que por Alexandre Herculano leva ao Rato, e a Rua Joaquim António de Aguiar. (...) São artérias novas, com menos de trinta anos [c. 1910] de edificadas, desafogadas, mas nas quais nada encontramos que mereça especial referência.»
(ARAÚJO. Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 51, 1939)

Rua Braamcamp, junto da Rua Rodrigo da Fonseca [1950]
Em primeiro plano, a Rua Alexandre Herculano
Judah Benoliel, in AML

Este arruamento com início na Praça Marquês de Pombal e fim na Rua Alexandre Herculano, homenageia Anselmo José Braamcamp que nasceu em Lisboa em 23/10/1819 onde faleceu em 13/11/1885.
Político alfacinha, licenciou-se em Direito em 1840 na Universidade de Coimbra e foi nomeado delegado do procurador régio em Almada, cargo que exerceu até 1845, ano em que foi nomeado para idêntico lugar em Lisboa vindo a exercer as funções de secretário geral. Quando o Marquês de Sá da Bandeira desembarcou no Algarve, já Anselmo Braamcamp lá estava ao lado da divisão militar como governador civil dos distritos do Sul.

Rua Braamcamp no cruzamento com a Rua Rodrigo da Fonseca [1943]
À esquerda vê-se o edifício Heron Castilho
Eduardo Portugal, in AML

Acabadas as lutas com a entrada de Saldanha em Lisboa, foi eleito Deputado por um dos círculos desta cidade, ocupando o lugar por vários círculos até 1884. Foi ministro da Fazenda (1862), da Marinha e Ultramar (1866) e da Marinha (1868). Foi ainda líder do Partido Progressista (1875), ministro dos Negócios Estrangeiros (1879), para além ter orientado com Oliveira Martins, em 1885, o movimento político Vida Nova, de oposição a Fontes Pereira de Melo.
Tinha as grã-cruzes das Ordens da Torre e Espada e Nª Srª da Conceição, várias condecorações estrangeiras e a Grã-cruz da Legião de Honra.
A família Braamcamp é de origem holandesa. O primeiro a exercer cargos políticos em Portugal foi Hermano José Braamcamp, embaixador prussiano em Lisboa, no reinado de D. José. (cm-lisboa.pt)

Monday, 27 June 2016

Chafariz do Arco do Carvalhão ou da Cruz das Almas

Modelo semelhante ao dos chafarizes do Arco de São Mamede e da Cruz de Taboado. Data de 1823. É em espaldar e está encostado à parede de um dos arcos do Aqueduto das Águas Livres. Era alimentado pela Galeria de Sant'Ana. Custou a sua construção 670$975 réis (cerca de 3,50€).
Os seus sobejos iam para o Visconde de Anadia. Este chafariz é também chamado Chafariz da Cruz das Almas, isto porque inicialmente se encontrava situado no centro de uma praceta na Cruz das Almas (confluência das Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão).

Chafariz do Arco do Carvalhão [séc. XIX]
Rua do Arco do Carvalhão
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A designação de Chafariz do Arco do Carvalhão tem a sua origem no facto desses terrenos terem pertencido a Sebastião José de Carvalho e Melo, conhecido como o «Carvalhão», por possuir nesta zona da cidade grande quantidade de património.
Tem a inscrição «CML / 1890 Agoas Livres / Outubro 12 de / 1823 / Chafariz n.º 26». Sob esta, surgem duas bicas [em 1823 possuiria 1 bica] de formato quadrangular, que jorram para tanque rectangular, pouco profundo e de bordos lisos, parcialmente percorridos por chapa de ferro, que consolida a estrutura, tendo, no lado direito, laje de cantaria para apoio do vasilhame.

Chafariz da Cruz das Almas, gravura

Saturday, 25 June 2016

Transportes de antanho

Lisboa, ao entrar o século XIX, continuava uma cidade mal equipada no domínio dos transportes populares onde nada se havia inovado ainda. Enquanto as classes mais abastadas, além dos coches, berlindas liteiras que lhe vinham do século anterior, passaram a dispor de novos modelos, mais funcionais, de origem francesa e inglesa, como o phaeton ou o coupé de ville, e a utilizar viaturas de aluguer, seges, traquitanas, trens e calèches, o povo continuaria, ainda por muito tempo, a percorrer diariamente, descalço ou mal calçado, as íngremes ruelas sujas e grosseiramente pavimentadas da capital.

Caleche Manton [1912]
Hipódromo de Belém; ao fundo a Capela de S. Jerónimo ou Ermida do Restelo

Filmarte, in AML
 Docker-Phaeton (faetonte) [Início séc. XX]
Praça do Comércio (Terreiro do Paço)
Alberto Carlos Lima, in AML
 Trem de aluguer da empresa de Eduardo Augusto de Oliveira [c. 1910]
Largo da Graça

Joshua Benoliel, in AML

Para distâncias maiores serviam-se dos jumentos, próprios  ou alugados aos burriqueiros que tinham praça de aluguer de burros, no Campo de Sant'Ana e no Poço do Borratém.  Para cargas mais pesadas continuavam a utilizar, como já o faziam os seus antepassados longínquos, carroças de tipo arcaico, com rodas em D e eixo móvel, puxadas por muares; ou carros de bois, com quatro rodas, as populares galeras que transportavam lavadeiras e as suas trouxas de roupa suja.

Carro «chora» durante a greve dos eléctricos [1912]
Praça do Comércio (Terreiro do Paço)

Joshua Benoliel, in AML
Transporte de Belas para Lisboa [c. 1900]
Augusto Bobone, in AML

São, efectivamente, posteriores ao triunfo do liberalismo em Portugal, os primeiros transportes colectivos urbanos que cruzaram as ruas de Lisboa. Data de 1803 o aparecimento do omnibus, puxado a muares, para a exploração dos quais se constituiu uma Empresa de Transportes com sede na Praça do Pelourinho. No entanto, incómodos, caros e raros, o povo miúdo pouco beneficiou com eles. Verdadeiramente populares e servindo já vastas zonas da cidade foram os seus sucessores, os carros americanos, inaugurados em Lisboa em 1874.

O povo utilizava, de preferência, os carros mais baratos e também mais incómodos, como o Carro do Jacintho, o Chora da Empreza Eduardo Jorge ou o Lusitânia, enorme carroção, onde se apinhavam, como sardinha em canastra. Com eles carregavam gaiolas com pássaros, capoeiras de galináceos, trouxas de roupa, transformando os carros em folclóricas feiras ambulantes.

Carro do Jacintho durante a greve dos eléctricos [1912]
Rua 5 de Abril, Alcântara

Joshua Benoliel, in AML
Carro «chora» da empresa Joaquim Simplício (Lisboa-Belas) durante a greve dos eléctricos [1912]
Largo de São Domingos

Joshua Benoliel, in AML
Carros «chora» a reabastecerem no chafariz do Intendente [ant. 1917]
Largo do Intendente

Fotógrafo não identificado, in AML

Os carros americanos primeiro, depois os eléctricos, e a inauguração do comboio de Cascais, permitindo um escoamento mais rápido de pessoas e mercadorias, levaram ao abandono progressivo deste meio de deslocação alfacinha.
A aplicação da tracção eléctrica aos carros americanos que leva ao aparecimento dos carros eléctricos, cuja primeira linha é inaugurada em Lisboa em 1901 e a aplicação do motor de explosão que levará à invenção do automóvel e do camião de carga, facilitando o transportes de passageiros e de cargas, vão introduzir uma verdadeira revolução nos transportes urbanos (...) [1]

Carro «Americano» [séc. XIX]
Avenida 24 de Julho, antigo Aterro da Boa Vista

Chaves Cruz, in AML
Carros «chora» e «americano» [1909]
Largo do Conde Barão; à esq., o Palácio Alvito

Joshua Benoliel, in AML

[1] (in O Povo de Lisboa: tipos, ambiente, modos de vida, mercados e feiras, divertimentos, mentalidade, Câmara Municipal de Lisboa, p. XVIII, 1979)

Friday, 24 June 2016

Avenida Conde de Valbom, 1

Prédio de rendimento do início do séc. XX, em lote de gaveto; fachada Arte Nova rematada por frontão recortado; já demolido.

Avenida Conde de Valbom, 1 [c. 1930]
Troço da antiga Estrada das Picoas, antes Rua das Cangalhas; Avenida João Crisóstomo
Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.

Este topónimo homenageia Joaquim Tomás Lobo de Ávila, 1º Conde de Valbom (1819 -1901). Foi agraciado em 1882 com a grã-cruz da Ordem de Cristo. Fundou dois jornais: “O Cosmorama” e o “Ateneu”. Em Novembro de 1876 foi nomeado ministro plenipotenciário em Madrid e dois anos depois Conselheiro de Estado efectivo. Foi agraciado em 1882 com a grã-cruz da Ordem de Cristo. De 1886 a 1890 foi ministro plenipotenciário em Paris. Após o ultimatum inglês de 1890 foi escolhido para Ministro dos Negócios Estrangeiros. (cm-lisboa.pt)

Tuesday, 21 June 2016

Rua das Farinhas

 Os Corvos de S. Vicente


O olisipógrafo Norberto Araújo recorda-nos um pouco da história desta pitoresca Rua das Farinhas com início no Beco das Farinhas e fim no Largo da Rosa — no território da actual freguesia de Santa Maria Maior e que foi de S. Cristóvão e S. Lourenço — topónimo  que terá sido fixado na Lisboa seiscentista.

«Para o lado Norte (banda do Castelo) abrem as escadinhas — sempre escadas por aqui — que levam à Rua das Farinhas, a avenida do sitio, com é o seu Rossio que é o Largo da Rosa. Subamos.

Rua das Farinhas, 1 [c. 1910]
Junta de Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

É interessante êste conjunto de três prédios, ao centro da rua, os mais típicos da artéria e do sítio. O que tem os n.°' 22 a 26, com empena de bico, mostra uma pedra com um corvo [nº. 24], em relêvo, e uma legenda «Sam Vecête», vestígio do culto vicentino e da predilecção popular pelos corvos que acompanharam o corpo do Santo a Lisboa desde o Cabo Sacro.

Rua das Farinhas, 24 [c. 1900]
Pedra com um corvo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O outro prédio, n.° 28 a 30 [32], mostra-nos um registo de S. Marçal *[vd. foto abaixo], dos mais antigos entre as centenas que Lisboa possue. O prédio seguinte, n.°* 32 e 34, é curiosissimo: alto, esguio, «aguarelado» de si próprio, com seus canteiros de flores e a face da sua modéstia.

Rua das Farinhas, 22-32, prédio (nº 26) com empena de bico [c. 1900]
*O registo de S. Marçal encontra-se no nº 32 e não no  n.° 28 a 30 como refere o autor
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Por quanto tempo viverá isto? Eu não tenho, e tu também não, apêgo a estes versos soltos de redondilha urbanista; confesso porém que se amanhã por aqui passasse e isto já não existisse — tinha pena.» [1]

Rua das Farinhas, 22-32 [c. 1900]
Ao fundo, o Largo da Rosa e o Palácio Rosa
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

« Conserva o sítio de S. Cristóvão, no meio do seu encanto de pitoresco alfacinha, uma pedra esculpida que representa um corvo da nau da heráldica olisiponense. Tem este corvo movimento, pisar lesto e olho alerta; sobre a sua silhueta fina lê-se SÃM VECÊTE.
Neste muito alfacinha bairro de S. Cristóvão, vizinho da Madalena e da Mouraria, no sopé dos muros do Castelo, com os seus becos das Flores, os seus largos da Achada, de cazitas de andar de ressalto e janelas ogivais, e dos Trigueiros, fantasia do acaso urbanista, com a Rua das Fontaínhas e o Largo da Rosa — a pedra do corvo de S. Vicente do prédio de empena de bico, n.° 22 [n.º 24] da Rua das das Farinhas, é uma preciosidade de pitoresco.
Nada em Lisboa assim. Deve ter sido o prédio foreiro aos cónegos regrantes de Santo Agostinho. O foro passou; o corvo não. » [2]

Rua das Farinhas, 24 [c. 1950]
«Pedra com um corvo, em relêvo, e uma legenda «Sam Vecête»,
vestígio do culto vicentino e da predilecção popular pelos corvos
que acompanharam o corpo do Santo a Lisboa desde o Cabo Sacro»

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


[1] ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 56, 1938.
[2] idem, Legendas de Lisboa, pp. 80-81, 1943.

Sunday, 19 June 2016

Igreja de Santo António da Sé — a Casa de Santo António

  « Eis-nos deante da Igreja de Santo António da Sé — a Casa de Santo António da Câmara de Lisboa, e que sempre pertenceu ao povo. É, como vês, um edifício de certo interêsse arquitectónico, num estilo baroco vulgar, reconstruído pelo arquitecto Mateus Vicente — o que fêz a Basílica da Estrêla — depois do Terramoto, quási à custa dos "cinco rèizinhos" que as crianças pediam nas ruas para o Santo António, costumeira que ainda hoje perdura durante todo o mês de Junho.
    Foi sagrada em 15 de Maio de 1787, mas as obras só se concluíram vinte e cinco anos depois [1812]. 
   A primitiva Igreja e Casa de Santo António — talvez uma simples capela — data de 1431, embora haja quem afirme que existia já em 1321.

Igreja de Santo António da Sé, Gravura de madeira, desenho de Nogueira da Silva, gravura de Alberto
    
A razão da Igreja e Casa é, em síntese, a que te vou relatar. Em 15 de Agôsto de 1195, isto é: pouco menos de meio século depois da tomada de Lisboa, nasceu nasceu numas casas que havia neste lugar um menino que recebeu o nome de Fernando no baptismo realizado seis dias depois, ali na Sé episcopal; era filho de Martim de Bulhões e de D. Maria Teresa Taveira, gente de bom sangue. O pequeno veio a ser o nosso popular Santo António, que dos dez aos quinze anos tomou estudos na Sé, e dos quinze aos dezassete esteve em- S. Vicente, no Mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, onde professou em Agôsto de 1211.  (...)
 
Igreja de Santo António da Sé, Largo de Santo António da Sé [ant. 1900]
Garcia Nunes, in AML
   
Ora a casa de moradia da família do Santo, e que alguns dizem que foi solar, pertenceu ao município de Lisboa, ou - o que é mais aceitável - estava situada cêrca da casa do Município. A verdade é que a capela de Santo António,  erecta neste local onde estamos, fazia parte do edifício camarário no qual o Senado reiinia pelo menos desde o comêço do século XIV até ao meado do século XVIII, e onde se efectuavam eleições paara cargos importantes da cidade.
   (...) Mas deu-se o Terramoto grande; destruiu tudo com excepção de parte da capela-mor e do quarto ou câmara, a um nível mais baixo, onde é tradição ter nascido o Santo, o que foi considerado milagre. O Provedor da Casa de Santo António, vereador Paulo de Carvalho, irmão do Marquês de Pombal, mandou em 1767 abrir os alicerces desta nova Igreja, concluída em 1812, e nela fez colocar interiormente um padrão comemorativo.
    Casa da Câmara — único templo de Lisboa nestas condições — a Igreja de Santo António esteve encerrada quási desde a proclamação da República, Maio de 1911, até 14 de Março de 1931.» [1]

Igreja de Santo António da Sé, Largo de Santo António da Sé [Início séc XX]
José Artur Bárcia, in AML

Monumento Nacional, é um edifício tardo-barroco de linhas sinuosas marcadas no desenho do frontão e da escadaria. Com planta longitudinal, em cruz latina, apresenta nave única, coberta por abóbada de berço, recorrendo à utilização abundante dos mármores.
Do recheio da igreja destacam-se: as telas de Pedro Alexandrino de Carvalho, localizadas no transepto; as grades neo-medievais do arq.º Vasco Regaleira a imitar a célebre grade da Sé de Lisboa; o programa azulezar da sacristia, da 2ª metade do séc. XVIII; a imagem de Santo António recuperada do templo inicial; e a pequena cripta que simboliza, segundo a tradição, o local de nascimento do Santo. Tem em anexo um museu, Museu Antoniano, dedicado à iconografia do Santo.

Igreja de Santo António da Sé, fachadas principal e sul [ant. 1973]
Estúdio Mário Novais, in Biblioteca de Arte da F.C.G.

[1] (ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, pp. 27-29)

Saturday, 18 June 2016

Os alfacinhas vão a banhos: praias do Estoril

Nos alvores do século XIX, com o surgimento do comboio e dos eléctricos, os lisboetas aventuram-se numa ida até às praias nos arrabaldes da capital, sobretudo nos meses de Setembro e Outubro. De acordo com o escritor Ramalho Ortigão (1836-1915), os banhos de mar com fins terapêuticos são benéficos, mas são aconselhadas certas precauções, a saber:

É importante que o banhista ao chegar à barraca, se dispa com a máxima rapidez, enfie um calção de malha de lã, se envolva numa capa ou n’um plaid [tecido de lã] e corra imediatamente para a água. desembuçando-se no momento da imersão. 

Praia do Monte Estoril [1909]
Nunca esquecer a touca de gutta-percha.
Joshua Benoliel, in AML
Praia do Monte Estoril [1909]
Um passeio a pé com o cabelo solto como usam as senhoras nas praias da Alemanha.
Joshua Benoliel, in AML

As senhoras devem usar a touca de gutta-percha para não molharem o cabelo e quando não tenham a touca não lhes convém mergulhar a cabeça. Basta-lhes refrescar repetidamente a fronte e o alto do crânio com a mão molhada durante o tempo que estiverem na água. [...] Depois do banho deve ser o corpo rapidamente friccionado com um lençol áspero até dar à pele uma cor rosada. [...]
Comer imediatamente depois do banho, no período da reacção, é inconveniente. O mais salutar depois do banho é um exercício moderado, um passeio a pé, de meia hora, na praia, debaixo de um chapéu de sol, com o cabelo solto como usam as senhoras nas praias da Alemanha.» [1]
 
Praia de S. João do Estoril ou da Poça [meados séc. XX]
À dir. destacam-se o edifício dos Banhos da Poça, hoje a Colónia Infantil,  iniciativa do milionário americano Mcfadden (1931) e o Forte de São Pedro da Poça-
Estúdio Horácio Novais, in FCG
Praia de S. João do Estoril ou da Poça [1927]
Concurso de construções na areia.
Mário Novais, in FCG

Bibliografia
[1] ORTIGÃO, Ramalho, As Praias de Portugal: Guia do Banhista e do Viajante, pp. 165-168, 1876.

Friday, 17 June 2016

Castelo de São Jorge: Porta de Martim Moniz

Forçoso é a quem suba ao Castelo de S. Jorge escreve Norberto de Araújoquedar-se diante da Porta de Martini Moniz. Arco de rude aparência, com seus reduzidos onze palmos, rasgado na grossura da muralha que se continua do «castelejo» ou fortaleza — aí está o único padrão vivo do esforço do homem na tomada de Lisboa. As torres, as quadrelas, os adarves, as portas ogivais do velho «castrum» — falam mas não têm voz; dizem tudo mas ciciam. A Porta de Martim Moniz é clara como água: «Isto foi assim, e o que eu digo é uma escritura». 


Castelo de São Jorge e a Porta de Martim Moniz [s.d.] [séc. XIX/XX]
A porta, ao centro, está assinalada por uma seta; à esquerda, a Igreja de Santa Cruz do Castelo
Fotógrafo não identificado, in AML




























 As letras de uma legenda esculpida em pedras venerandas têm expressão oral. Não se lê: escuta-se. Quando a lenda força a história — faz história. Ora esta história diz que um valente capitão das hostes de Afonso Henriques [1109-1185], acompanhado de outros cavaleiros, assaltou pelo lado norte, cortado a pique, o castelo sarraceno, e a poder de ombros fez entreabrir a porta, deixando-se ficar nela entalado para que os portugueses entrassem. E os mouros o mataram. Eis o que está dizendo esta legenda, do exterior da porta, do lado que cai sobre as Olarias, Lagares, e Costa do Castelo. No nicho, agora já sem moldura, lá está o busto de Martim Moniz, mutilado pelos vandalismos das idades.

A inscrição data de 1646, o Arco é reconstituição de quinhentos, mas a «Porta de Martim Moniz» remonta ao medievalismo português [séc. XIII]. Não há dúvida: tudo se passou como a lenda e a inscrição rezam. Se se tratasse de história pura — não existiria aqui poesia alguma. O sítio é dos mais belos de todo o Castelo de S. Jorge. Foi aqui o chão da Cidadela, onde assentaram os Paços dos Bispos, os Paços do Mestre de Aviz, chão que, arrasado, veio a dar a «Praça Nova» do desaparecido recinto militar, hoje eirado, povoado de sombras. 

Castelo de São Jorge [1908]
Ronda do lado interior da porta de Martim Moniz

 Joshua Benoliel, in AML

Martim Moniz! Nobre e esforçado capitão e cavaleiro, que em teu escondido nicho velas há centos de anos pela intangibilidade dos belos contos lendários — e muito tens visto desta Lisboa castelã e cristã depois de os mouros te trespassarem à lançada. Nós te saudamos! ¹

A placa de mármore, que se pode ver na imagem abaixo, mandada  ali  colocar  em  1646  por  D.  João  Roiz  de  Vasconcelos  e  Sousa,  Conde  de  Castelo  Melhor,  décimo quarto  neto,  por  varonia,  daquele  heróico  cavaleiro  de  D.  Afonso  Henriques,  a  qual  diz:
"El-Rei dõ Afonso Henriques mandou aqui colocar esta estatua e cabeça de pedra em memória da gloriosa morte que dõ Marti Muniz progenitor da família dos Vasconcelos recebeu nesta porta quando atravessando-se nela franqueou aos seus a entrada com que se ganhou aos mouros esta cidade no ano de 1147. 
João Roiz de Vasconcelos e Sousa Conde de Castelmelhor seu décimo quarto neto por baronia fes aqui por esta inscrição no ano de 1646." ²
Castelo de São Jorge [1908]
Busto de Martim Moniz sobre a porta, do lado exterior da muralha;
a moldura que guarnecia a inscrição e escultura foi retirada em 1939.
Joshua Benoliel, in AML

N.B. Os historiadores não podem comprovar a existência real desta personagem em virtude de não haver qualquer documento da época que a ela faça referência, (no entanto, Alfredo Pimenta, na sua obra de 1940, «A façanha de Martim Moniz», refere documentos de 1258 que citam esse feito). Citam-na, no entanto, como figura lendária da história de Portugal. Em sua homenagem, esse acesso ficou conhecido como Porta de Martim Moniz, também foi chamada «do Olival».
_____________________________________________
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 143, 1943.
² idem, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, pp. 21- 22, 1944.

Wednesday, 15 June 2016

Ruas Latino Coelho, 49-59 e Filipe Folque, 25

Exemplo expressivo de prédio de rendimento do início do séc. XX, em lote de gaveto; fachada cuidada, com barras de azulejo Arte Nova e cobertura de mansarda à francesa.
No Edital de 29 de Novembro de 1902 a Comissão Administrativa do Município, resolveu: “Que a nova via, entre a rua Fontes Pereira de Mello e o largo de S. Sebastião da Pedreira, tenha a denominação de Rua Latino Coelho”.

Ruas Latino Coelho, 49-59 e Filipe Folque, 25 [c. 1960-70]
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

José Maria Latino Coelho nasceu em Lisboa, em 29 de Novembro de 1825 e faleceu em Sintra, no dia 29 de Julho de 1891.
Foi aluno da Escola Politécnica, passou à do Exército, onde concluiu o curso de Engenharia Militar. Assentou praça em 14 de Novembro de 1843, em Infantaria 6, tendo atingido o posto de General de Brigada, em 19 de Setembro de 1888. Muito novo ainda, foi lente substituto de Mineralogia e Geologia, na Escola Politécnica, Deputado em várias legislaturas pelo partido Regenerador, Par do Reino e Ministro da Marinha e do Ultramar, de Julho de 1868 a Agosto de 1869 e filiou-se depois no Partido Republicano.
Foi secretário perpétuo da Academia das Ciências e muitas das suas produções literárias foram publicadas em vida, outras postumamente, para além de publicar numerosos artigos na imprensa do seu tempo, particularmente nos jornais A Semana, de que foi um dos fundadores e no A Emancipação.(cm-lisboa.pt)

Monday, 13 June 2016

Festas dos Santos Populares: os tronos de Santo António

Nasceu no Terramoto de 1755 a tradição lisboeta de confeccionar altares domésticos em honra de Santo António, em Junho, por altura da sua festa. Os tronos homenageiam este Santo douto e bom, nascido no coração de Lisboa, e invocam as suas graças de patrono casamenteiro e advogado das causas perdidas.

Largo das Portas do Sol [1948]
Festas de Santo António, crianças preparam o trono e o peditório
Firmino Marques da Costa, in AML

Os primeiros tronos surgiram no século XVIII, como forma de pedir esmolas para a reconstrução da igreja de Santo António, parcialmente destruída durante o grande terramoto de 1755. O escritor inglês William Beckford refere esta tradição no relato das suas viagens por Portugal.O autor refere, que pelo mês de Junho, Lisboa se enchia de pequenos altares, construídos à porta das casas.

Bairro da Bica [1909]
Festas de Santo António, crianças preparam o trono e o peditório
Joshua Benoliel, in AML

Ao longo dos séculos, foram construídos vários edifícios para marcar o local onde terá nascido Santo António. Acredita-se que, no século XV, já existisse no local uma simples ermida. No mesmo século, D. João II mandou erigir uma igreja, que só viria a ficar pronta durante o reinado de D. Manuel I. 

Rua do Paraíso [1954]
Tronos de Santo António
Armando Serôdio, in AML

Esta, porém, foi parcialmente destruída durante o terramoto de 1755. Do edifício original, apenas sobreviveu a cripta, debaixo da qual, segundo a tradição, ficam os escombros da casa dos pais de Santo António. As obras de reconstrução, financiadas em parte pelas esmolas recolhidas pelos habitantes, tiveram início em 1767. Estas só viriam a terminar 20 anos depois. A igreja de Santo António foi oficialmente aberta ao culto em 1787.

Rua do Paraíso [1954]
Tronos de Santo António
Armando Serôdio, in AML

Estrada dos Prazeres [1954]
Tronos de Santo António
Armando Serôdio, in AML
Rua da Adiça [1954]
Tronos de Santo António
Armando Serôdio, in AML

Beco da Cardosa [1954]
Tronos de Santo António
Armando Serôdio, in AML

Sunday, 12 June 2016

Fernando de Bulhões, Santo António de Lisboa

Comemoração do VII centenário do nascimento de Santo António


Fernando de seu nome de baptismo, Santo António de Lisboa, (ou Santo António de Pádua), nasceu por volta de 1195, em Lisboa, perto da Sé episcopal, no lugar onde agora está a igreja de Santo António e morreu a 13 de Junho de 1231, em Pádua, na Itália.

Rua do Príncipe [13 de Junho 1895] 
 Setecentista Rua de Valverde (hoje de Primeiro de Dezembro); Praça dos Restauradores
 Comemoração do VII centenário do nascimento de Santo António (1195-1231)
 Chaves Cruz, in AML

Nascido em berço rico e nobre — filho de Martim de Bulhões e de D. Maria Teresa Taveira«gente de bom sangue», «era um pequenito, por vezes traquinas, outras meditativo, muito dado a cismar, ficando, nestes momentos, a olhar as águas do Tejo, onde se reflectiam as grandes velas fenícias dos barcos.» (in Arquivo Nacional, Vol. 6)
Aos vinte anos professou a vida religiosa entre os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Ordenado sacerdote em 1220, fez-se frade franciscano no eremitério de Santo Antão dos Olivais, partindo depois para Marrocos em missão de apostolado aos muçulmanos.

Rua do Príncipe [13 de Junho 1895] 
 Praça dos Restauradores (lado ocidental); Hotel Avenida Palace
 Comemoração do VII centenário do nascimento de Santo António (1195-1231)
 Chaves Cruz, in AML

Foi dos mais categorizados representantes da cultura cristã no período de transição da pré-escolástica para a escolástica. Figura notável pela sua erudição, impôs-se também pelo exemplo na pregação solene e doutrinal, na discussão com os hereges e no ensino nas escolas conventuais. Por isso, é ainda hoje considerado uma das personalidades franciscanas mais significativas.
Foi canonizado pelo papa Gregório IX, em 30 de Maio de 1233. Em Pádua foi erigida uma conhecida basílica em sua memória, e lá se encontram as suas relíquias. (infopedia)

Rua do Príncipe [13 de Junho 1895] 
Praça dos Restauradores (lado oriental); Rua do Jardim do Regedor
 Comemoração do VII centenário do nascimento de Santo António (1195-1231)
 Chaves Cruz, in AML

Saturday, 11 June 2016

Convento de Sant'Anna, sepultura de Luiz de Camões

Diz-se que as ossadas de Luíz Vaz de Camões, que se encontram no Mosteiro dos Jerónimos, foram retiradas de um túmulo da Igreja do antigo Convento de Sant'Anna (vd. Fig. 1), onde terá estado depositado o corpo do poeta de 1595 a 1737. Na tentativa de encontrar os ossos do grande épico foram  criadas duas comissõoes: a primeira em 1836 e a  segunda em 1856. Ambas asseguraram ter descoberto os restos mortais de Camões, se bem que em diferentes locais do convento.(vd. Fig 2). Subsistem dúvidas sobre se serão mesmo do autor de "Os Lusíadas", já que não foi encontrado no local qualquer inscrição que o indicasse.

Convento de Sant'Anna, igreja [ant. 1900]
Antiga Rua do Convento de Sant'Anna [actual Rua do Instituto Bacteriológico]
com a antiga Travessa do Convento de Sant'Anna [Rua Câmara Pestana]
Fotógrafo não identificado, in AML

O Convento pertencia à Ordem dos Frades Menores (Ordem de São Francisco), estava situado junto ao  antigo Campo de  Sant'Anna (hoje Campo dos Mártires da Pátria), na freguesia da Pena. Foi extinto em 4 de Maio de 1884, por morte da última religiosa madre Maria da Conceição, tendo sido demolido em 1899 para a construção do Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana.

Convento de Sant'Anna [ant. 1900]
Antiga Rua do Convento de Sant'Anna [actual Rua do Instituto Bacteriológico]
Fotógrafo não identificado, in AML

Em 1561, «vinte freiras penitentes que habitavam, em  regra religiosa de Santo Agostinho, um Recolhimento no Castelo, fundado — diz a tradição — por uma prêta chamada simplesmente Ana» (ARAÚJO, 1939), acordaram com a Real Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento de edificar o mosteiro junto às paredes da pequena Ermida de Sant'Anna, de que aquela se dizia proprietária, sob a protecção da rainha D. Catarina, mulher de D. João III, lavrando-se escritura da concordata, em 21 de Julho de 1561.

Fig. 1 - Carta topográfica de Folque, Filipe, 1858 [Fragmento ]
Legenda (clicar para ampliar):
Vermelho: Convento de Santana, igreja
in AML

Quando se instalaram as freiras, surgiram discórdias de parte a parte, dissolvidas pelo Terramoto de 1755, visto que destruiu a ermida e desmoronou parte do Convento, obrigando as religiosas a abrigarem-se em barracas feitas na cerca, indo os irmãos de Sant'Anna para São Crispim, à Sé, onde trataram de reedificar a capela com a mesma invocação.

Fig. 2 - Planta do Convento de Santana, igreja [30 Out. 1899]
Legenda (clicar para ampliar):
Azul: O local das ossadas de Luiz de Camões determinado pela segunda comissão em 1836
Vermelho: O local das ossadas de Luiz de Camões determinado pela segunda comissão em 1856
in O Occidente

Friday, 10 June 2016

Casa de Camões

« Nesta casa, segundo tradição documental, faleceu a 10 de Junho de 1580 Luiz de Camões». O actual proprietário, Manuel José Correia mandou pôr esta lápide em 1867. (...)»

De acordo com Norberto de Araújo «não se pode garantir, em ciência de academia, que «nesta casa morreu Camões», mas pode manter-se, sem perigo de ofender a razão, que «é tradição Camões ter vivido e morrido nesta casa».
E eis, Dilecto, porque não concordo com o parecer (1934) de dois eminentes erúditos e arqueólogos, do meu respeito e amizade — Augusto Vieira da Silva e Gustavo Matos Sequeira — que alvitram que a lápide fôsse apeada; vou, antes, pelo modesto arrazoado de Nicolau Pinto Correia, actual proprietário do prédio, que no mesmo ano replicou, em representação à Câmara Municipal de Lisboa, e pedia «Justiça».»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, pp. 29-30, [1939])
 
Calçada de Santana [10 de Junho de 1911]
Descerramento da lápide comemorativa na casa onde morreu Luiz de Camões

Joshua Benoliel, in AML

[...]
Vivo em lembranças, morro de esquecido
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tão contente.

Oh quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.
(Luiz Vaz de Camões, in "Sonetos")

Calçada de Santana [c. 1960]
Casa onde morreu Luiz de Camões

Arnaldo Madureira, in AML

Thursday, 9 June 2016

Theatro da Trindade

Numa noite de sábado, 30 de Novembro de 1867, o Theatro da Trindade abria pela primeira vez as suas portas, nascendo assim aquele que viria a ser, e permaneceu ao longo destes 140 anos, um dos mais importantes e belos Teatros de Lisboa. Alguns anos depois, em 1888, foi tornada pública a 1.ª edição de «Os Maias», talvez o mais notável romance de toda a literatura portuguesa. Nele, o seu autor, Eça de Queiroz, imaginou uma significativa cena passada neste teatro, «O Sarau do Teatro da Trindade».
Carlos sossegou: e Ega voltou a falar dos inundados do Riba-Tejo e do sarau literário e artístico que em beneficio deles se «ia cometer» no Salão da Trindade... Era uma vasta solenidade oficial. Tenores do parlamento, rouxinóis da literatura, pianistas ornados com o habito de S. Tiago, todo o pessoal canoro e sentimental do constitucionalismo ia entrar em fogo. Os reis assistiam, já se teciam grinaldas de camélias para pendurar na sala.
(QUEIROZ. Eça de, Os Maias, 1888)
Theatro da Trindade [1866]
 Largo da Trindade; Rua da Misericórdia; Rua Nova da Trindade
 Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente (BNP)
 
Foi no lugar onde antes do Terramoto de 1755 se situava o Palácio dos Condes de Alva — quando o centro social e cultural da cidade se situava exactamente nesta área, entre o Chiado e o Bairro Alto —  que se ergueu este Salão (de Bailes) da Trindade. Abriu no Carnaval de 1867 com baile de máscaras, mas o Teatro propriamente dito só foi inaugurado em 30 Novembro do mesmo ano, numa estreia de gala a que compareceu a família real para ver a nata dos actores da época representar um drama “A Mãe dos Pobres, de Ernesto Biester) e uma comédia  em  1 acto “O Xerez da Viscondessa”
O Teatro da Trindade deve a sua existência à iniciativa do empresário, homem de letras e director teatral Francisco Palha (1824-1890). Foi ele que em 1866 constituiu uma Sociedade, de que faziam parte o Duque de Palmela, Ribeiro da Cunha, Frederico Biester e outros, destinada à construção do novo teatro, que viria a ser desenhado pelo arq.º Miguel Evaristo de Lima Pinto. As pinturas do, tecto são de José Procópio, discípulo de Cinatti. Os bustos na fachada do Largo da Trindade são os de Gil Vicente, António Ferreira, Damião de Góis e Sá de Miranda.O Teatro, incluindo edifício, salões e materiais, custou 120 contos.1

Theatro da Trindade [c. 1910]
Rua Nova da Trindade; Largo da Trindade; Rua da Misericórdia
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
Desde então, a história deste teatro está ligada a alguns dos acontecimentos culturais mais marcantes na cidade de Lisboa: foi no salão da Trindade que, em 1879, foi apresentado aos lisboetas o fonógrafo de Edison ou o relato do explorador Serpa Pinto sobre a sua travessia de África, foi aqui que actuaram, anos mais tarde, intérpretes do calibre do violinista Sarrazate e do pianista Viana da Mota (que no Salão da Trindade deu o seu primeiro concerto público, com apenas 12 anos de idade), foi ainda neste salão que, a partir de 1909, se apostou forte na exibição de cinema, sendo de registar, em 1914, a exibição da (à época) superprodução, "Quo Vadis", de Enrico Guazzoni (1912).
 
Teatro da Trindade [1960]
Rua Nova da Trindade; Largo da Trindade; Rua da Misericórdia
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
 
Testemunho de outras épocas, o Trindade transporta consigo a memória de um tempo em que a burguesia alfacinha ia às soirées ao Chiado, a um dos três teatros que ainda hoje se mantêm nessas poucas ruas: o S. Carlos, O S. Luís (então chamado Rainha D. Amélia) e o Trindade. Mas, provavelmente devido à novidade e aos requintes de decoração e apetrechamento, que incluíam um engenhoso sistema de ventilação da sala, o balcão — o primeiro a aparecer numa sala de espectáculos do país — e uma plateia que podia subir até ao nível do palco e assim permitir a realização de bailes, o Trindade rapidamente se transformou no teatro mais chique da capital.2
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1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VI, p. 66, 1938.
2 teatrotrindade.inatel.pt.
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