Sunday, 4 June 2017

Palácio dos Teles de Melo

O antigo Palácio dos Teles de Melo — recorda Norberto de Araújo — é um casarão interiormente incaracterístico, mas apresenta na sua linha quebrada de quatro faces, da Rua dos Remédios à Calçada do Cascão, uma aparência nobre embora adulterada, que explica a sua inclusão no «Inventário de Lisboa», justificada ainda pelo passado histórico.


Construído em 1701, o Palácio dos Teles de Melo foi a habitação urbana de uma família pertencente à alta nobreza, à data secretários de guerra dos reis D. João V e D. José I: os Teles de Melo [Secretários da Guerra].
Na sequência do terramoto que abalou Lisboa em 1755 sofreu várias modificações, nomeadamente a abertura de uma porta de serviço na Calçada do Cascão e o acesso à capela pelo portal nobre. Mais tarde, em 1868, o palácio é convertido em prédio de rendimento através de remodelações sucessivas no seu interior.

Palácio Teles de Melo [1944]
Rua dos Remédios, 191-203; Calçada do Cascão, 1-23
Eduardo Portugal,in Lisboa de Antigamente

A vida desta casa nobre de Alfama é acompanhada — a partir do momento em que é transformada em propriedade horizontal — por uma constante diversificação social dos seus ocupantes.
O Palácio Teles de Melo tem quatro fachadas, duas delas que acompanham e definem o limite oriental da Rua dos Remédios e o recorte do troço inicial da Calçada do Cascão.
Destaca-se em Alfama pelas suas dimensões e pela disposição fora do comum das suas quatro fachadas.

Palácio Teles de Melo [c. 1900]
Rua dos Remédios, 191-203; Calçada do Cascão, 1-23
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente


Palácio dos Teles de Melo [c. 1952]
Fachada virada a Rua dos Remédios, 191-203
Vasco Figueiredo, in Lisboa de Antigamente



Palácio dos Teles de Melo [1942]
Fachada virada à Rua do Cascão, 1-23
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


O Palácio dos Teles de Melo — prossegue o olisipógrafo — , foi, quando da sua construção (1701), encavalgado, parte no exterior e parte no interior, no muro da Cerca Fernandina. Na parede da Calcada do Cascão, que faz esquina para a Rua dos Remédios [foto abaixo], está encastrada uma inscrição latina, de onze linhas, em mármore rosa com emolduração, que desde 1656 decorava as Portas ou Porta da Cruz da citada Cerca de D. Fernando, situadas no começo da Rua dos Remédios, e demolidas em 1755. A tradução da inscrição é a seguinte:
"Memória consagrada à Eternidade. A Imaculadíssima Conceição de Maria, João IV Rei de Portugal, de acordo com as cortes gerais, publicamente devotou a sua pessoa e os seus reinos por tributarios de um censo annual; e com juramento se confirmou — a si próprio para todo o sempre como defensor da Mãe de Deus, eleita padroeira do Reino, e imune do pecado original. Para que tão piedoso sentimento português se perpetuasse, mandou exarar esta memória perene em viva pedra no ano de Cristo de 1646, sexto do reinado do mesmo senhor".

Palácio dos Teles de Melo [c. 1952]
Lápide comemorativa da eleição da Virgem Maria Padroeira do reino nas Portas da Cruz
Ferreira da Cunha, 
Fachada virada a Rua dos Remédios, 191-203
Vasco Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. VII, p. 184, C.M.L., 1950.

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