A festa de inauguração deste mercado foi explêndida. N’esse dia todo o edifício esteve embandeirado, subindo aos ares milhares de foguetes e tocando duas philarmónicas, uma dentro do recinto e outra da parte externa, para que se armou um vistoso corêto. Immenso concurso de gente ali affluiu e a multidão era enorme.¹
O Mercado do Campo de Santa Clara — recorda-nos Norberto de Araújo — , que ali se vê ao centro da Praça — a parte sul do Campo de Santa Clara — , data de 1877, e foi construído por uma Companhia de Mercados e de Edificações Urbanas, que o explorou até 1927, ano em que, após o meio século do contrato com a Câmara, e segundo clausula fundamental, foi municipalizado.²
Desenhado e construído com base em novas técnicas e materiais, nomeadamente o tijolo industrial, o ferro e o vidro, o Mercado de Santa Clara fez parte da fase de introdução da arquitectura do ferro em Portugal, a qual à semelhança da restante Europa, utilizou o conceito sobretudo na construção de estações de caminho-de-ferro, mercados, pontes, armazéns, estufas e outros edifícios públicos. Situado numa área de 1250 m2, o edifício foi construído sobre um plano inclinado, o qual se revelou estruturalmente favorável à sua funcionalidade. A proposta de construção do Mercado de Santa Clara em Lisboa foi apresentada à Câmara Municipal pelos senhores Conde de Penamacor e António Paes de Sande e Castro a qual mereceu um parecer favorável por parte de então vereador camarário, José Gregório da Rosa e Araújo, preconizador do desenvolvimento e modernização da cidade de Lisboa.
Mercado de Santa Clara [1961] Campo de Santa Clara; entradas Sul e Norte, respectivamente. Artur João Goulart, in A.M.L. |
Na década de 80 sob o desígnio de inovar, rentabilizar e tornar o mercado mais funcional, foi solicitado, ao arquitecto Alberto Sousa Oliveira, um projecto de reparação e remodelação tendo em vista a solução dos seus mais graves problemas. Desse projecto resultou a instalação de um Restaurante panorâmico na sobre-loja do mercado,
foram instaladas novas bancas e remodeladas diversas lojas, para além
de diversas alterações funcionais. Porém, tudo isto não bastou para
salvar o Mercado de Santa Clara que deixou de funcionar como mercado de venda de produtos frescos e passou a funcionar como pólo de dinamização cultural da cidade, acolhendo eventos de índole diversa.
Mercado de Santa Clara [1927] Campo de Santa Clara; ao fundo observa-se a entrada sul Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século |
Hoje em dia, para além do restaurante panorâmico, lojas de antiguidades e de produtos alternativos, o Mercado de Santa Clara acolhe o Centro de Artes Culinárias, o qual foi inaugurado no dia 28 de Junho de 2011, em resultado de um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação “As Idades dos Sabores”.³
Mercado de Santa Clara [1936] Campo de Santa Clara; entrada Norte Eduardo Portugal, in A.M.L. |
Bibliografia
¹ In Mercado de Santa Clara, C.M.L., Lisboa, p. 7, 1995.
² ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 73, 1938.
² ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 73, 1938.
³ SEROL, Maria Elisabete Gromicho, O Campo de Santa Clara, em Lisboa Cidade, História e Memórias | Um Roteiro Cultural, pp. 84-127, 2012.