«Entremos, enfim, na artéria representativa, plebeia e nobre a um tempo, hoje simplesmente popular, do Bairro Alto: a Rua da Atalaia; onde ainda o pitoresco do sítio, no semblante dos edifícios, nos prèdiozinhos côr de rosa, de ressalto e empena de bico, nos velhos palácios adormecidos sem fidalgos, com a sua nota de poesia e côr nos canteiros floridos das sacadas, com o seu tumulto, os seus pregões, e as suas tavernas e botequins.
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Rua da Atalaia, 97 [c. 1900] Fotógrafo não identificado, in AML |
Aqui temos na esquina a Travessa de Água de Flor, lado direito, descendo, um dos mais antigos estabelecimentos do bairro: «a casa das Iscas», no número 165. É um triste documento, decrépito até no negócio, pequeno e escuro, mas que teve nomeada: as iscas do Marçal eram procuradas desde longe. Com a morte, há três anos, do velho possuidor da locanda, a casa não desapareceu mas mais lúgubre se tornou. O Prédio, que pertenceu a D. Emília Metrass de Campos, foi também um palácio antigo, de setecentos.
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Rua da Atalaia, [c. 1900] Esquina da Tv. dos Fiéis de Deus, antigo Palácio dos Condes de Atalaia onde hoje funciona a loja da estilista Fátima Lopes Fotógrafo não identificado, in AML |
Na esquina da travessa que vai aos Inglesinhos fica o antigo Palácio Relvas, onde habitaram os Condes de Atalaia; o primeiro andar é
Na esquina fronteira, com face lateral para a Travessa da Queimada, esteve o jornal «O Diário» fundado por redactores do [Século] em 1903. (...)
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Rua da Atalaia, [c. 1900] Esquina da Travessa dos Inglesinhos Fotógrafo não identificado, in AML |
Dilecto: contempla-me êsse pitoresco prédio popular dos n.°” 73 a 79; dize-me se tem ou não ainda um pouco de poesia bairrista antiga, florido nos seus caixotes, as janelas de grades de setecentos, adornadas de «reixas» nos seus quatro andares. É um dos exemplares mais curiosos, mais ingénuos da construção civil modesta do fim do século XVIII, embora transformado em 1867. E todavia - não se dá por êle.»
(ARAÚJO, Norberto de, «Peregrinações em Lisboa», vol. VI, pp. 46-47)
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Rua da Atalaia, 73 a 79 [1939] Esquina da Travessa do Poço da Cidade Eduardo Portugal in AML |
A Rua da Atalaia aparece com esta denominação já em 1551 e, também em 1554, no «Sumário» de Cristóvão Rodrigues de Oliveira.
Pastor de Macedo cita sobre este topónimo Gomes
de Brito, «Assento pois como certo que ali, no sítio mais elevado do
campo [atalaia é uma palavra de origem árabe que significa lugar alto ou
sentinela] que é hoje o bairro de S. Roque, e com vista para a cidade,
para o lado de Santos, e para o Tejo, se erguia uma atalaia de
castelhanos [na época da eleição do Mestre de Avis] e que daí se
trocavam sinais e avisos…», para concluir que «nada encontrámos que
abonasse aquela opinião ou que nos levasse
a admiti-la e que outrossim nada vimos que nos habilitasse a filiarmos a origem do nome da rua noutra circunstância.».
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Rua da Atalaia, 105 [1969] Actual bar «Portas Largas», antiga taberna, carvoaria e casa de fados Garcia Nunes, in AML |
Pastor de Macedo também refere como antigos moradores desta rua Josefina Santos, actriz do Teatro do Ginásio e viúva do maestro Lino (1898) e, os Condes da Atalaia, no Palácio que mais tarde foi sede do jornal desportivo «Record», conseguindo também no prédio fronteiro, onde é a sede do Lisboa Clube Rio Janeiro ter estado o jornal «Diário». Ainda neste arruamento, no antigo Palácio dos Condes de Atalaia onde hoje está a loja da estilista Fátima Lopes foi a redacção do jornal «País» [cm-lisboa.pt]
Interessante. Estou a redigir um post sobre Atalaia de Vila Nova da Barquinha e vi este seu post num momento em que não estava sequer a pesquisar o termo "atalaia". Parabéns pelo seu interesse, investigação e publicação. Continuação de Bom Ano 2016. Alfredo Ramos Anciães.
ReplyDeleteGrato pelo apreço. Bom Ano
ReplyDeleteNa Rua da Atalaia funcionou também o semanário «o ponto», de vida efémera, dirigido por Abel Pereira, chefe de Redacção do «Diário Popular».
ReplyDeleteNasci e vivi na Rua da Atalaia até casar. Nasci em 1949 e casei em 1971. Sempre que posso passo por lá. Pude assim assistir à grande transformação que o Bairro Alto sofreu. O Bairro Alto do meu tempo era tabernas e carvoarias. Hoje é o que se sabe. Ainda bem.
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