Wednesday, 9 September 2015

Panorâmica sobre São Vicente de Fora

Considerada um dos mais impressionantes edifícios lisboetas, a Igreja de São Vicente de Fora ergue-se como uma imagem emblemática do mecenato arquitectónico de Filipe I, depois de ter subido ao trono português.

Instituído por D. Afonso Henriques em 1147, decorrendo do voto feito pelo monarca caso conseguisse conquistar Lisboa, o mosteiro dedicado ao mártir, e entregue aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, simbolizou na sua essência a refundação cristã da cidade, tornando-se progressivamente uma das mais importantes casas conventuais lisboetas.

 

Em 1527, D. João III encetou uma profunda reforma no interior da ordem dos Crúzios, que estabelecia uma reformulação das regras de vida monástica, estendendo-se à arquitectura dos complexos conventuais.
No entanto, só no início do reinado de Filipe I foi iniciada a reforma do edifício da igreja e do mosteiro, numa acção em que o monarca "refazia o gesto fundacional de Afonso Henriques, sobretudo como gesto primeiro de um novo dinasta e de um novo mecenas", reforçada pela escolha do templo para panteão real (Soromenho, 1994, p. 208).
A autoria da traça do novo mosteiro continua envolta em alguma polémica, embora nos últimos anos seja consensual que as grandes figuras de destaque da reforma vicentina sejam os arquitectos Juan de Herrera e Filipe Terzi.
Se a Herrera, autor do Escorial, são atribuídos os planos do complexo mandados fazer por Filipe I, coincidindo a data dos esboços com os anos de permanência do arquitecto em Lisboa (1580-1583), de Terzi destaca-se o seu contributo nas "traças operativas", ou seja, o seu papel na condução do estaleiro de obras e a influência decisiva do seu trabalho na estrutura final (idem, ibidem, p. 210).

Panorâmica sobre São Vicente de Fora, observando-se o Mercado de Santa Clara e a Escola Secundária Gil Vicente |1940|
in Lisboa de Antigamente

Outra figura de destaque na obra de São Vicente de Fora é, sem dúvida, o arquitecto português Baltazar Álvares, que dirigiu as obras entre 1597 e 1624, e a quem se aponta a composição da fachada (idem, ibidem; Soromenho, 1995, p. 379-380). Adaptando a tradição do Maneirismo romano às tradições arquitectónicas portuguesas, o seu modelo constituiu-se como uma das géneses do estilo chão, marcando em definitivo a arquitectura maneirista, em Portugal e em todo o mundo português, durante o século XVII.
De planta longitudinal, o templo vicentino possui nave única, com transepto, capela-mor bastante profunda e retro-coro. Nas paredes laterais da nave "destaca-se a sequência rítmica de pilastras emparelhadas" (idem, ibidem), entre as quais foram rasgadas, em 1608 pequenas capelas, comunicantes entre si. O espaço, cuja iluminação é feita através de janelas termais que se distribuem pelo topo da cabeceira e do transepto, é coberto por abóbada de berço de caixotões, estando estes decorados com diferentes relevos. O cruzeiro da igreja era originalmente rematado por uma cúpula, que ficou totalmente destruída durante o terramoto de 1755.

Igreja e Mosteiro de São Vicente de Fora |1858|
Largo de São Vicente; Palácio Teles de Menezes (esq.)
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

A fachada apresenta uma composição muito original, de linhas sóbrias e depuradas mas repleta de monumentalidade, como convinha a uma igreja designada panteão-real, na qual se destaca a disposição das duas torres. Estas não são simplesmente justapostas como dois blocos adossados ao frontispício, mas antes plenamente integradas na estrutura, numa tipologia que recria, à luz da tratadística renascentista, a arquitectura medieval portuguesa, alcançando "um equilíbrio perfeito entre a tensão horizontal de um alçado de cinco tramos e a verticalidade sugerida pelos volumes torreados" (idem, ibidem).
(DIDA/IGESPAR/28 de Novembro de 2007)

Igreja e Mosteiro de São Vicente de Fora |1951|
Largo de São Vicente
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

N.B. A freguesia dita de S. Vicente, funcionou, logo desde 1147, na igreja conventual, e o seu patrono foi S. Miguel, invocação principal que se perdeu. Esteve, desde o início fora da jurisdição episcopal, e, talvez por isso, se chamou S. Vicente «de Fora». e não por estar fora dos muros da Cerca Moura. Em fins de Janeiro de 1856 foram anexadas à paróquia de S. Vicente as de S. Tomé. e do Salvador. já retinidas uma à outra desde 1836. A freguesia civil passou a chamar-se das Escolas Gerais desde 15 de Julho de 1916.
(ARAÚJO, Norberto de, IL, 1944)

Panorâmica tirada das Portas do Sol sobre São Vicente de Fora |194-|
Largo de São Vicente
Amadeu Ferrari, 
in Lisboa de Antigamente

5 comments:

  1. Fui batizado nessa Igreja, pelo Padre Alcobia!

    Obrigado, pela atenção.

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  2. Fui batizado nessa Igreja(São Vicente Fora). Foi meu padrinho, José Joaquim Neves Galrito. O Padre salvo erro chamava-se Alcobia.Nasci no Campo de Santa Clara em Dezembro de 1950. De minha casa, via-se a pate frontal, junto ao Arco de São Vicente.

    Obrigado ao Blogue.
    Um abraço
    Manuel Paula

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  3. Manuel Paula, andaste na escola primária do campo de Santa Clara?

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  4. Nasci Graça travessa das Monica's era escolas jegerais agora são Vicente de fora

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