O Sítio dos Quatro Caminhos existe hoje apenas na tradição oral — observa Norberto de Araújo — ; em
1889 a serventia chamou-se cumulativamente «Rua dos Quatro Caminhos e
dos Sapadores». Ainda não há meio século [c. 1890] esta Cruz dos Quatro Caminhos
era o eixo natural de quatro áreas do oriente da Cidade, uma apenas
urbanizada em forma: a da Graça.
Por aqui se descia ao Caminho de
Ferro e ao Vale de Santo António, sítios na vertente de muitas quintas
desaparecidas; por aqui, a poente, se passava, via Caminho do Forno do
Tijolo (a Charca), para os lados dos Anjos, Sant'Ana, Intendente, e
Baixa; por aqui se fazia o trajecto, pela Estrada antiga — hoje Rua — que
percorremos, até à Penha de França, descendo-se ao Poço dos Mouros.
Em
boa verdade, era uma extrema simpática da Cidade, com suas casas
pequenas do século passado [séc. XIX], ou, as mais recuadas, do fim do século do
Terramoto.
Sítio dos Quatro Caminhos [1969] Rua dos Sapadores Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente |
De acordo com Norberto Araújo, o topónimo deriva de um quartel lá existente:
Na primeira metade do século do Terramoto já aqui havia um aquartelamento, embora
de reduzida superfície: era
o Regimento da Segunda Armada, aos Quatro Caminhos, e, em boa verdade,
não consegui saber a que correspondia aquela designação do regimento. No
século passado, e durante longos anos, esteve aqui o Regimento de
Engenharia, fazendo-se por várias vezes obras e ampliações, sempre
restritas. Em 1911, pela reorganização do Exército, subdividiu-se a arma
de engenharia, ficando neste quartel Sapadores Mineiros. Fizeram-se
então novas ampliações, e ergueu-se este edifício que vês, corpo central
de comando, recuado um pouco de frente, para alargamento da nova Rua de
Sapadores (1912-1913). Em 1927, após a revolução de 7 de Fevereiro, os
Sapadores saíram e entraram os Telegrafistas.
Sítio dos Quatro Caminhos [1953] Vista tomada da Rua da Graça, ficando à esq. Rua Angelina Vidal e, à dir. a Rua dos Sapadores. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Hoje tudo isto tem um aspecto alegre e já digno de um bairro de Lisboa. Anota essas casas baixinhas, do lado direito, esse pedaço de habitações pobres contínuas sobre uma cortina à entrada da Rua Angelina Vidal (antigo Caminho do Forno do Tijolo), esse outro grupo de casebres junto do muro do Quartel, à nossa esquerda: são o último sinal dos Quatro Caminhos setecentista. Estão por meses; podes talvez saudá-los pela última vez.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 25-26, 1938)Sítio dos Quatro Caminhos [1953] Rua da Penha de França, entrada da Rua direita da Graça com a Rua dos Sapadores. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Lembro-me muito bem desta imagem do meu bairro da Graça quando eu era ainda um menino
ReplyDeleteConsegue encontrar alguma referência ao CAIS DO TOJO?
ReplyDeleteDesculpe a resposta tardia. Publicarei no sábado próximo um artigo sobre o Chafariz Cais do Tojo.
DeleteAlguém se lembra do senhor Abílio sapateiro na rua dos sapadores na década de 70?
Deletebem... "Ainda não há meio século..." não é - rigorosamente - verdade!!!
ReplyDeleteO autor escreve em 1938, por isso, "é verdade!"
Delete