Wednesday 30 September 2015

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida)

Nesta esquina da Rua do Quelhas existiu, de pé até que lhe foi dado outro destino, o Convento das religiosas inglesinhas de Santa Brígida erguido neste local entre 1651-1656, depois do incêndio do primitivo, que fora fundado por D. Izabel de Azevedo em 1594. 
O Convento de Santa Brígida — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , depois conhecido por «Convento do Quelhas», tinha a sua Igreja da Invocação de S. Salvador, de Sião. Quando da proclamação da República, a Casa conventual estava ocupada por jesuítas, que a haviam adquirido em 1864, sendo naquela altura alvo da sanha de exaltadas gentes, dada a fama que o «Quelhas» tinha adquirido nas camadas populares. 

Aquele Pinto Machado — recorda Norberto de Araújo — que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho — diminutivo que nasceu do apelido do fidalgo — , foi quem fez rasgar, depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 — Caminho Novo — na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o Quelhas, quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter sido aquela onde assentou o palácio dos Pinto Machados. [...] Depois do terramoto é que começou a chamar-se-lhe Rua do Quelhas, o tal D. Francisco de Sousa que por aqui fora grande senhor. Por essa época começou o verdadeiro povoamento lento e seguro deste sítio, a justificar a urbanização do começo do século passado.

Rua do Quelhas, 6A [c. 1909]
Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida)
Em virtude das más condições do edifício e principalmente da sua adaptação às novas funções pós-convento, entre 1866 e 1910 operou-se um alargado conjunto de alterações, que se prenderam essencialmente com o acrescento de mais um piso à igreja, a construção de uma torre, a ampliação de um piso no corpo dos antigos dormitórios e a construção de edifícios na cerca do convento.
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

O edifício do Colégio do Quelhas, era vulgarmente chamado Convento das Inglesinhas, por ter sido convento das Agostinhas de Santa Brígida (Irlandesas). Ficara desabitado desde 1834, ano em que as monjas o abandonaram, já que, embora súbditas de Inglaterra, temiam qualquer violência, em virtude do Decreto que extinguia em Portugal as Ordens Religiosas. [...] Em 1864 o Convento é adquirido pelos Jesuítas que aí mantém o Colégio de Jesus procedendo a várias ampliações, nomeadamente o acréscimo de um piso em toda a ala Nordeste, o alargamento da capela com uma ala exterior a Noroeste, sobre o actual jardim, e o acrescento no mesmo sentido do corpo destacado do refeitório.

Convento das Inglesinhas, claustro e torre sineira [s.d.]
Ruas do Quelhas e das Francesinhas
Em 1904 iniciam-se as obras da nova capela: começada a construir a 11 de Abril
de 1904 e concluída e inaugurada a 24 de Dezembro de 1907. 
Fotógrafo não identificado in Lisboa de Antigamente

O casarão enorme — prossegue o autor das Peregrinações — com suas altas paredes conventuais, da cor rosa característica do velho «Quelhas», recebeu, em 1932-1933, um profundo lenho, e bem merecido foi ele, no ângulo sul, onde se começou a erguer um edifício para laboratório do Instituto, obra que não prosseguiu pois foi aproveitada depois para se levantar a sede da Emissora Nacional.
Altaneira sobre os restos inexpressivos do Convento, e sobre a mancha clara e moderna do pequeno palácio da Emissora, lã está anda a Torre rectangular, de negro cimento, com sua varanda de eirado, e com outra, mais pequena, a um terço da altura.== 
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. VII, 1938)

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida) [c. 1910]
Rua do Quelhas (e Tv. do Pasteleiro) com a antiga Rua João das Regras antes
do Caminho Novo e actual Rua das Francesinhas
No decorrer de oitocentos, a Companhia de Jesus procedeu a profundas alterações
no espaço a si destinado, concretizadas sobretudo na ampliação de um piso do edifício da
igreja (no qual foi construído um enorme salão) e na construção de uma grande torre adossada
à cabeceira do templo (com c. de 25-30 metros de altura), a qual marco
 a paisagem urbana da zona até ter sido demolida no início do século XXI.
Fotógrafo não identificado in Lisboa de Antigamente
 
N.B. Com a chegada da República, o convento serviu para instalar o Museu da Revolução Republicana (altura em que os seus ocupantes são expulsos do edifícios e do país) e posteriormente a Emissora Nacional, o Instituto Superior de Comércio, e depois o ISCEF, actualmente Instituto Superior de Economia e Gestão. As obras de restauro foram financiadas através do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) e de receitas próprias, custando no total cerca de oito milhões de euros.
O convento é hoje propriedade do ISEG, sendo o edifício mais antigo do complexo arquitectónico do instituto, com direito a referência em várias publicações nacionais e internacionais.

Convento das Inglesinhas (ou de Santa Brígida) [1910]
Rua do Quelhas, 6A
No dia 5, aquando da Implantação da República, o Quelhas tornou-se num dos principais focos de conflito, com milícias armadas disparando continuamente contra o edifício jesuíta:
«
O Quelhas, um grande conjunto de edifícios agrupados à volta de uma igreja e cercados por um alto muro, apresentava um espectáculo extraordinário quando finalmente lá chegámos. Havia soldados de cavalaria e infantaria por todo o lado; havia metralhadoras; havia mesmo peças de artilharia. E toda esta força militar estava desencadeada, num tiroteio desenfreado, contra o colégio que, a julgar pelo silêncio reinante do outro lado do muro, estava completamente abandonado. Mas isso não importava. As bombas fustigavam a torre, as metralhadoras disparavam sem parar, balas das espingardas silvavam entre as árvores. Cheguei ao colégio quando estava a nascer o dia. O portão estava aberto e a multidão movia-se para todos os lados. O saque estava em curso, com grande frenesi.[...] »
António Novais, 
in Lisboa de Antigamente

4 comments:

  1. Hey There. I found your blog using msn. This is an extremely well written article.
    I will make sure to bookmark it and return to read more of your useful
    information. Thanks for the post. I will certainly comeback.

    ReplyDelete
  2. Vale a pena acrescentar o seguinte dado:

    O edifício do Colégio, sito na Rua do Quelhas, nº 6 A, era vulgarmente chamado “Convento das Inglesinhas”, por ter sido convento das Agostinhas de Santa Brígida (Irlandesas). Ficara desabitado desde 1834, ano em que as monjas o abandonaram, já que, embora súbditas de Inglaterra, temiam qualquer violência, em virtude do Decreto que extinguia em Portugal as Ordens Religiosas.
    O enorme casarão, já meio arruinado, bem como a Igreja pública anexa, dedicada a Santa Brígida, foram comprados em 1866 por D. Maria da Assunção de Saldanha e Castro, filha dos Condes de Penamacor. A igreja e parte do Convento doou-as aos Jesuítas, na pessoa do P. Francisco Xavier Fulconis, Superior; a parte restante foi, pela mesma, doada às Irmãs de Santa Doroteia, para fundação de um colégio (que passaria a Colégio Jesus Maria José) e iniciaria a implantação da Congregação das Irmãs de Santa Doroteia em Portugal.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Está tudo no texto, por outras palavras, com excepção das últimas linhas. Grato, de qualquer modo.

      Delete
  3. Agradeço todo o trabalho de pesquisa dos blogulstas.

    ReplyDelete

Web Analytics