Friday 4 September 2015

Rua da Bica [chafariz] do Sapato

Esta Rua da Bica do Sapato — recorda-nos Norberto de Araújo — deriva seu nome de uma bica ou fonte que datava de 1674, em 1853 substituída por um Chafariz nº 21, desaparecido também. Hoje [em 1939] vês cêrca do seu local um marco fontenário de recente colocação.

No século XVII estes sítios por aqui, até ao Mirante, eram de aprazíveis hortas, bem perto do sujo Cais do Carvão.¹


Rua da Bica do Sapato  [1939]
 Eduardo Portugal, in AML

Por aqui viveu o renomado escultor Machado de Castro e nestas cercanias terá havido uma afamada fábrica de louça — a da Bica do Sapato — conforme refere a Grande enciclopédia portuguesa e brasileira: «É conhecido por êste nome [Bica do Sapato] um certo tipo de faiança nacional produzido no final do séc. XVIII a princípios da centúria seguinte, numa fábrica existente defronte do Cais do Tojo, na Horta das Flores, no sítio, então arrabaldino, da Bica do Sapato. José Queiroz, na sua obra Cerâmica Portuguesa, supôs que tal fábrica já existiria no séc. XVII e chega mesmo a admitir a hipótese de ter alcançado o final do séc. XVI, em face de observações feitas em várias peças que apresentam motivos decorativos de estilo semelhante aos observados naquelas cuja proveniência está verificada. Não há, todavia, documento algum que alicerce esta conjectura. Pelo contrário. Pelos estudos posteriores, efectuados por outros ceramógrafos, parece poder concluir-se a impossibilidade de se autenticarem proveniências de fabrico pelo simples exame do estilo das decorações, dado que, no século XVIII, principalmente, os mesmos artistas trabalharam em mais de uma oficina. [...]

Rua da Bica do Sapato  [1938]
Eduardo Portugal, in AML

 O tipo decorativo das faianças que se atribuem à Bica do Sapato, por se filiarem na decoração das peças marcadas, caracteriza-se por uma policromia exuberante, com predomínio dos castanhos e dos amarelos, e por uma série de motivos decorativos, festões, grinaldas, ramos e pequenos edículos de carácter oriental. A peça-madre é uma travessa côva, ou bacia, onde, ao centro, se lê «Real Fábrica da Bica do Sapato», peça evidentemente dos últimos anos do séc. XVIII.»²

Rua da Bica do Sapato  [1938]
Eduardo Portugal, in AML

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, p. 19, 1939.
² Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, p. 681, 1935.

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