Só a lisboeta
é que põe o seu barquinho a nado a noite — diz Pimentel na sua Vida de Lisboa — , ainda que o ceu esteja
carregado, ainda que a chuva ameace, só ella é que atravessa pulando as
lamas do Chiado, colhendo as velas ao vestido, e segurando a sombrinha
com a firmesa de um marinheiro experimentado que fosse ao leme. Não teme
a noite, porque as noites só são temerosas na provincia, o, treva e
confusão.
Avenida da Liberdade [1912] Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Vae, n'um pulo, comprar bolos para o chá, escolher um vestido ao
Grandella, vae a pé para o theatro, porque não é bastante rica para ir
de trem, vae à modista fazer um recommendação. vae a uma livraria
comprar uma grammatica para o filho e, atravessando as ruas, pulando
sobre a lama, o seu ar de honestidade defende-a, não a deixa confundir
com as mulheres que vão habitualmente para as cadeiras do Colyseu e para
os gabinetes dos restaurants.
A chuva ás vezes resolve-se a cair, a
varrer as ruas, e a esburacal-as tambem. A lisboeta some-se, voou para
casa nas azas dos seus pesinhos ligeiros. Mas a cidade não fica
solitaria, morta, ouve-se de vez em quando o rodar de um trem, um pregão
que passa, de um cavallo, o assobio de um namorado.»
(in Vida De Lisboa, por Alberto Pimentel, p. 47, 1900)
(in Vida De Lisboa, por Alberto Pimentel, p. 47, 1900)
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