Wednesday 23 September 2015

O Sítio dos Quatro Caminhos

O Sítio dos Quatro Caminhos existe hoje apenas na tradição oral — observa Norberto de Araújo — ; em 1889 a serventia chamou-se cumulativamente «Rua dos Quatro Caminhos e dos Sapadores».  Ainda não há meio século [c. 1890] esta Cruz dos Quatro Caminhos era o eixo natural de quatro áreas do oriente da Cidade, uma apenas urbanizada em forma: a da Graça.
Por aqui se descia ao Caminho de Ferro e ao Vale de Santo António, sítios na vertente de muitas quintas desaparecidas; por aqui, a poente, se passava, via Caminho do Forno do Tijolo (a Charca), para os lados dos Anjos, Sant'Ana, Intendente, e Baixa; por aqui se fazia o trajecto, pela Estrada antiga — hoje Rua — que percorremos, até à Penha de França, descendo-se ao Poço dos Mouros.
 Em boa verdade, era uma extrema simpática da Cidade, com suas casas pequenas do século passado [séc. XIX], ou, as mais recuadas, do fim do século do Terramoto.

Sítio dos Quatro Caminhos [1969]
Rua dos Sapadores
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente


De acordo com Norberto Araújo, o topónimo deriva de um quartel lá existente:
Na primeira metade do século do Terramoto já aqui havia um aquartelamento, embora de reduzida superfície: era o Regimento da Segunda Armada, aos Quatro Caminhos, e, em boa verdade, não consegui saber a que correspondia aquela designação do regimento. No século passado, e durante longos anos, esteve aqui o Regimento de Engenharia, fazendo-se por várias vezes obras e ampliações, sempre restritas. Em 1911, pela reorganização do Exército, subdividiu-se a arma de engenharia, ficando neste quartel Sapadores Mineiros. Fizeram-se então novas ampliações, e ergueu-se este edifício que vês, corpo central de comando, recuado um pouco de frente, para alargamento da nova Rua de Sapadores (1912-1913). Em 1927, após a revolução de 7 de Fevereiro, os Sapadores saíram e entraram os Telegrafistas.

Sítio dos Quatro Caminhos [1953]
Vista tomada da Rua da Graça, ficando à esq. Rua Angelina Vidal e, à dir. a Rua dos Sapadores.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Hoje tudo isto tem um aspecto alegre e já digno de um bairro de Lisboa. Anota essas casas baixinhas, do lado direito, esse pedaço de habitações pobres contínuas sobre uma cortina à entrada da Rua Angelina Vidal (antigo Caminho do  Forno do Tijolo), esse outro grupo de casebres junto do muro do Quartel, à nossa esquerda: são o último sinal dos Quatro Caminhos setecentista. Estão por meses; podes talvez saudá-los pela última vez.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 25-26, 1938)

Sítio dos Quatro Caminhos [1953]
Rua da Penha de França, entrada da Rua direita da Graça com a Rua dos Sapadores.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

6 comments:

  1. Lembro-me muito bem desta imagem do meu bairro da Graça quando eu era ainda um menino

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  2. Consegue encontrar alguma referência ao CAIS DO TOJO?

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    1. Desculpe a resposta tardia. Publicarei no sábado próximo um artigo sobre o Chafariz Cais do Tojo.

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    2. Alguém se lembra do senhor Abílio sapateiro na rua dos sapadores na década de 70?

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  3. bem... "Ainda não há meio século..." não é - rigorosamente - verdade!!!

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