No Verão Lisboa despovoava-se. «De resto, Lisboa no verão era tão secante!...» (Queirós: 1928). A Mala da Europa de 18 de Agosto de 1898 noticiava «uma grande e alegre debandada, por terras de aguas, de praias e consagradas estancias estivaes»; mas os que ficavam iam a banhos a Belém, a Pedrouços, Algés ou Cruz Quebrada.
No Cais do Sodré tomava-se o vapor até Belém e aí, na praia da Torre, «as barracas dos banhistas, brancas, pontiagudas» davam ao sítio um «ar de um acampamento de ópera cómica» (Ortigão: 2001). Torneios de natação e regatas no Tejo animavam a estação estival e, em Pedrouços, em Alcântara ou em Algés, os cais e as praias «com barracas de pinho cru, pintadas às listas por fora» (Miguéis: 1960) a cheirarem «a sal e a urina» animavam-se e enchiam-se de gente. [1]
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Praia da Cruz Quebrada [1931-09-07]
Domingo de praia
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século
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Lisboa e o paiz inteiro não pensam agora senão em banhar-se! Os lisboetas molham se nos poços das barcassas, alastram-se em colonias numerosas e ruidosas pelas praias do Tejo, as praias ao pé da porta, Pedrouços, Algés, Cruz Quebrada, Caxias, Paço d'Arcos, Oeiras, os mais elegantes vão até ao Estoril e Cascaes, os mais pacatos até á Ericeira, os mais misanthropos até Santa Cruz: os provincianos esses emigram em grandes caravanas para as praias de mais luxo, as praias afamadas de banho d'onda e de roleta permanente, Espinho, Figueira, Povoa, e a preoccupação de todos os bons portuguezes, desde Monsão até Tavira, é apenas uma só — o mergulho! [2]
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Praia da Cruz Quebrada [1931-09-07]
Depois do almoço
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século
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Bibliografia
[1] JANEIRO, Maria João, Lisboa: histórias e memórias, p. 23.
[2] O OCCIDENTE: revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, 11 Set. 1893.
ESTÃO A ESQUECER-SE QUE A 1ª PRAIA A SER FREQUENTADA ERA A DE ALGÉS....QUE ERA ÓPTIMA.
ReplyDeleteNão, não esquecemos. Se pesquisar no blogue por "Praia de Algés" encontrará um artigo sobre a referida praia.
ReplyDeletedE SAPATOS E FATO - AQUELAS ALMINHAS GOZAVAM A PRAIA
ReplyDeleteobrigado.Este era o meu País
ReplyDeleteInformative article, exactly what I was looking for.
ReplyDeletetenho a sensação de que a 1ª praia era a que ficava junto há torre de belém, mas muito obrigado palas belas fotos e respectivas legendas.
ReplyDeleteMaravilha conhecer outros povos.a história de cada PAÍZ tem seus caminhos.E é muito interessante saber um pouco deles.
ReplyDeleteAdorei o pormenor do fogareiro a petróleo na segunda fotografia. Delicioso Um abraço
ReplyDeleteBoa tarde a todos
ReplyDeleteAlguém conhece uma musica sobre a Praia da Cruz Quebrada. O Meu Avô cantava e estou a tentar recuperar essa memória.
muito obrigada
Não sei qual a sua idade ou a do seu avô, mas talvez seja uma música do Zeca Afonso, intitulada "Comboio descendente". Para ver a letra e música, é só fazer busca!
DeleteAdeus praia da Cruz Quebrada
DeleteOnde eu ia passear
Apanhar as conchinhas na areia
Apanhar aas ondinhas do mar...
E os pimentos prontos a ser assados?
ReplyDeleteparece q foi ontem
ReplyDeleteIDA A BANHOS NOS ANOS 50
ReplyDelete(da Falagueira à Cruz Quebrada)
Cada ano tinha um dia
em que a família partia
com rumo à Cruz Quebrada
ora por trilhos, ora por estrada.
Em algazarra estridente
a criançada contente
atravessava regueiros
silvados e até ribeiros…
Ao longo da caminhada
a turma bem-humorada
negras amoras colhia
enquanto saltava e ria.
E a Carnaxide chegava
sob o sol quente de verão
como aves de arribação.
Mas, atravessar faltava
a temida auto-estrada!…
Depois, com o perigo passado
o apetite aguçado
lá chegava a Linda-a-Velha
e só faltava o pinhal
p’ra chegar à marginal.
O mar já não era miragem
para aquela miudagem
que iria chapinhar
até o dia acabar.
E chegado então o fim
abrandava o frenesim.
Regressava à Amadora
na camioneta do “Chora”
cantando na abalada:
“Adeus Praia da Cruz Quebrada…
onde eu ia passear
sentada na areia sozinha
a apanhar conchinhas do mar”
02/04/2008
M. Clara Costa
tenho 60 e como eu aprendi, continuava assim: "...já não quero ir pró meu pai nem tão pouco para a minha mãe, o senhor Alexandre Ferreira trata a gente muito bem." ( ?parece que era um senhor duma colónia de férias)
DeleteO mais curioso é que as pessoas vinham vestidas como se fossem para qualquer lado excepto para a praia. Beeem, e a tralha que traziam ...
ReplyDeletee como eu aprendi, continuava: ... já não quero ir pró meu pai, nem tão pouco para a minha mãe, o senhor Alexandre Ferreira trata a gente muito bem"
ReplyDelete(? acho que se referia ao senhor duma colónia de férias )
Nos anos 30 o “padrão” de beleza era um corpo branco,quem andava “bronzeado “ eram os trabalhadores mais humildes….obras e campo a pequena burguesia e a pseudo-burguesia cuidava da sua brancura…….modas…..hoje é o inverso quanto mais bronze mais “in” quanto mais “grafitado” mais in..⚜️
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