Saturday 2 July 2016

Os alfacinhas vão a banhos: praia da Cruz Quebrada

No Verão Lisboa despovoava-se. «De resto, Lisboa no verão era tão secante!...» (Queirós: 1928). A Mala da Europa de 18 de Agosto de 1898 noticiava «uma grande e alegre debandada, por terras de aguas, de praias e consagradas estancias estivaes»; mas os que ficavam iam a banhos a Belém, a Pedrouços, Algés ou Cruz Quebrada.
No Cais do Sodré tomava-se o vapor até Belém e aí, na praia da Torre, «as barracas dos banhistas, brancas, pontiagudas» davam ao sítio um «ar de um acampamento de ópera cómica» (Ortigão: 2001). Torneios de natação e regatas no Tejo animavam a estação estival e, em Pedrouços, em Alcântara ou em Algés, os cais e as praias «com barracas de pinho cru, pintadas às listas por fora» (Miguéis: 1960) a cheirarem «a sal e a urina» animavam-se e enchiam-se de gente. [1]

Praia da Cruz Quebrada |1931-09-07|
Domingo de praia
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Setembro entrou e com elle a grande lufa-lufa dos banhos do mar.
Lisboa e o paiz inteiro não pensam agora senão em banhar-se! Os lisboetas molham se nos poços das barcassas, alastram-se em colonias numerosas e ruidosas pelas praias do Tejo, as praias ao pé da porta, Pedrouços, Algés, Cruz Quebrada, Caxias, Paço d'Arcos, Oeiras, os mais elegantes vão até ao Estoril e Cascaes, os mais pacatos até á Ericeira, os mais misanthropos até Santa Cruz: os provincianos esses emigram em grandes caravanas para as praias de mais luxo, as praias afamadas de banho d'onda e de roleta permanente, Espinho, Figueira, Povoa, e a preoccupação de todos os bons portuguezes, desde Monsão até Tavira, é apenas uma só — o mergulho! [2]

Praia da Cruz Quebrada |1931-09-07|
Depois do almoço
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
[1] JANEIRO, Maria João, Lisboa: histórias e memórias, p. 23.
[2] O OCCIDENTE: revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, 11 Set. 1893.

19 comments:

  1. ESTÃO A ESQUECER-SE QUE A 1ª PRAIA A SER FREQUENTADA ERA A DE ALGÉS....QUE ERA ÓPTIMA.

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  2. Não, não esquecemos. Se pesquisar no blogue por "Praia de Algés" encontrará um artigo sobre a referida praia.

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  3. dE SAPATOS E FATO - AQUELAS ALMINHAS GOZAVAM A PRAIA

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  4. obrigado.Este era o meu País

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  5. Informative article, exactly what I was looking for.

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  6. tenho a sensação de que a 1ª praia era a que ficava junto há torre de belém, mas muito obrigado palas belas fotos e respectivas legendas.

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  7. Maravilha conhecer outros povos.a história de cada PAÍZ tem seus caminhos.E é muito interessante saber um pouco deles.

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  8. Adorei o pormenor do fogareiro a petróleo na segunda fotografia. Delicioso Um abraço

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  9. Boa tarde a todos
    Alguém conhece uma musica sobre a Praia da Cruz Quebrada. O Meu Avô cantava e estou a tentar recuperar essa memória.
    muito obrigada

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    1. Não sei qual a sua idade ou a do seu avô, mas talvez seja uma música do Zeca Afonso, intitulada "Comboio descendente". Para ver a letra e música, é só fazer busca!

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    2. Adeus praia da Cruz Quebrada
      Onde eu ia passear
      Apanhar as conchinhas na areia
      Apanhar aas ondinhas do mar...

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    3. Adeus praia da Cruz Quebrada, onde eu ia passear, sentada na areia sozinha, a apanhar conchinhas do mar. Já não vou para o meu pai, nem tão pouco para a minha mãe...

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  10. E os pimentos prontos a ser assados?

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  11. parece q foi ontem

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  12. IDA A BANHOS NOS ANOS 50
    (da Falagueira à Cruz Quebrada)

    Cada ano tinha um dia
    em que a família partia
    com rumo à Cruz Quebrada
    ora por trilhos, ora por estrada.

    Em algazarra estridente
    a criançada contente
    atravessava regueiros
    silvados e até ribeiros…
    Ao longo da caminhada
    a turma bem-humorada
    negras amoras colhia
    enquanto saltava e ria.
    E a Carnaxide chegava
    sob o sol quente de verão
    como aves de arribação.
    Mas, atravessar faltava
    a temida auto-estrada!…
    Depois, com o perigo passado
    o apetite aguçado
    lá chegava a Linda-a-Velha
    e só faltava o pinhal
    p’ra chegar à marginal.
    O mar já não era miragem
    para aquela miudagem
    que iria chapinhar
    até o dia acabar.
    E chegado então o fim
    abrandava o frenesim.
    Regressava à Amadora
    na camioneta do “Chora”
    cantando na abalada:
    “Adeus Praia da Cruz Quebrada…
    onde eu ia passear
    sentada na areia sozinha
    a apanhar conchinhas do mar”
    02/04/2008
    M. Clara Costa

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    1. tenho 60 e como eu aprendi, continuava assim: "...já não quero ir pró meu pai nem tão pouco para a minha mãe, o senhor Alexandre Ferreira trata a gente muito bem." ( ?parece que era um senhor duma colónia de férias)

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  13. O mais curioso é que as pessoas vinham vestidas como se fossem para qualquer lado excepto para a praia. Beeem, e a tralha que traziam ...

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  14. e como eu aprendi, continuava: ... já não quero ir pró meu pai, nem tão pouco para a minha mãe, o senhor Alexandre Ferreira trata a gente muito bem"

    (? acho que se referia ao senhor duma colónia de férias )

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  15. Nos anos 30 o “padrão” de beleza era um corpo branco,quem andava “bronzeado “ eram os trabalhadores mais humildes….obras e campo a pequena burguesia e a pseudo-burguesia cuidava da sua brancura…….modas…..hoje é o inverso quanto mais bronze mais “in” quanto mais “grafitado” mais in..⚜️

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