No Burgo de Lisboa Oriental — lê-se na excelente Memoria que Velloso d'Andrade publicou em 1851 sobre os chafarizes e fontes da cidade — perto do Convento de Santa Apolónia, está a fonte da bica do Çapato, de cuja agoa ha opinião no povo de que serve para intemperanças quentes, e para curar achaques cutâneos, a que chamão do fígado; e assim também para as queyxas da ourina, dysuria, estranguria; e finalmente para todos os males que procedem de calor. No que nos pareceo dizer: que os que padecerem semelhantes queyxas, e os que forem de temperamento quente, ainda que tenhâo boa saúde, farão muyto bem se beberem desta agoa: não tanto pela particular virtude, que nella considerao, como por que se beberem da agoa do Chafariz da praya, ou d'el-Rey, de que usa a mayor parte destas Cidades, se poderão offender com ellas, por serem sulphureas, e não temperarem com as agoas puras, qual he a da bica do Çapato, a do chafariz de Arroyos, a da Fontainha, e da Pimenteyra, que são agoas puras, e boas, que ha nesta terra, de que devem usar os que padecerem queyxas de calor, acrimonias, e intemperança.
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Rua da Bica do Sapato [1939] Local da antiga fonte da bica do Sapato; chafariz Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Para a banda da terra — no dizer do ilustre Júlio de Castilho — era a chamada Bica do Sapato, hoje [em 1893] chafariz n.° 21. Tem por cima das bicas uma esculptura velha representando o navio das armas de Lisboa [vd. gravura], e por baixo, na moldura de pedra, a data de 1674. Fica este chafariz uns 2 metros inferior ao nivel da calçada, resguardado dentro de um rebaixamento com sua cortina de pedra e cal sobre a serventia publica. Foi concertado em 1853 . D’esta fonte, visivelmente reformada no anno de 1674, dizia, uns cincoenta annos antes, o citado poetastro [mau poeta]¹ descriptivo em 1621:
Em 1851, o chafariz n.º 21, tinha duas bicas, duas companhias de aguadeiros, dois capatazes e cabos, sessenta e seis aguadeiros e um ligeiroLogo a Bica do Sapato
se segue n’uma horta fresca,
cujas crystallinas aguas
competem co’a Pimenteira.
É logar mui deleitoso,
que muita gente frequenta,
onde em logar aprazível
á vista do mar passeia.
¹ N.B. autor da Relação métrica descriptiva da Cidade de Lisboa, 1626. Relação em que se faz uma breve descrição dos arredores mais chegados á Cidade de Lisboa
Bibliografia
ANDRADE, José Sérgio Velloso de, Memoria sobre chafarizes, bicas, fontes, e poços públicos de Lisboa, 1851
CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, p. 119, 1893.
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Chafariz da rua da Bica do Sapato em 1821 Rua da Bica do Sapato Desenho da autoria de Luís Gonzaga Pereira, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ANDRADE, José Sérgio Velloso de, Memoria sobre chafarizes, bicas, fontes, e poços públicos de Lisboa, 1851
CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, p. 119, 1893.
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