Do fundo N. da Praça do Duque da Terceira sobe em declive violento a
Rua do Alecrim,
antiga Rua do Conde (de Vimioso), que, para ganhar o desnível, passa sobre dois arcos, um na
R. Nova de Carvalho e outro na de
S. Paulo.
Ora agora podemos ver a interessante perspectiva desta
Rua do Alecrim — diz Norberto de Araújo — , com seus estabelecimentos de
bric-à-brac, as fachadas dos seus prédios com recorte nas cantarias e sacadas bem desenhadas, e ao fundo um retalho do Tejo, alegria de Lisboa.
E «do Alecrim» ― porquê ? Que originou a modificação no tradicional dístico de Rua do Conde?
|
Rua do Alecrim que foi do Conde |1965| Tinha um traçado pré-pombalino, sendo «uma das artérias
mais características destes sítios, muito lisboeta, com o seu
delicioso enfiamento até S. Roque, direita como um fuso e em dois terços da sua extensão corresponde à seiscentista Rua do Conde». [Araújo: 1939] Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente |
No quarteirão ao alto da Rua do Alecrim, entre esta e a Rua das Flores, uns trinta metros abaixo de onde está a Farmácia Andrade [vd. 3ª imagem], fazendo esquina para uma rua de Brás da Costa, desaparecida, existiu uma Ermida, integrada numa propriedade, fundada por D. Ana de Vilhena entre 1628 e 1641, e cuja Imagem de Nossa Senhora, que viera de S. Miguel de onde D. Ana era natural, foi chamada «do Alecrim» por inspiração de uma criança, filho da fundadora da Ermida, muito tempo antes de esta ser erigida.=
|
Rua do Alecrim que foi do Conde |Início séc. XX| Antes de ser rua, «era o torcicolo do Cata-que-farás que serpeava, na subida, tocando, à direita, uma confusão de casas encostadas às muralhas trecentistas de D. Fernando» [França: 1994] Alexandre Cunha, in Lisboa de Antigamente |
Uma curta paragem no
Largo do Barão de Quintela onde, numa madrugada de 1866, vamos encontrar Hans Christian Andersen. Acabava de chegar a Lisboa e tinha pedido ao cocheiro que o
«conduzisse ao Hotel Durand na praça perto da Rua das Flores». Num outro prédio, num
«segundo andar, por trás de uma janela iluminada», está Alípio Abranhos
«a olhar, desesperadamente, para a tenebrosa pacatez do Largo». O palácio Quintela, que dá o nome ao largo, possui a sua fachada principal virada para o largo e ocupa um vasto terreno entre as ruas do Alecrim e António Maria Cardoso. Foi comprado, em 1777, por Luís Rebelo (irmão de Inácio Pedro Quintela). Nesse terreno, esteve um outro Palácio, o dos condes de Vimioso, que ardeu em 1726. O largo foi terraplenado em 1788 e a
estátua de Eça de Queirós, obra do escultor António Teixeira Lopes (1866-1942), que nele se encontra, foi inaugurada no dia 9 de Novembro de 1918.
No primeiro lanço da rua, vindos
da Praça do Duque da Terceira, que assenta sobre
dois arcos mandados construir pelo marquês de Pombal, situava-se o
Hotel Bragança (no n.º 12, à direita),
fundado em 1912, então como
pensão, e só anos mais tarde tornado hotel, para cujo nome foi necessário obter autorização da Casa de Bragança. Foi neste hotel que Saramago hospedou Ricardo Reis, quando este regressa do Brasil, em 1935: «(...) quando o automóvel já está a dar a volta ao largo, e o motorista avisa. O hotel é aquele, à entrada da rua. Parou em frente de um café, acrescentou, O melhor será ir ver primeiro se há quartos, não posso esperar mesmo à porta por causa dos eléctricos».
|
Rua do Alecrim que foi do Conde |190-| Não deve ser confundido este «Hotel (Pensão) Bragança (1912)» da Rua do Alecrim, 12, fundado por Manuel Miguez Simas, como simples Pensão, com o « Hotel Bragança» (ou Braganza), citado em «Os Maias» de Eça de Queirós, sito na Rua Vítor Cordon (antiga rua do Ferragial de Cima), 45. Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
JANEIRO, Maria João , Lisboa: histórias e memórias, 2006.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p. 51, 1939.
PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Generalidades: Lisboa e arredores, Biblioteca Nacional, 1924.