Sunday 23 April 2023

Cerâmica Viúva Lamego

Eis-nos diante da Fábrica de Cerâmica «Viúva Lamego».
É, pode dizer-se, o último abencerragem das Olarias deste sítio, e cujo dístico sobrevive, a nascente, no bairro tão lisboeta deste nome, e aonde iremos — na companhia de Norberto de Araújo.

Em 1849 era proprietário de terrenos neste local António da Costa Lamego, homem de trabalho, que pensou, arrastado pelas tradições e ambiente bairrista, em fundar em parte deles uma olaria; esses terrenos dilatavam-se até à cerca do Hospital [do Desterro], pois não existia rua alguma onde hoje corre a Avenida Almirante Reis. Os operários vieram, evidentemente, das fabriquetas da Bombarda, das Olarias, e de Agostinho Carvalho, sítio de oleiros ainda em relativa actividade.

Largo do Intendente Pina Manique |c. 1911|
Ao fundo, nos n.ºˢ 24-26, nota-se a fachada da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego. Este edifício possui uma fachada com azulejos polícromos da autoria de Luís Ferreira — o Ferreira das Tabuletas.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A fábrica prosperou; Costa Lamego adquiriu mais chãos, fez prédios, e revestiu, em 1865, a fachada do Largo do Intendente com os azulejos que hoje lá se vêem. Foi quando entrou decididamente na factura da cerâmica artística, ao gosto das olarias ocidentais. 
Por morte do proprietário, a Fábrica passou à Viúva. tomando então o nome comercial de «Viúva Lamego».
Por partilha , entre três filhos e uma filha, após a morte da Viúva, a Fábrica coube a um filho, também António da Costa Lamego, que depois a vendeu a seu cunhado, João Garcia Jerpe, casado com uma filha do fundador, e deste a herdou, em 1895, o actual [em 1938] proprietário João Agostinho da Costa Garcia. Quando se construiu a Avenida, que cortou os terrenos da Fábrica, esta perdeu em superfície o que ganhou em volume, pois elevou-se o prédio e melhoraram-se-lhe as instalações.

Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego |séc. XIX|
Largo do Intendente Pina Manique, 24-26
Observe-se a louça espalhada no passeio fronteiro ao edifício de estilo romântico, estruturado em 2 registos, com 2 janelas cada, que no segundo piso surgem a ladear uma varanda, rematado por empena, rasgada por um óculo rodeado de grinaldas e pequenas figuras que seguram uma inscrição com a data da construção.
Garcia Nunes,  in Lisboa de Antigamente
Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego  |c. 1901 e 1908|
Largo do Intendente Pina Manique, 24-26
Trata-se de uma das obras-primas do azulejo "naif" oitocentista, incluindo as figuras alegóricas ao "Comércio" e à "Indústria", que surgem a ladear a entrada. Actualmente existe apenas a exposição e venda de azulejos, enquanto que a parte fabril, onde são produzidos azulejos de grande qualidade, quer industriais quer artísticos, se mudou para outro local.
Machado & Souza,  in Lisboa de Antigamente

A Fábrica Viúva Lamego — muito considerada — pertence ao grupo das poucas representativas da «arte» popular, que da louça vermelha passou à faiança, e desta à indústria artística, por força da evolução do gosto e dos processos. Muitas das suas obras, de reconstituição sobretudo, andam hoje por palácios públicos e particulares.

Edifício da Cerâmica Viúva Lamego |1970|
A fachada orientada para a Avenida Almirante Reis, 6, possui um elemento decorativo dominante, um vistoso revestimento azulejar que abrange a totalidade da fachada. 
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

No Largo do Intendente, onde hoje se encontra o depósito da Fábrica Lamego — remata o autor das Peregrinações — , elevava-se até há vinte e tal anos [até 1917] o Chafariz [vd. imagem abaixo], depois e transferido para a Rua (Nova) da Palma.

Largo do Intendente Pina Manique e Rua dos Anjos |1915|
Chafariz do Intendente, ao lado, a fábrica Viúva Lamego
Em 1917, por motivos de reorganização de trânsito, este chafariz foi transferido  para o actual local na esquina da Rua do Desterro em frente à Rua da Palma.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 14-15, 1938.
SANTANA, Francisco Gingeira, Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa, Vol. 5, 1975.

4 comments:

  1. Atualmente a fábrica está na Abrunheira, Sintra.

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  2. Maravilhoso belos tempos tenho muitas saudades.

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  3. 1970(imagem da almirante reis) em diante década de carochas e de insanidades ideológicas.

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  4. A fábrica esteve décadas em Palma de Baixo

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