Estamos na Praça Marquês de Pombal, vulgarmente denominada «Rotunda», que constitui o eixo de irradiação de avenidas e grandes artérias, projectadas já em 1882, mas cuja execução muito se fêz demorar. (...) Quando em 1898 se celebrou o Centenário da Índia, (...) já então a Praça estava desenhada em rotunda, mas erguiam-se então apenas dois prédios-palacetes: aquele da esquina poente da Avenida, onde começa, para acabar na esquina da Rua Braamcamp [Palacete Lara e futuro Clube Militar], o arco de circulo da «Rotunda», e o que, com área de jardins, pertenceu ao Conde de Sabrosa, à esquina da Avenida Fontes Pereira de Melo (que não existia, é claro), demolido o ano passado [em 1938] pela Companhia do Gaz [actual EDP]. (...)
Palacete do Conde de Sabrosa, entrada principal [1930] Avenida Fostes Pereira de Melo tornejando com a Praça do Marquês de Pombal Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
O Palacete Sabrosa impressionava pela área da sua implantação distribuída por um quarteirão inteiro: Rotunda do Marquês, Avenida Fontes Pereira de Melo, Rua Camilo Castelo Branco e Avenida Duque de Loulé.
Perfilava-se a residência no gaveto do Marquês com a Fontes Pereira de Melo com duas fachadas extensas, mas a principal projectava-se nesta avenida ou, como se dizia na altura, gozava de vista para o Parque. Na esquina com a Duque de Loulé via-se uma grande construção de apoio à habitação e que serviu durante a revolta republicana do 5 de Outubro de 1910, como hospital de sangue [vd. 3ª foto]. Escala que denota a grande dimensão da residência, onde o arvoredo dos seus jardins se destacava dos restantes parques dos palacetes da cidade de Lisboa, que veio a ser semeado de pequenas construções.
Confirma-se que no final do século XIX a residência principal estava construída e isso poderá explicar a opção por colocar a fachada principal na Fontes Pereira de Melo, que no fundo constituía como que a primeira pedra neste novo eixo, o arrastamento da definição urbana da praça era assim pragmaticamente ultrapassado. Assim, já em 1889, o proprietário Frederico Davidson apresenta um projecto para a reedificação da moradia, o que faz pressupor um imóvel pré-existente.
Fotografia aérea da Praça Marquês de Pombal [1934] Implantação urbana do Palacete Sabrosa, parque e cavalariças (vermelho) Pinheiro Correia, in Lisboa de Antigamente |
Logo em 1903 a Construção Moderna (26.06.2003, n.º 99) publica o que designa de construções rústicas, executadas pelo arquitecto Norte Júnior. Tratava-se de uma cavalariça e aposentos para pessoal, um galinheiro e um pombal [vd. foto acima], em versão cottage popularizada e alguma robustez neo-românica. Constituíam adições pontuais a uma habitação de edificação já consolidada de anos. Reportando a alguns traços estilísticos, terá sido este arquitecto o autor do risco da residência principal ou pelo menos das adaptações promovidas pelo Conde de Sabrosa em 1901. A instalação provisória do já referido hospital de sangue no palácio durante o 5 de Outubro mereceu um louvor do Ministro da Guerra do governo provisório ao seu proprietário, o 1º Conde de Sabrosa (1855-1937), que é quem o mandou reconstruir no final do século XX.
A fachada denota uma influência de gramática neo-maneirista com os seus cunhais, pseudo-pilastras, embasamento rusticado e o friso na cirnalha muito pronunciado, que é produto desta adaptação. No interior, socorrendo-nos da magnífica descrição de Santos Tavares e do conjunto de fotografias publicadas na Ilustração Portuguesa (25 de Janeiro de 1904), confirma-se aquela opção de linguagem artística. Vêem-se arcos de volta abatida, colunas jónicas e tectos de caixotões rectangulares na casa de jantar e no escritório do proprietário. Uma das salas, designada de Luís XVI, era toda mobilada com as aquisições obtidas pelo senhor Conde de Sabrosa, considerado um grande coleccionador na época, no leilão do Marquês da Foz oriunda do Palácio dos Restauradores. Pintura e objectos da colecção Daupiás, outros da colecção Fernando Palha recheavam a grande diversidade de salas, num ecletismo fim de século, que tipificava o ambiente das grandes moradas deste período, por influência do gosto que as colecções Foz e outras espalhavam no meio alfacinha.
Em 1929 o prédio viria a ser alienado «ao activo e confiado industrial hoteleiro», Alexandre Almeida, dono da Companhia dos Grandes Hotéis de Portugal, que já possuía nos Restauradores, o superlativo Hotel Avenida Palace (1890-92) projectado pelo arquitecto José Luís Monteiro (1849--1942). O Concelho de Arte e Arquitectura deu mesmo um parecer positivo e incentivou a construção de um Palace Hotel. Esta ideia não veio a ser concretizada e, em 1937, o hoteleiro vendeu--a com todos os seus terrenos à Companhia do Gás (Araújo, 1939).
E vai iniciar-se um novo ciclo na vida deste espaço com a abertura da sua demolição dois anos depois que se concretiza em 1940.2
Palacete Sabrosa [ant. 1940] Avenida Duque de Loulé com a Rua Camilo Castelo Branco; Praça do Marquês de Pombal Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente |
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 43-44, 1939.
2 TEIXEIRA, José de Monterroso, Rotunda do Marquês:«a cidade em si não cabia já» ou a monumentalidade (im)possível).
Awesome article.
ReplyDeleteGosto de História de Portugal, felizmente a C
DeleteM.L nunca Reconheceu os traficantes de raças indígenas sendo da Família Real de Sabrosa
Duque de Sabrosa foram titulares, "Duques do Carvalhal"como sendo das famílias mais distintas casas Senhoriais da antiga nobreza do Douro Pereira de Castro Araújo Pereira de Morais, Av. da República, existe um outro Palácio da mesma família do Visconde de Gouvinhas com diversos títulos de casas reais do Douro Visconde de Morais, Mãe Viscondessa d' Almeida Araújo e Condessa de Barros
Casa de Barros" Duquesa e Condessa da Feira Sabrosa e Baronesa Morais
Família do Duque do Eu"de Orleães e Duque de Vila Real, Pires Telo Menezes /e Marquês das Minas
Família do Alcaide -Mor, Armeiro -Mor Alvaro Pires de Castro, e Marquês Alcaide Mor Lourenço Pires Távora. com o Feudal Armas e territórios Pinhão/Mon-Corvo dado pelo Rei D.Afonso Ramiro Sanchez Duque de Barcelona e Rei de Portugal seus ilustres parentes das mais distintas Casas Da Nobreza Espanhola e Portuguesa.!...
De acordo com os arquivos da minha família foi edificado pelo meu Bisavô Fernand Touzet, construtor que também construiu a Central Tejo
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