Sunday, 11 December 2022

Travessa do Alecrim que foi do «Cataquefarás»

E o enigmático Cata-que-farás, de que já nos fala Fernão Lopes, que ficava não longe do actual Cais do Sodré, e que uma das nossas municipalidades ineptamente transformou em Travessa do Alecrim? Cata-que-farás seria porventura um prolóquio, uma sentença, um velho rifão equivalente a: Procura que hás de acharProssegue que hás de conseguir — Trabalha que hás de vencer: conselho dado talvez aos mareantes e navegadores, que por ali embarcavam durante toda a época áurea das navegações, dos descobrimentos e das conquistas? Cata-que-farás era decerto na sua ingenuidade rude um enérgico repelão, uma sacudidela salutar na mandrieira nacional... E os marinheiros que partiam iriam dali cantando:

«Partimos de Portugal
Catar cura a nosso mal»
.
(in Embrechados por António Maria José de Melo César e Meneses Sabugosa)

 

Travessa do Alecrim, perspectiva tomada da  R. das Flores para a R. do Alecrim [1945]
O topónimo Travessa do Alecrim foi atribuído pela CML, através do Edital de 31/12/1885, à antiga Travessa do Cata-que-farás, a qual fora denominada até 1882 Travessa do Catefaraz. 
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Como curiosidade transcreve-se um anúncio publicado, em 1820, na velha Gazeta de Lisboa, o primeiro jornal oficial português: 
«Carlos Baker annuncia ao Publico que elle he o unico Agente no meado por Day e Martins de Londres, para vender em Lisboa, a verdadeira graxa para çapatos e botas, descoberta feita por elles; para venda e fabrico da qual se lhe concedeo Privilegio Privativo, e que daqui em diante quem a quizer comprar genuina e livre de duvida, ha de achalla no seu Escriptorio na travessa de Cátefaraz N.° 3, tendo eada botija hum bilhete na rolha com o letreiro seguinte, Charles Baker, travessa de Catefaraz N.º 3 entre a rua das Flores e a rua do Alecrim».

Travessa do Alecrim [1947]
Frades de pedra junto à Rua do Alecrim
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

1 comment:

  1. Adoro este blog, tanto que aprendo sobre a minha terra, a minha Lisboa!

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