Pois estamos no alto da Calçada de Santa Apolónia; sai-nos, agora, à esquerda, a velha Rua da Cruz de Santa Apolónia, que leva à Rua do Mirante — diz Norberto de Araújo.
A Rua da Cruz de Santa Apolónia conheceu outras designações, como R. Nova Cruz (1741), R. da Cruz a Vale de Cavalinhos (1753), R. Direita da Cruz do Vale de Santo António (1762), R. de Vasco Lourenço (1768) e R. Direita da Cruz.
No inicio desta velha artéria lisboeta, em posição sobranceira à orla ribeirinha do Tejo, encontramos, do lado nascente, o Palácio Veloso-Rebelo, depois Fábrica de Tabacos (actualmente ocupado pela G.N.R,) e, mais acima, a poente, implantado em zona de meia-encosta, em terraço — o Palácio Mascarenhas.
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Cç. de Santa Apolónia e R. da Cruz de Santa Apolónia (dir.) [post. 1902]
À dir., entre os n.ˢˢ 18 e 32, nota-se parcialmente o Palácio Veloso-Rebelo e, encimando a foto, vê o muro em semi-círculo do Palácio Mascarenhas. Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Palácio mandado construir cerca de 1724 por Vasco Lourenço Veloso, administrador geral dos portos secos do reino e da Real Fábrica das Sedas. Com o seu falecimento, em 1770, os seus bens e o palácio passam para a posse de seu filho, Tomás Rebelo Veloso Palhares. Ostentando no pórtico as pedras de armas dos Veloso-Rebelo, o edifício serviu, na segunda metade do séc. XIX (c. 1830), de sede à Fábrica de Tabacos ''A Lisbonense'', propriedade de João Paulo Cordeiro. Em 1891, com a fundação da Companhia dos Tabacos de Portugal, as instalações da fábrica antiga sofreram uma remodelação e ampliação.
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Palácio Veloso-Rebelo [c. 1940] Rua da Cruz de Santa Apolónia, 18-32
Portal em cantaria sobrepujado por janela de sacada e superiormente rematada por frontão curvo interrompido por pedra de armas dos Rebelos Velosos. Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Palácio do séc.
XVI com o
topo nascente em pavilhão dentro do pátio, mandado construir por
Manuel Quaresma Barreto, Vedor da Fazenda do rei D. Sebastião, passando a mesma, a
quando do seu falecimento, para a posse da sua segunda filha D. Bárbara, casada com
D. Rodrigo Lobo, 5º
barão de Alvito; nos séculos. XVII e XVIII a
casa de Santa Apolónia encontra-se quase sempre arrendada, uma vez que
não é mais do que uma residência secundária para os barões de Alvito,
normalmente residentes no seu palácio no
Largo do Conde-Barão, igualmente proveniente da herança dos
Quaresma; em 1875, o 4º marquês de Alvito vende o palácio ao lavrador do Ribatejo, José Palha Blanco. Em
1918 foi adquirido por D. Maria José Sobreira Zuzarte de
Mascarenhas, tendo permanecido na família largos anos. Por aqui passou, durante cerca de vinte e cinco anos, no primeiro quartel do séc. XX, o Instituto de Higiene do Professor Dr. Ricardo Jorge e, depois, pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicodependências. É ocupado presentemente pela AML (Área Metropolitana de Lisboa).
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Rua da Cruz de Santa Apolónia [1926] Palácio Veloso-Rebelo na esquina com Calçada dos Barbadinhos. Ao fundo, nos n.ˢˢ 23 e 25, observa-se parte do Palácio Mascarenhas. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, p. 21, 1939.
monumentos.pt.