Friday, 30 June 2017

Paço de Xabregas / Palácio Niza / Asilo de D. Maria Pia

No local onde se ergue o edifício da antiga Escola-Asilo de D. Maria Pia (1867), que sucedeu ao Palacio Niza,  existia no século XVI, seguramente depois de 1510, o Paço Real de D. Leonor, viúva de D, João II.  Era este o Paço arrabaldino de Xabregas — o segundo, pois outro houve anteriormente, mais a Nascente, e que durou no século XII e XIV —, e nele residiram eventualmente os reis de Portugal, até D. João IV (com excepção dos Filipes).  D. João IV, a pedido da Rainha D. Luisa de Gusmão, doou o Paço ou Palácio a sua camareira-mor, a Condessa de Unhão, D. Juliana de Faro (...)


No meado do século passado, pela morte do 5.° Conde de Unhão, D. João Xavier Teles de Menezes e Castro, casado corm a Marquesa de Niza, D. Maria José da Gama — a casa de Unhão reuniu-se às de Niza e de Vidigueira, e o Palácio de Xabregas entrou a ser «Niza», e assim continuou até que o último Marquês, D. Domingos da Gama — o famoso e elegante boémio, largo de mãos, fidalgo sempre, mas caído afinal em pobreza, se viu obrigado a desfazer-se desta sua e adaptação, concluídas nos primeiros dias de Julho. casa (1862), vendendo-a a um particular — cujo nome ignoro — ao qual em 1867 o Estado a comprou para nela instalar o Asilo de D. Maria Pia, criado por decreto de 14 de Março de 1867, deterrninando-se logo obras sumárias de reparação 

Palácio dos Marqueses de Niza / Asilo de D. Maria Pia [ant. 1895]
Rua da Madre de Deus
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente

Destinara-se o Asilo a recolhimento e casa de correcção de menores, tendo assim duas funções, a segunda das quais é aquela que compete hoje [1939] aos estabelecimentos da Tutoria de Infância.
Não andou com fortuna o novo estabelecimento, pois logo a 19 do mês e do ano em que começou a funcionar, já com as obras concluídas, ardeu quási totalmente, com excepção da Capela, que tinha a invocação de N. Senhora da Conceição.
O edifício, a esforços do Infante D. Augusto e do Cardeal Patriarca, que era então D. Manuel Bento Rodrigues, foi rapidamente reedificado, muito melhorado em relação à primeira traça do corpo que se incendiara. 

Palácio dos Marqueses de Niza / Asilo de D. Maria Pia,  pátio central [ant. 1895]
Rua da Madre de Deus
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente

Em 1869 morreu a última freira clarista, já muito velhinha, do Mosteiro da. Madre de Deus, e logo esta casa foi anexada ao Asilo com sua formosa Igreja, salas e claustros. Em 4 de Outubro de 1871 determinaram-se novas obras de restauro, reintegração e adaptação (nem todas felizes), executadas sob a direcção do arquitecto João Maria Nepomuceno, continuadas depois pelo condutor de obras públicas Liberato Teles. E posteriormente alguns outros benefícios o Asilo mereceu.

Asilo de D. Maria Pia / Palácio dos Marqueses de Nisa [ant. 1895]
Claustro de D. João II
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente
Asilo de D. Maria Pia / Palácio dos Marqueses de Nisa [ant. 1895]
Cozinha
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente
Asilo de D. Maria Pia / Palácio dos Marqueses de Niza [ant. 1895]
Oficina de sapateiro
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente

Assim se compreende que a Casa não corresponda, em aspecto interior, aos títulos do seu passado; beleza, se a teve, foi sacrificada à comodidade dos alunos, em benefício da orientação técnica, pedagógica e educativa, que a determinara. Existem, contudo, ainda alguns vestígios de arte, sobretudo em cerâmica de azulejo, e num ou noutro pormenor, mas que não vão além do século XVIII.

Palácio dos Marqueses de Nisa [1938]
Rua da Madre de Deus: ao fundo o  viaduto de Xabregas
Henrique Cayolla, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
(ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, p. 227, 1944)
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, pp. 44-45, 1939)

Wednesday, 28 June 2017

Calçada do Marquês de Tancos (Costa do Castelo)

A Calçada do Marquês de Tancos vem da Costa do Castelo para o Largo de S. Cristóvão; deriva o nome do Palácio do Marquês de Tancos.


Estamos na confluência da Costa do Castelo e da Calçada do Marquês de Tancos. Este edifício enorme da esquina [à dir. na 2ª foto], e que se vê de quási toda a cidade, é o antigo Palácio daqueles titulares; data do século XVII, e é hoje [1938] propriedade de Alves Denis. (...)

Calçada Marquês de Tancos [c. 1900]
Casa da Srª Rita e do Sr. Januário que serviu de cenário para o filme "O Costa do Castelo" de 1943.

Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Esses renques de casas defronte do Palácio, na rua que desce a S. Cristóvão, presentemente melhoradas de aspecto, acusam construção antiga e oferecem um aspecto de certo modo gracioso; foram em tempos moradias de criados da casa Tancos. Debruçado sobre o Caldas, este sítio de reduzida área tem, como vês, ainda algum traçozito de pitoresco.
Este renque de casas de traçozito de pitoresco — como as apelida Norberto de Araújo — foi demolido nos finais da década de 1940 aquando da edificação do Mercado do Chão do Loureiro inaugurado em 1951.

Calçada Marquês de Tancos [1945]
Ao fundo, a torre sineira da Igreja de São Cristóvão e São Lourenço
Casa da Srª Rita e do Sr. Januário que serviu de cenário para o filme "O Costa do Castelo" de 1943.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 16, 1938.

Sunday, 25 June 2017

Loja da América: Rua Áurea, 206-208

A Loja da América  — noticiava o periódico A Capital: diário republicano da noite corria o ano de 1916  — é a casa que melhor se especialisou em artigos de rouparia. Occupa os nº" 206-208 da Rua do Ouro e os nº" 92, 94 e 96 da Rua da Assumpção. Os seus enxovais adquiriram, de há muito, a mais justa fama. São, realmente, verdadeiros  modelos de bom gosto, e impõem-se pelo seu acabamento primoroso e pela sua inexcedível qualidade. Os seus modelos de Paris, Berlim e Londres são sempre dos melhores. Os seus artigos de camisaria são finíssimos e de uma inigualavel perfeição.  

Loja da América [c. 1908]
Rua Áurea, 206-208 tornejando para a Rua da Assunção
Este espaço  é actualmente  ocupado pela Zeva (pronto-a-vestir cujo nome já foi New York)
Ao fundo, na esquina com a Rua dos Sapateiros, vê-se o Café Montanha
Joshua Benoliel, in AML

Bibliografia
(A Capital: diário republicano da noite, 1916)

Friday, 23 June 2017

Avenida Luís Bivar, 2-6

O Prémio Valmor em 1916 foi para o edifício de habitação na Rua Tomás Ribeiro, 58-60, mandado construir por D. Rita Isabel Ferreira de Matos e Dias, risco do arqº Miguel Nogueira Júnior.


Prédio de gaveto, com planta em forma de “L”, projecto da autoria de Miguel José Nogueira Júnior [vd. 2ª foto] datado de 1916 e agraciado com o Prémio Valmor do mesmo ano. O edifício apresenta quatro pisos em gaveto e o alçado principal orientado parcialmente a Oeste e a Sul. Implantado de forma a perfazer um dos extremos do quarteirão em que se integra, a fachada apresenta o ângulo de gaveto boleado, encimada  por remate em platibanda curva em reboco pintado e com frontão ornado por elementos vegetalistas (volutas de acanto) e com piso térreo com embasamento de cantaria de aparelho rusticado. Os vãos apresentam-se em ritmo regular, vãos em verga recta destacada por emolduramento. A Oeste a presença da porta principal está ladeada por pilastras e rematada por alpendre que se articula com varanda em cantaria da janela de sacada do primeiro piso. O paramento orientado a Oeste é animado por fenestrações de peito com guarda metálica, excepto no primeiro piso, que possui janelas de sacada com varanda comum. No nível do gaveto identifica-se uma estrutura tripartida, com piso térreo comercial, e os pisos superiores vazados por janelas de sacada com varandas assentes em mísulas e protegidas com guardas em ferro fundido, que acompanham a forma boleada e acentuam a mesma. Superiormente o edifício é rematado por platibanda.

Rua Tomás Ribeiro, 58-60 tornejando para Avenida Luís Bivar, 2-6  [c. 1952]
«Prémio Valmor em 1916»
Gustavo de Matos Sequeira, in Lisboa de Antigamente

Luís Frederico de Bívar Gomes da Costa (1827-1904), filiado no Partido Regenerador, começou por ser delegado do Ministério Público (1853) e, sucessivamente, juiz de Direito (1862), juiz do Tribunal da Relação de Lisboa (1882), do qual veio a ser presidente em 1894, e juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (1900). Foi eleito Deputado em 1865 e presidente da Câmara dos Deputados entre 1882 e 1885. Toma assento na Câmara dos Dignos Pares em 1886. É nomeado Par do Reino com carácter vitalício em 1890. Ao longo da sua carreira política integrou mais de três dezenas de comissões parlamentares e, em 1902, foi designado Conselheiro de Estado.  [cm-lisboa.pt]

Rua Tomás Ribeiro, 58-60 tornejando para Avenida Luís Bivar, 2-6  [c. 1952]
«Prémio Valmor em 1916»

Wednesday, 21 June 2017

O Mergulhão dos Cordões d'Ouro

Os ourives, ainda há cinquenta anos coravam, em fogareiros apropriados, à porta dos seus estabelecimentos, o oiro de que se serviam para os seus trabalhos. (in A capital: diário republicano da noite, 29 de Junho de 1916) 


Ourivesaria e relojoaria Mergulhão [Início séc. XX, ant. 1915]
Rua de S. Paulo, 162-162B
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

A antiga ourivesaria e relojoaria Mergulhão, do célebre ourives Manoel Carlos Mergulhão — o «Mergulhão dos Cordões d'Ouro» — depois deste ter trespassado a loja sita na Rua Áurea, 53-55 [vd. 2ª foto] à «Chapelaria High-Life» no início do século XX, levou o seu negócio para a Rua de S, Paulo, 162  [vd. 1ªoto]

Na 1ª  foto, no letreiro do lado esquerdo da loja, pode ler-se este curioso texto:
           COMPRA-SE
          POR ALTO PREÇO
       OURO, PRATA, PLATINA, JOIAS,
       MOEDAS, ANTIGUIDADES,
       CAUTELAS DOS MONTE-PIOS,
     GALÕES E DENTADURAS VELHAS

Ourivesaria e relojoaria Mergulhão [c. 1910]
Rua Áurea, 53-55;  no local encontra.se hoje uma dependência dda  C.G.D.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Anúncio da Ourivesaria e relojoaria Mergulhão, [s.d.]

Sunday, 18 June 2017

Bairro das Janelas Verdes

Um momento caminharam em silêncio. Depois, na Rua das Janelas Verdes, o Alencar quis refrescar. Entraram numa pequena venda, onde a mancha amarela de um candeeiro de petróleo destacava numa penumbra de subterrâneo, alumiando o zinco húmido do balcão, garrafas nas prateleiras, e o vulto triste da patroa com um lenço amarrado nos queixos. (QUEIROZ,  Eça de, Os Maias, 1888)


Falar da Rua das Janelas Verdes é também falar da Lisboa Queirosiana — e da casa dos Maias: «A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o Ramalhete

Rua do Sacramento, a Alcântara Rua Presidente Arriaga [ant. 1901]
Quartel da Guarda Municipal de Lisboa depois Guarda Republicana: Carro do «Salazar»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Campos Matos, em Imagens do Portugal Queirosiano, Lisboa, 1876, livro de reconhecida importância sobre o tema, assinala: «Quanto ao Ramalhete, sabemos que fica às Janelas Verdes, cerca da Rua de S. Francisco de Paula [hoje Rua Presidente Arriaga], embora se atribua ao solar do conde de Sabugosa, em Santo Amaro, a sua fonte de inspiração».

Rua das Janelas Verdes [entre 1901 e 1908]
Cruzamento das ruas de São João da Mata e de Santos-O-Velho vendo-se o Palácio Murça.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Aqui quási defronte da Igreja de S. Francisco de Paula — relembra Norberto de Araújo — se ergue o conjunto de edifícios, onde estão desde 1919 instalados uma companhia da Guarda Republicana e o Comando do Batalhão. (...) Depois de 1834 — em que esta casa deixou de ser o Convento de S. João de Deus — instalaram-se nela o Quartel de Marinha, e mais tarde o Tribunal da Corte.

Visita do Rei Dom Manuel II, a guarda de honra formada na Rua das Janelas Verdes Rua Presidente Arriaga [1908]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 59, 1939.

Friday, 16 June 2017

Café Montanha

Ora aqui temos à vista esse Montanha — com um ar decente, pacato, de Café do termo do século XIX. É um resto tranqüilo do Montanha de que falavam os nossos avós, e que nem sempre foi discreto como ora é.
[...] com entradas pela Rua dos Sapateiros e da Assunção — tornado café Restaurante, hoje sonâmbulo —, sucedeu, com intervalo de trinta e sete anos (será isto «suceder»?) ao tal Café das Sete Portas, que datava do princípio de oitocentos e fechou em 1827. Em 1864 Manuel Nunez Ribeiro Montanha — abriu o Montanha, e acabou por comprar o prédio.1

Café Montanha [c. 1910]
Gaveto da Rua dos Sapateiros (Rua do Arco (do) Bandeira)
com a Rua da Assunção

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O tal Café das Sete Portas referido por Norberto de Araújo, ou Marrare das Sete Portas, datava dos primórdios do século XVIII, e era um dos quatro cafés que, então, o napolitano António Marrare (proprietário do afamado Marrare do Polimento, ao Chiado) fundou em Lisboa. Vigiado pela Policia nos primeiros anos da sua existência, conhecidas que eram as ideias francófilas dos seus fregueses, fora, mais tarde, centro preferido pelos partidários do vintismo. Nos meados do século, já na posse de Manuel António Peres, o Manuel Espanhol, o Marrare das Sete Portas era o primeiro café da Baixa.
Luís Augusto Palmeírim, outro memorialista da Lisboa romântica, nos Excêntricos do meu tempo, recorda-nos a sua existência como botequim de fama: «jogava-se o bilhar entre artistas, avultavam as apostas e tomavam o seu café, antes do teatro, o Epifânio e o Tasso. À noite ceiava-se a valer, e o Domingos, o gerente da casa, abria crédito aos janotas que lho pediam e que nunca mais pagavam».
Já centenário, o Marrare das Sete Portas veio até aos nossos dias, passando de proprietário em proprietário. Em 1868, quando da morte do Manuel Espanhol, o Diário de Noticias refere-se-lhe deste modo: «Forum e tribuna, escritório e praça de comércio, palco onde se representaram dramas sentimentais e comédias burlescas, o decano dos botequins da Baixa, sucessor das glórias do Nicola e de outros respeitáveis ascendentes».2
________________________
Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 54, 1939.

2 ANDRADE, Ferreira de, Os Cafés Românticos de Lisboa.

Wednesday, 14 June 2017

Monumento a Luiz de Camões

Pela Carta de Lei de 10 Agosto de 1845 foi o governo autorizado a expropriar por utilidade publica o respectivo terreno, que estava compreendido entre o Largo das Duas Igrejas, Rua do Loreto, Travessa dos Gatos [que se foi com os Casebres do Loreto] e Rua da Horta Seca, e a entregá-lo à Câmara Municipal, para nele se formar uma grande praça, que se pensou aproveitar para a construção do futuro Teatro Nacional.

Por ocasião do 3º centenário de Camões (1880) resolveu-se colocar no Largo do Loreto a estátua do Épico, dando ao largo, devidamente disposto, nivelado e gradeado, o nome de Praça Luiz de Camões.


Pensando-se então em erguer uma estátua em honra do imortal autor de Os Lusíadas, para a qual se indicara o Passeio Público, foi decidido, pela respectiva Comissão, presidida pelo duque de Saldanha, solicitar, para o efeito, a nova praça em construção, e que à mesma fosse dado o nome do grande épico. Procedeu-se à colocação da primeira pedra, em 29 de Junho de 1862, com a presença de Sua Majestade. 

Monumento a Luiz de Camões [c. 1870]
Observe-se o gradeamento em volta do monumento e que tanta celeuma causou à época
Praça de Luís de Camões.
Francesco Rocchini, 
in Lisboa de Antigamente

Não cessavam os comentários, enquanto durou a construção da praça, como este que aqui damos:
«Parece que um mau fado persegue a Praça de Luís de Camões. Que gradaria que hoje ali começaram a colocar! Não se pode imaginar coisa de mais mau gosto. São uns grossos varões de ferro atravessados e com flores amarelas.
«Dir-se-ia que o gradeamento fora feito para uma jaula de animais ferozes, tão possante é.
«Na verdade, custa a crer como a Câmara não concebeu que aquele gradeamento é impróprio da praça. O desenho não é elegante; porém, se ao menos fosse de mais ligeira fábrica, se não tivesse tão grossos varões, poderia passar com menos reparo; como fizeram o tal gradeamento, era objecto das censuras de toda a gente e censuras justificadas, pois que ali fica um padrão do mau gosto no governo da cidade.»¹

Praça Luís de Camões  [c. 1900]
Assistência à passagem do cortejo das festas
de homenagem a Luís de Camões
Fotógrafo não identificado, in LdA
Monumento a Luiz de Camões [Início séc. XX]
 Estátuas em pedra lioz
Praça Luís de Camões
Fotógrafo não identificado, in LdA






















A inauguração da estátua, no meio de delirante entusiasmo, teve lugar em 9 de Outubro de 1867, muito antes da data em que se completou o tricentenário do passamento do cantor das nossas glórias². O custo da obra, paga ao escultor Vítor Bastos, foi de trinta e oito contos. A figura principal é de bronze, tem quatro metros de altura e está assente num pedestal octogonal de sete metros e quarenta e oito centímetros de altura, rodeado de oito estátuas em pedra lioz, de dois metros e quarenta, representando Fernão Lopes, Pedro Nunes, Gomes Eannes de Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, Vasco Mouzinho de Quevedo, Jerónimo Corte Real e Francisco Sá de Miranda.

 A Praça de Luís de Camões, na tarde da inauguração da estátua do Poeta [1867]
Na janela do centro do 1.° andar, do prédio do lado Oeste, que foi de Carvalho Monteiro
armou-se a tribuna real 
in Archivo Pitoresco. Vol. X, 1867

Em 10 de Junho de 1880, uma grande multidão, entusiasmada, formada em cortejo, desfilou perante o monumento, irmanando-se com a massa compacta de portugueses, que enchia os passeios do Chiado, na ânsia de vitoriar a memória do poeta.
Por ocasião do Ultimatum inglês (1890), quando o monumento foi coberto de crepes pelos estudantes universitários, ainda o rodeava o gradeamento que a crítica alfacinha não perdoou.

¹ Jornal do Comércio, de 30 de Setembro de 1862
² Nessa noite, por iniciativa do rei D. Luís, efectuou-se um «baile campestre» nos jardins do palácio de Belém (A Dança no Estrangeiro e em Portugal, de Eduardo de Noronha, pág. 333)
______________________________________
Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 68-70, 1987.

Sunday, 11 June 2017

Instituto Nacional de Estatística

Construído em 1931, risco do arq.º Pardal Monteiro. Destaca-se o seu salão nobre decorado com dez frescos, da autoria do pintor Henrique Franco representando as quatro estações do ano e algumas actividades económicas tais como a Agricultura, a Pesca, os Têxteis e a Cerâmica e a escadaria principal com vitral de grandes dimensões, em posição horizontal, executado em 1933 no atelier de Ricardo Leone, sob cartão do pintor Abel Manta, Encontram-se ainda, na parte superior da fachada principal do edifício, dois baixos-relevos de Leopoldo de Almeida, representando um a Agricultura e a Demografia e, outro o Comércio e a Indústria.

Edifício-sede do Instituto Nacional de Estatística [1934]
Avenida de António José de Almeida; Avenida do México (esq.)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O imóvel continua a manter a sua primitiva função — sede do Instituto Nacional de Estatística. São atribuições do INE a notação, apuramento, coordenação e difusão de dados estatísticos de interesse geral e comum. O edifício-sede do Instituto Nacional de Estatística (incluindo muros e logradouro) está Em Vias de Classificação.

Edifício-sede do Instituto Nacional de Estatística [post. 1935]
Avenida de António José de Almeida; Avenida do México (esq.)
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

O topónimo desta artéria, atribuído  pelo Edital de 18 de Julho de 1933 da C.M.L, homenageia António José de Almeida. Na Praça onde convergem a Av. Miguel Bombarda e a Av. António José de Almeida foi edificado o monumento ao antigo Presidente da República, segundo projecto do arq. Pardal Monteiro e esculpido por Leopoldo de Almeida, inaugurado a 31 de Dezembro de 1937, por iniciativa do Governo. De composição simples, é constituído pela figura do médico, escritor, jornalista e político, António José de Almeida, de pé, esculpida em bronze, sobressaindo do monumento a figura da República, esculpida em pedra. É junto dele que no dia 5 de Outubro se costuma prestar homenagem aos heróis da implantação da República. A face principal do monumento apresenta a seguinte legenda: "António José de Almeida, ardente tribuno, patriota perfeito, cidadão exemplar - Presidente da República 19919-1923. - 17-7-1866. - 31-10-1929"
Por sua vez, a face posterior do mesmo exibe legendas com frases históricas do Dr. António José de Almeida, como propagandista republicano (1906), como Ministro do Interior do Governo Provisório (1910) e como Presidente da República (1921). [cm-lisboa.pt]

Monumento a António José de Almeida [post. 1934]
Avenida de António José de Almeida; Avenida do México (esq.)

Em último plano o Instituto Superior Técnico
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 10 June 2017

Avenida da Ribeira das Naus

A historia da Ribeira das Naus — diz mestre Castilho — se alguém a pudesse escrever completa, seria um dos capítulos mais interessantes da nossa crónica nacional, com as apreciações do computo das despesas feitas, o desenho da fisionomia da arte náutica ao longo dos sucessivos reinados, a crónica fidedigna da valente Marinha militar portuguesa, a nomenclatura dos navios ali construídos, e a biografia dos nossos habilissimos mestres. [Castilho, 1893]


Lisboa estende-se ao longo do Rio Tejo, concentrando as múltiplas actividades ligadas à navegação, à pesca, ao comércio das mais diversas mercadorias.
A zona, designada de Ribeira das Naus, organizava-se, ontem como hoje, em torno do Cais do Sodré, e incluía também os estaleiros de uma importante construção naval que marcou durante vários séculos a economia portuguesa.

Vista aérea da Avenida da Ribeira  das Naus (poente) [1952]
Praça do Comércio; Cais do Sodré; Avenida 24 de Julho; em baixo à direita, a Estação Fluvial Sul e Sueste.
Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

Conquanto já desde longo tempo houvesse nesta zona marinha da cidade uma fama construtiva de embarcações, foi só no reinado de D. Manuel, por 1501, que essa actividade.de se acentuou, e começou-se a chamar ao local Ribeira das Naus, correspondendo cm situação e em funções ao actual Arsenal da Marinha, como passou a denominar-se desde 1774. O Decreto n.º 29.595, de 13 de Maio de 1939, extinguiu a Direcção das Construções Navais, e com ela o Arsenal da Marinha, que se encerrou nessa data.

Doca da Ribeira  das Naus (actual Praça Europa) [c. 1918]
Lançamento à água da navio "Mandovi", construído no Arsenal da Marinha, navegou como canhoneira da Classe Beira desde 1918 a 1056.
Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

Seguida, mas vagarosamente, começaram a ser demolidos os barracões das instalações fabris e a terraplanou-se o terreno para a construção duma avenida marginal entre a Praça do Duque da Terceira e o canto sudoeste da Praça do Comércio, ao sul do torreão do Ministério da Guerra.

(Avenida) Ribeira  das Naus [c. 1939]
À direita e ao fundo vêem-se os edifícios fabris do Arsenal da Marinha antes das demolições
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A avenida marginal referida, que foi construída com carácter provisório, recebeu o nome de Avenida da Ribeira das Naus1, e foi aberta ao público em 9 de Agosto de 1948.
A sua largura é de 12m na faixa de rodagem, calçada com paralelepípedos de granito e alcatroada, e de 1,5m nos passeios laterais.
Tem, da banda do rio, uma cortina de alvenaria com capeamento de betão, e a cortina de vedação do lado do recinto do Arsenal está feita provisoriamente com um muro de tijolo com pilastras divisórias e de reforço.

Avenida Ribeira  das Naus [195-]
À esquerda o local do antigo Arsenal da Marinha que se  vêem na foto acima; à direita o Largo do Corpo Santo; ao fundo o Cais do Sodré
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Para memória de que havia sido aí o local onde se construíram quase todas as caravelas, naus e outros barcos de guerra desde o século XVI até aos meados do XX [2] , e que por todos os mares do mundo tornaram conhecido e afamado o nome de a Câmara Municipal de Lisboa mandou afixar no topo da ala da Sala do Risco, uma nau esculpida em pedra, do brasão de armas da cidade, e por baixo dela a seguinte inscrição:
NESTE LOCAL | CONSTRUIRAM-SE AS NAUS | QUE DESCOBRIRAM NOVAS | TERRAS E NOVOS MARES E | LEVARAM A TODO O MUNDO | O NOME DE PORTUGAL | MANDADA COLOCAR PELA C. M. L. NO ANO DE 1948.

[1] Edital de 22 de Junho de 1948, e Diário Municipal de 25 do mesmo mês. 
[2] As últimas naus portuguesas construidas na Ribeira das Naus, foram, nos  meados do século XIX, a D. João VI e a Cidade de Lisboa (1841) que depois se crismou em Vasco da Cama (Anais das Bibliotecas, Arquivo, etc., n.º 12, 19Sl, pág. 28); o último barco de guerra construido no Arsenal da Marinha foi o aviso de 2.ª classe João de Lisboa, lançado à água em 21 de Maio de 1936. 
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Bibliografia
(CASTILHO, Júlio de) A Ribeira de Lisboa, p. 461, 1893)
(VIEIRA DA SILVA, Augusto, Dispersos vol. I, pp. 389-391, 1968, Biblioteca de Estudos Olisiponenses)

Wednesday, 7 June 2017

Governo Civil de Lisboa, antigo Convento de São Francisco da Cidade

O Convento de São Francisco da Cidade de Lisboa foi fundado em 1217 e tem sido ocupado pela Escola Superior de Belas Artes, Academia Nacional de Belas Artes, Governo Civil de Lisboa, Polícia de Segurança Pública e Museu Nacional de Arte Contemporânea, este imóvel foi igualmente ocupado pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, onde se encontra sediada até ao presente momento. Está classificado como Imóvel de Interesse Público.


Aqui temos na Rua Capelo — relembra-nos Norberto de Araújo — o Governo Civil de Lisboa [1835-2011]. Era o edifício dependência do Convento de S. Francisco, o qual, a-pesar-das alienações feitas a favor da Casa de Bragança, dispunha ainda em 1834 de enorme área.

Governo Civil de Lisboa, portal [s.d. prov. séc XIX]
Rua Capelo, 13 (antiga Travessa da Parreirinha); actualmente ocupado pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado e Faculdade de Belas Artes
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Governo Civil de Lisboa, pátio interior, calabouços [s.d. prov. séc XIX]
Rua Capelo (antiga Travessa da Parreirinha); actualmente ocupado pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado e Faculdade de Belas Artes
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O aspecto conventual desta parte do edifício onde, poucos anos depois da extinção das ordens, se instalaram alguns serviços da polícia, e mais tarde o Governo Civil, ainda se pode notar nos pátios e nalguns pormenores dos corredores baixos.
As obras de melhoramentos parciais nas antigas dependências franciscanas têm sido muitas. Pode dizer-se que em cada década se realizam transformações, mas sem que o edifício deixe de constituir uma pobre adaptação.

Rua Capelo [1926]
Antiga Travessa da Parreirinha; Governo Civil de Lisboa, actualmente ocupado pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado e Faculdade de Belas Artes
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente
Governo Civil de Lisboa [c. 1910]
Rua Capelo, 13 (antiga Travessa da Parreirinha); actualmente ocupado pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado e Faculdade de Belas Artes
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A escadaria principal data de 1907; o seu aspecto actual, com azulejos decorativos de Alves de Sá, é de 1932. Os panos de azulejo do átrio mostram nos vãos laterais junto ao rompimento das escadas, o «Tejo» e o «Douro»; nas paredes altas da escada vêem-se alegorias à Paz, à Caridade, e à Justiça, e, no topo, do primeiro lanço, com frente à rua, o escudo nacional sobre um oval com a Nau do escudo de Lisboa.
O que dá ao edifício, nos seus baixos, ainda um aspecto de «antro» são os calabouços que vão desaparecer em breve, segundo se anuncia.

Crianças vadias presas nos calabouços do Governo Civil de Lisboa [190-]
Rua Capelo (antiga Travessa da Parreirinha)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): O topónimo Rua Capelo foi-lhe dado pelo edital de 7 de Setembro de 1885, em conformidade com o que fora resolvido na sessão da Câmara de 3 do mesmo mês. Essa resolução constituía um dos pontos do programa estabelecido pela Vereação, para festejar a chegada a Lisboa dos exploradores Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens que daí a dias, a 16, haviam de desembarcar.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p. 16, 1939.
cm-lisboa.pt.

Sunday, 4 June 2017

Palácio dos Teles de Melo

O antigo Palácio dos Teles de Melo — recorda Norberto de Araújo — é um casarão interiormente incaracterístico, mas apresenta na sua linha quebrada de quatro faces, da Rua dos Remédios à Calçada do Cascão, uma aparência nobre embora adulterada, que explica a sua inclusão no «Inventário de Lisboa», justificada ainda pelo passado histórico.


Construído em 1701, o Palácio dos Teles de Melo foi a habitação urbana de uma família pertencente à alta nobreza, à data secretários de guerra dos reis D. João V e D. José I: os Teles de Melo [Secretários da Guerra].
Na sequência do terramoto que abalou Lisboa em 1755 sofreu várias modificações, nomeadamente a abertura de uma porta de serviço na Calçada do Cascão e o acesso à capela pelo portal nobre. Mais tarde, em 1868, o palácio é convertido em prédio de rendimento através de remodelações sucessivas no seu interior.

Palácio Teles de Melo [1944]
Rua dos Remédios, 191-203; Calçada do Cascão, 1-23
Eduardo Portugal,in Lisboa de Antigamente

A vida desta casa nobre de Alfama é acompanhada — a partir do momento em que é transformada em propriedade horizontal — por uma constante diversificação social dos seus ocupantes.
O Palácio Teles de Melo tem quatro fachadas, duas delas que acompanham e definem o limite oriental da Rua dos Remédios e o recorte do troço inicial da Calçada do Cascão.
Destaca-se em Alfama pelas suas dimensões e pela disposição fora do comum das suas quatro fachadas.

Palácio Teles de Melo [c. 1900]
Rua dos Remédios, 191-203; Calçada do Cascão, 1-23
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente


Palácio dos Teles de Melo [c. 1952]
Fachada virada a Rua dos Remédios, 191-203
Vasco Figueiredo, in Lisboa de Antigamente



Palácio dos Teles de Melo [1942]
Fachada virada à Rua do Cascão, 1-23
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


O Palácio dos Teles de Melo — prossegue o olisipógrafo — , foi, quando da sua construção (1701), encavalgado, parte no exterior e parte no interior, no muro da Cerca Fernandina. Na parede da Calcada do Cascão, que faz esquina para a Rua dos Remédios [foto abaixo], está encastrada uma inscrição latina, de onze linhas, em mármore rosa com emolduração, que desde 1656 decorava as Portas ou Porta da Cruz da citada Cerca de D. Fernando, situadas no começo da Rua dos Remédios, e demolidas em 1755. A tradução da inscrição é a seguinte:
"Memória consagrada à Eternidade. A Imaculadíssima Conceição de Maria, João IV Rei de Portugal, de acordo com as cortes gerais, publicamente devotou a sua pessoa e os seus reinos por tributarios de um censo annual; e com juramento se confirmou — a si próprio para todo o sempre como defensor da Mãe de Deus, eleita padroeira do Reino, e imune do pecado original. Para que tão piedoso sentimento português se perpetuasse, mandou exarar esta memória perene em viva pedra no ano de Cristo de 1646, sexto do reinado do mesmo senhor".

Palácio dos Teles de Melo [c. 1952]
Lápide comemorativa da eleição da Virgem Maria Padroeira do reino nas Portas da Cruz
Ferreira da Cunha, 
Fachada virada a Rua dos Remédios, 191-203
Vasco Figueiredo, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. VII, p. 184, C.M.L., 1950.
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