Saturday, 31 October 2015

Praça Luís de Camões

Mas era facil encontral-o [Ega] pelo Chiado e pelo Loreto, a rondar e a farejar - ou então no fundo de tipoias de praça, batendo a meio galope, n'um espalhafato de aventura.

(in Eça de Queiroz, Os Maias, 1888)

Esta moderna praça está situada no fim da rua do Chiado; no centro e fechada por uma gradaria, está em construcção um monomento erigido á memoria do principe dos poetas portuguezes, executado pelo esculptor Victor Bastos. Constará d'uma estatua ingente de Luiz de Camões, avultando no seu pedestal, esculpidos em marmore, os bustos dos mais notaveis poetas e prosadores já fallecidos.==
(in Novo Guia do viajante em Lisboa e seus arredores, 1863, F. M. Bordalo)
 
Praça Luís de Camões [c. 1895]
Topónimo atribuído por Edital do Governo Civil de Lisboa, de 12 de Outubro de 1860.
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente
 
O Monumento, custeado por subscrição pública, foi adjudicado ao escultor Victor Bastos pelo valor de 38.000$00 réis. Inaugurada a 9 de Outubro de 1867, foi a primeira estátua pública dedicada a um escritor. O pedestal da estátua, em pedra, mede 7,48 m, sustentando a estátua figurativa de Camões, em bronze, com a altura de 4 m. É rodeada por oito estátuas com 2,40 em pedra lioz, representando: Fernão Lopes, Fernão Lopes de Castanheda, Francisco Sá de Menezes, Gomes Eanes de Azurara, Jerónimo Côrte-Real, João de Barros, Pedro Nunes e Vasco Mouzinho de Quevedo.

Praça Luís de Camões [190-]
Topónimo atribuído por Edital do Governo Civil de Lisboa, de 12 de Outubro de 1860.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
 

Rua Luciano Cordeiro

Este arruamento homenageia Luciano Baptista Cordeiro (1844-1900), jornalista e político que foi director-geral da Instrução Pública e deputado, tendo-se notabilizado pela defesa dos direitos de Portugal em África. Em 1875 fundou a Sociedade de Geografia e também, em 1872, com seu irmão Francisco, criou a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa. implantando um sistema de transporte na cidade de Lisboa, denominado Viação Carril Vicinal e Urbana a Força Animal, vulgo «americanos».

Rua Luciano Cordeiro |c. 1950|
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 30 October 2015

Palácio Burnay

O antigo Palácio Burnay, na Junqueira. conhecido antes por «Palácio dos Patriarcas», teve o seu fundamento nas casas nobres que D. José César de Meneses, principal da Sé de Lisboa, ali fez erguer, depois de 1701, em terrenos aforados por D. João de Saldanha e Albuquerque. Em 1724 o palácio estava já representado numa «vista» da Junqueira, com certa grandeza, e em 1734 o seu proprietário era ainda o seu fundador, que engrinaldara o seu solar arrabaldino de jardins magníficos. Já depois do Terramoto o palácio de D. José César, irmão do 1.° Conde de Sabugosa, foi adquirido pela Mitra Patriarcal para residência de verão dos prelados, e nesse senhorio se conservou muito tempo, havendo no palácio habitado D . Francisco Saldanha, que morreu em 1776. [...]

No último quartel do século XIX o «Palácio dos Patriarcas» veio às mãos do banqueiro Henrique Burnay; atingiu então aquele palácio setecentista, já desfigurado, o auge da sumptuária interior, sendo enriquecidas as salas com valioso recheio de mobiliário, amalgamando-se nos restauros e transformações o que nele existisse ainda da primitiva traça, ficando a predominar no que fora o solar de D. José César o gosto bricabraque, ainda que opulento e de merecimento artístico.

Palácio Burnay, fachada Sul [c. 1870]
Rua da Junqueira, 78-92
O conde Burnay mandou-o decorar com sumptuosidade por alguns dos melhores artistas da época, como Ordoñes, Rodrigues Pita e Malhoa.
António Novaes, 
in Lisboa de Antigamente
Palácio Burnay, fachada Norte [c. 1870]
Rua da Junqueira, 78-92
Era tão luxuosamente mobilado e com tal riqueza em obras de arte que, quando da venda do seu recheio em 1936, só o Governo adquiriu peças no valor global de dois mil contos.
António Novaes, 
in Lisboa de Antigamente

Em meados do século XVIII, o caminho que ligava a Calçada de Santo Amaro e a Calçada da Ajuda, paralelo ao rio, recebe o nome de Junqueira. Recuperava-se assim uma denominação que remonta ao reinado de D. Dinis, quando esta zona dos juncais é legada a D. Urraca Pais, abadessa do mosteiro de Odivelas.
Consta que, a partir de 1701, um descendente da família dos Saldanha, presidente do Senado da Câmara de Lisboa decide aflorar os terrenos, iniciando-se assim um processo de urbanização que, pela localização privilegiada seduz algumas famílias fidalgas que iniciam, na Rua da Junqueira, a construção dos seus palácios de veraneio. Após o terramoto de 1755, a rua afasta-se das águas plácidas da foz do Tejo devido aos aterros que vão permitindo a construção a sul.

Chegada da palmeira ao Palácio do Conde Burnay [c. 1890]
Rua da Junqueira, 78-92
Francesco Rocchini, 
in Lisboa de Antigamente
Palácio Burnay, escadaria nobre [1933]
Rua da Junqueira, 78-92
Nos preparativos para o leilão do Palácio da Junqueira foi encomendado em Março de 1933 um conjunto de fotografias do palácio para figurarem no catálogo a ser impresso e que constituem a base do Álbum de fotografias do palácio.
João Coutinho, in Álbum Palácio do Conde de Burnay

«Grandes factos históricos, de exteriorização militar, se desenrolaram na Junqueira no século XVIII; festas, cavalhadas. justas, e até uma célebre tourada que durou três dias (29 a 31 de Março de 1738), quando fez vinte anos Mariana Vitória, já esposa do príncipe herdeiro, futuro Rei D. José. Reinava D. João V; a tourada foi organizada pelo Duque do Cadaval, D. Jaime de Melo, havendo-se construído, de propósito, uma deslumbrante praça, já de arena circular.» 


Palácio Burnay, Garden-party [1907]
Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Por morte da última condessa de Bumay, D. Amélia Krus, que sobrevivera a seu marido, e para efeitos de partilhas, o recheio do palácio foi vendido (1936), ficando desde então destroçados os interiores, que, a despeito de não possuírem carácter próprio, unidade e ligação o com a história da casa, eram admiráveis. Em 1940 o imóvel foi adquirido pelo Ministério das Colónias, para instalação de serviços daquele departamento do Estado; desde então até fim de 1948 beneficiou lte restauros, transformações e obras de adaptação. custeadas pelo Ministério das Colónias, e orientadas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Palácio Burnay, Garden-party [1907]
Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

No exterior destacam-se as estufas, ao gosto fim de século que, simetricamente, integram o corpo do edifício e, no interior, o zimbório que envolve a escadaria, decorada em tromp l'oeil. A classificação como Imóvel de Interesse Público inclui o Palácio, anexos e jardim. Encontra-se ocupado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Palácio Burnay, Garden-party [1907]
Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Outros  palácios  do  património  nacional, 1946.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 50, 1939.

Thursday, 29 October 2015

Paraíso de Lisboa

Inaugurado a 12 de Julho de 1907 — na cerca do Palácio Folgosa, à Rua da Palma, o famoso «Paraíso de Lisboa», era um parque de diversões, ornado de pequenas muralhas, situado na Rua da Palma paredes meias com o «Real Colyseu de Lisboa». 
 
É provável que o recinto, dirigido por Augusto Pina e por Mimon Anahory, que tinha sido responsável pelo parque de diversões que nos meses de Verão se instalava no Jardim de S. Pedro de Alcântara, correspondesse, segundo os dados de que dispomos, ao modo como a cidade tradicionalmente vivia os seus divertimentos. A quase espontaneidade formal dos seus dois «teatrinhos», onde se ofereciam espectáculos variados e animatógrafo, as barracas de jogos e os cafés que se levantavam ao ar livre tornam possível imaginarmos o ambiente e o uso efectivo que se dava às suas estruturas. Aliás, a simples nota registada na altura de que o espaço fazia lembrar a antiga Esplanada d.os Recreios Whittoyne, aos Restauradores, demolida em 1866.

Paraíso de Lisboa [ant. 1910]
 Rua da Palma, 273
Entrada 100 réis, lê-se no muro ameado.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Paraíso de Lisboa [1912]
 Rua da Palma, 273
Note-se o novo edifício do animatógrafo inaugurado em 1910.
Homenagem aos mortos da República. O Estado Maior da Armada e forças da Marinha passando na rua da Palma a caminho do cemitério do Alto de São João.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O recinto incluía um teatro, ringue de patinagem, carrossel, labirinto de espelhos, barracas de tiro, tômbolas,  de comidas e bebidas — divertimentos fáceis, ao ar livre — ligeiros, género Folies Bergères, jogos, cafés, etc..

Paraíso de Lisboa, recinto de diversões [ant. 1910]
Rua da Palma, 273
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Possuía um palco arte-nova instalado sobre um pequeno lago, e plateia ao ar livre. Não teve vida desafogada, acabando por encerrar no fim da década de 1910 sucumbindo à urbanização do lado poente da Rua da Palma.
 
Paraíso de Lisboa, palco de um dos «teatrinhos» [ant. 1920]
Rua da Palma, 273
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012

Wednesday, 28 October 2015

Real Colyseu de Lisboa

Aqui onde está hoje o edifício da «Garage Liz» — recorda-nos Norberto de Araújo — assentou o Real Coliseu de Lisboa, construido em 1887, em terrenos que pertenciam à Condessa de Geraz de Lima e depois ao seu viúvo Conde da Folgosa.


No princípio da [Rua da Palma] — lê-se no Guia de Portugal —, fazendo esquina para a Calçada do Desterro, [ficava] o edifício que foi do Real Colyseu de Lisboa, teatro-circo inaugurado em 1887 (...) O Real Colyseu, cuja sala podia comportar uns 5.000 espectadores, sendo o risco do engenheiro Ganhado, funcionou até à abertura do Coliseu dos Recreios, tendo sido transformado depois em animatógrafo.

A cúpula do Real Coliseu de Lisboa (1896-1929), em baixo, ao centro |entre 1908 e 1929|
Rua da Palma
Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Na Rua da Palma — paredes meias com o Real Colyseu — ficava ainda o Paraíso de Lisboa (ao fundo), inaugurado em 1907, também com teatro, carrossel, barracas de tiro, de comidas e bebidas. Foi uma espécie de antecessor da Feira Popular. Foi neste local que se realizou a primeira projecção de Animatógrafo em Portugal no dia 18 de Junho de 1896, apenas meio ano depois da estreia mundial em Paris.

Real Colyseu de Lisboa |Início séc. XX|
Rua da Palma com a Calçada do Desterro
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O sucesso foi tão grande que viria a estabelecer-se no recinto aquele que depois foi baptizado como Cinema Colossal, e que funcionava com a tela de projecção no palco principal do Coliseu. Com o aparecimento de novas salas mais bem equipadas e com a construção do novo Coliseu dos Recreios, o Real Coliseu foi perdendo encanto e acabaria por encerrar no final dos anos 20 (1929), sendo posteriormente demolido. No seu local veio a instalar-se a referida garagem Auto-Lys ou Garage Liz.

Fachada do Real Colyseu |ant. 1929|
Rua da Palma
Fotografia: Livro "Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa"

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 68, 1938.
Guia de Portugal: Generalidades. Lisboa e arredores, vol. I, p. 268, B.N.L, 1924.

Tuesday, 27 October 2015

Palácio Foz: Pastelaria Foz, Restaurante «Abadia» e o «Clube dos Makavenkos»

O Palácio Foz, ou mais correctamente Palácio Castelo Melhor, foi concebido como projecto no século XVIII, tendo-se arrastado a sua construção até meados do século passado. Embora a fachada e estrutura geral possam ser consideradas características da arquitectura setecentista já liberta da influência barroca para se subordinar ao "gosto novo" italiano, o interior, refundido posteriormente, tem decoração de carácter "revivalista", muito em voga na segunda metade do século XIX. A identificação dos seus criadores confere, desde logo, considerável prestígio à obra. Deve-se o traçado a Rosendo Carvalheira, um dos mais consagrados arquitectos do seu tempo. 

Praça dos Restauradores [c. 1900]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)
Praça dos Restauradores [1918]
Pastelaria Foz

 Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Em Abril de 1917 foi inaugurado no velho edifício do Palácio Castelo Melhor, então propriedade dos condes de Sucena, um estabelecimento denominado "Pastelaria Foz", propriedade da firma Leitão & Cª.
O salão de Pastelaria, que já não existe, era uma pastiche concebida ao estilo de Luís XV e rocaille, por Viriato da Silva, e com a colaboração do escultor José Neto.
Ocupava diversas dependências do andar térreo e também uma cave secreta, nela está guardada uma jóia da cidade de Lisboa, o "Restaurante Abadia", lugar de reuniões da maçonaria — "Os Makavenkos".

Clube dos Makavenkos
Clube dos Makavenkos
Reinando ainda D. Luís I, o Clube dos Makavenkos foi fundado em 1884 por 13 sócios (rapidamente subindo de número chegando ter mais de 100 filiados) cuja principal ocupação aparente não passaria da comensal e boémia: o prazer da boa mesa, da “alegre rapioqueira” e a compensação dos “pecados” com actos de benemerência. Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas, e nenhum podia namoriscar com a mesma por mais de 15 dias. 

Findo esse período, ela seria declarada “praça aberta” e ele, se insistisse, levava o título de “lamechas” e a intimidação para pôr fim ao relacionamento em 24 horas. Nisto ficou famoso o makavenko Santos Joya, que exercia “extraordinário poder magnético sobre as mulheres, convidando-as às dezenas para os jantares”, e por essa razão já merecera “as honras dum festim à romana e respectiva coroa de louros, para se lhe exaltar as suas qualidades de macho”. Quando ele não aparecia, faltavam “damas e melhores exemplares da raça luso-espanhola” que “abrilhantassem a encantadora festa, porque as flores animadas são sempre bem cabidas e apreciadas”. 

Restaurante Abadia [s.d.]
«CLAUSTRUM» com uma "CELA", pequenas dependências suspensas de carácter reservado.

Estúdio Horácio Novais,  in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Foi o próprio Francisco Grandella quem fundou o clube, e o seu presidente honorário, depois de 1898, foi Ferreira do Amaral, e após a sua morte o cargo foi ocupado pelo dr. Azevedo Neves. Em Lisboa, “quando começaram (os makavenkos) iniciaram as suas reuniões em Santa Isabel, no palacete do Conde das Antas, no quintal onde se achavam vários animais, denominado Parque Zoológico, (…) que às sextas-feiras jantavam no dito parque”. 

Restaurante Abadia [s.d.]
"CLAUSTRUM" e o velho poço que leva aos subterrâneos de Lisboa.

Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Todavia, os makavenkos não deixaram de saltitar por outras casas e restaurantes, até que Francisco Grandella comprou o terreno do velho Teatro Condes e mandou reconstruir este em 1888, reservando a cave para implantar a sede makavenkal (que a partir de 1916 seria partilhada com a Abadia, do outro lado da avenida). Apesar de levemente ligada à dramaturgia, não obstante a cave do Condes vulgarmente enchia-se de autores, actores e actrizes para jantares, festas e banquetes, tendo passado por ele uma boa parte da alta sociedade e da intelectualidade masculina da Lisboa de então, sobretudo nobres com títulos de fancaria comprados a outros titulares arruinados.

Restaurante Abadia [s.d.]
Nas cachorradas do “REFECTORIUM” estão representados 24 pequenos bustos de makavenkos maçons de ambos os sexos, alguns com a jóia do seu grau sobre o peito, postados nos frisos das paredes norte e sul.

Estúdio Horácio Novais,  in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Imaginemos o secretismo de entrar neste local de culto original de 1917, quem entra dá de caras com um velho poço onde ainda corre água, de uma das imensas nascentes lisboetas, este fica localizado num espaço que copia um antigo claustro conventual, de influência manuelina. A restante decoração é feita com dragões, cachos de uvas, pombas, elefantes e muitos outros símbolos com segundos sentidos, entre os quais os bustos de 24 maçons que utilizavam este espaço.a cave, onde ficou instalado um restaurante anexo, a "Abadia". Trata-se de um exemplar demonstrativo da interpretação que os arquitectos e decoradores portugueses então faziam do gosto "belle époque", em que o "revivalismo" de sabor medieval europeu, aparece metamorfoseado na atracção por um manuelino sobrecarregado de formas e repassado de elementos simbolistas. A Abadia está dividida em três partes — o CLAUSTRUM (com a sua "taberna vínica", conforme se pode ler num dístico em ferro forjado), o REFECTORIUM (inspirado nos claustros do românico cisterciense peninsular) e as "CELAS", pequenas dependências de carácter reservado suspensas sobre o "Claustrum".

Restaurante Abadia [s.d.]
Escultura em corpo inteiro de um arquitecto medieval...

Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)
Restaurante Abadia [s.d.]
Esquinando ou em quina, no sentido nordeste...

Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Bibliografia
gmcs.pt/palaciofoz/pt; lusophia.wordpress.com

Monday, 26 October 2015

Hospital (Sanatório) de Sant'Ana

O antigo Sanatório de Sant'Ana e actual Hospital Ortopédico, pertença da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, conserva a sua imponência arquitectónica, destacando-se pela longa fachada, paralela à avenida Marginal. Edificado no início do século XX (1902-1914), este edifício deixa adivinhar o gosto ecléctico que vigorava na arquitectura portuguesa de então, mas aliado, aqui, a uma profunda capacidade funcional, bem expressa na articulação de espaços, serviços e equipamentos.

Hospital de Sant'Ana [Início séc. XX]
Avenida Marginal; Avenida Vasco da Gama, Parede, Cascais

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A história da construção do hospital foi, inicialmente, algo conturbada. Deve-se a sua iniciativa ao casal D. Amélia e Frederico Biester, que contaram desde logo com o apoio do reputado médico Dr. Sousa Martins. A questão dos sanatórios encontrava-se na ordem do dia, e o local escolhido preenchia os requisitos necessários para tais instituições. O primeiro projecto para o sanatório foi concebido por José António Gaspar, arquitecto professor na Academia de Belas Artes. Todavia, o falecimento dos fundadores levaram-no a abandonar a obra, que seria retomada pela herdeira de D. Amélia, Claudina de Freitas Chamiço. O arquitecto então chamado foi Rosendo Carvalheira, ao qual estavam ligados outros profissionais que também aqui intervieram. Eram eles Norte Júnior, António do Couto, Marques da Silva e Álvaro Machado. (...)

Aspecto das obras do Sanatório de Sant’Ana
na Parede, em Agosto de 1902, um ano depois da cerimónia de lançamento da primeira pedra


Outro aspecto das obras do Sanatório de
Sant’Ana, na Parede, em Agosto de 1902

De acordo com esta leitura, o novo arquitecto teria sido responsável pela introdução, nos planos anteriores, de uma maior e mais eficaz funcionalidade, que respeitava mesmo "as prescrições (...) para as construções hospitalares usadas desde 1901 em França e aconselhadas em Portugal desde 1902". Por outro lado, o moderno sistema de ventilação empregue foi elogiado nas revistas de arquitectura da época, destacando-se ainda a lavandaria anexa, que se liga ao edifício através de carris.
Lançada a primeira pedra a 7 de Agosto de 1901, o primeiro bloco foi inaugurado logo em 31 de Julho de 1904, muito embora o sanatório apenas ficasse concluído, na sua totalidade, em 1912. Classificado como MIP - Monumento de Interesse Público. [in DGPC]

Capela do Sanatório de Sant’Ana [meados do século XX

Sunday, 25 October 2015

Lojas de Antanho: Leitaria «A Universal»

A origem do topónimo «Travessa do Borralho» segundo o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, «(...) recorda o apelido do escrivão da Mesa Grande da Alfândega, António de Moura Borralho, que nos meados do século XVIII possuía as casas que da rua dos Anjos vemos hoje esquinar para a Rua de Francisco Lázaro (lado oriental), antiga Travessa do Borralho». (cm-lisboa.pt)

Rua dos Anjos com a Travessa do Borralho |1911|
Leitaria «A Universal, Leite Quente e Frio»
Frontaria ostentando elementos decorativos Arte Nova.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 24 October 2015

Palácio Pombeiro

O Palácio Pombeiro aprese1ita um semblante discreto. que nada revela quanto à sua fundação setecentista. Tem as linhas simples, mas harmoniosas, do princípio do século XIX, e ocupa uma área relativamente grande, entre o Largo e a Calçada do Conde de Pombeiro, caindo os Jardins, do lado Nascente, quase sobre a Rua dos Anjos.


O Palácio Pombeiro, no seu núcleo primitivo, casa nobre dos Castelo Branco, senhores do morgado de Sacavém, e senhores de Pombeiro e de Belas, remonta ao começo do século XVIII, e embora não se saiba, ao certo, quem o fez erguer, pode admitir-se que tenha sido o 3.º Conde de Pombeiro, D. Pedro de Castelo Branco da Cunha Correia e Meneses, senhor de Belas e do morgado de Castelo Branco, em Santa Iria (Sacavém) , fidalgo nascido em 1679, falecido em 1733. (...)

Palácio Pombeiro  [c. 1940]
Largo do Conde de Pombeiro; Calçada do Conde de Pombeiro
Frontaria com andar nobre único, oito janelas de sacada, coroadas de ática, sendo as duas janelas do centro guarnecidas de uma varanda única.

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O Palácio Pombeiro foi reedificado quase integralmente pelo 6.° Conde e 1.º Marquês de Belas, como ficou dito, no estilo da transição do século XVIII para o XIX, sem relevo arquitectónico exterior, e conservou-se na posse da família até ao 3.° Marquês de Belas e 9.º Conde de Pombeiro D. António de Castelo Branco, que sucedeu no marquesado, em 1834. a seu avô, 2.° Marquês, e no condado, em 1867, a seu pai, 8.° Conde; foi este D. António, nascido em 1842, e falecido em 1891, o celebrado cavaleiro tauromáquico amador, fidalgo primoroso mas indiferente a bens terrenos.

Palácio Pombeiro  [c. 1961]
A Fachada Poente, sobre a Calçada do Conde de Pombeiro, com três corpos, intervalados por terraços, tendo os corpos laterais duas janelas de sacada e o do centro três, todas no tipo das do andar nobre da Frontaria.
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Cerca de 1870 o palácio foi alienado pelo seu proprietário — o último Pombeiro da Bemposta — ao famoso Duque de Saldanha, então já bastante idoso, que no palácio chegou a residir, assim como pessoas de sua família,  entre as quais uma sobrinha do 2° Conde de Farrobo e de sua mulher D. Eugénia de Saldanha Oliveira e Daun, esta filha do Duque de Saldanha. O Duque não se demorou na posse do palácio, que vendeu em 1875 ou 1876 ao 1.° Visconde de Azarujinha, mais tarde Conde do mesmo titulo, António Augusto Dias Freitas, rico industrial, que ascendeu a par do Reino, falecido em 1904. Foi a este titular que o governo de Itália adquiriu logo no começo do século o Palácio Pombeiro, para nele se instalar a Legação de Itália, até então ocupando o Palácio dos Viscondes de Correia Godinho no Campo de Santa Clara, e que sofrera um grande incêndio.»  
(ARAÚJO. Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, pp. 179-180, CML, 1950)

Palácio Pombeiro [c. 1952]
Largo e Calçada do Conde de Pombeiro
Pátio nobre onde se destacam parte dos painéis de azulejos, nos quais figura o Marquês de Belas, reedificador do palácio.

Salvador de Almeida Fernandes, in Lisboa de Antigamente

No interior merecem menção as denominadas: Sala de Baile, com tecto de masseira, recoberto de estuques brancos filetados de ouro; as portas das janelas coroadas de áticas; pilastras de escariola branca, caneladas, nos ângulos da sala; 
 
Palácio Pombeiro [1952]
Largo e Calçada do Conde de Pombeiro
A Sala Pompeiana
(ou Sala Arcádia) na qual se notam frisos de pintura a fresco.
José Espinho, in Lisboa de Antigamente
 
Sala Pompeiana: cuja designação advém dos motivos decorativos a fresco que guarnecem as portas e lambris, apresentando igualmente tecto de masseira sobre o qual avulta uma grande composição a óleo, «Triunfo de Apolo», de João Tomás da Fonseca, com figuração simbólica e indistinta, entre a qual se vêem mulheres, centuriões romanos, personagens coroadas, nomeadamente o Papa Leão X, o Rei D. Manuel I, e uma rainha (pintura da época da reedificação do palácio); nos silhares das paredes, nas sobreportas, sanca, envolvimento do tecto e alizares, delicadas pinturas a fresco de estilo pompeiano. [vd. N.B.]

Palácio Pombeiro [1952]
Largo e Calçada do Conde de Pombeiro
Composição a óleo, «Triunfo de Apolo», no teclo da Sala Pompeiana.
José Espinho, in Lisboa de Antigamente

N.B. Na única monografia dedicada ao palácio Pombeiro-Belas, editada pela Embaixada de Itália, Andrea Comba baseando-se numa informação de Erminia Gentili Ortona, refere que “a denominação Sala Pompeiana deve-se às importantes decorações realizadas nas primeiras décadas do século XIX pelo pintor português Cyrillo Volkmar Machado nas paredes e à imposição da abóbada, que envolve o fresco com o “Triunfo de Apolo” de João Tomás da Fonseca.”
(BRAGA, Sofia – Pintura Mural Neoclássica em Lisboa: Cyrillo Volkmar no Palácio do Duque de Lafões e Pombeiro-Belas, 2012)
Por último, o investigador Hélder Carita colocou a hipótese das pinturas poderem ser atribuídas a Cyrillo Volkmar Machado, ressalvando contudo que a «responsabilidade de Cyrillo quanto ao programa decorativo que se espraia pelas paredes e tectos não é clara sendo, a nosso entender, da responsabilidade de outra equipa, como vemos referido frequentemente noutras obras». Sugere ainda que talvez tenha sido o pintor João Tomás da Fonseca responsável pela pintura de ornato, pois no arquivo da Casa dos Condes da Figueira (referido por Norberto de Araújo no Inventário de Lisboa) existia documentação que confirmava o nome deste pintor como tendo estado activo no Palácio Pombeiro, podendo até ter representado o Triunfo de Apolo no tecto de uma das salas. Tudo indicia por isso que João Tomás da Fonseca trabalhou de facto para os Condes de Pombeiro.
(CARITA, Hélder, Salas Pompeianas..., 2013)

Ateneu Comercial de Lisboa

A fachada do antigo Palácio Povolide não é famosa, mas distingue-se da trivialidade aqui na velha artéria de Santo Antão. Teve catorze sacadas, que, depois das transformações, (...) foram reduzidas às nove janelas que ali vês.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 98, 1939)

O Ateneu Comercial de Lisboa foi fundado por um grupo de empregados do comércio, em 10 de Junho de 1880, com as seguintes finalidades:
•  A organização de uma biblioteca.
•  A fundação de aulas diurnas de instrução primária para os filhos dos sócios e crianças pobres.
• Aulas nocturnas de gramáticas portuguesa, francesa e inglesa e de escrituração comercial para os sócios.
•  Realização de conferências científicas.

Ateneu Comercial de Lisboa [Início séc. XX]
Rua das Portas de Santo Antão, 110
Paulo Guedes in Lisboa de Antigamente

A partir de Julho de 1895, instala-se num palácio pertencente ao conde de Burnay, o antigo Palácio dos Condes de Povolide na Rua das Portas de Santo Antão, 110.
Este palácio foi inicialmente pertença do 8º Conde de Povolide, Tristão da Cunha de Ataíde e Melo e a primeira referência que se conhece das actuais instalações, remonta a finais do século XVI, como residência daquele nobre, na então Rua da Anunciada.

Ateneu Comercial de Lisboa, Rua das Portas de Santo Antão [1927]
«Palace Stand»
, concessionário da marca de automóveis Chevrolet
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

No início do século XX foi adquirido por uma Sociedade Hoteleira, da qual entre outros, fazia parte Anastácio Fernandes, comerciante local, para ser destinado a hotel, mas acabou por ser definitivamente adquirido pelo Ateneu em 9 de Outubro de 1926.
O piso térreo albergou durante alguns anos o «Palace Stand» (na foto acima), concessionário da marca de automóveis Chevrolet.
A partir de 1956 instalou-se no local a Cervejaria Solmar.

Ateneu Comercial de Lisboa [1960]
Rua das Portas de Santo Antão, 110
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Friday, 23 October 2015

Cinema Odeon

O Cinema Odeon foi projectado em 1923 e edificado pelo construtor Guilherme A. Soares, tendo a sua inauguração ocorrido em 21 de Setembro de 1927, com o filme mudo A Viúva Alegre, de Stroheim.
Dispunha de promenoir, plateia, primeiro e segundo balcão, e um quase piso intermédio, no qual se colocaram poltronas laterais que causaram espanto, aproveitando esse pretexto para proceder a algumas obras e substitui os antigos camarins por outros, reconstruindo também todas as escadas de acesso e a cabine de projecção em cimento armado.
Integrado no Conjunto da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente, que está em vias de classificação, este edifício de estilo clássico foi objecto de modernização em 1931, com a introdução de galerias metálicas salientes da fachada, muito expressivas e decorativas, com os seus rendilhados de vidros coloridos. 

Cinema Odeon |1928|
Rua dos Condes, 2-20; Rua das Portas de Santo Antão, 129-133; Pátio do Tronco, 1-1A
Tinha um piso intermédio com poltronas laterais que causaram espanto.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O estilo clássico do edifício ainda se reconhece no piso superior, em particular na esquina da Rua dos Condes com a Rua das Portas de Santo Antão. Se na sua fachada merece especial destaque o janelão que ocupa dois andares, sobre balcão semi-circular, assente em métopas que enquadram o nome Odeon¹, o seu interior notabiliza-se pela grande cobertura em madeira escura, pelo palco de frontão Art Déco, pelos sumptuosos e volumosos camarotes e pelo lustre central, que irradia néons. (cm-lisboa.pt)
 
¹ Oscar Deutsch 1893-1941), foi o fundador da cadeia «Cinemas Odéon», designação encontrada no acrónimo de Óscar Deutsch Entretains Our Nation.
(ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012)
 
Cinema Odeon |1960|
Rua dos Condes, 2-20; Rua das Portas de Santo Antão, 129-133; Pátio do Tronco, 1-1A
Nota para as expressivas galerias em ferro e vidro que lhe desenhavam a fachada.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Cinema Olympia

Inaugurado oficialmente a 22 de Abril de 1911 sito na Rua dos Condes, o Olympia foi mandado construir por Leopoldo O' Donnell, filho de irlandeses que se fixaram em Portugal. Nascera em Lisboa, a 4 de Abril de 1870, fora chefe de repartição da Real Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, era um homem culto, que mantinha uma forte amizade com Sabino Correia, empresário do Chiado Terrasse, uma das grandes salas de Lisboa, situada na Rua António Maria Cardoso.

Cinema Olympia  [c. 1910]
Rua dos Condes
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Na imprensa da época podia ler-se uma notícia referindo a abertura de uma nova sala de espectáculos em Lisboa, «composta de salões para concertos, salões para exibições animatográficas, gabinete de leitura, restaurante, etc.», ficando «esta casa de espectáculos como a primeira da capital.»
De acordo com M. Felix Ribeiro: «A importância que o Olympia viria a assumir no quadro do espectáculo cinematográfico da Lisboa de então é das mais significativas, facto digno de destaque, por bem merecido. Sobretudo essa relevância torna-se francamente notória a partir de 1916 pelo dinamismo imprimido à sua exploração através das mais variadas e interessantes iniciativas.»

Cinema Olympia [1960]
Rua dos Condes
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Por exemplo, a criação de matinées infantis, «um verdadeiro oásis para os espectadores mais pequenos com os quais, antes, ninguém contara» e com «programas apropriados tanto de écran como musical», como acentuava a propósito um prospecto. Ou então os sorteios de brindes entre o seu público. Com a compra do bilhete, o espectador recebia uma senha que lhe dava direito a participar num sorteio mensal, em que os brindes mais diversos eram sorteados. Em Junho de 1917, um burro era o «brinde» a sortear, um burrico de carne e osso que se «passeou por Lisboa, reclamando o acontecimento!»
Depois de 1974, com a chegada dos filmes «porno» a Portugal, depois de abolida a censura, o Olympia especializou-se neste área, onde se mantém até hoje.
(Lauro António, in teatro-politeama; Manuel Félix Ribeiro,: Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa, edição da Cinemateca, 1978)

N.B. O actual único proprietário do cinema é o encenador Filipe La Féria, que, após ter adquirido, em 2008, a sociedade que explorava o Olympia, tem tentado transformar o espaço, "em completa ruína", em teatro.

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