O antigo Palácio Burnay, na Junqueira. conhecido antes por «Palácio dos Patriarcas», teve o seu fundamento nas casas nobres que D. José César de Meneses, principal da Sé de Lisboa, ali fez erguer, depois de 1701, em terrenos aforados por D. João de Saldanha e Albuquerque. Em 1724 o palácio estava já representado numa «vista» da Junqueira, com certa grandeza, e em 1734 o seu proprietário era ainda o seu fundador, que engrinaldara o seu solar arrabaldino de jardins magníficos. Já depois do Terramoto o palácio de D. José César, irmão do 1.° Conde de Sabugosa, foi adquirido pela Mitra Patriarcal para residência de verão dos prelados, e nesse senhorio se conservou muito tempo, havendo no palácio habitado D . Francisco Saldanha, que morreu em 1776. [...]
No último quartel do século XIX o «Palácio dos Patriarcas» veio às mãos do banqueiro Henrique Burnay; atingiu então aquele palácio setecentista, já desfigurado, o auge da sumptuária interior, sendo enriquecidas as salas com valioso recheio de mobiliário, amalgamando-se nos restauros e transformações o que nele existisse ainda da primitiva traça, ficando a predominar no que fora o solar de D. José César o gosto bricabraque, ainda que opulento e de merecimento artístico.
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Palácio Burnay, fachada Sul [c. 1870] Rua da Junqueira, 78-92 O conde Burnay mandou-o decorar com sumptuosidade por alguns dos melhores artistas da época, como Ordoñes, Rodrigues Pita e Malhoa. António Novaes, in Lisboa de Antigamente |
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Palácio Burnay, fachada Norte [c. 1870] Rua da Junqueira, 78-92 Era tão luxuosamente mobilado e com tal riqueza em obras de arte que, quando da venda do seu recheio em 1936, só o Governo adquiriu peças no valor global de dois mil contos. António Novaes, in Lisboa de Antigamente |
Em meados do século XVIII, o caminho que ligava a Calçada de Santo Amaro
e a Calçada da Ajuda, paralelo ao rio, recebe o nome de Junqueira.
Recuperava-se assim uma denominação que remonta ao reinado de D. Dinis,
quando esta zona dos juncais é legada a D. Urraca Pais, abadessa do
mosteiro de Odivelas.
Consta que, a partir de 1701, um descendente da família dos Saldanha,
presidente do Senado da Câmara de Lisboa decide aflorar os terrenos,
iniciando-se assim um processo de urbanização que, pela localização
privilegiada seduz algumas famílias fidalgas que iniciam, na Rua da
Junqueira, a construção dos seus palácios de veraneio. Após o terramoto
de 1755, a rua afasta-se das águas plácidas da foz do Tejo devido aos
aterros que vão permitindo a construção a sul.
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Chegada da palmeira ao Palácio do Conde Burnay [c. 1890] Rua da Junqueira, 78-92 Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
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Palácio Burnay, escadaria nobre [1933] Rua da Junqueira, 78-92 Nos preparativos para o leilão do Palácio da Junqueira foi encomendado
em Março de 1933 um conjunto de fotografias do palácio para figurarem no
catálogo a ser impresso e que constituem a base do Álbum de fotografias
do palácio. João Coutinho, in Álbum Palácio do Conde de Burnay |
«Grandes factos históricos, de exteriorização militar, se desenrolaram na Junqueira no século XVIII; festas, cavalhadas. justas, e até uma célebre tourada que durou três dias (29 a 31 de Março de 1738), quando fez vinte anos Mariana Vitória, já esposa do príncipe herdeiro, futuro Rei D. José. Reinava D. João V; a tourada foi organizada pelo Duque do Cadaval, D. Jaime de Melo, havendo-se construído, de propósito, uma deslumbrante praça, já de arena circular.»
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Palácio Burnay, Garden-party [1907] Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Por morte da última condessa de Bumay, D. Amélia Krus, que sobrevivera a seu marido, e para efeitos de partilhas, o recheio do palácio foi vendido (1936), ficando desde então destroçados os interiores, que, a despeito de não possuírem carácter próprio, unidade e ligação o com a história da casa, eram admiráveis. Em 1940 o imóvel foi adquirido pelo Ministério das Colónias, para instalação de serviços daquele departamento do Estado; desde então até fim de 1948 beneficiou lte restauros, transformações e obras de adaptação. custeadas pelo Ministério das Colónias, e orientadas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
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Palácio Burnay, Garden-party [1907] Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
No exterior destacam-se as estufas, ao gosto fim de século que, simetricamente, integram o corpo do edifício e, no interior, o zimbório que envolve a escadaria, decorada em tromp l'oeil. A classificação como Imóvel de Interesse Público inclui o Palácio, anexos e jardim. Encontra-se ocupado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
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Palácio Burnay, Garden-party [1907] Rua da Junqueira, 78-92
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Outros palácios do património nacional, 1946.idem, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 50, 1939.