O Rossio era uma praça, irregular, mas já muito espaçosa. o Hospital de Todos-os-Santos com a sua esplendida fachada; os arcos do Rossio, onde se acomodavam as mais luxuosas lojas, que vendiam as fazendas da moda, tornavam aquela praça a mais importante da capital.
Neste Rossio — diz Norberto de Araújo — do lado nascente, à nossa direita, erguia-se até pouco antes do Terramoto o imponente Hospital de Todos-os-Santos, fundação de D. João II, e cuja primeira pedra foi lançada a 15 de Maio de 1492. Os terrenos eram dependentes dos frades de S. Domingos.Possuía um formoso pórtico gótico , de dupla entrada , para o qual se subia por uma escadaria de vinte e um degraus, e de um lado e do outro, ao nível do chão, corriam magníficas arcadas, em maior extensão do lado norte, e em cujo número não acertam os eruditos nem velhas estampas, mas que andaria por trinta.
Estas arcarias do Hospital de El-Rei — como de começo se chamou – e que davam abrigo a muitas dezenas de tendas e bazares — constituíam um dos encantos panorâmicos do Rossio. A Igreja continuava-se do prolongamento do pórtico, isto é: na direcção poente-nascente.Junto deste Hospital — que foi uma das mais nobres instituições de Lisboa de todos os tempos, servindo os pobres — funcionava a «Roda dos Engeitados», do lado da Rua da Betesga.O Hospital de Todos-os-Santos dependia da Santa Casa da Misericórdia. Sofreu um incêndio em 27 de Outubro de 1601, facilmente reparável em seus estragos, outro, horroroso, em 10 de Agosto de 1750, que o reduziu a cinzas, fazendo muitas vítimas, salvando-se, porém, 730 doentes e centenas de crianças que foram recolhidas pelas janelas e portas contíguas a S. Domingos.
O Hospital tinha a sua frente obliquamente recuada em relação ao alinhamento oriental do Rossio que temos à vista, de modo que só pelas alturas onde hoje estão os Armazéns e a Loja do Povo [Praça de D. Pedro IV, 87-92] a linha antiga coincidia com a actual [vd. planta topográfica]. No interior da Retrosaria «Botões de Ouro», n. 86 [hoje sapataria], situada entre aqueles dois estabelecimentos existem ainda abóbadas e um lanço de arcaria de volta perfeita — resto vivo das arcadas do Rossio — , e até Julho de 1933 estava à vista um capitel de coluna, singelamente ornamentado, um meio metro acima do nível actual da Praça, único, venerando vestígio que foi entaipado por ocasião de umas obras de limpeza. Tenho tentado conseguir que ele seja, de novo, posto à vista; acredito na boa vontade dos donos do estabelecimento.
Bibliografia
MESQUITA, Alfredo, Lisboa, 1903.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 22-26, 1938.
CASTILHO, Júlio de, Lisboa antiga, vol. IV, 1885,
Interessantíssimo artigo.
ReplyDeleteComo, aliás, quase tudo o que neste espaço é publicado.
A história de Lisboa ajuda, porque é riquíssima.
O meu agradecimento por nos darem a conhecer estes pedacinhos dessa história milenar.
Muito interessante, obrigado
ReplyDeletePenso que o link para "Armazéns do Povo..." não é o pretendido pelo autor.
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