Saturday, 30 April 2016

Estr. Marginal da Costa do Estoril, Forte de São Julião da Barra

Foi a primeira estrada de turismo do País. Pelo menos foram essas as palavras do ministro das Obras Públicas, engº Duarte Pacheco, quando anunciou a construção da Estr. Marginal da Costa do Estoril (EN 6). O plano era ligar Lisboa a Cascais com uma via que realçasse a paisagem. Concluída em Junho de 1942, começou por ser usada pelos poucos portugueses que tinham automóvel e faziam passeios ao fim-de-semana. Mas depressa a estrada turística se tornou pequena para tanta procura.

Estrada Marginal Lisboa-S.João do Estoril [post. 1960] 
Carcavelos, ao fundo o Forte de São Julião da Barra
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

A baía em forma de cotovelo situada na margem da barra do Tejo, que Damião de Góis descreveu em 1554, foi o local escolhido por D. João III para edificar uma grande fortaleza que assegurasse a defesa, fundamental, da entrada marítima de Lisboa. As obras iniciaram-se entre 1553 e 1556 embora pouco tenham avançado até à morte do rei, no ano de 1559.
O projecto primitivo do Forte de São Julião é atribuído ao arqº Miguel de Arruda, e até 1579 registaram-se obras na estrutura fortificada. Na sua construção participaram os mais conhecidos militares e engenheiros ao serviço do reino, como Leonardo Turriano ou Capitão Fratino. Partindo de um núcleo de reduzidas dimensões, esta fortificação foi-se modificando, ampliando e adaptando às novas exigências que foram surgindo ao longo dos anos. 

Estrada Marginal Lisboa-S.João do Estoril [post. 1960] 
Ao fundo, o Forte de São Julião da Barra
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
 
Assim como outras fortificações, também São Julião da Barra serviu de prisão militar e política. Foi célebre o caso do General Gomes Freire de Andrade, que esteve detido em São Julião da Barra e foi executado no terreno anexo à fortificação.
A 22 de Agosto de 1951 perde a sua função militar para assumir a passagem a novas funções de estado e de recepção de eventos políticos. Aqui, além de outros, estiveram instalados, em 1951 o General Eisenhower e no ano seguinte o Marechal Montgomery.
São de salientar as esplanadas, as casamatas em abóbada e a cisterna onde com regularidade ocorrem iniciativas culturais. 

Forte de São Julião da Barra [c. 1910] 
Carcavelos, ao fundo o Forte de São Julião da Barra
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Friday, 29 April 2016

Profissões de antanho: o moço de fretes

O moço de fretes ou moço de esquina, como também era conhecido, foi uma instituição de Lisboa. Normalmente eram homens oriundos da Galiza, embora entre eles se contassem muitos elementos das nossas Beiras. Gente pacífica, honrada e mansa no tracto, a esses homens podia entregar-se, utilizando os seus serviços, uma carta confidencial que, pressurosos, iam levar ao seu destino; valores ao penhor, de gente de bom-tom que se escondia; transporte de mobílias e outros carregos e até puxar as pequenas bombas de incêndio pelas ruas estreitas dos bairros populares. 

Profissões de antanho: o moço de fretes |1912|
Largo do Chiado, esquina com a Rua Nova da Trindade
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Todavia, a sua maior actividade era transportar mobílias, de casa para casa, nas mudanças que os lisboetas então faziam com frequência, porque havia casas para alugar! Era vulgar ver-se escritos nas janelas, sinal de que as casas estavam devolutas, e os alfacinhas, sobretudo as senhoras, adoravam mudar de domicílio. Bons tempos!

Profissões de antanho: o moço de fretes |1907|
Calçada do Combro
Joshua Benoliel, iin Lisboa de Antigamente

Os moços de fretes, os galegos como eram conhecidos, encarregavam-se desses serviços, desarmando em casa os móveis e acomodando-os nas padiolas, amarrados com boas cordas. Depois de tudo empoleirado, dois ou quatro homens, consoante o volume e o peso, a passo certo, cadenciado, mas alternado, seguiam com a tralha para a nova residência onde rearmavam tudo com muito cuidado, no que eram mestres. Só que quando algo se partia, logo tinha justificação: — Tenha paxiêrixia, acontexe!...

Profissões de antanho: o moço de fretes |1908|
Rua Rodrigo da Fonseca com a Rua Barata Salgueiro
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Profissões de antanho: o moço de fretes |entre 1908 e 1914|
Calçada do Carmo
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Era curiosa a forma como se auxiliavam no transporte com a padiola: dois à frente e dois atrás, com um grosso pau de carga que eles suportavam aos ombros, adoçando o incómodo com chinguiços  — pequenas almofadas em forma de ferradura que ajustavam ao pescoço — e assim aguentavam o peso bem equilibrado.

Profissões de antanho: o moço de fretes |1910|
 Rua do Comércio com a Rua dos Fanqueiros
Joshua Benoliel,in Lisboa de Antigamente
Profissões de antanho: o moço de fretes |c. 1930|
Rua de São Lázaro
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Os moços de fretes ou de esquina agrupavam-se em vários locais da cidade nas praças principais, como o como o Rossio, Terreiro do Paço, Chiado, Graça, Alcântara e outros, e também pelas esquinas das ruas, onde eram procurados para ajustar os serviços que deles se pretendia

Profissões de antanho: o moço de fretes |1908|
 Largo do Chiado: A Ilha dos Galegos
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Profissões de antanho: o moço de fretes |post. 1902|
Rua do Arco do Marquês de Alegrete, Palácio do Marquês de Alegrete (Martim Moniz)
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

É de salientar um serviço que era sempre muito bem pago porque obrigava a discrição: levar cartas confidenciais, naquele tempo em que ter telefone era um luxo!
Leva esta carta e entrega-a só à própria. Entendido?
Xagrado! respondia o Xoaquim.
 E pelo serviço cauteloso pagava-se cinco tostões de boa prata!

Profissões de antanho: o moço de fretes |190-|
 Largo de São Domingos
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
DINIS, Calderon , Tipos e Factos da Lisboa do meu tempo (1900-1974), p. 216.

Thursday, 28 April 2016

Teatro Politeama

O Teatro Politeama foi construído a expensas de um «Brasileiro de torna-viagem», José António Pereira (à varanda na foto abaixo). Importa lembrar que nas primeiras décadas do século XX foi um teatro prestigiado e importante: Alfredo Cortez, Ramada Curto, D. João da Câmara, Raul Brandão, Júlio Dantas, Amélia Rey Colaço, Angela Pinto, Adelina e Aura Abranches, Palmira Bastos, Chaby, Vasco Santana, António Silva, Amália Rodrigues, Laura Alves, e tantos mais, foram nomes que aqui se afirmaram. Aliás, o Politeama começou a exibir cinema desde 1914 e fixou-se como sala popular de cinema e variedades de 1927 em diante. A partir de 1991, pela mão do encenador Filipe La Feria, recuperou uma presença sólida como sala de teatro e ao mesmo tempo, grande parte da traça primitiva e da decoração, incluindo o pano de boca primitivo.

Teatro Politeama |1912-1913|
Rua das Portas de Santo Antão; ao fundo, na esquina com a Rua dos Condes, vê-se a Drogaria Ferreira, casa fundada em 1755.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
O empresário Luís António Pereira, que era um homem apaixonado pelas artes do espectáculo, sonhou dar a Lisboa uma nova sala, onde a música e o teatro pudessem servir o público.
Assim, nuns terrenos que comprou na Rua das Portas de Santo Antão, frente ao Coliseu dos Recreios, lançou em 12 de Maio de 1912 a primeira pedra do que viria a ser o Theatro Politeama. A inauguração aconteceu a 6 de Dezembro de 1913 com a opereta Valsa de Amor.

Teatro Politeama, sala de fumo |c. 1913|
 Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
(clicar para ampliar)

Teatro Politeama, palco, pano de boca |1914|
 Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Foi o primeiro teatro construído em Lisboa na República, com projecto do prestigiado arqº Miguel Ventura Terra, com destaque para a dimensão decorativa da sua imponente janela, quase desproporcionada face ao espaço viário em que se implanta.
Das decorações do teatro — tecto e pano de bocaocuparam-se o escultor Jorge Pereira e os pintores Benvindo Seia e Veloso Salgado.

Teatro Politeama |c. 1960|
Rua das Portas de Santo Antão
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 27 April 2016

Panorâmica sobre o Estádio Universitário de Lisboa

Corria o ano de 1930 quando um projecto para reunir as Faculdades de Lisboa num só local contemplou, pela primeira vez, a construção de um campo de jogos para os estudantes universitários. A zona da Palma de Cima e arredores, entre a Praça de Espanha e o Campo Grande, seria a eleita para a localização do que seria a futura Cidade Universitária, à história da qual o Estádio Universitário de Lisboa (EUL) está ligado.

Cinco anos depois foi encomendado ao arqº Porfírio Pardal Monteiro o Anteprojecto da Cidade Universitária de Lisboa. Também, o “Plano de Urbanização da Cidade de Lisboa” (1938-48), da autoria do arqº urbanista Etienne de Gröer, contemplou o que seria esta nova cidade dos estudantes. Na década de 50, a partir da apresentação do anteplano de urbanização da Cidade Universitária, da autoria dos arquitectos João Simões e Norberto Correia, seria dado o arranque definitivo para a concretização da nova cidade dos estudantes. Este plano do campus universitário foi posteriormente abandonado.

Panorâmica tirada do hospital de Santa Maria, vendo-se a Cidade Universitária
 e, ao longe, o estádio José de Alvalade [1961]
 
Avenida Prof. Egas Moniz
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente
 
Posteriormente, do projecto de conjunto da Cidade Universitária, apresentado por Pardal Monteiro, em 1957,seriam inaugurados os edifícios das Faculdade de Direito (1957) e de Letras (1959), da Reitoria (1961) e da Biblioteca Nacional (1961), exemplos de uma arquitectura oficial monumentalizante. Entretanto, a 25 de Novembro de 1953, por despacho do MOP, tinham sido estabelecidos os limites da zona de protecção do, então denominado, Hospital Escolar de Lisboa e outros edifícios universitários.

Panorâmica tirada do hospital de Santa Maria, vendo-se a Cidade Universitária, a
 Cantina da Cidade Universitária, Universidade de Lisboa. Faculdade de Direito  Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa. Reitoria
[1961] 
Avenida Prof. Egas Moniz
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

O projecto de arborização, do arqº paisagista António Viana Barreto, integrava-se no plano geral de arborização da Cidade Universitária, procurando-se, por isso, manter a unidade de conjunto nas espécies plantadas. O conceito artístico e de monumentalidade seria dado pela construção da Praça da Maratona (que não passou do papel), que se ligaria à entrada pedonal do Estádio, e por 8 estátuas alusivas à temática desportiva distribuídas em redor do campo principal. Este campo foi entendido como um pequeno estádio olímpico, destinado a pouco público, mas com características monumentais e possibilitando a prática de várias modalidades: rugby, futebol, andebol, hóquei em campo e atletismo. A cerimónia de inauguração do EUL, a 27 de Maio de 1956, ocorreu num domingo ventoso. (in estadio.ulisboa.pt)

Tuesday, 26 April 2016

Arco de S. Bento

O Arco, de autor desconhecido (séc. XVIII/XIX), esteve neste local até ao final dos anos trinta do séc. XX (1938), altura em que, a remodelação do antigo Palácio das Cortes, actual Assembleia da República, implicou que as suas pedras fossem desmontadas e numeradas, tendo sido reconstruido na Praça de Espanha em 1998..

Arco de S. Bento, Rua de S. Bento [Início séc. XX]
Autor não identificado

De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo «Era aqui a horta dos frades de S. Bento, ainda do século passado [séc. XIX]. A designação de Largo de S. Bento datava do ano da inauguração do Mercado. E o Arco? Desapareceu integralmente há meia dúzia de dias, e levou sete longos meses a deitar abaixo, sendo numeradas tôdas as pedras para uma projectada edificação, meramente decorativa. Talvez venha o Arco a ser reerguido neste Largo, que será ajardinado — tal um arco romano no meio de uma praça moderna de cidade velha. 

Arco de S. Bento, Rua de S. Bento [1910]
Proclamação da República na varanda do palácio de São Bento
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
E o Arco, afinal, pouco tinha de pergaminhos. Fazia parte da grande obra das Águas Livres, e conduzia a água para o Chafariz da Esperança, não exercendo, contudo, mais do que uma função decorativa desde há alguns anos. De ordem dórica, harmonioso de linhas, coroado por um frontão — o Arco de S. Bento fazia parte das curiosidades majestosas de Lisboa. Voltaremos a vê-lo?»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 33, 1930)

Arco de S. Bento, Rua de S. Bento [1937]
Desmantelamento do Arco de São Bento, fachada sul
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente



Monday, 25 April 2016

Imagens reais do dia 25 de Abril de 1974

O capitão Salgueiro Maia desloca parte das suas tropas para o Quartel do Carmo onde está o chefe do governo, Marcelo Caetano, que acaba por se render no final do dia com apenas uma exigência: entregar as responsabilidades de governação ao General António Spínola, oficial que não pertencia ao MFA, para que «o poder não caía nas ruas». O Presidente do Conselho, que anos antes tinha sucedido a Salazar no poder, é transportado para a Madeira e daí enviado para o exílio no Brasil.
 

Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974

Cravo: o símbolo da revolução

 

No próprio dia da revolução, uma pastelaria na Baixa preparava-se para comemorar mais um aniversário oferecendo flores a todos os clientes. A funcionária encarregada de comprá-las passou pelos militares e começou a distribuí-las — cravos vermelhos. Os soldados puseram-nos nos canos das espingardas.
Esta imagem feliz de uma arma que, ainda que dispare, só irá atirar flores, foi captada por fotógrafos e adoptada para cartaz largamente divulgado. O cravo tornou-se a imagem da revolução e o 25 de Abril ficou conhecido (pelo menos nos seus primeiros tempos) como a Revolução dos Cravos.

Praça Dom João da Câmara
25 de Abril de 1974
Fotógrafo não identificado, Jornal Diário de Notícias, in Lisboa de Antigamente

A Ditadura Militar instituída a 28 de maio de 1926 deu origem, volvidos escassa meia dúzia de anos, ao Estado Novo idealizado e gerido por Salazar. Afastado este do poder, por doença incapacitante, a chefia do governo é entregue a Marcello Caetano, que, entre outros problemas por resolver, herda uma guerra colonial em três frentes, sem solução militar à vista nem vontade política de optar por uma solução política negociada. Cansados da guerra, os militares profissionais encetam movimentações de carácter corporativo que rapidamente se transformam em reivindicações políticas, acabando por encarar como única saída o derrube do regime pela força.
 
Rua Garrett
Seguindo as instruções do Posto de Comando da Pontinha, as forças lideradas pelo Capitão Salgueiro Maia dirigem-se para o Quartel-General da Guarda Nacional Republicana, no Largo do Carmo, onde se encontram refugiados Marcelo Caetano e alguns dos seus ministros.
25 de Abril de 1974
Fotógrafo não identificado, Jornal Diário de Notícias, in Lisboa de Antigamente

Será o Movimento das Forças Armadas (MFA) que irá desencadear uma revolta militar em grande escala, conseguindo derrubar o regime sem o emprego da força e sem causar vítimas. Depois de uma tentativa frustrada, protagonizada pelo Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, a 16 de Março de 1974, o processo revolucionário acelera. Na noite de 24 para 25 de Abril, duas estações de radiodifusão lançam para o ar duas canções que irão adquirir um simbolismo particularE Depois do Adeus, interpretada por Paulo de Carvalho, que soa como uma despedida do governo marcelista, e Grândola Vila Morena, interpretada pelo poeta banido José Afonso, um conhecido opositor do regime, canção esta que transporta uma mensagem de conteúdo democrático ao evocar a vilazinha de Grândola, onde o povo é quem mais ordena -, desencadeando as operações militares, superiormente coordenadas pelo major Otelo Saraiva de Carvalho. Em perfeita coordenação, elementos envolvidos na conspiração tomam conta das respectivas unidades, formam colunas de voluntários, convergem para os grandes centros e ocupam todos os pontos estratégicos do país, colocando as forças fiéis ao governo em posição de desvantagem e na defensiva. Sem disparar um tiro, cobrem praticamente todo o país.

Rua Áurea
Populares observam o aparato militar na Rua do Ouro, selando o acesso à Praça do Município. Legenda de Adelino Gomes: A população não segue os conselhos dos militares e vem para a rua, curiosa e fascinada, enquanto na zona da Praça do Município instruendos do CSM da Escola Prática de Cavalaria, pertencentes ao 5.º pelotão de atiradores, esperam, de armas na mão, as forças leais do governo. (cerca das 09H)
25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

Dois momentos de tensão apenas se registam naquela primeira fase, ambos em Lisboa, ambos protagonizados por um jovem capitão de Cavalaria, Salgueiro Maia — um encontro com um destacamento de blindados obediente ao Governo, que por pouco não redunda em acção de fogo, mas que se resolve quando as tropas envolvidas se colocam às ordens de Salgueiro Maia; outro, horas mais tarde, quando o mesmo oficial manda abrir fogo sobre a parede exterior do quartel da GNR no Carmo, como forma de persuadir Marcello Caetano, lá refugiado, a render-se. O chefe do Governo acaba por se render ao General António de Spínola, com medo de que o poder "caísse na rua", e a tensão desce.
Só um incidente irá manchar os acontecimentos: agentes da PIDE/DGS, barricados na sua sede, abrem fogo sobre manifestantes, causando alguns mortos e feridos. Apesar da sua brutalidade, não passa de um acto de desespero, não sendo sequer um acto de defesa do regime. Tal como a Monarquia a 5 de Outubro de 1910 e a República a 28 de maio de 1926, um regime cai por não ter já quem o defenda e queira dar a vida por ele.

Rua António Maria Cardoso
Legenda de Adelino Gomes: Forças de cavalaria, de infantaria e da marinha ocupam as entradas da Rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da PIDE/DGS.
25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

Os revoltosos fizeram sair do Quartel do Carmo o primeiro-ministro, Marcello Caetano, e o Presidente da República, Américo Thomaz, num carro de combate (Chaimite, Bula), a fim de os poupar à exaltação da multidão. Pouco depois seriam transferidos para a ilha da Madeira, e daí, a 20 de maio, para o Brasil, com o que a revolução criou um precedente de tolerância que iria servir, em fases posteriores, para permitir ultrapassar as dificuldades sem derramamento de sangue.
Algumas horas após a transmissão de poderes de Marcello Caetano para as mãos de Spínola, constitui-se um órgão governativo provisório, com representação de todos os ramos das Forças Armadas (a Junta de Salvação Nacional; os militares subalternos que acabavam de fazer triunfar a revolução do Movimento dos Capitães, em nome do respeito pelas hierarquias, entregavam o poder nas mãos de oficiais generais. (infopedia.pt)

Cronologia resumida:

22:55 [24 de Abril de 1974] - Os Emissores Associados de Lisboa faz a transmissão de “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, dando ordem de partida para a saída dos quartéis.

00:20 - O programa "Limite" da Rádio Renascença transmite a canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, segundo sinal do MFA, para que os militares dessem início às operações previstas.

03:00 - Início do cumprimento das missões militares, de acordo com o Plano Geral das Operações”.

04:20 - O Rádio Clube Português transmite o primeiro comunicado do MFA. O Aeroporto de Lisboa e o Aeródromo Base de Figo Maduro são ocupados pela coluna da EPI-Escola Prática Infantaria (Mafra).

Avenida Ribeira das Naus
Legenda de Adelino Gomes: Tenente-Coronel Ferrand de Almeida, o Capitão Salgueiro Maia e o seu adjunto, Tenente Assunção (na foto, primeiro, segundo e terceiro a contar da direita) (...) e o ex-Alferes Brito e Cunha (na foto, à civil) são protagonistas dos primeiros momentos de tensão, quando forças do RC-7 [Regimento de Cavalaria 7], fiéis ao governo, progrediram do Cais do Sodré em direcção aos blindados da EPC [Escola Prática de Cavalaria]". (cerca das 10h-10H30)
25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

06:45 - O Posto de Comando toma conhecimento de que Marcello Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, está no Quartel do Carmo.

Rua do Arsenal
Legenda de Adelino Gomes: "Panhards" e uma EBR da Escola Prática de Cavalaria barraram o caminho aos carros de combate M47 de Cavalaria 7,  força fiel ao governo sob comando do Brigadeiro Junqueira dos Reis. Salgueiro Maia em primeiro plano, correndo em direcção ao Terreiro do Paço. (cerca das 10H00).
25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

08:30 - Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, mas nem tenta entrar em confronto com as tropas de Salgueiro Maia.

Legenda de Adelino Gomes: O dispositivo ocupa o Terreiro do Paço ao fim da madrugada e surpreende-se com a presença dos navios da NATO que já deviam ter-se feito ao largo para participar no exercício «Dawn Patrol».[contratorpedeiro Huron, da marinha do Canadá]
  Praça do Comércio, 25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

11:30 - Salgueiro Maia comanda as forças da EPC (Escola Prática de Cavalaria), que vão cercar o Quartel da GNR no Largo do Carmo, em Lisboa.

Carro de combate selando o acesso ao Largo do Carmo, a partir da Calçada do Sacramento
25 de Abril de 1974
Fotógrafo não identificado, Jornal Diário de Notícias, in Lisboa de Antigamente

11:45 - O MFA informa o país, através do RCP, que domina a situação de Norte a Sul.

12:30 - As forças de Salgueiro Maia cercam o Largo do Carmo e recebem ordens do Posto de Comando para abrir fogo sobre o Quartel da GNR, para obter a rendição de Marcello Caetano.

Legenda de Adelino Gomes: Aceite a rendição de Marcelo Caetano, os portões abrem-se e iniciam-se os preparativos para o transporte até à Pontinha do Chefe do Governo e respectivos ministros, que abandonam o local num blindado Chaimite de nome "Bula" (...). Um coro gigantesco de assobios e palavras de ordem antifascistas acompanham a saída da coluna com os prisioneiros. (cerca das 19H30).
Largo do Carmo, 25 de Abril de 1974
Alfredo Cunha, in Lisboa de Antigamente

15:10 - Por ordem do Posto de Comando, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo, dizendo: «Atenção Quartel do Carmo, atenção Quartel do Carmo. Damos 10 minutos para se renderem. Todas as pessoas que ocupam o quartel devem sair desarmadas e com as mãos no ar. Se não saírem destruiremos o edifício.».

Largo do Carmo: Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR
25 de Abril de 1974
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

18:00 - Spínola chega ao Largo do Carmo e, acompanhado por Salgueiro Maia, entra no Quartel para dialogar com Marcello Caetano.

18:30 - A Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha.

23:30 - É promulgado o Decreto-Lei n.º 171/74, da Junta de Salvação Nacional, que extingue a PIDE/DGS , a Legião Portuguesa, a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina e o Secretariado para a Juventude e insere novas disposições relativas às atribuições da Polícia Judiciária e da Guarda Fiscal. A PIDE/DGS era somente extinta em Portugal Continental, sendo reorganizada em Polícia de Informação Militar «nas províncias»

Rua do Carmo, concentração popular
25 de Abril de 1974
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

(...) É promulgada a Lei n.º 1, da Junta de Salvação Nacional, que destitui das suas funções o Presidente da República, o Presidente do Conselho e o Governo e dissolve a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado e determina que todos os poderes atribuídos aos referidos órgãos passem a ser exercidos pela Junta de Salvação Nacional.

Rua do Carmo, concentração popular
25 de Abril de 1974
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
para o E.
com eterna gratidão

Sunday, 24 April 2016

Panorâmica sobre a Avenida Fontes Pereira de Melo

A Avenida Fontes Pereira de Melo integra-se no projecto de crescimento da Cidade para Norte, aprovado em 1888, plano intitulado: Avenida das Picoas ao Campo Grande da autoria do Engenheiro Ressano Garcia. As terraplanagens nas ruas Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, iniciam-se cerca de 1897.

Avenida Fontes Pereira de Melo, junto ao Marquês de Pombal [c. 1934]
Os dois edifícios à direita são, respectivamente, o Palácio Condes de Sabrosa e o Palacete Gabriel José Ramires. Para tirar a foto o fotógrafo ter-se-á encarrapitado no monumento ao Marquês de Pombal. Também são visíveis do lado dir. o Palácio Sotto-Mayor. ao fundo o monumento ao Duque de Saldanha e o "prédio do anjo"; do lado esq. o Parque Eduardo VII.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Arruamento de 1900 que homenageia o chefe do partido Regenerador, António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887), que presidiu ao Conselho de Ministros na década de 1876 e 1886, período que ficou conhecido como Fontismo

Avenida Fontes Pereira de Melo [1929]
Perspectiva tomada do estaleiro do monumento ao Marquês de Pombal.
Cortejo dos Combatentes

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente 

Saturday, 23 April 2016

A revolução de Sidónio Pais

A revolução de Sidónio Pais começa em 5 de Dezembro de 1917 quando as suas tropas acampam na Rotunda (hoje Pç. Marquês de Pombal) para derrubar o governo de Afonso Costa.
No período em que a participação de Portugal na I Guerra Mundial marcava a conjuntura política, económica e social do país, Sidónio Pais lidera a revolta militar triunfante, que se saldará na constituição de uma Junta Militar (a que preside), na dissolução do Parlamento, no derrube do governo de Afonso Costa e na destituição do Presidente da República Bernardino Machado. 
Faz a primeira proclamação ao País onde se propõe a criação de uma República Nova e suspende a Constituição de 1911, é eleito por sufrágio directo para a Presidência da República e cria um Senado profissional. O regime presidencialista de Sidónio Pais (1872—1918) não sobreviveria à sua morte.

Trincheiras na Rotunda [actual Praça Marquês de Pombal] construídas aquando da Revolução de Sidónio Pais a 5 de Dezembro de 1917
Parque Eduardo VII, antigo Vale de Pereiro, vendo-se ao fundo, a Cadeia Penitenciária de Lisboa na Rua Marquês de Fronteira.
Anselmo Franco, in Lisboa de Antigamente

Apesar de uma intensa actividade legislativa, a República Nova não possui um programa definido para contrapor ao regime anterior, nem quadros à altura para desempenhar a tarefa da governação. Num ano de ditadura dão-se três remodelações ministeriais, o que agrava a instabilidade governamental e introduz um princípio de caos na administração pública. A primeira, em Março de 1918, na sequência da demissão dos ministros unionistas, dá lugar ao segundo governo sidonista. A segunda, em Maio, empossa o terceiro governo de Sidónio. A terceira, em Outubro, dá posse ao quarto e último governo sidonista.

General Barnardiston, chefe da missão militar inglesa e sua esposa, percorrendo o acampamento revolucionário acompanhados por Sidónio Pais a 5 de Dezembro de 1917
Parque Eduardo VII, antigo Vale do Pereiro, vendo-se ao fundo, a Cadeia Penitenciária de Lisboa na Rua Marquês de Fronteira; Palácio Mendonça.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Durante o ano em que permaneceu no poder Sidónio Pais altera a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado, numa tentativa de apaziguamento das relações com a Igreja (23 de Fevereiro de 1918), estabelece o sufrágio universal (11 de Março de 1918) e consegue reatamento das relações com a Santa Sé, através do envio do Monsenhor Aloísio Mazella que assume as funções de Encarregado de Negócios da Santa Sé em Lisboa (25 de Julho de 1918).

Durante o ano em que permaneceu no poder Sidónio Pais altera a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado, numa tentativa de apaziguamento das relações com a Igreja (23 de Fevereiro de 1918), estabelece o sufrágio universal (11 de Março de 1918) e consegue reatamento das relações com a Santa Sé, através do envio do Monsenhor Aloísio Mazella que assume as funções de Encarregado de Negócios da Santa Sé em Lisboa (25 de Julho de 1918)
Revolução de Sidónio Pais
«Inumeras granadas se crusaram por cima da casaria tremula da cidade, entre o acampamento revolucionarios em Campolide comandados pelo major sr. Sidonio Paes [...] caindo algumas granadas no trajeto, destruindo, matando e fazendo estremecer toda a população;[...]  in Ilustração Portuguesa, 17 Dez. 1917.
 Anselmo Franco, in Lisboa de Antigamente

No dia 5 de Dezembro de 1918, durante as comemorações do golpe perpetrado por si, em 1917, Sidónio sofre o primeiro atentado mas sai ileso.
Poucos dias depois, a 14 de Dezembro de 1918, um novo atentado seria fatal. Sidónio deslocara-se à Estação do Rossio para apanhar o comboio para o Porto. É então que José Júlio da Costa, ex-sargento do exército, dispara contra o Presidente. Acaba por falecer na Sala do Banco do Hospital de S. José, em Lisboa.
O seu funeral realiza-se no dia 21 de Dezembro de 1918, no meio de enormes manifestações de pesar. O seu corpo veio a ser posteriormente a ser trasladado para o Panteão Nacional.

Revolução de Sidónio Pais, in Ilustração Portuguesa, 17 Dez. 1917
(clicar para ampliar)

Friday, 22 April 2016

Antigo Edifício da Alfândega de Lisboa

Imponente edifício público pombalino, situado na margem do Tejo, construído entre 1765-68 para Celeiro Público, com cais privado, já desaparecido. Este vasto edifício  de três pisos desenvolve-se em forma de uma gigantesca cruz. Apesar de ter sofrido obras posteriores que, de certa forma, alteraram a percepção do conjunto, os princípios da funcionalidade e regularidade pombalinas estão aqui presentes num grau muito elevado.

Avenida Infante D. Henrique [Início do séc. XX]
Edifício da Alfândega, fachada para a antiga Rua João Evangelista, hoje Avenida Infante Dom Henrique, 36-36G.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

De destacar a fachada sul, de grande solidez para suportar a pressão da carga e descarga das toneladas de cereais que aí eram deixadas pelos barcos que desciam o estuário do Rio Tejo.

Antigo Edifício da Alfândega de Lisboa [1928]
Largo Terreiro do Trigo, 25; Rua do Terreiro do Trigo, 1-1D
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Encimando a porta principal — na fachada nortr à Rua do Terreiro do Trigo — inscritos numa lápide,  podem ler-se os seguintes dizeres:

 JOSEPH I.
   Augusto, Invicto, Pio
  Rei e Pai Clementissimo
     Do seus Vassallos,
Para segurar a abundância de Páo
Aos Moradores da sua Nobre e Leal Cidade de Lisboa
 E desterrar delia a impiedade dos Monopólios
   Debaixo da Inspecção do Senado da Câmara
Sendo Presidente delle Paulo de Carvalho de Mendonça
Mandou edificar desde os fundamentos este Celleiro Pública.
   ANNO MDCCLXVI 

Gravura in Jornal de bellas artes, ou, Mnemosine lusitana : redacçao patriotica, p. 296, 1816

Thursday, 21 April 2016

Miradouro do Alto de Santa Catarina, Pico da Boa Vista ou Belveder

   Estamos, enfim, no Alto de Santa Catarina — um dos belos miradouros naturais de Lisboa. 
   Eis, a cavaleiro de Lisboa buliçosa e rumorejante dos cais, um sítio tranquilo, onde o silêncio assentou arraiais. Daqui se pode dizer que, ao longe, o ruído «se vê». 
   Este Alto, rodeado de palacetes, prédios de discreto semblante burguês, um certo ambiente aristocrático recolhido, destoa em absoluto da zona urbana que o envolve: a Bica, S. Paulo, o Combro, o Bairro Alto.  
   Há destes fenómenos por Lisboa — fenómenos de dissociação, nascidos sempre de um acaso, que acaba por deitar raízes.

Miradouro do Alto de Santa Catarina, Pico da Boa Vista ou Belveder [1959]
Rua de Santa Catarina
Fernando Manuel de Jesus Matias, 
in Lisboa de Antigamente
   
 Este sítio foi conhecido nos séculos velhos por Monte ou Pico do «Belveder» ou do «Belver», e ainda da «Boa Vista», vocábulos que bem correspondem à sua privilegiada situação panorâmica, e que deram a «Boa Vista› no sopé, junto ao mar, e que ainda subsiste.
   O Alto de Santa Catarina, designação que foi simultânea com a de Belver, mas resistiu, deve a designação à circunstância de neste sítio exactamente onde está esse Palacete n.º 1 [do Conde de Verride], com pátio guarnecido de gradeamentoter existido a Igreja paroquial de Santa Catarina do Monte Sinai.
   No alto deste cabeço, havia, como atrás disse, desde o século XV uma enorme Cruz de madeira, que servia de guia aos mareantes.

Miradouro do Alto de Santa Catarina, Pico da Boa Vista ou Belveder [c. 1940]
Rua de Santa Catarina
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente
Miradouro do Alto de Santa Catarina, Pico da Boa Vista ou Belveder [1965]
Rua de Santa Catarina
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

   O Jardim, Miradouro ou «Alto» de Santa Catarina — é este onde nos encontramos, debruçado sobre a vista, e dominando a margem fabril e naval, o Aterro, a Madragoa, o Tejo, e os montes da outra banda. A expressão «ver navios no Alto de Santa Catarina» tem a sua justificação.
   O ajardinamento deste logradoiro público data do princípio do século [séc. XX]; nem por carecer de arbustos e de flores o local deixou de ser, desde há alguns séculos, um dos encantos panorâmicos de Lisboa.
   Em 1927 foi colocado no centro deste pequeno jardim esse bloco de pedras sobrepostas, que constitui, no complemento escultórico, o monumento singelo, simbólico ao Gigante Adamastor. O artista Júlio Vaz Júnior, imprimiu à sua obra um sentido subjectivo; a «Visão do Estatuário» é o coroamento do monumento, e nele se vê a pequena figura do escultor, em bronze, à sombra da carranca do gigante fabuloso.
   Pode ser discutível esta obra; possui, contudo, uma certa expressão alegórica de grandeza.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, p. 71-73, 1939)

Miradouro do Alto de Santa Catarina [1965]
O Gigante Adamastor e a «Visão do Estatuário» observando-se a pequena figura do escultor, em bronze, à sombra da carranca do gigante fabuloso.
Rua de Santa Catarina
Armando Serôdio, 
in Lisboa de Antigamente


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