Thursday, 31 March 2016

Avenida da Liberdade, 165-171, Stand automóvel «R.E.O.»

«R.E.O.» são as iniciais de Ransom E. Olds — também associado à fundação da Oldsmobile — fundador da RED MOTOR CAR Co. LTD., em Agosto de 1904. Em Portugal a marca era representada pela firma «Contreras & Garrido, Lda., na Avenida da Liberdade, 165-171, alojada no piso térreo deste prédio de rendimento (163-173) de finais do século XIX, – exemplar característico do ecletismo de fim de século.

Avenida da Liberdade, 165-171 |1929|
Stand de automóveis R.E.O.; à direita, o Palácio do Barão de Samora Correia, futura localização do Cinema São Jorge.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Avenida da Liberdade, 165-171 |1929-12-14|
Stand de automóveis R.E.O.; Carro-reclame da Casa Contreiras e Garrido, Limitada.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 30 March 2016

Avenida António Augusto de Aguiar

Vamos, Dilecto — convida Norberto de Araújo — , dar volta pelo lado exterior nascente do Parque, subindo o primeiro lanço de Fontes Pereira de Melo, e tomando logo por António Augusto de Aguiar, Avenidas delineadas em 1899, que com lentidão se foram edificando por dez anos adiante.
(
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 51, 1939)

Avenida António Augusto de Aguiar [c. 1910]
Cruzamento junto do actual C. C. El Corte Inglés, em direcção à Av. Fontes Pereira de Melo (ao fundo): à esquerda a Rua Augusto dos Santos que leva ao sítio de S. Sebastião da Pedreira e a Travessa de S. Sebastião da Pedreira; à direita a futura Rua Eng. Canto Resende e acesso ao Parque da Liberdade, hoje Parque Eduardo VII.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

António Augusto de Aguiar (1838-1887) professor, investigador e político português. Formado em Ciências Naturais e Química pela Escola Politécnica, em 1860, passou a leccionar, um ano depois, nessa mesma escola, a disciplina de Química Mineral. Foi reitor em 1871.
Iniciou a sua actividade política em 1875. Foi eleito deputado em 1879... e par do reino em 1884. Fez parte do ministério presidido por Fontes, onde se dedicou especialmente ao ensino industrial. Foi ainda presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, vogal do Conselho Superior das Alfândegas e grão-mestre da Maçonaria Portuguesa. (cm-lisboa.pt)

Avenida António Augusto de Aguiar  [c. 1960]
Antiga Rua António Augusto de Aguiar, até 1902
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 29 March 2016

Palácio dos Côrte Reais, ao Corpo Santo

D’aqui nos dirigimos ao largo do Corpo Santo onde temos um templo digno de attenção. Sabem os nossos presados e esclarecidos leitores que este largo se chamou também — do Corte Real, por estar ali o enorme palacio de Cbristovam de Moura Corte Real, homem tristemente celebre pela sua traição á patria. [Vidal A.: 1900]

 
 «Falemos do Corpo Santo».   
   De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo  «A origem deste nome está no culto de São Teimo, ou seja de S. Pedro Gonçalves Telmo, padroeiro dos pescadores, ao qual os devotos chamavam «Corpo Santo»; (...). O nome de Corpo Santo passou ao sítio, ao Arco, ao Largo, e ao Convento dos dominicanos. Mas chegamos ao Corpo Santo, Largo cuja situação não é precisamente, quer em área quer em orientação, a que foi antes de 1755; a Igreja era mais avançada do que hoje é, e o Convento, desaparecido, situava-se pelo lado sul, ocupando uma boa parte do largo.
Aqui perto teria existido um postigo (porta), ou simples serventia dos Côrtes Reais. Porta do Corpo Santo ou do Cata-que-farás, ou Arco dos Cobertos, localizava-se em frente do actual Largo, na Travessa do Cotovelo

A Ribeira das Naus e o antigo Paço da Ribeira (torreão de autoria de Filipe Terzi, por ordem de D. Filipe II) [c. 1750]
Ao fundo nota-se  o Palácio dos Côrte Reais, ao Corpo Santo
A view of the palace of the King of Portugal at Lisbone
gravura água-forte aguarelada
, Paris chez Maillet 
   
Aqui, na esquina da Rua do Arsenal, onde assenta ainda o casarão fabril abandonado, vazio e silencioso, depois que o Arsenal se foi para o Alfeite, existiu desde 1585, com seus quatro imponentes torreões o celebrado Palácio dos Côrte Reais, melhor diremos de Cristóvão de Moura, Marquês de Castelo Rodrigo, e que desapareceu pelo Terramoto.»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 34-35, 1939)

Palácio dos Côrte Reais
«A residência do Marquês de Castel Rodrigo situada à beira-mar, é das mais magníficas, e possui quatro corpos, com belas Torres com galerias onde se pode passear & que se voltam para o Mar.»(Monconys, 1628)

Edificado em 1585 por Cristóvão Moura Corte-Real, Marquês de Castelo Rodrigo e partidário da Dinastia Filipina, situava-se na margem do rio Tejo junto ao Largo do Corpo Santo e comunicava com o Paço da Ribeira através de um passadiço. Após a Restauração da Independência em 1640, foi confiscado pela Coroa e tornou-se residência do Infante D. Pedro, futuro rei D. Pedro II, e também das rainhas consortes D. Francisca Isabel de Sabóia e de D. Sofia de Neubourg.
Mais tarde, D. Pedro II passou o palácio para a Casa do Infantado, pertencente ao seu segundo filho. Um incêndio destruiu o edifício em Julho de 1751, e o pouco que dela restava terá desaparecido com o terramoto de 1755.

Fragmento da Planta de Lisboa
O traçado e dizeres a preto correspondem à actualidade.
O traçado e dizeres a vermelho correspondem à Lisboa anterior ao Terramoto de 1755.
O traçado a azul corresponde ao Palácio dos Côrte Reais.

Monday, 28 March 2016

Avenida 24 de Julho, trapeiros

Na viragem do séc. XX, Portugal era um país esmagadoramente rural. Lisboa era o maior centro urbano, com uma população circa das 350.000 pessoas, maioritariamente analfabeta — três homens em cada quatro e seis mulheres em cada sete não sabiam ler nem escrever — proveniente das zonas rurais, que procurava emprego na grande cidade, mas que aqui vivia em condições infra-humanas, em casas insalubres, sobrelotadas, que necessitavam de «apoio social» para nela poderem sobreviver. Assim, no universo das sobras e produtos rejeitados, era comum observar pessoas, vulgo trapeiros, a vasculhar no lixo (como se pode verificar nesta foto captada pelo repórter fotográfico Joshua Benoliel), na procura por toda a espécie de produtos: papel, trapos, metais, etc..

Avenida 24 de Julho, trapeiros [ant 1908]
Ao fundo, o jardim do Largo de Santos
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Obs:. por incrível que pareça esta fotografia tem a legenda «Trabalhos agrícolas» no arquivo municipal de Lisboa. É confrangedor ver um acervo desta importância ser tão maltratado.

Sunday, 27 March 2016

Igreja do Santíssimo Sacramento

A Igreja do Sacramento fica próxima do centro do Chiado, na calçada com o seu nome. A paróquia do Santíssimo Sacramento foi fundada em 1584, para combater a heresia protestante que negava a real presença de Cristo na Eucaristia. A igreja inicial foi construída, entre 1671 e 1685, no terreno fronteiro ao Palácio do Conde de Valadares, que o ofereceu para esse efeito. Este Palácio ainda hoje existe em frente à igreja e abriga agora o restaurante Sacramento no Chiado. 

Igreja do Santíssimo Sacramento |ant.1930|
Calçada do Sacramento; movimento de fiéis durante a Semana Santa

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O terramoto de 1755 derrubou as torres sineiras e o tecto desta igreja e provocou um incêndio que fez grandes estragos. A reconstrução iniciou-se em 1772, com projecto do arquitecto Remígio Francisco de Abreu. É uma igreja barroca, a única de Lisboa com fachada voltada a Oriente, com uma só nave, repleta de mármores e com oito altares laterais. (ecclesia.pt)

Igreja do Santíssimo Sacramento |1953|
Calçada do Sacramento

 Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 26 March 2016

Semana Santa, Rua Garrett

« (...) Luísa atravessou para os Mártires, erguendo um pouco o vestido por causa de uns restos de lama. Parou à porta da igreja, e sorrindo:
 — Vou aqui fazer uma devoçãozinha. Não o quero fazer esperar. Adeus, Conselheiro, apareça — fechou a sombrinha, estendeu-lhe a mão.(...)»
(Eça de Queirós, O Primo Basílio, 1878)

Semana Santa |192-|
Rua Garrett, antiga do Chiado
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

A primitiva Ermida dos Mártires fundada, em memória dos «Mártires» que morreram na batalha pela conquista de Lisboa em 1147, no local onde mais tarde se ergueu o Convento de S. Francisco (antigo Monte Fragoso), foi objecto de sucessivas campanhas de obras até ter sido destruída pelo terramoto.
A actual igreja, construída na Rua Garrett, a partir de 1768, por Reinaldo Manuel dos Santos, é uma obra de arquitectura barroca e neoclássica, classificada como Imóvel de Interesse Público. 

Semana Santa |c. 192-|
Largo do Chiado
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

A fachada principal apresenta um corpo central, destacado em relação aos laterais, dividido em 2 corpos separados por cornija saliente, rematados por frontão triangular com óculo iluminante, e torre sineira na parte posterior do edifício. No interior do templo destacam-se o programa ornamental de Inácio de Oliveira Bernardes e a pintura de tecto de Pedro Alexandrino de Carvalho, baseados na noção de «obra total barroca».

Semana Santa |1933-12|
Largo do Chiado
Em cartaz, nos cinemas lisboetas, O Sinal da Cruz de Cecil B. DeMille.
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

Semana Santa, a Semana Maior, Largo do Chiado

A Semana Santa é para os cristãos a Semana maior. E diz-se assim não porque seja cronologicamente maior do que as outras, como se tivesse mais dias, mas porque nela os cristãos celebram com intensidade o mistério mais profundo e mais importante a partir do qual toda a realidade adquire sentido. Mais ainda: cada dia da Semana Santa, e muito especialmente o tríduo pascal, tem uma tal densidade que concentra em si todo o sentido da história.
A tradição de visitar sete igrejas na Quinta-feira Santa é uma prática antiga originada provavelmente em Roma. Em diversos países da América Latina, a visita às sete igrejas geralmente ocorre à noite.

Largo do Chiado [1907]
Em segundo plano nota-se a Casa  Vista Alegre-
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

« (...) Sem repousar, correndo pelas ruas, esbaforido, eu ia à missa das sete a Sant'ana, e à missa das nove da Igreja de São José, e à missa do meio-dia na ermida da Oliveirinha. Descansava um instante a uma esquina, de ripanço [Livro que contém os ofícios da Semana Santa] debaixo do braço, chupando à pressa o cigarro; depois voava ao Santíssimo exposto na paroquial de Santa Engrácia, à devoção do terço no convento de Santa Joana, à bênção do Sacramento na capela de Nossa Senhora, às Picoas, à novena das Chagas de Cristo, na sua igreja, com música. Tomava então a tipóia do Pingalho, e ainda visitava, ao acaso, de fugida, os Mártires e São Domingos, a igreja do convento do Desagravo e a Igreja da Visitação das Salésias, a capela de Monserrate, às Amoreiras e a Glória ao Cardal da Graça, as Flamengas e as Albertas, a Pena, o Rato, a
(Eça de Queirós, A Relíquia, 1887)

Largo do Chiado esquina com a Rua Nova da Trindade [1907]
Em segundo plano a Joalharia Leitão & Irmão, inaugurada em 1877.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

«O Largo das Duas Igrejas, designação municipal desaparecida em 1925, mas que o povo ainda mantém pela força do realismo – a presença dos templos –, foi o lugar da Porta (ou Portas) de Santa Catarina, construída na cerca de D. Fernando, entre 1373 e 1375, cuja demolição estava resolvida em 1702, e se realizava ainda em 1705, prolongando-se a 1707. Trezentos e trinta anos de existência justificam a teimosia do dístico que por aqui correu.»
(ARAÚJO, Norberto de. Peregrinações em Lisboa», vol. V, p. 12, 1938)

Largo do Chiado esquina com a Rua Nova da Trindade [1907]
Em segundo plano a Joalharia Leitão & Irmão, inaugurada em 1877.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 

Friday, 25 March 2016

Semana Santa, Largo do Chiado

Noutros tempos. pela Páscoa, na altura da Semana Santa, era tradição o luto carregado, as pessoas vestiam-se de escuro e com discrição.

Largo do Chiado [1907]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

«(...) Corrigi então a minha devoção e tornei-a perfeita. Pensando que o bacalhau das sextas-feiras não fosse uma suficiente mortificação, nesses dias, diante da Titi, bebia asceticamente um copo de água e trincava uma côdea de pão.
«(...) na rua feita de sol, pelas sedas das senhoras que subiam para a missa do Loreto, espartilhadas e graves.]
(Eça de Queirós, A Relíquia, 1887)

Largo do Chiado [1907]
Igreja da Encarnação
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

«O Largo das Duas Igrejas, designação municipal desaparecida em 1925, mas que o povo ainda mantém pela força do realismo — a presença dos templos — , foi o lugar da Porta (ou Portas) de Santa Catarina, construída na cerca de D. Fernando, entre 1373 e 1375, cuja demolição estava resolvida em 1702, e se realizava ainda em 1705, prolongando-se a 1707. Trezentos e trinta anos de existência justificam a teimosia do dístico que por aqui correu.»
(Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa», vol. V, p. 12)


Semana Santa, Largo do Chiado, Ilustração Portuguesa, 8 de Abril de 1907

Thursday, 24 March 2016

Rua de Santo António, à Estrela

De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo a Rua de Santo António, à Estrela é de «relativa antiguidade», acrescentando que: « É anterior ao Terramoto, e deve ter o seu começo no final do século XVII, em germe de póvoa rústica, embora só no meado do século XVIII entrasse a desenvolver-se; como iremos observando, edificações ingénuas de há quasi dois séculos de seu tipo, pintalgam ainda a artéria de um certo pitoresco. Do lado sul prolonga-se até uma extensão de cento e cinquenta metros o muro da antiga cerca do Convento de D. Maria I (hoje pavilhão do Hospital Militar) [vd. 1ª imagem]
 
Rua de Santo António, à Estrela [c. 1900]
Antiga de Santo António da Praça do Convento do Coração de Jesus
Vê-se o muro da antiga cerca do Convento de D. Maria I (hoje pavilhão do Hospital Militar).
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente
 
Do lado direito abrem-se a Travessa e a Rua do Jardim, cujos nomes derivam do Passeio da Estrela. Nesta área havia muitas casas foreiras à Irmandade de Santo Onofre —  não sei de que igreja — e datadas do princípio do século passado [XIX]: 1802, como esta Rua do Jardim, 1804 e 1805 como algumas mais adiante.» (...) ¹ 

Rua de Santo António, à Estrela [1939]
Antiga de Santo António da Praça do Convento do Coração de Jesus

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N.B. Este santo popular lisboeta cuja data de nascimento constitui o feriado municipal tem em sua homenagem 18 artérias na cidade, a saber: Travessa de Santo António a Belém, Rua de Santo António a Belém, Beco de Santo António (Stª Mª dos Olivais), Rua de Santo António da Sé (Madalena...), Largo de Santo António da Sé (Sé), Travessa de Santo António da Sé (Sé), Rua de Santo António da Glória (S. José), Alameda da Quinta de Santo António (Lumiar), Calçada de Santo António (Coração de Jesus e S. José), Travessa de Santo António (Ameixoeira), Travessa de Santo António à Graça (Graça), Rua do Vale de Santo António (S. Vicente de Fora, Stª Engrácia e Graça), Rua do Milagre de Santo António (Santiago), Travessa de Santo António a Santos (Prazeres), Rua de Santo António dos Capuchos (S. José e Pena), Travessa de Santo António à Junqueira (Santa Mª de Belém), Rua de Santo António à Estrela (Lapa) e Alameda de Santo António dos Capuchos (S. José e Pena). [cm-lisboa.pt]
 
Rua de Santo António, à Estrela, esquina com a Rua Domingos Sequeira [1939]
Antiga de Santo António da Praça do Convento do Coração de Jesus

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 60-61, 1939.

Wednesday, 23 March 2016

Rua dos Anjos, antiga Estr. de Santa Bárbara

De acordo com o olisipógrafo Norberto de Araújo «Todos os prédios do Largo de Santa Bárbara, do lado nascente, e cujas traseiras caem sobre o Regueirão, assim como os da Rua dos Anjos, são muito anteriores à urbanização moderna, e datam em grande parte de reedificações logo a seguir ao Terramoto

Rua dos Anjos [1954]
Antiga Rua Direita dos Anjos

Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Alguns têm na fachada as típicas caravelas lisboetas, que falam como uma data, outros notam-se ainda sobrepostos ao nível actual da rua, mais alto cerca de noventa centímetros do que era em 1840. Há mesmo um dêles, n.º 62 do Largo [de Santa Bárbara], datado de 1747.»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 77, 1938)

Rua dos Anjos [1954]
Antiga Rua Direita dos Anjos

Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

O olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, na sua obra Lisboa de Lés-a-lés, descreve do seguinte modo o remoto historial deste topónimo: 
« Nome por que actualmente é conhecida parte da antiga estrada de Santa Bárbara. Em 1712 Carvalho da Costa designa-a por rua acima da Igreja até o lugar de Arroios, incluindo também nesta designação a actual rua de Arroios. Passando depois a ser denominada rua Direita dos Anjos, fixou-se a sua extensão por edital do governador civil de 1 de Setembro de 1859, a qual ficou compreendida entre os largos do Intendente e de Santa Bárbara.  (...).»

Caravela foreira, Largo de Sta. Bárbara [c. 1949]
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 22 March 2016

Panorâmica sobre o Vale de Alcântara no sítio de Campolide, vendo-se a Quinta da Mineira

Junto aos arcos do Aqueduto das Águas Livres, no Alto da Serafina, vê-se a Quinta da Mineira, cujo edifício principal e a própria quinta foram, em 1893, por disposição testamentária dos proprietários, Emília Adelaide D' Espie Miranda e João José Miranda, destinados a asilo de pessoas idosas, tendo sido inaugurado em 1900. Esta imagem é anterior à criação do Parque Florestal de Monsanto - 1938 - e à construção do Bairro Social do Alto da Serafina - 1933-38, pelo arquitecto Paulo Montez.

Panorâmica sobre o Vale de Alcântara no sítio de Campolide, vendo-se a Quinta da Mineira [c. 1930]
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Monday, 21 March 2016

Avenida da Liberdade

Em 1879 José Gregório de Rosa Araújo (1840-1893), presidente da Câmara Municipal de Lisboa, apresenta a proposta, que se irá concretizar, de uma «Grande Avenida Passeio Publico ao Rocio» com 1.276 m de comprimento, 89,5m de largura e terminando numa «... praça circular de 200 m de diâmetro d'onde irradiam quatro ruas de 30m - uma em direcção ao Rato, outra ao local do novo edifício da Penitenciária e Entre-Muros, outra para Santa Marta e finalmente outra para os sítios do Campo Grande e Benfica»
 
Avenida da Liberdade [c. 1900]
Lavadeira saloia; ao fundo à esq. já na Rotunda vê-se o mirante octogonal da Quinta da Torrinha; o terceiro edifício — com torre ameada — é o Palacete Conceição e Silva.
Fotografia colorida anónima sobre original de Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente

Avenida da Liberdade [c. 1900]
Lavadeira saloia; ao fundo à esq. já na Rotunda vê-se o mirante octogonal da Quinta da Torrinha; o terceiro edifício — com torre ameada — é o Palacete Conceição e Silva.
Augusto Bobone, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 20 March 2016

Estação de caminhos de ferro de Algés

O caminho de ferro entre Cais do Sodré e Cascais foi inaugurado em 21 de Maio de 1892.
Algés e Cruz Quebrada tinham estações próprias, enquanto no Dafundo foi construído um apeadeiro em 1898, próximo do Aquário Vasco da Gama (que estava prestes a ser inaugurado).
A primitiva estação de Algés situava-se mesmo defronte do «Chalet Miramar» (Parque Anjos) de Polycarpo Pecquet Ferreira dos Anjos, no Largo da Estação, estando contígua à praia.

Estação de caminhos de ferro de Algés [ant. 1900]
Antes da electrificação da linha em 1926.
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

A companhia concessionária deste ramal de caminho de ferro, divulgou pela primeira vez, em Agosto de 1891, no seu órgão de informação próprio (Gazeta dos Caminhos de Ferro), a venda de maços de bilhetes por zonas e com preços reduzidos, válidos para ida e volta, com a condição de serem utilizados na primeira viagem matutina a partir de cada um dos extremos da via férrea. 

Estação de caminhos de ferro de Algés |início do séc. XX|
A seguir ao prédio de princípios do séc. XX nota-se o antigo Palácio da Conceição propriedade dos «Condes de Pombeiro e Senhores de Belas», que por volta de 1850 aqui «levantaram sumptuoso palácio cujo portão é coroado pela imagem de pedra da Padroeira do Reino – N. S. da Conceição». [Ribeiro: 1938]
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

Em 1894 a Companhia de Caminhos de Ferro deu um novo impulso à captação de passageiros com destino a Algés, com a criação de bilhetes de banhos de mar para grupos de cinco ou mais passageiros, ainda a preços mais reduzidos.

Estação de caminhos de ferro de Algés |1939|
Antes do deslocamento da linha dos caminhos de ferro; antigo Largo da Estação actual Praça 25 de Abril.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Avenida da República, 27-33

Após a proclamação da República (1910) a Câmara Municipal de Lisboa alterou a toponímia, substituindo os nomes das figuras públicas comprometidas com a monarquia e os topónimos de cariz religioso por outros evocativos dos ideais republicanos e esta Avenida da República é disso um exemplo claro, substituindo o topónimo do criador das Avenidas Novas em 1904 (Avenida Ressano Garcia) pela própria República.

Avenida da República, 27-33 [post. 1906]
Quarteirão entre as as avenidas Miguel Bombarda e  João Crisóstomo.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Repare-se nas magnificas mísulas que suportam as varandas da moradia ao centro. Curioso o facto da existência da farmácia — à data pharmacia — cem anos decorridos, no mesmo nº 27. O edifício — de que vê parte à esquerda — no nº 25, conhecido por «República 25» datado de 1906, foi totalmente renovado em 2011, à excepção da sua fachada que se mantém a mesma. Os outros foram demolidos.

Saturday, 19 March 2016

Banhos de São Paulo

«Emergem estas preciosas águas minerais a alguns metros da margem do Tejo no recinto do Arsenal de Marinha que lhes dá o nome. A fonte é perene e abundantíssima, e as águas, captadas por uma bomba, são conduzidas ao Estabelecimento de , e ai ministradas (…)» 
(LOURENÇO, Agostinho Vicente, Algumas informações sobre as aguas sulfureas salinas do Arsenal da Marinha, Lisboa, 1889)

«Água administrada sob forma de banhos de imersão, carbogasosos, duches simples, escocês, de Vichy e subaquático; irrigações nasais, inalações e pulverizações; irrigações vaginais; massagem médica ou geral e subaquática.» (Anuário, 1963) 

Banhos de São Paulo |1951|
Travessa do Carvalho
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Mandado construir pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a partir de 1850, sob projecto de Pézerat,o edifício dos Banhos de S. Paulo tinha por objectivo aproveitar uma nascente de águas medicinais que havia sido descoberta junto à ala Poente da Praça do Comércio. O edifício desenvolvia-se em três pisos abertos para um espaço central, iluminado por uma clarabóia. No interior dispunha de 59 tinas e possuía os equipamentos mais modernos para a época, sendo considerado um dos melhores da Europa. Este balneário serviu a população lisboeta até 1975, data em que foi encerrado ao público, em virtude dos índices de poluição da fonte abastecedora. Após várias vicissitudes, este edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público, foi cedido, em 1990, pela Câmara Municipal de Lisboa à Ordem dos Arquitectos, que aí instalou a sua sede, após as necessárias obras de adaptação, segundo projecto dos arqs. Graça Dias e Egas Vieira.

Banhos de São Paulo |196-|
Travessa do Carvalho
Mário Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Friday, 18 March 2016

Rua de Xabregas: Convento de S. Francisco de Xabregas e a procissão dos coentros

Quanto à origem deste topónimo existem duas versões: a popular e a erudita, às quais acresce uma curiosa e remota tradição popular: a procissão dos coentros. Nos inícios do século XX, Alberto Pimentel, no seu livro A Extremadura Portugueza, a respeito desta zona da cidade, escrevia:


Uma antiga tradição diz, quanto á etimologia de Xabregas, que em tempos muito anteriores a Afonso III havia n'este sitio um lavadouro publico, onde eram frequentes as rixas entre o mulherio. À falta de policia, umas lavadeiras procuravam acomodar as outras, gritando-lhes leixa bregas (deixa brigas), d'onde viria, ou não viria talvez, o nome ao lavadouro e depois à povoação: Enxobregas ou simplesmente Xabregas.
E já que estamos em maré de tradições remotas, contarei outra.
Às hortas de Xabregas vinha outrora uma original procissão, que no retorno a Lisboa volvia mais original ainda.
Era a procissão dos coentros.
Os pescadores de Alfama e todos os outros pescadores e embarcadiços da cidade costumavam, na véspera do dia de S. Pedro Gonçalves, trazer o andor d'este seu milagroso patrono até Xabregas, em cujos campos passavam o dia folgando devotamente.
Todos os marítimos vestiam para esse efeito as suas melhores roupas e garridamente se ataviavam de louçanias.
Mas para voltar à cidade colhiam em Xabregas quantos coentros verdes encontravam, e com eles enramavam a cabeça, a si mesmos e ao santo, e assim engrinaldados reconduziam o andor florido até repo-lo no templo.
No século XVI o arcebispo D. Fernando de Menezes proibiu a procissão dos coentros por lhe parecer excessivamente gentílica; mas fez-se um milagre, ou o povo julgou que se fizera, e o prelado teve que levantar a proibição. »
(PiIMENTEL, Alberto, A Extremadura Portugueza, vol. II, p. 210, 1908)

Rua de Xabregas [1926]
Rua de Xabregas (antiga Rua Direita de Xabregas), Convento de S. Francisco de Xabregas
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Quanto a Xabregas, a fantasia popular inventou-lhe uma origem em leixa bregas (deixa brigas), expressão que seria frequentemente usada num lavadouro público, existente no lugar, quando entre as mulheres surgiam brigas... Também aqui, ainda a toponímia histórica não deu uma explicação segura. Nos documentos medievais, aparecem variadas formas: Exevregas, Exabregas, Eyxebregas, Enxobregas. Como Xabregas fica junto ao Tejo, há quem relacione o nome com xavega (do ár. xabaka), rede de arrasto. Mas tendo em conta os diversos vestígios romanos encontrados na zona (marco miliário, lápide, sarcófago) pode supôr-se a existência de uma povoação chamada Axabrica.==
(CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José Manuel, ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa, Lisboa Oriental) 

Rua de Xabregas [post. 1902]
Bilhete postal da década de 1900, não circulado
Edição Costa - BP n​°576

O Convento de S. Francisco de Xabregas fundado em 1456, sobre as ruínas do antigo Paço de Xabregas, sob a invocação de Sta. Maria de Jesus, o qual foi entregue aos frades franciscanos, pelo que ficou mais conhecido por Convento de S. Francisco de Xabregas. Muito danificado pelo terramoto de 1755, foi demolido e totalmente reconstruido, ainda, na 2ª metade do séc. XVIII. A actual igreja, pombalina, apresenta planta oitavada, torre sineira recuada e fachada principal integralmente revestida de cantaria, delimitada lateralmente por pilastras lisas e rematada no topo por frontão com a pedra de armas de D. José. As dependências conventuais desenvolvem-se para ambos os lados da fachada da igreja. 
Na sequência da extinção das ordens religiosas a igreja foi profanada e saqueada, assim como o resto do edifício, perdendo-se o seu valioso recheio. Desde essa data a zona conventual conheceu sucessivas ocupações, nomeadamente serviu como quartel do exército, fábrica de tecidos, armazém de tabacos, foi transformada em unidade industrial, até que acolheu o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), desde 1988, enquanto que na antiga igreja barroca se instalou o Teatro Ibérico, desde 1980.

Rua de Xabregas [1933]
Rua de Xabregas (antiga Rua Direita de Xabregas), Convento de S. Francisco de Xabregas
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Thursday, 17 March 2016

Avenida Álvares Cabral, 67-67D

Casa e Atelier da Família Cristino da Silva


Com projecto do arq-º  Cristino da Silva foi mandada construir por Maria Frimeta Cristino da Silva. Pela primeira vez, em 1944, o mesmo imóvel recebe em simultâneo os Prémios Valmor e Municipal de Arquitectura. Esta distinção teve por base um critério meramente "fachadista", que à data ainda se sobrepunha a todos os outros, tal como se pode verificar na Acta de Atribuição do Prémio Valmor de 29-12-1945:  "Feito um minucioso exame às fachadas correspondentes aos prédios (...), resolveu o Júri, por unanimidade, atribuir o Prémio Valmor à fachada do prédio situado na Av. Álvares Cabral, nº 67 a 67-D.".
 
Avenida Álvares Cabral, 67-67D [c. 1952]
Casa e Atelier da Família Cristino da Silva, Prémio Valmor de 1944
 Gustavo de Matos Sequeira, in Lisboa de Antigamente

Esta casa e atelier da família Cristino da Silva caracteriza-se por uma volumetria densa e pesada, para além de uma simplicidade decorativa. Mantém ainda hoje a sua função original. 

Avenida Álvares Cabral, 67-67D [1959]
Casa e Atelier da Família Cristino da Silva, Prémio Valmor de 1944
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 16 March 2016

O Arco do Bandeira e «a Tendinha»

Ora da razão do «Arco (do) Bandeira» eu te direi num passo mais adiante — diz Norberto de Araújo. Foi esta curiosa Rua, cujo nome oficial é o de Rua dos Sapateiros, destinada a instalações de lojas daquele ofício e comércio, o que hoje apenas se marca nos lanços transversais de Santa Justa. Não foi pelos sapateiros que se celebrizou, mas pelos seus cafés, dois dos quais notáveis no século passado: o Marrare das Sete Portas e o Montanha.(...)

Arco do Bandeira e «a Tendinha» [1944]
Praça D. Pedro I; a localização de «a Tendinha» está assinalada na ombreira da porta estreita
por uma pintura da Lisboa antiga, na qual vemos o empregado a dar de beber a um cavaleiro.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
  
Este botequim — último botequim do Rossio — «a Tendinha», data de 1840. Representa nesta Praça de D. Pedro que, se moderniza nas lojas dos grandes prédios todos os meses, uma tradição da boémia antiga, do tempo das tipóias e do regresso das corridas do Campo de Sant'Ana. Foi neste botequim que Malhoa descobriu o Amâncio fadista, ladrilheiro de ofício, o modelo do seu célebre quadro «O Fado».

Arco do Bandeira [196-]
Rua dos Sapateiros (antiga do Arco do Bandeira)
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Falei-te atrás, incidentalmente do Arco do Bandeira. O prédio, com seu arco e janelão, foi construído no final do século XVIII, quando a Praça pombalina ganhava tessitura de edificação urbana, por um capitalista Pires Bandeira, que julgou prudente — ou a Câmara lho impôs (não sei) — regular a fachada central do seu prédio pela da Inquisição.» [ou Palácio dos Estaus, local onde hoje se ergue o Teatro D. Maria] 1

Arco do Bandeira [194-]
Rua dos Sapateiros (antiga do Arco do Bandeira)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
[1] ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, pp. 54-75, 1939.
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