A Casa-Museu Anastácio Gonçalves (antiga casa-atelier de José Malhoa) situada na Avenida Cinco de Outubro, 6-8, obteve o Prémio Valmor de 1905. Classificada Imóvel de Interesse Público pelo Dec. 28/82 de 26 de Fevereiro. Abre ao público em 1980.
Edifício projectado pelo arquitecto Norte Júnior em 1904, foi seu construtor Frederico Ribeiro, "o constructor da primeira casa de artista que fizesse em Lisboa". Dominado pela linguagem ecléctica em voga, sobressai, no entanto, o gosto pelo neo-românico. Edificada para residência e atelier do pintor José Malhoa, foi adquirida em 1932 pelo médico oftalmologista Dr. Anastácio Gonçalves (1889-1965), que a doou ao Estado, sendo mais tarde adaptada a casa-museu e recebendo obras de ampliação em 1996 sob projecto dos arquitectos Frederico e Pedro George, anexando uma moradia contígua também da autoria de Norte Júnior [vd. 2ª imagem].
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Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1905] Para os autores da A Construção Moderna o edifício encontra-se “entre essas raras manifestações de arte que hão de servir de padrão de estimulo à Lisboa estética do futuro (...)”. [A Construção Moderna, ano VI, n.º 1, Fevereiro de 1905] Avenida Cinco de Outubro com a Rua Pinheiro Chagas (esq.) Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Edifício com dois pisos e cave, sobressai o espaço correspondente ao ateliê, denunciado exteriormente por um janelão e uma clarabóia de iluminação zenital. Identificam-se três corpos: o central, avançando a fachada principal; sobre o lado esquerdo, um corpo recuado com escada e alpendre protegendo a porta de entrada; e, do lado direito, um núcleo praticamente autónomo pertencendo à zona da sala de jantar. Sublinhando a separação dos pisos, percorre o edifício um friso de azulejos em azul com elementos vegetalistas da autoria de Jorge Pinto,
interpretações livres dos desenhos de Malhoa e António Ramalho,
transpostos para pintura a fresco por Eloy Amaral. As esculturas
das fachadas são de António Augusto Costa Mota.
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Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1908] Moradia contígua à Casa-Museu Doutor Anastácio Gonçalves, também assinada por Norte Júnior, anexada ao edifício principal, em 1987; antiga Casa António Pinto da Fonseca Mota (1908). Rua Pinheiro Chagas, 2-6 Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
O grande janelão de sacada, correspondente ao atelier, é encimado por frontão onde se exibe a inscrição «PRO ARTE». Sobressaem ainda dois vitrais na sala de jantar e na sala anexa ao atelier. Merece menção a serralharia artística com elementos arte nova, destacando-se o portão principal em forma de borboleta, com desenho do arquitecto e execução de Vicente Esteves.
As janelas que se abrem no vão do arco dessa fachada, com as pedras de peito das laterais de forma curva, sugerem que todo o conjunto está confinado a um círculo. O gradeamento das varandas, em ferro, segue a tendência Arte Nova.
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Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [1908] Núcleo praticamente autónomo, do lado direito, pertencendo à zona da sala de jantar. Avenida Cinco de Outubro, 6-8 Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
N.B. A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é um espaço museológico da cidade de Lisboa onde se expõe o acervo reunido pelo médico coleccionador António Anastácio Gonçalves. O conjunto de cerca de 3.000 obras de arte compõe-se por três grandes núcleos: pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, porcelana chinesa e mobiliário português e estrangeiro. Existem ainda importantes núcleos de ourivesaria civil e sacra, pintura europeia, escultura portuguesa, cerâmica europeia, têxteis, numismática, medalhística, vidros e relógios de bolso de fabrico suíço e francês. Para além das obras reunidas pelo coleccionador, a Casa-Museu encerra ainda um significativo espólio documental e um conjunto de desenhos, aguarelas e pequenos artefactos pertencentes ao espólio do pintor Silva Porto.
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Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, antiga Casa Malhoa, Prémio Valmor de 1905 [191-] Foi descrita em 1909 como uma “(...) casa artística, o ninho feliz de um grande e genial artista. (...) Quer se analyse em conjuncto, quer em detalhe, a casa do sr. Malhôa é uma casa artística em toda a accepção da palavra, e, considerada irreprehensível sob todos os pontos de vista”. [A Arquitectura Portuguesa, Lisboa, Fevereiro de 1909] Avenida Cinco de Outubro com a Rua Pinheiro Chagas vendo-se a moradia contígua erguida em 1908 (esq.) Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património: Lisboa, 2007.
ACCIAIUOLI, Margarida, Casas com escritos: uma história de habitação em Lisboa, 2015.