E é que estamos exactamente na Rua das Trinas: Mocambo velho. Crismou-se esta Rua de 1911 até ao ano passado [1937], em Rua Sara de Matos, em memória daquela educanda do Convento das Trinas que foi dada, em escândalo publico, como envenenada intencionalmente na casa religiosa. A pobre rapariga, que repousa, há muito esquecida túmulo privado no Cemitério dos Prazeres não merecia, com efeito, seu nome numa rua de Lisboa.
Em terrenos pertencentes à Casa Cadaval foi construído, na segunda metade do século XVIII, este elegante edifício pombalino, embora seja de crer que a sua conclusão se tenha dado já em inícios do século seguinte. Em 4 de Janeiro de 1935, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, por proposta do seu membro, coronel Pereira Coelho, deliberou colocar na fachada da casa — com jeito de pequeno solar —, uma lápide comemorativa, assinalando que aí viveu Mousinho de Albuquerque (1855-1902), o "herói das campanhas de África e de Chaimite".
Palacete da Rua das Trinas, 70-80 [1953] Antiga Rua Sara de Matos (entre 1911 e 1937) Casa onde viveu Mouzinho de Albuquerque (1855-1902) Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
A fachada principal, regular e simétrica, de 2 pisos, coroada por uma mansarda mardeliana, é ritmada pela alternância de vãos de janela e vãos de largas portas ao nível do piso térreo, e pela sequência de 7 varandas de sacada com gradeamento em ferro forjado ao nível do 1º andar.
Sabe-se que em 24 de Novembro de 1884, o comerciante João José Martins Pereira compra o domínio útil da propriedade — o edifício mantinha um prazo foreiro à Casa Cadaval — aos herdeiros de D. Emília das Mercês Costa, tendo o edifício sido vendido, em 1926, ao Dr. Baltazar Freire Cabral.
As portas laterais, com os nºs 70 e 78 dão para lojas. Na primeira existia uma vacaria, pertencente a Theotónio da Cruz, com arrendamento de 1911, na segunda, Joaquim Malaquias dos Santos possuía uma mercearia, com arrendamento de 1916. Esta última, apesar de algumas alterações nem sempre felizes, mantém a interessantíssima decoração do início do século que urge proteger.
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BibliografiaARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, 1038.
CASTRO, Zilia Osório de, Lisboa 1821: A Cidade e os Políticos, 1996.