Sunday, 30 June 2024

Rua do Terreiro do Trigo, 6-26

As nascentes de água quente de Alfama (termo árabe Alhama, que significa fonte quente) do Grupo das Alcaçarias encontram-se alinhadas na zona entre o largo do Chafariz de El-Rei e o Largo do Chafariz de Dentro, ao longo da Rua do Terreiro do Trigo e deram origem a um conjunto de ocorrências que foram exploradas, ainda no século XIX, como “balneários públicos” ou "banhos" durante algumas décadas.
Os registos históricos e hidrogeológicos destas nascentes, grande parte das quais com temperatura acima de 20ªC, que tiveram condições para, no final do século XIX serem qualificadas de “águas minero-medicinais” pela então Inspecção de Águas, põem a descoberto um aspecto da vida da cidade de Lisboa, hoje praticamente desconhecido. 

Rua do Terreiro do Trigo, 6-26 (Cerca Fernandina) |c. 1949|
Os banhos do Robles
As nascentes encontram-se situadas extramuros relativamente à “Cerca Moura” de Lisboa, pelo que Alfama era um local que só com o desaparecimento da muralha moura anexou uma parte da cidade, até à Sé. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Rua do Terreiro do Trigo, 6-26 (Cerca Fernandina) |1961|
Os banhos do Robles
Armando Serôdio,
in Lisboa de Antigamente

 

De acordo com Acciaiuoli (1944), o primeiro estabelecimento termal que se fundou na zona de Alfama, com água das Alcaçarias, foi o do Duque do Cadaval, em 1716; em 1725, havia dois estabelecimentos, o do Duque e outro particular; em 1810, havia o do Duque, os Banhos de D. Clara e os Banhos do Doutor.
Registam-se também na literatura os Banhos do Mosteiro de Alcobaça, intramuros em relação à Cerca Fernandina, num edifício que simultaneamente dá para o Largo do Chafariz de Dentro e para a Rua do Terreiro do Trigo e localizados na Rua do Terreiro do Trigo, nºs 14 a 18. Em 1945 ainda se aproveitava a água desta nascente, extraída com uma bomba.

Pontos de água na Rua do Terreiro do Trigo e a sua localização em relação à “Cerca Moura” e à Cerca Fernandina, a partir de Vieira da Silva (1987).

Bibliografia
SILVA, Augusto Vieira da - A cerca fernandina de Lisboa, 1987.
Elsa Cristina Ramalho 1 e Maria Carla Lourenço, As águas de Alfama, 2005.

Friday, 28 June 2024

Praça do Comércio, vulgo Terreiro do Paço

A Praça actualmente do Comércio, vulgo Terreiro do Paço, é uma evocação tradicional da sua primitiva designação. Praça extraordinária pela sua vastidão e pelas acertadas proporções da sua arquitectura; átrio nobre da cidade de Lisboa, opulentado pela grandiosidade do seu Arco Triunfal e pelo escultural monumento equestre a el-rei D. José, obra-prima de Machado de Castro; lição de espantosa actividade e acendrado patriotismo, que nos deixaram o omnipotente Marquês de Pombal e os seus colaboradores e que não é observada como deveria sê-lo; praça de grande nomeada  da qual se ufanariam quase todas as capitais do mundo, se a tivessem como sua, e que é, para todos os portugueses, a sintética representação de um enorme esforço, tão enorme, que a sua festiva inauguração fez esquecer a horrível catástrofe de 1755.

Numa manhã amena o povo apinha-se junto ao Cais das Colunas — o «miradouro rasteirinho» de Lisboa. Frente ao torreão oriental pombalino do antigo Tribunal do Comércio e Bolsa de Lisboa, proas para o cais, estende-se uma longa fileira de fragatas airosas, as velas enroladas nos mastros erectos como lanças duma guarda de honra.

Cena de rua junto ao Cais das Colunas |c. 1900|
Ao fundo nota-se o barracão da antiga Alfândega.
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente

Este delicioso Cais das Colunas — recorda o ilustre Norberto de Araújo — que deve seu nome às colunas de pedra colocadas no sopé da escadaria suave, é posterior ao Terramoto. Anteriormente, mais à nossa esquerda, e também mais recuado, existia um «Cais da Pedra», que o sismo de 1755 subverteu.
Da sua rampa de pedra rolada, ou da sua escadaria carcomida — viu cem gerações dizerem adeus a cem armadas que partiam. 

Praça do Comércio vista do Tejo |c. 1900|
À esq. observa-se a ponte da antiga Estação dos Caminhos-de-Ferro e Vapores de Sul e Sueste; ao fundo nota-se o Arco da Rua Augusta e, lá no cimo, o Castelo de S. Jorge.
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Terra Portuguesa, p. 71, 1917.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 28, 1939.

Sunday, 23 June 2024

Panorâmica sobre a zona da Bica

Numa definição alargada a Bica inclui a Calçada da Bica Grande — verdadeiro caroço da vida social do bairro —, o Beco dos Aciprestes, a Travessa da Bica Grande, a Calçada da Bica Pequena, o Largo de Santo Antoninho, a Rua dos Cordoeiros, a Rua da Bica Duarte Duarte Belo e as quatro travessas que a cortam perpendicularmente: a do Cabral, da Portuguesa, da Laranjeira e do Sequeiro

Panorâmica sobre a zona da Bica |196-|
Vista tomada do Alto de Santa Catarina notando-se à esquerda a greja das Chagas de Cristo e, à direita, as torres da Igreja de São Paulo.
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Na Igreja do Convento da Trindade de Lisboa, existiu desde 1493 uma confraria chamada Chagas de Cristo, cujos devotos e confrades eram marítimos e mercadores vindos da Índia. A confraria atingiu grande prestígio na capital e Frei Diogo de Lisboa resolveu em 1542 erigir uma igreja destinada ao culto e a albergar os frades. Com o terramoto de 1755, a primitiva igreja foi arruinada, perdendo-se a valiosa imagem de Nossa Senhora da Piedade das Chagas de Cristo, padroeira do templo. A reconstrução que sofreu, devolveu-lhe um aspecto sóbrio como é comum a quase todas as igrejas pombalinas. De uma só nave e com três altares laterais é de salientar o retábulo da "Ascensão" no altar-mor.
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Bibliografia
CORDEIRO, Graça Índias e GARCIA, Joaquim, Lisboa freguesia de São Paulo, Lisboa, Contexto Editora, pp. 34, 35 1993.
idem. Um lugar na cidade: quotidiano, memória e representação no bairro da bica. Lisboa, Publicações Dom Quixote, p. 65, 1997.

Friday, 21 June 2024

Rua Luz Soriano com a Travessa dos Fiéis de Deus: Palácio Ficalho

Palácio setecentista(?), casa nobre dos Condes de Ficalho, um edifício enorme, de largas janelas, pintado de cor-de-rosa, estendendo-se ao longo de três grandes blocos entre as ruas Luz Soriano, 47-53, dos Caetanos, 19-20, e Travessa dos Fiéis de Deus, 92-106. 
Rezam as crónicas que no solarengo palácio dos Melos de Serpa, "aos Caetanos", a condessa de Ficalho reunia a fina flor da elegância em certos dias da semana (segundas-feiras). Beneficiou de restauros no decorrer dos séculos XVIII e XIX.

Rua Luz Soriano com a Travessa dos Fiéis de Deus |ant. 1900|
Palácio Ficalho (esq.)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): data e local da foto não estão identificados no abandalhado arquivo da cml.

Biografia arquitectónica do Palácio Ficalho: fundação num momento posterior a 1603; reconstrução na sequência de um projecto de 1882; separação do módulo da Rua Luz Soriano c. 1940; intimação camarária à realização de obras em 1968 desencadeada pela Polícia Municipal; projecto (não completamente concretizado nas partes exteriores) de profundas alterações, visando a “divisão do prédio [de 1600 m2] em várias habitações independentes, funcionais e de dimensões razoáveis (…)” (Arquitecto Manuel de Mello, 1980).
É, actualmente — do pouco que conserva da sua coerência arquitectónica de outrora — , composto por apartamentos de luxo.

Rua Luz Soriano |1968|
Palácio Ficalho
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 16 June 2024

Rua do Salitre, ao Rato

Rua do Salitre, artéria que em muitos anos precedeu o Terramoto, a qual como sabes, foi chamada Rua da Palmeira no troço que ainda subsiste, pois já disse que ela chegava a S. José. 


Até ao séc. XIX a Calçada do Salitre ainda guardava muito do seu passado rural — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , logo a começar pelo seu topónimo derivado das nitreiras das hortas dos frades Cartuxos e será após a construção da Avenida da Liberdade que, gradualmente, passará a ter antes a categoria de Rua. Este topónimo nasceu das nitreiras ou salitrais que os frades de São Bruno – conhecidos como Cartuxos ou Brunos – tinham nas suas hortas, nos terrenos que detinham nesta artéria, já que salitre é o nome vulgar do nitrato de potássio, um adubo. O Salitre ganhou ao topónimo anterior, do séc. XVI, que era Horta da Palmeira. 

Rua do Salitre, ao Rato |1908-05|
Prédio — já demolido — para abertura do troço final da Rua Alexandre Herculano (c. 1910)
e que fazia gaveto com a Rua São Filipe Neri. A linha do eléctrico seguia para a Rua da Escola Politécnica.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

A Rua do Salitre cujo lado esquerdo constituía a orla exterior do fundo da cerca do Noviciado da Companhia de Jesus, depois Colégio dos Nobres, que vendeu os terrenos para edificações — foi sítio onde habitaram muitos lisboetas de destaque, entre eles Garrett.
Em cima corria o Vale Pereiro, do qual existe, em reminiscência, uma parcela da Rua com aquele dístico, e que leva do Salitre a Alexandre Herculano. No alto da Rua do Salitre, n.º 148 residiu de 1816 para 1817 o general Gomes Freire de Andrade, ali preso em 26 de Maio daquele último ano; uma lápide foi colocada na fachada em 20 de Outubro de 1917.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, 1939)

Largo do Rato e Rua do Salitre |c. 1900|
Salitre (  direita ) principia no Largo do Rato, e termina na Av. da Liberdade.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Durante o séc. XIX, em diversos documentos municipais, plantas, requerimentos ou licenças para construção ou obras em prédios esta artéria tanto é assinalada quer como Calçada quer como Rua, mesmo que na 2ª metade do século seja mais usado Rua, sendo exemplo maior dessa dupla grafia um processo de expropriação de 1881- para a abertura da Avenida da Liberdade- em que a planta do local de Ressano Garcia refere Calçada e no texto do Presidente José Gregório Rosa Araújo se menciona Rua. [cml]

Friday, 14 June 2024

Rua Francisco Sanches esquina com a Rua Cavaleiro de Oliveira

A Rua Francisco Sanches (1550-1622) nasceu ainda no séc. XIX, através do Edital municipal de 18/12/1893 na «rua que parte da Travessa do Caracol da Penha ou Nascente da Avenida dos Anjos e que deve vir a findar na antiga Estr. de Circunvalação».

Médico, filósofo e professor universitário português, nasceu em 1551, na diocese de Braga e foi baptizado na Igreja de S. João do Souto. Quanto ao local do seu nascimento, existem três hipóteses: Braga, Tui ou Valença do Minho, mas a segunda hipótese é, de todas, a mais viável. Francisco Sanches, na sua matrícula da Universidade de Montpellier, declara ter nascido em Tui - natus in civitate tudensi.
Francisco de Oliveira (1702–1783), conhecido como Cavaleiro de Oliveira, funcionário da Coroa no século XVIII e escritor proibido pela Inquisição, é desde a publicação do Edital municipal de 17 de Outubro de 1924 o topónimo de uma Rua de Arroios que hoje une a Rua Morais Soares à Praça Olegário Mariano.
 
Rua Francisco Sanches esquina com a Rua Cavaleiro de Oliveira |195-|
Praça Olegário Mariano; ao fundo corre a Rua Morais Soares
A Praça Olegário Mariano, na freguesia de S. Jorge de Arroios, foi atribuída por Edital municipal de 4 de Maio de 1959 na então designada Praceta da Rua Pascoal de Melo. 
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 9 June 2024

Avenida do Brasil: Hospital Júlio de Matos

A construção do então chamado «Novo Manicómio de Lisboa ou do Campo Grande», ficou em grande parte a dever-se ao entusiasmo e influência do psiquiatra Júlio de Matos (1856-1922) - que acabou justamente por dar o nome ao hospital, tendo sido considerado um dos melhores da Europa, na época da sua inauguração em 1942.
A edificação, em Lisboa, de um hospital psiquiátrico moderno, capaz de satisfazer as necessidades de assistência, do ensino e da investigação científica foi possível graças ao grande prestígio de Júlio de Matos junto dos primeiros governantes do regime republicano e ao valor testamentário do empresário António Hygino Salgado d’Araújo, falecido em 24 de Junho de 1911.
Em Testamento, de 16 de Abril de 1910, este benemérito legou prédios, urbanos e rústicos. O valor destes legados foi avaliado, ao tempo, em cerca de cento e quarenta contos de réis, verba destinada à construção, na cerca de Rilhafoles, de um Pavilhão (cujo custeio foi calculado em cerca de vinte contos de réis) destinado à observação de doentes mentais, antes da sua admissão definitiva no Hospital.
Contrariamente  ao  que  se  tem  veiculado,  António Hygino Salgado d’Araújo  nunca  esteve hospitalizado no Manicómio Bombarda. (Rilhafoles).

Vista panorâmica dos edifícios e da Avenida do Brasil |c. 1942|
A Avenida do Brasil foi anteriormente designada como Avenida do Parque (1906) e Avenida Alferes Malheiro (até 1948), o revoltoso esquecido do 31 de Janeiro de 1891.
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Em concordância com o seu pensamento e o dos arquitectos Leonel Gaia e Carlos Chambers Ramos, o tipo de hospital escolhido foi o de pavilhões (em número de 33), de côr rosa, dispostos de forma funcional numa área de 14,5 hectares. Nestes, os doentes seriam agrupados em pequenas unidades de 8 a 10 doentes, para evitar a influência de uns sobre os outros. Numa área de 22 hectares, a ornamentação arbórea foi cuidadosamente planeada, graças à inclusão, entre 1942 e 1943, numa vasta equipa técnica, de um arquitecto paisagista, Prof. Caldeira Cabral e de um engenheiro agrónomo e silvicultor, Prof. Azevedo Gomes.

Avenida do Brasil: Hospital Júlio de Matos |1944|
Júlio de Matos terá adquirido (…) uma parte substancial dos terrenos (…)
[ao preço de] três tostões o metro quadrado (…).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Panorâmica sobre o Hospital Júlio de Matos |191-|
A construção compreende o período de 1914, Julho. O início da primeira fase de construção, Julho de 1914 (a 1932), foi marcado pelo eclodir da Primeira Guerra Mundial, na qual Portugal esteve envolvido a partir de 1916. Este facto contribuiu para que o ritmo das obras e a qualidade da construção decaíssem.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

A primeira fase de construção compreende o período de 1914, Julho, a 1932. Tem como Presidente, da Comissão, o professor Júlio de Matos e, como vogais, o engenheiro D. Luís de Melo Correia, e, o arquitecto Leonel Gaia.
A segunda fase, compreende o período de 1933 a 1942. Tem como Presidente da Comissão, o professor Sobral Cid, sucessor de Júlio de Matos, o neurologista Almeida Dias, o arquitecto Carlos Chambers Ramos, o engenheiro Leote Tavares e o coronel Ricardo Amaral, representante da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Aqui se realizaram algumas cirurgias de lobotomia pré-frontal no seguimento do trabalho do Nobel professor Egas Moniz. O hospital é um projecto muito ambicioso no sentido do melhoramento das condições da medicina psiquiátrica em Portugal.

Fotografia aérea de Alvalade |195-|
Vermelho: Hospital Júlio de Matos
Verde: Av. Gago Coutinho
Azul: Avenida do Brasil antiga Alferes Malheiro
Amarelo: Av. D. Rodrigo da Cunha
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
chpl.min-saude.pt
trienaldelisboa.com

Friday, 7 June 2024

Sítio de São Paulo

Segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo, o sítio de São Paulo «Foi de seu princípio ribeirinho, sítio mercadejador, piedoso e turbulento. É coevo do Cata-que-farás e dos Remolares, vizinho actual da Ribeira Nova. (...) Remonta ao quinhentismo, extramuros. Em 1550 não contava como freguesia; existia como formigueiro de mareantes. (...)» [Araújo: 1939]

Rua de São Paulo |1963-07|
Junto à Calçada da Bica Grande
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

freguesia de S. Paulo foi fundada em 1412 reedificada em 1512 e arruinada pelo terremoto do 1755 foi novamente reedificada em 1757.

Paulo (praça de S.) fica entre as ruas de S. Paulo, nova do Carvalho, travessas do boqueirão da Ribeira Nova, de S. Paulo e beco do Carvalho, freguezia de S. Paulo 1 a 22.
Paulo (rua de S.) principia na rua do largo do Corpo Santo e finda na calçada de S. João Nepomuceno e rua da Boa-Vista, freguezia de S. Paulo 36 à 260 e 21 a 129, Martyres 2 a 34 e 1 a 19.
Paulo (travessa de S.) segunda á esquerda no largo de S. Paulo, indo da rua nova do Carvalho e finda na rua da Ribeira Nova, freguesia de S. Paulo 2 a 14 e 1 a 13. [Velloso: 1869]

Praça de São Paulo (lado S.) |c. 1930|
Esquina com a Tv. de S. Paulo
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

No meio da Praça está um pequeno chafariz mandado fazer pela Camara Municipal e concluído no ano de 1849. A igreja (arq-º Remígio Abreu) tem na fachada as imagens de S. Pedro e S. Paulo feitas pelo insigne escultor António Machado. 

Rua e Praça de São Paulo (lado S.) |c. 1911|
Igreja de São Paulo
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 2 June 2024

Sítio de Marvila

O lugar de Marvila, actualmente, fica encaixado, da parte do Tejo, entre o extinto convento de São Bento e a Praça David Leandro da Silva, servida pelas Ruas do Beato e do Açúcar; e, da parte de cima, entre a Azinhaga das Veigas e a Quinta das Claras, servida pelas Ruas Direita de Marvila, José do Patrocínio e de Marvila. Aquelas duas primeiras artérias (do Beato e do Açúcar) sucederam, modernamente, à Rua Direita do Poço do Bispo, que ligou, desde tempos remotos, o convento dos evangelistas ao célebre poço do prelado, a primeira devido ao beato António e a segunda a uma refinação de açúcar que laborou num dos seus prédios. 

Rua de Marvila, 121 |1940-08|
Antiga Direita de Marvila (até 1889) 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no aml.
Rua Direita de Marvila |1939|
Inscrição no original:
Uma passagem de nível perigosa:
a) Não se vê o combóio. b) Não dá passagem a 2 carros. c) Interrompida muito amiúde.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

São conhecidos vestígios de ocupação humana no território que hoje constitui a freguesia, desde os tempos pré-históricos. (...). Em 1149, verifica-se um acontecimento muito importante para a história de Marvila: D. Afonso Henriques, a 9 de Dezembro, fez doação à Mitra de Lisboa, para sua instalação e manutenção, três dezenas de casas e de «todas as rendas e terras de Marvila que possuíam as mesquitas dos Mouros» — pelo que se depreende que o topónimo seja de origem árabe. Essa herdade de Marvila, abrangia uma área hoje difícil de determinar, mas seguramente muito extensa, entre o Convento do Beato e o Poço do Bispo e alongando-se em profundidade muito para Norte.

Rua do Vale Formoso |1940-08|
Cruzamento com a Rua Dr. Estêvão de Vasconcelos
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Rua do Vale Formoso, 128 |1940-08|
De zona rural, Marvila transformou-se, com os desdobrar dos anos, em zona urbana. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

De zona rural, Marvila transformou-se, com os desdobrar dos anos, em zona urbana. Foi este um sítio, colocado nos arrabaldes de Lisboa, que a freguesia dos Olivais, criada em 1398, incluiu na sua jurisdição. Área administrativamente apagada, por consequência, durante dilatado tempo, valorizou-se, porém, a 7 de Fevereiro de 1959, por Decreto n.º 42 142, passando a constituir uma nova freguesia — freguesia de Marvila — com limites alongados, em profundidade, até à Azinhaga da Flamenga, no lugar da Bela Vista. 
(DELGADO, Ralph, O Lugar de Marvila e a Quinta da Mitra, 1963)
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