Uma das maiores tragédias vividas no Cais do Sodré: o abatimento da cobertura de betão da estação dos comboios, a 28 de Maio de 1963. Por entre os escombros. bombeiros e voluntários da Cruz Vermelha tentar ajudar as vitimas. Muitas delas receberam ali mesmo, dos padres entretanto chamados, a extrema-unção.
Os relógios pararam quando, a 28 de Maio de 1963, a cobertura da gare do Cais do Sodré desaba. Por isso, a hora do colapso é a primeira certeza sobre a tragédia: passavam sete minutos das quatro da tarde. Ao final do dia já é conhecido o número de vítimas. Entre homens, mulheres e crianças, contam-se 49 mortos e 61 feridos. São empregados de escritório, domésticas, enfermeiros, reformados, funcionários da companhia que explora a linha, a Sociedade Estoril, e muitos outros, todos apanhados de surpresa. A ajuda não tarda. Entre bombeiros, equipas médicas, militares, a Cruz Vermelha e civis, mais de 400 pessoas acorrem à estação. Cerca de um quarto são operários que trabalham na construção da ponte sobre o Tejo, enviados por ordem do ministro das Obras Públicas. Levam gruas, martelos pneumáticos, apoios decisivos na remoção dos escombros. Sacerdotes consolam os feridos e ministram a extrema-unção aos que não vão conseguir sobreviver.
Estação do Cais do Sodré, 28 de Maio de 1963 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Pela cidade multiplicam-se as teorias especulativas. Uns apontam a falha às fundações. Outros falam num comboio que chocara contra a plataforma. Os mais imaginativos apostam num atentado à bomba.
A comissão de inquérito nomeada pelo ministro das Obras Públicas.
Arantes de Oliveira começa a trabalhar nessa noite. Recolhe depoimentos e
envia fragmentos da placa e das vigas para o Laboratório Nacional de
Engenharia Civil. Os jornais fazem as suas próprias inquirições. Trabalhadores
da estação e passageiros frequentes contam ao Diário de Noticias que as
fendas e os ruídos suspeitos eram frequentes. Por isso é que ninguém ligou quando se ouviu o som de vidro estilhaçado momentos antes da derrocada.
A 3 de Junho, a Policia Judiciária divulga os resultados preliminares da investigação. "O ruído ou som ouvido minutos antes da catástrofe, semelhante ao estampido de impacto de uma lâmpada eléctrica" — cita o Diário de Noticias — "terá resultado do movimento de fractura do sistema de cobertura." Dois inspectores da Sociedade Estoril ainda avançaram para vedar a zona na altura em que a pala desabou. Nenhum sobreviveu.
Estação do Cais do Sodré, 28 de Maio de 1963 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
No fim, a comissão de inquérito responsabiliza a construtora MANIL pelo acidente. Acusa a empresa de negligencia e incompetência. Falhara na construção das juntas previstas no projecto e na obra de ampliação da cobertura das gares. Como punição ficará sem os alvarás de empreiteiro de obras publicas. Quanto à Estação do Cais do Sodré, já está em pleno funcionamento. O serviço ferroviário recomeçará cinco dias apenas depois da tragédia.
____________________________________Bibliografia
Marina T. Dias, Lisboa Desaparecida, vol. 6, 2000.
Joana Stichini Vilela e Nick Mrozowski, LX60: A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma, 2012.