Sunday, 29 March 2020

Palacete Andrade Bastos

Palacete construído em finais do século XIX para residência de Dª Guilhermina de Andrade Bastos, a par de um outro edificado para o irmão, o Dr. Júlio de Andrade, com base num projecto (1891) do arquitecto italiano Sebastião Locati.


Inserido na malha da cidade, no interior dum lote murado, o edifício é circundado pelo jardim a toda a volta. Está localizado dentro do lote, na zona central. A entrada faz-se pela rua Júlio de Andrade, n.º 3. Pertence à freguesia de São José e está implantado numa zona plana em relação à rua. O terreno com o jardim até à fachada é plano e após o palacete entra em declive descendente, de Este para Oeste na zona posterior.

Palacete Andrade Bastos |post. 1891|
Fachada posterior voltada a Oeste sobre o Jardim do Torel; observa-se o
jardim em socalcos e planos inclinados, com três pisos separados por frisos e quatro panos.
Postal ilustrado não circulado, edição de Martins & Silva, in Lisboa de Antigamente

O actual palacete apresenta inúmeras alterações ao projecto inicial, mas a documentação das plantas originais permite uma reconstituição conjectural. Assim, o piso superior terá sido destinado a uma zona de quartos e incorporou inicialmente um terraço voltado a Poente. No piso intermédio (térreo a Nascente e piso 1 a Poente) situa-se a entrada principal pelo lado da rua. Este corresponde a uma zona de recepção, com um vestíbulo de distribuição para o andar superior ou inferior, pelas escadas de aparato ou de serviço, estas situadas junto à copa, a Sudoeste. Junto à fachada poente situam-se as salas de recepção. O piso -1, com acesso directo ao jardim pela fachada poente, corresponde a uma zona privada da família. Na zona nascente do mesmo piso (semienterrado), situam-se os acessos originais aos pisos superiores, de aparato e de serviços. No projecto original verifica-se a cozinha em comunicação com a copa no piso superior e uma sala de criados a nascente.

Palacete Andrade Bastos |1968|
Fachada principal, entrada pela Rua Júlio de Andrade,3
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): Desde Julho de 1988 está instalada no palacete a sede social de A Xuventude de Galicia – Centro Galego de Lisboa.

Desenho da implantação do Palacete Andrade Bastos em 1891
Assinalados a vermelho estão o palacete (B) e a Rua Júlio Andrade

Bibliografia
acasasenhorial.org

Friday, 27 March 2020

Lojas de Antanho: Drogaria Moderna

No dealbar do século XX — refere Marina Tavares Dias — são inúmeros os estabelecimento que utilizam a palavra “moderno” para melhor cativar clientes. As crenças num futuro radioso, nas suas inovações técnicas, nos seus fabulosos inventos, vão revelar-se precárias como um cenário de papelão: será demasiado fácil lançá-las à fogueira das guerras.¹

Drogaria Moderna |c. 1908|
Sucursal do jornal O Século
Antigo troço da Rua das Amoreiras, 202, actual Rua Prof. Sousa da Câmara, 148
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A velhinha Rua das Amoreiras, dístico de 1874, principiava no Largo do Rato e terminava nas Portas da Cidade (Campolide), actual Rua Dom Carlos de Mascarenhas. Após a construção da Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, em 1948, o troço da Rua das Amoreiras, entre aquela avenida e a Rua Dom Carlos de Mascarenhas, passou a denominar-se Rua Prof. Sousa da Câmara (1971). Depois de todas estas alterações toponímicas procedeu-se a alteração dos números de policia.
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Bibliografia
¹ Marina Tavares Dias em Lisboa Desaparecida, volume VI, p. 38, 1998.

Sunday, 22 March 2020

(Rua) das Escolas Gerais

Pois retornemos e sigamos o nosso caminho, pela Rua das Escolas Gerais, artéria que nos meados do século XVI era designada pelo povo também Rua do Bairro dos Escolares, e então mais estreita (foi alargada, só em 1886). Os prédios a nascenteà nossa esquerda agorasão todos do século passado; à direita, transfiguradas, ficam as casas que foram do Convento [das freiras do Salvador].


Este troço inferior da Rua chamou-se, desde remotos tempos até 1859, do «Marco Salgado»,sítio sem classificação discriminativa — nome que há quem suponha que evoca a última representação de Pedro Salgado, chanceler de D. Diniz. Já escrevi: «A razão do nome não está esclarecida, e parece constituir um problema para eruditos».¹

Rua das Escolas Gerais [c. 1940]
À direita, depois do murete, sai a Rua do Loureiro e, ao fundo à esq., a Calçadinha
do Tijolo.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Como decerto o leitor já viu — diz Luís Pastor de Macedo— , o Bairro dos Escolares chamaríamos hoje Bairro Universitário, e as Escolas Gerais ou o Estudo Geral são a Universidade transferida definitivamente para Coimbra em tempo de El-Rei D. João III (1537). Também com certeza sabe o leitor que na Lisboa de hoje existem duas serventias públicas com nomes determinados pelo Estudo fundado por El-Rei D. Dinis: as Escolas Gerais, artéria inclassificada que pertenceu às antigas freguesias de Santa Marinha e de S. Vicente, que a compartilhavam, e a Rua das Escolas Gerais que pertenceu à antiga freguesia de S. Tomé, e durante algum tempo, pelo menos, também à do Salvador.²

Escolas Gerais [post. 1960]
Igreja de São Vicente de Fora
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, 1939.
² MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés a Lés,
vol. II, 1941.

Friday, 20 March 2020

Ponte Giratória do Cais da Rocha do Conde de Óbidos

Uma ponte que ligasse o Posto Marítimo de Desinfecção (Estação de Sanidade Marítima) com a Rocha do Conde de Óbidos, era assunto que vinha preocupando as administrações do porto desde meados da década de 1910. Era urgente melhorar as condições de passagem naquele local para evitar que aos estrangeiros desembarcados lhe fosse patenteado um tal espécimen de incúria [no local existia, a jusante uma pequena ponte levadiça, vd. 2ª foto]

Ponte giratória do cais da Rocha do Conde de Óbidos |c. 1959|
Em 1948, inaugurava-se a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, projectada pelo arq.º Porfírio Pardal Monteiro, contando, igualmente, com a colaboração do pintor Almada Negreiros.
António Passaporte, Colecção JMF, in Lisboa de Antigamente

O material para a ponte chegou a Lisboa sem as fundações estarem preparadas para a sua montagem. Foi preciso intensificar estes trabalhos, já pelo estabelecimento de horas extraordinárias concedidas ao pessoal, já por uma constante vigilância sobre o trabalho produzido. Por esta forma conseguiu-se que a ponte tosse inaugurada pelo Presidente da República General Óscar Carmona em 28 de Agosto de 1927.¹

As duas pequenas pontes na Doca da Rocha Conde de Óbidos. |post. 1927|
A ponte em primeiro plano era levadiça; ao fundo, destaca-se o SS Ambaca, construído e completado em Junho de 1889, para a Empresa Nacional de Navegação. Viagem inaugural em 6 de Julho de 1889 para o Funchal, São Vicente, São Tiago, Príncipe, São Tomé e Moçâmedes. Afundado pelos alemães em 23 de Dezembro de 1917.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): As duas pontes coexistiram até meados da década de 1920,  altura em que a primitiva ponte levadiça foi  desmantelada. Por sua vez, em 2005, a ponte giratória foi substituída por uma nova ponte pedonal.

Ponte levadiça da Doca da Rocha Conde de Óbidos. |ant. 1898|
João Francisco Camacho, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ CURADO, Paiva, O porto de Lisboa: ideias e factos, p. 26, 1928.

Sunday, 15 March 2020

Café-Restaurante Abadia

Não quero deixar de chamar a tua atenção para o Café-Restaurante Abadia. Foi fundado em 1916 por José Maria Iglésias e Francisco Pereira, sendo as decorações interiores e a pretensiosa fachada risco do arquitecto Rosendo Carvalheira, o qual — diga-se de passagem — «fez o que lhe encomendaram».¹


O Café Abadia, fachada de Rosendo Carvalheira, na Praça dos Restauradores, começou por servir leite a copo, sob a designação Pastelaria Foz ([1916]. Era sucursal da afamada Vacaria Áurea da Rua Rua do Ouro. Assim permaneceu até 1917, data em que, brevemente conhecido por Rendez-Vous de l'Avenue, inaugurou um café nas suas caves. Na década de 20 a designação corrente passou a ser, apenas, Café Abadia.

Café Abadia (Pastelaria Foz) |1918|
Praça dos Restauradores
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Café-Restaurante Abadia |1921|
Fachada e esplanada sobre os Restauradores; Palácio Foz
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Frequentado pelas «borboletas» (prostitutas) dos vizinhos «cabarets», Ritz e Maxim's, o Abadia atravessou um período de crise em termos de prestigio. Desapareceu já em plena recuperação, na década de 40, quando o Secretariado de Propaganda Nacional adquiriu, para sede própria, a antiga morada dos marquês de Castelo Melhor e dos marqueses da Foz. As antigas portas do Abadia foram substituídas por aquelas que, hoje, servem o posto de turismo do Palácio Foz.²

Café-Restaurante Abadia |1931|
Fachada e esplanada sobre os Restauradores; Palácio Foz
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente
Café-Restaurante Abadia |1935|
Fachada e esplanada sobre os Restauradores; Palácio Foz
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 21, 1939.
² DIAS, Marina Tavares, Os Cafés de Lisboa, p. 127, 1999.

Friday, 13 March 2020

Cruz de Santa Helena

É um arruamento do qual se desconhece a data de atribuição. Está em São Vicente esta Cruz de Santa Helena, entre o Largo do Outeirinho da Amendoeira e a Calçada de São Vicente, designação que deverá ser anterior ao Terramoto de 1755. 

Cruz de Santa Helena [194-]
Perspectiva tirada da Calçada de S. Vicente
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Tal como o Beco de Santa Helena, a Cruz de Santa Helena referem-se a uma viúva beatificada como Santa Helena, a quem um oficial romano, de nome Constâncio Cloro, se uniu e assim nasceu Constantino, o primeiro imperador cristão. Diz-se também que Santa Helena foi em peregrinação à Terra Santa e que encontrou a verdadeira Cruz do Salvador.[cm-lisboa.pt]

Cruz de Santa Helena [1899]
Perspectiva tirada da Calçada de S. Vicente
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 March 2020

Nicho (Quinta) da Imagem, ao Caracol da Penha

 (em1889) na esquina sul desta travessa (do Caracol da Penha) para a rua de Arroios — diz Júlio de Castilho  — uma  pequena casa, de mesquinha aparência, em cujo cunhal se vê um nicho, hoje tapado, mas que antigamente tinha por habitante não sei que santo ou santa, com o indispensável pingente da sua lanterninha. [...] Chamava-se por causa dele, ao sítio, o Nicho da Imagem.¹

Rua Marques da Silva  |c. 1900|
Cruzamento com a e Avenida Almirante Reis
O nome deriva da existência no local do Convento da Encarnação.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 1891,  quando a C.M.L. procedeu ao alargamento da Travessa do Caracol da Penha, a então denominada Quinta da Imagem era propriedade do comerciante João Marques da Silva.
Perguntemos agora: Marques da Silva porquê? quem foi aquele senhor? que fez ele?
Era ao tempo um comerciante que morava na rua dos Anjos e que era proprietário da célebre Quinta da Imagem, ali ao Caracol da Penha, ao virar para a rua de Arroios, quinta da qual o sr. João Marques da Silva, — era este o seu nome — ofereceu uma fatia à Câmara para alargamento da travessa do Caracol! E lá vimos que foi nessa sessão que o vogal da Comissão Administrativa do Município, sr. Costa Lima, propôs, e foi aprovado, para que a travessa passasse a ter o nome do proprietário local que contemplou a cidade com aquela nesga de terreno da sua quinta.²

Levantamento da Planta de Lisboa: 1911, Pinto, Júlio António Vieira da Silva.[Fragmento]  
Legenda:
Vermelho - Chalet (Quinta da Imagem) de João Marques da Silva
  Laranja - Rua Marques da Silva [Travessa do Caracol da Penha]
Verde - Av. Almirante Reis [projectada Avenida dos Anjos]
Azul - Rua de Arroios

Bibliografia
¹ CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, vol. I, IX, pp. 165-172, 1937.
² MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés a Lés, vol. IV, pp. 52-54, 1968.

Friday, 6 March 2020

Beco do Colégio dos Nobres

Na toponímia local apenas o Colégio dos Nobres permaneceu nesse estreito beco sem saída fronteiro ao edifício da Escola [Politécnica] — relembra-nos Gustavo de Matos Sequeira. Em 1756 chamavam-lhe rua defronte dos Apóstolos, o que dá a entender que foi posteriormente encurtado e tapado. No ano seguinte já o denominam travessa, e em 1758 beco, dando-lhe de ambas as vezes a mesma referência: defronte defronte dos Apóstolos.

Beco do Colégio dos Nobres |1944|
Ao fundo observa-se o edifício Escola Politécnica
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Tem início entre os nºˢ 87 e 89 da Rua da Escola Politécnica. Como refere o livro pelas Freguesias de Lisboa, vol.3: “Importante iniciativa do Marquês de Pombal foi a criação do Colégio dos Nobres, em 1761. O edifício que serviu para a sua instalação foi o Noviciado da Cotovia, disponível desde a expulsão dos jesuítas em 1759. Foi necessário reparar os estragos do Terramoto e adequar o espaço às novas funções, sendo Carlos Mardel encarregado dessa modernização”.
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Bibliografia

SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Depois do terramoto: subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa, Vol- I, p. 383, 1967.
cm-lisboa.pt.

Sunday, 1 March 2020

Profissões de Antanho: o vendedor de morangos

Os morangos são de Sintra! Olha o cabaz de morangos!

Era dos pregões mais cantados por esta Lisboa. Os próprios saloios os vinham vender, de rua em rua, o barrete enfiado até aos olhos, confundindo-se as negras sobrancelhas com o felpudo debruado do carapuço. 
Vestiam largos bibes de riscado abotoados à frente e, para não lhes tolher o andar, juntavam as pontas num nó sobre a barriga.

Vendedor ambulante de morangos [1960]
Alameda Dom Afonso Henriques  junto à Avenida Almirante Reis
Nota(s): Local da foto não está identificado no A.M.L.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Claro que havia de se ter cautela com a quantidade de morangos que vendiam, pois os acomodavam ardilosamente em cabazes pequenos, tão cheios de fetos como de frutos, e não pesavam os morangos!
Quando se dava pelo logro, era tarde! Saloios espertos! Também os morangos nem sempre eram provenientes da região de Sintra, mas era de bom-tom e crédito apregoar:

— Olha os morangos! São de Sintra!

É o caso das laranjas sempre apregoadas como de Setúbal, quando os laranjais se alastram por todo o País.
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Bibliografia
CALDERON, Dinis, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1900-1974, p. 230, 1986.
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