Sunday, 27 February 2022

Av. dos Estados Unidos da América com a Av. de Roma

No período da República (Edital de 07/08/1911), a Câmara de Lisboa evocou na sua toponímia sobretudo, os estrangeiros que defenderam ideias liberais e republicanos. Por isso a homenagem ao país que é a maior potência económica, militar e cultural do mundo, para além de ter denominado também o Bairro América, de Stª Engrácia, onde, em 1924, perpetuou nas placas toponímicas os americanos Franklin — estadista preponderante na independência das 13 colónias norte-americanas em 1783 e também inventor do pára-raios e Washington — o 1º Presidente dos Estados Unidos da América.

Avenida dos Estados Unidos da América |1968|
No cruzamento com a Av. de Roma 
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Quanto à Avenida de Roma, hoje pertença das Freguesias de Alvalade e do Areeiro, nasceu no último mês do ano de 1930 e nesta grandiosa artéria se ergueram sucessivamente, a partir do fim da II Guerra, três cinemas: o Alvalade, o Roma e o Londres. Antes era a Avenida nº 19 do plano de melhoramentos aprovado por deliberação camarária de 7 de Abril de 1928.

Avenida dos Estados Unidos da América |1968|
No cruzamento com a Av. de Roma 
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 25 February 2022

Rua dos Sapateiros que foi do Arco do Bandeira

A Rua dos Sapateiros surgiu com esta configuração espacial na reconstrução da Baixa Pombalina de traçado rectilíneo e ortogonal, após o terramoto de 1 de Novembro de 1755, e como topónimo nasce por via da Portaria de D. José I de 5 de Novembro de 1760, o primeiro diploma que tratou exclusivamente de matéria toponímica em Lisboa.

Rua dos Sapateiros [191-]
Antiga do Arco do Bandeira junto à Rua da Vitória
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sobre os ofícios para a Rua dos Sapateiros define o diploma o seguinte: «Esta Rua he a que medeia entre a Rua Augusta, e a Rua Aurea. Em hum lado della se devem arruar os Çapateiros, porque só costumaõ arruar-se os que servem a Plebe; e o outro lado se deve deixar livre para os misteres do Povo assima referidos.»

Rua dos Sapateiros [c. 1900]
 Antiga do Arco do Bandeira junto à Rua de S. NicolauBanco de Lisboa & Açores
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 20 February 2022

Feira do Lumiar

A Feira do Lumiar — recorda-nos Ferreira de Andrade—, decerto a mais antiga, pois remonta ao longínquo ano de 1276, foi durante séculos considerada a feira de Lisboa com seu aspecto profano e religioso. Era a feira saloia com sua característica de uma fauna natural de gente do campo, suas carroças e burricos; uma aguarela que o rodar do tempo esfumou.

Feira do Lumiar |c. 192-|
Também denominada de Santa Brígida ou de São João
Largo e Igreja de São João Baptista; o Chafariz do Boneco que alindava o sítio foi transferido para o Largo Júlio Castilho em 1909.
Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente
Feira do Lumiar |c. 1900|
Também denominada de Santa Brígida ou de São João
Largo (da Igreja, à dir.) de São João Baptista; à esq. o Chafariz do Boneco e o Palácio Angeja-Palmela, actual Museu Nacional do Traje.
Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

A Feira do Lumiar — lê-se por sua vez no Povo de Lisboa — desenvolveu-se paralelamente à Procissão das «Candeias» dedicada, no dia 2 de Fevereiro, a Santa Brígida, a mártir irlandesa com altar na paroquial do Lumiar. Era parte importante desta procissão, a cerimónia de consagração dos gados a Santa Brígida: os romeiros traziam gado enfeitado e levavam-no a dar três voltas em redor do santuário. A esta feira acorria muito povo de Lisboa e do termo e nela tinham grande representação os hortaliceiros, leiteiros e lavadeiras que chegavam a pé, de burro ou, aos solavancos, em carroças ou galeras.

Feira do Lumiar |c. 190-|
Também denominada de Santa Brígida ou de São João
Estr. do Lumiar e Largo de São João Baptista
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Era um feira mista, de gado e artigos diversos, com barracas modestas, onde se vendiam objectos e produtos essenciais: panos, roupas feitas, calçado, louças de barro, artigos caseiros, cereais, legumes, frutas da época, a laranja de Setúbal e pêros doces, cortados às rodelas, com os quais formavam grandes enfiadas. A par das barracas de hortícolas e dos frutos, havia barracas de comidas onde aparecia o leitão assado, espalmado, tão apreciado em toda a região saloia. Havia também barracas para venda de quinquilharias e apareciam ourives ambulantes oferecendo arrecadas e outros objectos de adorno aos quais o povo chamava «lateiros».
(in O Povo de Lisboa: tipos, ambiente, modos de vida, mercados e feiras, divertimentos, mentalidade, CML, 1979)

Feira do Lumiar |c. 1900|
Também denominada de Santa Brígida ou de São João
Largo (da Igreja, à dir.) de São João Baptista com Cruzeiro
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 19 February 2022

Palácio José Maria Eugénio (ou Vilalva)

O Palácio dos Larres perdeu o aspecto setecentista e tornou-se um belo edifício, mais burguês do que nobre, embora se houvessem aproveitado as ricas decorações interiores, à base de estuque em preciosos relevos. O filho e sucessor de José Maria Eugénio, Carlos Maria Eugénio de Almeida, pretendeu valorizar a propriedade iniciando a construção de uns anexos, em tipo inglês de castelo, destinados a cocheiras e aposentadorias, os quais não se concluíram e ainda hoje se mostram em pitoresco aspecto sobre a Estr. de Palhavã [troço da actual Rua Doutor Nicolau de Bettencourt].


Reedificado a partir de 1860 segundo o risco do arquitecto francês Jean Colson, o Palácio de José Maria Eugénio de Almeida — um dos sócios do «Real contrato do tabaco, sabão e pólvora» e um dos mais ricos proprietários do país — domina a paisagem do Largo de S. Sebastião da Pedreira, para onde volta a sua fachada principal. A implantação desta nova obra manteve as linhas essenciais do palácio do Provedor dos Armazéns que a precedeu — e que se sabe ter sido edificado para habitação própria, cerca de 1730 pelo arquitecto, também francês, Fernando Larre — que servia D. João V. 

Palácio José Maria Eugénio (ou Vilalva) |c. 1930|
Fachada principal sobre o Largo de S. Sebastião da Pedreira;  Rua Dr. Nicolau Bettencourt [antiga Estr. Palhavã] e Rua Marquês Sá da Bandeira (dir.)
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

O antigo Palácio José Maria Eugénio situa-se entre o Largo de S. Sebastião da Pedreira, o começo da Rua Dr. Nicolau Bettencourt, a Rua Marquês de Sá da Bandeira e a Rua Marquês de Fronteira, sobre a qual se estende o recente muro do jardim, com seus portões e guaritas soerguidas. As fachadas mantêm-se como em 1860, época da reedificação. 
O edifício com larga área arborizada que lhe era anexa, passou depois para os herdeiros (Condes de Vilalva) que, embora mantendo-lhe o aspecto primitivo, o beneficiaram interiormente, recorrendo-se do concurso do famoso estucador João Grossi e do continuador deste, Félix Salla, e dos ornamentistas Biel e Gomassa.

Palácio José Maria Eugénio (ou Vilalva) !1910|
Fachada posterior, de linhas irregulares, sobre os jardins; Rua Marquês de Fronteira e Rua Dr. Nicolau Bettencourt (dir.)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Em começo de 1946, o Estado adquiriu ao bisneto do reedificador, para o Ministério da Guerra, o palácio que fora dos Larres, provedores dos armazéns, e de José Maria Eugénio de Almeida, nome este que perdura. Realizaram-se então no edifício largas obras de beneficiação, adaptação e de nova distribuição de salas, com construção dos anexos, dentro do grande jardim posterior, e de um muro sobre a Rua Marquês de Fronteira, com ângulos adornados de elegantes guaritas de vigia. Estes transformações foram dirigidas pelos arquitecto António Quinina e engenheiros João de Deus Pimentel e Filipe Ribeiro.

Palácio José Maria Eugénio (ou Vilalva), uma das entradas e cavalariças [1910]
Rua Marquês de Fronteira, esquina com a Rua Dr. Nicolau Bettencourt; separado do parque pela Rua Marquês de Fronteira, o palácio pertence hoje ao Exército.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Palácios particulares, 1950.

Sunday, 13 February 2022

Lojas de Antanho: Casa Brazil

A Rua de Santa Justa foi um dos 14 topónimos da Portaria pombalina de 5 de Novembro de 1760, diploma do rei D. José com que foi inaugurada em Lisboa a prática de atribuição de nomes de ruas por decreto e, no qual se estabeleceu a denominação dos arruamentos localizados da Baixa lisboeta reconstruída, entre a Praça do Comércio e o Rossio, ao mesmo tempo que regularizava a distribuição dos ofícios e ramos do comércio pelos diferentes arruamentos, a saber: «Rua Nova d'El Rey, Rua Augusta, Rua Áurea, Rua Bella da Rainha, Rua Nova da Rainha, Rua dos Douradores, Rua dos Correeiros, Rua dos Sapateiros, Rua de S. Julião, Rua da Conceição, Rua de S. Nicolau, Rua da Victoria, Rua da Assumpção e Rua de Santa Justa»

Casa Brazil, loja de modas |séc. XIX|
Rua de Santa Justa com a Rua Augusta
Em 1919, instalou-se neste local a afamada alfaiataria Nunes Corrêa.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Casa Brazil, loja de modas |séc. XIX|
Rua de Santa Justa com a Rua Augusta
Em 1919, instalou-se neste local a afamada alfaiataria Nunes Corrêa.
Alberto Carlos Lima, 
in Lisboa de Antigamente

À luz do mesmo decreto régio, na Rua Augusta deviam alojar-se os mercadores da seda e da lã e, quinze anos depois, a 6 de Junho de 1775 foi colocada no enfiamento da artéria, na Praça do Comércio, a estátua equestre de D. José, feita por Machado de Castro. Quase um século mais tarde, em 1873, foi rematada a Rua Augusta com um Arco Triunfal, da autoria de Veríssimo José da Costa. [cm-lisboa.pt]

Casa Brazil, loja de modas |c. 191-|
Rua de Santa Justa com a Rua Augusta
Fachada depois das obras de remodelação.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Friday, 11 February 2022

Avenida Fontes Pereira de Melo: obras do Metropolitano de Lisboa

O primeiro projecto de um sistema de caminhos-de-ferro subterrâneo para Lisboa data de 1888, é da autoria do engenheiro militar Henrique de Lima e Cunha. Publicado na revista Obras Públicas e Minas, previa a um traçado que ligasse Santa Apolónia a Algés, com passagem pelo Rossio, São Bento, Janelas Verdes e Alcântara. O custo do empreendimento estava orçado em 500$000 réis por metro corrente de túnel. A proposta não avançou.

Avenida Fontes Pereira de Melo |entre 1955 5 1959|
Obras do Metropolitano de LisboaMercado 31 de Janeiro; prédio do Anjo ao Saldanha 
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 February 2022

Rua Norberto de Araújo

Queres ver uma curiosidade? — diz Norberto de Araújo. Nota neste Pátio, na fachada do prédio, à esquerda, cujo ingresso é pela calçada de S. João da Praça — a Adica, como venho dizendo [ostenta hoje o nome daquele autor desde 1956] — as janelas do segundo andar: são quinhentistas, ainda com seus desenhos simples, de aresta quebrada, cujo espírito transcende da materialidade inocente de lavores. Duas estão descobertas e duas entaipadas.
Não notes que eu chame tua atenção para elas: é que em toda a Lisboa, de Algés ao Poço do Bispo, contam-se pelos dedos os elementos arquitectónicos deste jeito e idade. Tudo isto, por aí abaixo, vai em escadinhas.

Rua Norberto de Araújo |c. 1900|
Antigo troço da Calçada de São João da Praça, a partir dos nºs 53 e 70 (actualmente nºs 1 e 2A), até ao Largo das Portas do Sol; à direita, vestígios da Cerca Moura que perdurou na Cerca de D. Fernando (muralha fernandina), e onde assenta a igreja de Santa Luzia.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

A muralha moura descia das Portas do Sol, pela antiga Adiça designação já do século XVI (Calçada de S. João da Praça), em cujo primeiro lanço alto de escadinhas lá está ainda parte da veneranda muralha e torre, até à parte sul, em ângulo, do casarão do Limoeiro, onde, fazendo um pequeno desvio, descia até aqui, local em que se abria a [antiga] Porta da Alfama.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 43-51 1939)

Rua Norberto de Araújo |1973|
Antigo troço da Calçada de São João da Praça, a partir dos nºs 53 e 70 (actualmente nºs 1 e 2A), até ao Largo das Portas do Sol (à esquerda na foto); à direita, vestígios da Cerca Moura que perdurou na Cerca de D. Fernando (muralha fernandina), e onde assenta a igreja de Santa Luzia.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Local onde a Rua Norberto de Araújo e Rua da Adiça se encontram |1950|
 A Adiça. Aí temos um dos mais contemplativos recantos da Alfama. [Araújo: 1939]
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 4 February 2022

Rua do Arco do Carvalhão, 300-302

Antes de ser «do Arco do Carvalhão» a rua chamava-se «do Sargento-Mor» — recorda o ilustre Norberto de Araújo. [...] Mas nós estamos no Arco do Carvalhão — sob dois Arcos enormes do Aqueduto. Terrenos eram estes de Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda antes de ele ser Pombal e Oeiras, e estendiam-se, ultrapassando a actual Rua das Amoreiras, no lanço da Cruz das Almas para cima, até à actual Rua Marquês da Fronteira [...] O «Carvalhão» era então o futuro Marquês de Pombal, e do apelido derivaram os nomes da Rua actual [...]»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 79, 1939)

Rua do Arco do Carvalhão, 300-302 |1954|
Chafariz; viaduto ferroviário
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente
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