Wednesday, 25 December 2019

Presépio do Largo do Chiado

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854). Iniciador do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna, jornalista, político, legislador, Garrett é um exemplo de aliança inseparável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta. É considerado, por muitos autores, como o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários.

Rua Garrett [1966]
Presépio do Largo do Chiado
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

De origem irlandesa, a grafia do seu último apelido «garet» foi por ele próprio alterada na sua assinatura para «garrett» com o objectivo que as pessoas lessem a letra tê para pronunciar correctamente o seu nome como «garrete».
A meio do século XIX, ainda o Governo Civil tinha a incumbência da denominação dos arruamentos decidiu este que as Ruas do Chiado e Portas de Santa Catarina passassem a ter a denominação única de Rua do Chiado (Edital de 01/09/1859) e, só passados 21 anos (1880) passou a Rua Garrett.

Rua Garrett [1966]
Presépio do Largo do Chiado
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 December 2019

Lojas de Antanho: Casa dos Espartilhos

A fábrica de espartilhos a vapor« «os melhores espartilhos de Portugal», com loja na Rua do Ouro, foi fundada em 1892 pelos empresários Santos Mattos. Isso mesmo é comprovado por um prospecto antigo, exibido na exposição 100 anos-Amadora, na Casa Roque Gameiro. Um folheto mais recente situava na Porcalhota (actual Amadora) a fábrica da casa de espartilhos, cintas e soutiens  — «não tem, no genero, outra que a eguale».

Rua Áurea, 123 |1911|
A «Casa dos Espartilhos» à hora da expedição das vendas e encomendas.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente (IP)

A rua [do Ouro] tinha duas horas ao dia de um tal ou qual movimento: à entrada e à saída das secretarias. Depois, pelo dia adiante, uma carruagem de vez em quando, alguma traquitana de praça, o omnibus da companhia, e os clássicos carros chiando estridulamente pelos eixos. À noite uma necrópole, um hypogeu de Thebas. Todas as lojas fechadas, um ou outro transeunte a passo dobrado, o pregão soturno dos aguadeiros, a aparição lamentosa da patrulha... 
(Júlio César Machado (1835-1890), «Cláudio», citado por Luís Pastor de Macedo, Lisboa de Lés-a-Lés) 

Rua Áurea, 123 [1911]
A Casa dos Espartilhos ornamentada para o IV Congresso Internacional de Turismo.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 20 December 2019

Rua José António Serrano que foi Cç. do Colégio

Colégio (Calçada Nova do) — Esta categoria foi acompanhada do sufixo «Nova», para diferençar a via pública a que está aplicada a denominação correspondente, de outra que a teve igual, e hoje é denominada «José António Serrano» , com a categoria de Rua.
(BRITO, Gomes de) Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935)

Rua José António Serrano |1951|
Antiga Calçada do Colégio
Do lado esquerdo, o antigo Largo (e rua) do Socorro demolidos para urbanização
e rectificação da Rua da Palma e posterior abertura da Praça Martim Moniz na década de 1950.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Com a legenda «Doutor Tratadista, Osteólogo, 1851–1901» foi o nome de José António Serrano fixado na que era a Calçada do Colégio, por deliberação camarária de 6 de Dezembro de 1906.
José António Serrano (1851-1904), foi Lente da Escola Médica e o primeiro cirurgião português que obteve a cura de um tumor sólido do ovário (por meio de laparatomia, em 1889) e a realizar uma histerectomia abdominal. Defendera tese em 22.12.1875 e três anos depois foi nomeado preparador e conservador do Museu de Anatomia da Escola sendo também cirurgião do Banco do Hospital de São José e, a partir de 1895, director de enfermaria do Hospital do Desterro bem como, em 1901, director da Repartição de Estatística do Hospital de São José. Foi lente substituto em 1880 de Anatomia Descritiva e lente proprietário em 1889, para além de ter regido na Escola de Belas Artes a cadeira de Anatomia Artística e Higiene de Edifícios. As suas obras essenciais foram «Manual Sinóptico de Anatomia Descritiva» e «Tratado de Osteologia Humana». [cm-lisboa.pt]

Rua José António Serrano |ant. 1949|
[Antes das demolições do Martim Moniz]
Antiga Calçada do Colégio [dos Jesuítas de Santo Antão-o-Novo, hoje Hosp. S. José, cerca;
Miradouro de Nossa Senhora do Monte.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 18 December 2019

Avenida Dom Carlos I

Antiga Avenida do Presidente Wilson, Avenida das Cortes, antes Rua Dom Carlos I (1889), antes Rua Duque de Terceira (1866), antes Rua dos Ferreiros a Esperança, antes Rua dos Ferreiros a Santa Catarina) e Travessa Nova da Esperança.



Filho de D. Luís e de D. Maria Pia de Sabóia, nasceu em Lisboa a 28 de Setembro de 1863. Aí também morreu assassinado no dia 1 de Fevereiro de 1908. Trigésimo terceiro rei de Portugal (1889-1908), ficou conhecido pelo cognome de "o Martirizado". Casou em 1886 com D. Amélia de Orleães, princesa de França, filha dos condes de Paris, de cujo enlace nasceram D. Luís Filipe e D. Manuel. O seu reinado ficou marcado por eventos que fomentariam o espírito republicano e o descrédito crescente do regime monárquico. O primeiro destes eventos aconteceria logo em 1890: o ultimato inglês, motivado pelo "Mapa cor-de-rosa" (1886) que punha em causa as pretensões do imperialismo britânico, nomeadamente o ensejo de ligar o Cabo ao Cairo. Portugal foi obrigado a abandonar os territórios africanos em questão, o que constituiu uma humilhante derrota para a diplomacia portuguesa e para o País. Este facto provocou uma explosão de sentimentos anti-britânicos um pouco por todo o reino e em todos os quadrantes políticos. Este ambiente é aproveitado pelos republicanos que, após este incidente diplomático, reagem com maior veemência do que nunca.

Avenida Dom Carlos I |ant. 1908|
Cortejo Real em dia de abertura do Parlamento (ao cimo) na Avenida Dom Carlos
António Novais, 
in Lisboa de Antigamente

No Porto, estala uma revolta que acabaria por fracassar mas que proclamaria a República pela primeira vez na História portuguesa (o 31 de Janeiro de 1891). O rotativismo entre os Partidos Progressista e Regenerador entrara em descrédito, aumentando de eleição para eleição o número de representantes republicanos. Assim, em Maio de 1906, D. Carlos chama João Franco a formar Governo, o qual, contrariando promessas anteriormente feitas, encerra a Assembleia Legislativa e dá início a uma ditadura. A ditadura de João Franco desencadeou uma onda de protestos, sobretudo devido aos adiantamentos à Casa Real e à repressão política. Em 21 de Janeiro de 1908, uma tentativa revolucionária foi dominada pelo Governo, tendo sido feitas inúmeras prisões. Na sequência deste movimento, foi elaborado um decreto que previa a deportação do reino para os conspiradores, decreto que D. Carlos promulgou. Passados poucos dias, em 1 de Fevereiro de 1908, chegava a família real portuguesa a Lisboa vinda de Vila Viçosa, desembarcava junto do Terreiro do Paço e daí seguia para o Paço das Necessidades quando se deu o regicídio, no qual morreram D. Carlos e o seu filho D. Luís Filipe, o herdeiro do trono. (in Diciopédia 2002).

Avenida Dom Carlos I, sul |1965|
À dir. nota-se o Chafariz da Esperança

 Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 15 December 2019

Escadinhas da Barroca e Pátio do Salema

Entremos pelas Escadinhas da Barroca  — que não tem escadinhas!, [Homessa! Tem e não são poucas no troço que leva à Tv. de Sant'ana— caríssimo Norberto de Araújo] e iniciemo-nos em pitoresco.
Contempla este prèdiozito, n.ºˢ 10 e 12, expressivo, como uma aguarela congeminada por artista de olisiponense fantasia. Lisboa sobrepõe-se, em todos os sítios e bairros; uns pedaços há que não aderem ao urbanismo, nem sequer do século passado — e muitos havemos de encontrar. Este é um deles. [...]

Escadinhas da Barroca, 10 e 12  |c. 1900|
Arruamento que liga o Largo de São Domingos à Travessa de Santa’ana e ao qual aparecem 
já referências em 1755, nomeadamente como “rua da Barroca das Escadinhas” devendo a sua
origem à proximidade ao Palácio da Barroca que a partir de 1777 se designava
por Palácio do Galvão.
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Entra-se agora no Pátio do Salema, cujo lado poente é constituído por casas encostadas e pertencentes ao Palácio Almada: é este Pátio um recanto sombrio, que tem ao fundo um umbral do vizinho Convento da Encarnação, e que nos mostra apenas uma edificação sólida mas decrépita: o prédio n.° 4, de portal de certa vista, onde, antes da proclamação da República, existiu uma associação republicana, que deu local às famosas «reuniões do Pátio do Salema», areópago de idealista.¹

Pátio do Salema (Escadinhas da Barroca) |1939|
Alguns pátios transformaram-se em via pública, tais como os do Almotacé, do

Conde de Soure, do Salema, do Salgueiro, do Silva e Cruz, do Tijolo.
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

¹ Em 1864, foi fundado no Pátio do Salema um centro republicano, donde saiu o Partido Reformista, que foi, por assim dizer, a guarda avançada do Partido Republicano. Era o denominado «Clube dos Lunáticos». Servia como ponto de encontro dos idealistas que em 1848 tinham acreditado na possibilidade de mudança de regime, onde se encontravam em torno de António de Oliveira Marreca, Gilberto Rola, Francisco Maria de Sousa Brandão, José Elias Garcia, Saraiva de Carvalho, Bernardino Pinheiro e Latino Coelho.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, pp. 12-13,, 1938.
Olisipo: boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», Vol. 17, 1942.

Friday, 13 December 2019

Rua Inácio Pardelhas Sanchez

Este topónimo com a legenda «Médico/1919-1982», resultou de uma sugestão apresentada pela Junta de Freguesia de Campolide, fundamentada no facto do homenageado ter residido nas imediações deste arruamento e ter dedicado a sua energia, conhecimento científico e compreensão humana aos doentes que a ele recorriam, sem olhar aos seus recursos económicos ou situação social.[cm-lisboa.pt]

Rua Inácio Pardelhas Sanchez |1945|
Antiga Rua A, do Bairro da Liberdade; Campolide; Marco fontanário junto às Escadinhas da Liberdade.
Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 11 December 2019

Escadinhas da Liberdade

O Bairro da Liberdade, na chamada En­costa de Campolide, formou-se a partir de um conjunto de habitações que foram surgindo em finais do século XIX prolongando-se pelas primeiras décadas do século XX, no âmbito de um processo de industrialização que tinha como pólo principal o Vale de Alcântara. O acréscimo de população do Bairro verificou-se em meados da década de 60, motivada pela migração de população rural para Lisboa na procura de melhores condições de vida.

Escadinhas da Liberdade |1945|
Este topónimo advém da sua proximidade ao Bairro da Liberdade
Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Aquando da construção do Aqueduto das Águas Livres, no séc. XVIII (1732-1748), já aqui tinha existido um chamado Bairro da Liberdade para acolher os mi­lhares de operários daquele grandioso empreendimento, tendo-se então multiplicado as habitações precárias, e que precárias e degradadas permaneceram ao longo de décadas.

Escadinhas da Liberdade |s.d.|
Este topónimo advém da sua proximidade ao Bairro da Liberdade; Estação ferroviária de Campolide.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 December 2019

Lojas de antanho: Pastelaria Marques e Bazar Suisso (Casa Saboia)

Propôs-lhe entrarem na pastelaria Marques. Aceitou. Só havia duas mesas de vago, ao fundo. Avançaram para a última. Um criado, de guardanapo no sovaco, casaca indiscretamente lustrosa, acercou-se, inquiriu: 

 

 — Chá preto ou verde

 — Queres ? 

 — Preto.

 — Traga preto.


Entremos agora nos n.°' 70-72 que, desde 1903, nos dão comunicação à Pastelaria Marques, de Manuel Marques & C.ª, hoje Manuel José de Carvalho, Lda., num edifício que tem interesse histórico por ter sido residência do marquês de Niza¹, e onde estiveram também instaladas a Casa Sabóia, a Perfumaria Francesa e o Turf-C1ub, entre outros. No decurso dos anos aumentou a sua área e chegou a ocupar os n” 66 a 78, dispondo de um grande salão para banquetes. Regista, nos seus anais, a convivência, em animados entretiens, de individualidades muito conhecidas, como o Dr. Pinto Monteiro, Machado Vieira, Dr. Mário Madeira, conde da Ervideira, Sebastião Teles, condes da Aurora, de Bobone, Lousã e das Alcáçovas, visconde do Zambujal, Ramada Curto, e outros.
Foi um dos edifícios afectados pelo incêndio de 1988 e hoje, recuperado, encontra-se aí uma galeria comercial.

¹ Marina Tavares Dias conta que o marquês de Niza, morador no edifício onde se encontrava a Marques, mandara chamar os galegos que por ali passassem e os obrigara a saltar da janela do 1° andar para a rua, dando-lhes depois moedas de ouro, que não foram recebidas porque os galegos tinham fugido.

Lojas de antanho: Pastelaria Marques e Bazar Suisso |c. 1910|
Rua Garrett, 70-72
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Onde hoje o leitor encontra a Pastelaria Marques, em pleno Chiado, existia então a conhecidíssima Livraria Gomes, fornecedora de Suas Majestades e Altezas, que se orgulhava de receber, para o cavaco, um escol de políticos e literatos.

Pastelaria Marques, rescaldo de incêndio  |1966|
Rua Garrett, 70-72; à dir., com o toldo escuro vê-se a Casa Sabóia, n.°' 66-68
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O Bazar Suisso encerrou por volta de 1910. Seguiu-se-lhe o florista J. Peixinho, Lda., com o seu Jardim de Lisboa, provindo da Rua do Carmo, n.° 49. Nos tempos modernos, nos históricos n.°' 66 e 68, entrou a Casa Sabóia, com lindos e vistosos artigos de novidade, um autêntico escrínio de beleza, que a mulher atenta e que gosta de bem vestir, não deixa de apreciar. A propriedade, da firma Matos, Correia & C.ª, estabeleceu-se por escritura de 19 de Dezembro de 1931
 
Casa Saboia  |1971|
Rua Garrett, 66-68
Joaquim Pereira Silvestre, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
COSTA, Sousa, Coração de Mulher, 1955.
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, p. 168, 1987.

Friday, 6 December 2019

Lojas de antanho: Jardim de Lisboa

Foi em fins de Dezembro  — noticiava, em 1911, a Ilustração Portuguesaque o sr. J. Peixinho, bem conhecido e antigo florista da Rua do Carmo, [49], inaugurou o Jardim de Lisboa, na Rua Garrett, [66]-68, um esplendido estabelecimento de completa novidade e mais um atractivo da nossa capital.

Para ser mundano, para ser galante, para ser cavaqueador, para ser político, romântico, ou estroina — o Chiado tem as suas livrarias, as suas casas de novidades, as suas tabacarias, os seus cafés, as lojas de moda, os doceiros e os floristas. [Araújo, 1943]

Jardim de Lisboa de J. Peixinho & Filhos, Floristas |ant. 1911|
Rua do Carmo, 49
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente.

Em perfumes, sedas, veludos, rendas e flores, foi sempre o Chiado que deu mostras do melhor gosto e da mais fina escolha. Os produtos fabricados, com requintes de arte, e as substâncias da natureza, tratadas com todo o carinho, pelos mais sabedores, mereciam a primeira fila das tentações da mulher. Os perfumes da Bénard e do Robert (da Rua Nova da Trindade), tinham prestígio e chegavam longe. Distinguindo a floricultura artificial, saída das mãos de artistas, há que exaltar o português Constantino José Marques, que obteve em Paris o título de «Rei dos Floristas». As suas prodigiosas flores, tão finamente imitadas do natural, vinham de longe para decorar as principais montras do Chiado. Tornaram-se moda as «flores constantinas».

Jardim de Lisboa de J. Peixinho & Filhos, Floristas |post. 1911|
Rua Garrett, 66-68; à esq. nota-se a montra da Pastelaria Marques
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, p. 252, 1987.

Wednesday, 4 December 2019

Profissões de antanho: o vendedor d'ostras

O pregão do homem das ostras é curto, sacudido, rijo como a concha do molusco. Vê-se que o vendedor d'ostras não pode perder tempo, por causa do que lhe gasta o abril-as:

 

— Quem quer ostras?

— Ostras, ostras!


Todas as tardes os homens das ostras as vinham vender, apregoando e cirandando por aí, quase sempre indivíduos de meia-idade para quem aquele fraco negócio ia dando para as necessidades da vida, então sem reforma. Normalmente eram homens que tinham sido do mar e junto deste, pela Margem Sul do Tejo, por Aldeia Galega (hoje Montijo) e proximidades, esgravatariam nos bancos de ostras os preciosos moluscos que vinham vender pelas ruas e aos restaurantes onde se cozinhavam bons pitéus.

Vendedores d'ostras |191-|
Rua da Misericórdia, antiga de S. Roque, esquina com a Tv. do Poço da Cidade. 
Alberto C. Lima, in Lisboa de Antigamente

No estrangeiro, sobretudo em Inglaterra e França, as nossas ostras foram sempre muito apreciadas, e neste último pais até apresentadas nos restaurantes com o aliciante letreiro: huítres portugaises.
A avolumar a fama das ostras portuguesas dizia-se que um navio que as levava para França naufragara perto da foz do Loire, e os moluscos, libertados dos caixotes, ter-se-iam fixado nos bancos daquele rio, cerca de Nantes, onde agora as exploram em viveiros, mas sempre com o cartaz de huítres portugaises!
É de lamentar que a poluição das águas do Tejo tenha acabado com as nossas ostras, o que não só fez desaparecer os vendedores que, melodiosamente embora em baixo tom, as apregoavam, como acabou um excelente petisco popular.

— Quem quer ostras?

— Ostras, ostras!

 

Marchand d'huitres |c. 1914|
Rua da Madalena, 271
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo.
 
Bibliografia
DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, p. 290, 1986.

Sunday, 1 December 2019

Algés, praia dos pescadores

Se queres dar, leitor, o mais bello dos passeios permittidos ao habitante de Lisboa — sugere Ramalho Ortigão — , faze o que eu hontem fiz.
Levanta-te ás 5 horas da manhã, n'um domingo, veste-te à luz do candieiro, porque em Setembro ainda não é bem dia a essa hora, pega na tua bengala e no teu binoculo e vae à ponte dos vapores ao Caes do Sodré. Tomamos um bilhete de ida e volta no vapor de Cascaes por dez tostöes. Ainda é cédo, o vapor não parte senão ás 7 horas. 

Algés, praia dos pescadores [entre 1885 e 1893]
De Pedrouços até Cascaes seguem-se quasi ininterrompidamente as differentes estações dos banhos. vem primeiro Algés, com a sua ponte e os Seus dois palacios. [Ortigão, 1876]
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente

Entramos no café Grego e fazemo-nos servir uma chavena de leite ou chá preto.
Os passageiros veem chegando em multidão ao caes. A ponte dos vapores enche-se de alegres e frescas toilettes de manhã. Lisboa madruga para fugir á calma e á semsaboria de um domingo de verão dentro da cidade. Enchem-se os vapores de Cacilhas e de Belem.
Embarcamos, accendemos um charuto, subimos à ponte do vapor. Magnifico espectaculo!
Diante de nés estende-seem toda a sua magestade, como um pequeno Mediterraneo, o bello Tejo, que scintilla Sob a bruma aquatica como um peito de aço coberto por um véu de gaze, batido pelo largo Sol. 
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Bibliografia
Ortigão, Ramalho, As Praias de Portugal - Guia do banhista e do viajante, 1876.
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