Propôs-lhe entrarem na pastelaria Marques. Aceitou. Só havia duas mesas de vago, ao fundo. Avançaram para a última. Um criado, de guardanapo no sovaco, casaca indiscretamente lustrosa, acercou-se, inquiriu:
— Chá preto ou verde ?
— Queres ?
— Preto.
— Traga preto.
Entremos agora nos n.°' 70-72 que, desde 1903, nos dão comunicação à Pastelaria Marques, de Manuel Marques & C.ª, hoje Manuel José de Carvalho, Lda., num edifício que tem interesse histórico por ter sido residência do marquês de Niza¹, e onde estiveram também instaladas a Casa Sabóia, a Perfumaria Francesa e o Turf-C1ub, entre outros. No decurso dos anos aumentou a sua área e chegou a ocupar os n” 66 a 78, dispondo de um grande salão para banquetes. Regista, nos seus anais, a convivência, em animados entretiens, de individualidades muito conhecidas, como o Dr. Pinto Monteiro, Machado Vieira, Dr. Mário Madeira, conde da Ervideira, Sebastião Teles, condes da Aurora, de Bobone, Lousã e das Alcáçovas, visconde do Zambujal, Ramada Curto, e outros.
Foi um dos edifícios afectados pelo incêndio de 1988 e hoje, recuperado, encontra-se aí uma galeria comercial.
¹ Marina Tavares Dias conta que o marquês de Niza, morador no edifício onde se encontrava a Marques, mandara chamar os galegos que por ali passassem e os obrigara a saltar da janela do 1° andar para a rua, dando-lhes depois moedas de ouro, que não foram recebidas porque os galegos tinham fugido.
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Lojas de antanho: Pastelaria Marques e Bazar Suisso |c. 1910|
Rua Garrett, 70-72
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Onde hoje o leitor encontra a Pastelaria Marques, em pleno Chiado, existia então a conhecidíssima Livraria Gomes, fornecedora de Suas Majestades e Altezas, que se orgulhava de receber, para o cavaco, um escol de políticos e literatos.
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Pastelaria Marques, rescaldo de incêndio |1966|
Rua Garrett, 70-72; à dir., com o toldo escuro vê-se a Casa Sabóia, n.°' 66-68
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
O
Bazar Suisso encerrou por volta de 1910. Seguiu-se-lhe o
florista J. Peixinho, Lda., com o seu
Jardim de Lisboa, provindo da Rua do Carmo, n.° 49. Nos tempos modernos, nos históricos n.°' 66 e 68, entrou a
Casa Sabóia, com lindos e vistosos artigos de novidade, um autêntico escrínio de beleza, que a mulher atenta e que gosta de bem vestir, não deixa de apreciar. A propriedade, da firma Matos, Correia & C.ª,
estabeleceu-se por escritura de 19 de Dezembro de 1931.
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Casa Saboia |1971|
Rua Garrett, 66-68
Joaquim Pereira Silvestre, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
COSTA, Sousa, Coração de Mulher, 1955.
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, p. 168, 1987.