Friday, 29 September 2023

Calçada Conde Penafiel: antigo pátio do Lindim (ou Landim)

Observa daqui aquele renque de casitas modestas, defendidas da Calçada por cortina de ferroantigo pátio do Lindim — , e que oferecem certo pitoresco. Debruçam-se, jeitosamente, sobre a serventia em curva; tal como aquela outra casa pequenina, na Travessa da Mata, pitoresca pela lei dos contrastes, estão certamente condenadas a desaparecer. [Araújo: 1938]

Calçada Conde Penafiel |1901-07-18|
Antigo pátio do Lindim (ou Landim) 
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

As barracas de que falámos há pouco, construídas em toda a encosta sobranceira ao actual Largo do Correio-mor, deram origem à formação de vários pátios. O maior, que se situava no local onde hoje campeia — numa reminiscência triste um renque de modestíssimas casas, foi, durante muitos anos, conhecido por pátio do Lindim (ou Landim), nome que adveio certamente do apelido do seu proprietário, pessoa que sabemos ter residido próximo, nas escadinhas de S. Crispim, no prédio n.º 11. [Andrade: 1945]

Sunday, 24 September 2023

Palácios dos Marqueses de Gouveia

Ora se os Portalegre e Gouveia foram sepultados na igreja do Convento de Santo Elói, é natural perguntar-se: onde seria, em Lisboa, o seu palácio?
O palácio já não existe, mas os vestígios e as referências são numerosos e com bastante interesse. 

Comecemos pela obra de Norberto de Araújo — Peregrinações em Lisboa:
Este outro prédio [vd. 1ª imagem], que antecede o que vai fazer esquina ao Arco de Jesus — recorda o ilustre olisipógrafo — , foi o famoso Palácio, à Ribeira, dos Duques de Aveiro. Não vale a pena perdermo-nos em genealogias. Duas palavras só.

Pertenceu este Palácio aos Marqueses de Gouveia, Condes de Portalegre, que foram também Condes de Santa Cruz e de Sandomil (século XVII) e depois ao Duque de Aveiro (Mascarenhas), o último dos quais, D. José, supliciado em Belém, era filho do 3.° Conde de Gouveia. Pela extinção da Casa de Aveiro é que este Palácio entrou, por herança, na Casa Lavradio (Mascarenhas, por linha feminina, pois o 1.º Marquês e Conde do Lavradio casara com uma filha do 3.º Marquês de Gouveia). 

 

O Terramoto desfigurou inteiramente o Palácio e o sítio. Na porta n.º 17 do prédio [por trás do camião na imagem abaixo], no Campo das Cebolas, se abrem as Escadinhas do Pátio do Lavradio, que conduzem ao Largo do Marquês do Lavradio a S. João da Praça, aonde iremos dentro de poucos minutos.
O palácio Lavradio desintegrou-se desta família no século passado, e era uma ruína transitou a novos proprietários.

Campo das Cebolas, 17 |193-|
Local dos Palácios dos Marqueses de Gouveia
No n.º 17 do prédio [por trás do camião] abrem-se as Escadinhas do Pátio do Lavradio; Rua da Alfândega
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Cá estamos Largo do Marquês do Lavradio. Aqui, como te disse, assentava a frente do Palácio dos Duques de Aveiro, depois dos Lavradios. O Terramoto destruiu tudo quási inteiramente. Este aspecto do sítio é do século passado [XIX].==

Diz Pastor de Macedo («Lisboa de lés-a-lés», IV, 47) falando deste Largo:
— Fora antes do Terremoto de 1755 o pátio do palácio dos Marqueses de Gouveia, Condes de Portalegre e de Santa Cruz, palácio, que ali, desde a Ribeira até à Rua de S. João da Praça se erguia há muitíssimo tempo. A primeira vez que o vimos citado é em 1654 [...] para depois passar a ser «ao Pátio do Marquês...» para depois passar a ser o Pátio do Conde de Santa Cruz, pelo menos desde 1702 a 1740 e o Pátio do Marquês de Gouveia ou do Marquês Mordomo-mor que era o mesmo titular tratado pelo seu cargo, desde 1744 até ao Terremoto. Desde então até à quarta década do século seguinte foi simplesmente, duma maneira geral, Pátio do Marquês e fugitivamente, desde 1789 a 1792, Pátio do Duque em lembrança do último Marquês de Gouveia ter sido o último Duque de Aveiro.
Passando de pois o palácio, por herança, para a casa dos Marqueses do Lavradio, o pátio passou a ser designado, em 1844, por Pátio do Marquês do Lavradio, até que por edital de 7 de Agosto de 1911 teve a categoria de Largo, ... »

Largo do Marquês do Lavradio |1901|
Local dos Palácios dos Marqueses de Gouveia
Arco e Escadinhas do Pátio do Marquês do Lavradio com ligação ao n.º 17 do Campo das Cebolas. Note-se as duas iniciais "CM" sobre o arco da entrada.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente
Escadinhas do Pátio do Marquês do Lavradio |c. 1945|
Local dos Palácios dos Marqueses de Gouveia
Pelo n.º 17 se passa da Ribeira Velha para o Largo do Marquês do Lavradio onde foi o pátio do palácio. Note-se os corrimãos de ferro, e o candeeiro de braço. Antes existiam aqui uma casas e barracas, aproveitadas das ruínas do velho Palácio dos Portalegres, Gouveias, Aveiros, Lavradios — sequência de herdeiros em conjunção de títulos.
Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

As Escadinhas são do século XVIII, anteriores ao Terramoto; oferecem uma certa curiosidade, nos seus dois aconchegados lanços guarnecidos de corrimãos de ferro, e com seu candeeiro de braço, no centro da serventia, a apontar um desenho, entre aguarela e água forte. Pertencem à Câmara Municipal, e sobre o arco da entrada lá estão as três iniciais: C. M. L.. ¹
¹ [em 1901 só se vial duas iniciais "CM" como confirma a imagem acima]

Segundo as informações de Júlio de Castilho, foi a vereação de 1867 quem mandou terraplanar e limpar o sítio, fazendo o largo e também a passagem para quem vinha das Cruzes da Sé e de S. João da Praça para o Campo das Cebolas, na Ribeira Velha.
O portal que tem o n.º 13 pertenceu ao palácio dos Marqueses de Gouveia e talvez seja o que foi mandado fazer pelo 3.º Marquês daquele título, D. Martinho Mascarenhas, 6.° Conde de Sandomil, ao qual alude Tomás Pinto Brandão nuns versos do Pinto Renascido («A Ribeira de Lisboa»):
Como todo Portugal
o vosso portal fui ver,
eu, senhor meu, lá fui ter,
porque o não tinha por tal.
Graças ao louvor tal qual,
que lhe dei com pouco alinho!
porque isso me abriu caminho
a tirar-vos de cortez,
o chapéu como a «Marquês»
e a capa como a «Martinho».
Faleceu o Marquês D. Maninho em Março de 1723; a ser pois, como é possível, o portal que ainda lá está de pé o que ele edificou, deve atribuir-se-lhe como data o primeiro ou segundo decénio do século XVIII. A verdade, porém, sabe-a o portal.==

Palácios dos Marqueses de Gouveia |1901|
Largo do Marquês do Lavradio, 13; Travessa dos Machados
Portal nobre, brasonado, de D. Martinho de Mascarenhas Marquês de Gouveia,
falecido em 1723 que escapou ao Terramoto de 1755. Corpo central mais alto no
qual se rasga uma varanda, conjunto de certa graça arquitectónica, do tipo setecentista,
mas ainda do espírito final de seiscentos.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, 1893.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 25-39, 1939.

Friday, 22 September 2023

Rua da Adiça — ou da Driça — que foi Calçada de S. João da Praça

Adiça (Rua d') — Na Estatística de 1552 figura esta rua com o nome Rua da Driça; é a actual calçada de S. João da Praça, compartilhada entre as freguesias de S. Pedro e S. Miguel. Cristóvão Rodrigues de Oliveira menciona-a no seu Sumário e bem assim o Livro das Plantas. {Brito: 1935]

O Sítio da Adiça — recorda Norberto de Araújo — nasce nas Portas do Sol e morre em S. Rafael. Fica-lhe pelo dorso torcicolado — a Galé, essa maravilha humilde da Rua da Galé, que liga, por igual, a Adiça ao coração de Alfama. Adiça! Que graça arcaica de legenda toponímica! Hoje [1939] chama-se Calçada de S. João da Praça. Os velhos do lugar só sabem onde fica a Adiça. Eis um dos mais típicos e generosos compartimentos alfamistas.
(ARAÚJO, Norberto de, «Legendas de Lisboa», p. 164, 1943)

Rua da Adiça — ou da Driça — que foi Calçada de S. João da Praça |1942|
Ao fundo nota-se o dístico camarário com a denominação — Calçada de S. João da Praça.
O prédio em último plano. ja demolido, pertencia à Cadeia do Limoeiro. (vd.2ª imagem)
A denominação de Rua da Adiça já vem mencionada no Summario de C. R. de Oliveira (1551).
Helga Schmidt-Glassne, in Lisboa de Antigamente

Por sua vez, e de acordo com José Pedro Machado, a Rua da Adiça foi buscar a sua designação ao sentido de “mina” e estaria relacionada com uma mina escavada pelos sitiantes, aquando da tomada de Lisboa aos Mouros por Dom Afonso Henriques. Esta mina, escavada por baixo da Cerca Moura, foi cheia de lenha a qual ateada provocou a derrocada da muralha e facilitou o acesso ao seu interior.

Rua da Adiça — ou da Driça — que foi Calçada de S. João da Praça |1960|
Ao fundo nota-se o dístico camarário com a primitiva denominação — Rua da Adiça. 
Rua da Adiça passara a Calçada de S. João da Praça, por deliberação e edital da 1893.
Por Edital de 1956, a Calçada de São João da Praça desde o seu início até aos n.ºs 51 e 68
voltou a denominar-se Rua da Adiça, passando o restante troço até ao
Salvador de Almeida Fernandes, in Lisboa de Antigamente
 
Pastor de Macedo afirma que o arruamento já se encontra com este nome em 1470 e Gomes de Brito escreve que o arruamento, na Estatística de 1552, aparece com o nome de Rua da Driça.
Por seu turno David Lopes adianta outra explicação para este topónimo - "É vocábulo árabe, Addica, nome de certa espécie de "junco" comestível para os cavalos e utilizável para a cordoaria (...)".

Rua da Adiça — ou da Driça — que foi Calçada de S. João da Praça |1901|
Ao fundo corre a Rua de S. João da Praça notando-se a pitoresca Torre de Alfama sobre o Largo
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 17 September 2023

Rua de São Miguel

Miguel (rua de S.) principia na rua de S. Pedro, antes da rua da Galé [Largo de São Rafael], atravessa o largo de S. Miguel, e finda na rua da Regueira, freguezias de S. Miguel 14 a 82 e 1 a 105, S. João da Praça 2 a 12. [Velloso:1869]

Voltando agora a E. — reza Guia de Portugal (1924) — , à rua de S. Miguel, de aspecto curiosíssimo, deve notar-se a série de estreitíssimos becos que nela desembocam, um dos quais (o da Bicha) pouco mais tem que dois palmos de largura. No n.º 1 casa interessante. A certa altura abre-se na rua o largo de S. Miguel, que oferece um aspecto típico de logradoiro quinhentista, e onde se ergue, quasi intacta, a igr. de S. Miguel, constr. em substituição da que o terramoto destruiu. É de uma só nave, com quadros atribuídos a Bento Coelho.

Rua de São Miguel N-S |c. 1900|
Nesta cena de rua, tendo como pano de fundo a velhinha igr. de S. Miguel.
contracenam o incontornável aguadeiro com a barrica ao ombro, o vendedor de azeite com
o seu burrico e, surgindo do Beco da Cardosa, o limpador de candeeiros com uma lanterna
às costas
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Esta Rua de Alfama, que vai do Largo de São Rafael até à Rua da Regueira, deriva  seu topónimo da Igreja de São Miguel, que começou a ser construída cerca de 1150, sendo a Freguesia da mesma invocação criada em 1180 e, assim a Rua de São Miguel funcionou como uma típica rua Direita medieval deste local.

Rua de São Miguel, junto ao Beco da Formosa |c. 1920|
Ao fundo nota-se a torre sineira da Igreja de Santo Estevão
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday, 15 September 2023

Rua de São Nicolau: «O Gato Preto»

A origem do topónimo radica da proximidade à antiga Igreja de S. Nicolau que foi reedificada pela primeira vez em 1280 e após o Terramoto, quase foi construída toda de novo, com obras que decorreram de 1780 a 1850.

Rua de São Nicolau: «O Gato Preto» |c. 1910|
Vulgo do Arco do Bandeira  que também se chamava do Pote das Almas, por ter uma pia de pedra com agua para os transeuntes beberem, com um mealheiro das almas por cima. [Mesquita: 1903]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A loja «O Gato Preto», no princípio deste século ultra-civilizado {1893] abria as suas portas na Rua dos Sapateiros [antiga do Arco do Bandeira] perto da Rua da Vitória e era nela que se vendia a louça [e as cavacas[ que o Rafael Bordalo mandava das Caldas. Em 1909 encontrava-se estava instalada na Rua de São Nicolau, 107-111, hoje116-119[Sequeira: 1940]
Narra o Diário Ilustrado que numa fita sobre o parlamento americano, um deputado diz ao presidente: “As verdadeiras cavacas das Caldas só no Gato Preto perto da Rua da Vitória.

Publicidade na revista "O Branco e Negro", de 26 Março 1899 e Diário Ilustrado de 1909
Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905( tinha uma adoração especial por gatos. O próprio, em história aos quadradinhos no jornal “António Maria” confessa ter sido “gato noutra encarnação”. Da homenagem à sua gata Pili ao assanhado gato preto, são muitas as figuras que o representam.

Sunday, 10 September 2023

O Cine-Pátria no Palácio Lafões

Cinema inaugurado em 1917 no piso térreo do Palácio Lafões como «Animatógrafo do Beato», tendo mais tarde mudado o nome para «Cine-Pátria», que se manteve em actividade, com interrupções, até à década de 1980 e, no auge da sua popularidade, chegou a ter 447 lugares.

Cine-Pátria, baixos do Palácio Lafões |1967-02|
Rua do Grilo, 46
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

A edificação do Palácio dos duques de Lafões, sito na Calçada do Duque de Lafões, 1-5, e Rua do Grilo, 34-54, ao Beato, iniciou-se cerca de 1777 por encomenda do D. João Carlos de Bragança,  2-º duque de Lafões — aquele a quem se deve a criação da Academia das Ciências

Era uma figura bem interessante este 2.° Duque de Lafões, com prosápia de nobreza e sangue real, mas culto, sábio mesmo, valente, decidida, militar combatente nas guerras entre a Áustria e a Prússia. Percorreu todas as côrtes da Europa, num grande desdém pelo desdém que lhe votava Pombal, viajou pela Asia e África, só voltando à pátria quando D. Maria I subiu ao trono, e recebendo então o título de 2.º Duque, que lhe era devida.
Foi estadista e homem público, e aos 82 anos era ainda general-marechal comandante do exército português.
Palácio Lafões (ou do Grilo), fachadas S. e E. |1974|
Rua do Grilo, 46
E.K., in Lisboa de Antigamente
Palácio Lafões (ou do Grilo) |195-|
Rua do Grilo, 46
Um aspecto do pátio vendo-se as frontarias Poente (primitiva) e Sul (Séc. XIX).
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

O Palácio Lafões, com uma bela quinta anexa, ocupa uma área, relativamente grande, limitada a Sul pela Rua do Grilo, a Nascente pela Calçada do Duque de Lafões, a Norte pelo jardim, e a Poente pelas instalações da antiga Manutenção Militar, que foram antigo jardim e hortas. Apresenta em planta um aspecto aparentemente confuso, mas o corpo primitivo, sobre a antiga estrada, a Poente, é nitidamente regular.
O interior do Palácio Lafões distingue-se pelo seu carácter do final do século XVIII na parte primitiva, a Poente, cujas salas diferem em muito das da parte Norte, já do século XIX na ala sobre os jardins grandes e antiga mata.
Na primeira metade do século passado, quando o rio chegava quase à base Sul do Palácio, existiu ali um cais chamado dos «Duques».

Palácio Lafões (ou do Grilo) |195-|
Rua do Grilo
Fachada Norte sobre os antigos jardins que corresponde às salas principais.
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa, 2012
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1950.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, pp. 69-69, 1939.

Friday, 8 September 2023

Rua Luís de Camões

Está muito longe, porém, de ser digna do nome do poema poeta épico que nela se consagra. 
[Araújo: 1939]


Topónimo atribuído em 20 de Maio de 1880 por deliberação da Câmara de Belém, que então existia, no ano em que se comemorava o 3º centenário da morte do poeta.
Até aí esta artéria designava-se Rua do Bairro Novo do Calvário, partindo da Rua de S. Joaquim ao Calvário (hoje Rua 1º de Maio) em frente da estação dos Caminhos de Ferro Americanos (hoje Carris), em direcção à Estrada da Tapada.

Rua Luiz de Camões, junto à Estação de Sto. Amaro |1915|
Antiga «do Bairro Novo do Calvário»
Legenda no arq.: «A Guarda Nacional Republicana defende a ordem pública por ocasião da greve do pessoal da Carris»
 Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Porque na época, Lisboa e Belém eram dois concelhos distintos foi possível em ambos homenagear numa artéria o autor de «Os Lusíadas».

Rua Luís de Camões |1962|
Antiga «do Bairro Novo do Calvário»
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 3 September 2023

Palácios Rio Maior

Este local, ainda no século XVI, era fora de portas e, a Rua dos Condes, mais não era que uma viela, prolongamento da actual Calçada da Glória. A norte, no quarteirão que parte do actual Largo da Anunciada, edificou-se o palácio dos Condes da Ericeira [mais ou menos onde ainda hoje se encontra o Cinema Condes], cujos jardins e hortas se estendiam até à Rua dos Condes; a sul, existiu o antigo solar dos Condes de Castelo Melhor; e, ao fundo, na Rua das Portas de Santo Antão, a casa dos Condes Povolide [Ateneu Comercial de Lisboa], o que justifica plenamente, o nome da rua.

Em seguida ao Ateneu — reza o Guia de Portugal — ficam duas casas nobres que pertenceram aos Gomes da Silva, ricos fidalgos lisboetas do séc. XVII. Aí se fizeram brilhantes iluminações quando da entrada da rainha D. Maria Francisca Isabel de Sabóia.

Palácio Rio Maior, 120-124 |1968|
Rua das Portas de Santo Antão, antiga Rua Eugénio dos Santos [até 1956] 
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Mais dois palácios, do velho tempo, se seguem do nosso lado esquerdo — diz Norberto de Araújo — , ambos da Casa do Marquês de Rio Maior, e separados apenas por um jardim, acima do alto muro. O primeiro, estes n.ꟹ 120 a 124 [vd. 1ª imagem], teve história em Lisboa; nasceu nele o Duque-Marechal de Saldanha, João Carlos de Saldanha de Oliveira Daun. O segundo [n.ꟹ 112 a 116], mais pequeno, conhecido no sítio pela designação de «Palácio da Marquesa Viúva», foi herdado pelo sobrinho, o actual Marquês de Rio Maior; nele habita o Conde das Alcáçovas.

Palácios Rio Maior, «Palácio da Marquesa Viúva», 112-116 |1968|
Rua das Portas de Santo Antão, antiga Rua Eugénio dos Santos [até 1956];
Ateneu Comercial de Lisboa; Cinema Odeon. 
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Defronte destes palácios abre um Pátio do Tronco, local sem saída entre traseiras de prédios, descaracterizado, e que evoca uma cadeia do «Tronco», que aqui existiu (embora nem sempre fosse neste sítio), e na qual é tradição que esteve preso Camões quando «espadachinou» certo criado de casa nobre, que o afrontara.
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Bibliografia
Ocidente: revista portuguesa de cultura, vol. 75, p. 91, 1986.
Guia de Portugal, p. 255, 1924.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 97, 1939.

Friday, 1 September 2023

Ermida da Caridade

À entrada das Cruzes da Sé, junto ao largo, e à nossa direita — vês? — está um pequeno edifício, hoje sede da freguesia da Sé e S. João da Praça (freguesias reunidas desde 1885). Foi a Ermida da Caridade, construída em 1747, arruinada pelo Terramoto, e reedificada uns anos depois.
A sua fachada atesta claramente — recorda o ilustre Norberto de Araújo — o fundamento religioso em sua pequena torre sineira, seu tímpano e pórtico, sob o qual está a legenda "Caridade Geral", em maiúsculas.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, p. 52, 1938)

Ermida da Caridade |1901|
Cruzes da Sé
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente
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