O animatógrafo Chiado Terrasse foi inaugurado a 12 de Junho de 1908,
na chiquérrima Rua António Maria Cardoso [antiga doTesouro Velho, até 1890]. Era um Animatógrapho ao ar livre como se pode perceber pela noticia publicada
na véspera da sua inauguração oficial:
Chiado Terrasse: A novidade da semana é a inauguração do novo animatógrapho, ao ar livre, da rua do Thesouro Velho. Os proprietários do Chiado Terrasse contractaram uma excelente orquestra de distintos professores, para que todas as noites ali haja um magnífico concerto musical. No dia da inauguração, que só se realiza amanhã, apresentam-se sete quadros novos em Portugal. O prazível recinto será profusamente iluminado a luz eléctrica, devendo produzir óptimo efeito.
(in O Século, 11 de Junho de 1908, p. 3)
No início do século «numa altura em que o cinema, entre nós, procurava impor-se à atenção do público» [Costa: 1987], reconstruído em 1911 e restaurado em 1925, o animatógrafo — do qual existe registo fotográfico da autoria de Benoliel —, é um edifício
sóbrio, térreo, com o pano da fachada na continuação do muro do Palácio Quintela, quase como um prolongamento e com ele se confundindo,
distinguindo-se pela fenestração contínua (onde se incluíam quatro vãos
cegos destinados a afixar os cartazes), envazamento de cantaria, e, ao
centro, um corpo alteado terminado por frontão triangular e que abrigava
uma galeria fotográfica.
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Animatógrafo Chiado Terrasse [ant. 1911] Rua António Maria Cardoso; ao fundo, o novo chafariz do Loreto. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
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Animatógrafo Chiado Terrasse [ant. 1911] Rua António Maria Cardoso, antiga do Tesouro Velho Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
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O Chiado Terrasse, propriedade de Albino José Baptista. o proprietário do 92 [vd. 2-ª imagem] sendo secretário
Sabino Correia Jr, era destinado a um público mais aristocrata, uma vez
que os espectadores dispunham de um serviço de restaurante.
Foi o
primeiro «cinema», especialmente construído para o efeito, em Lisboa.
Transformou-se desde o início numa das mais importantes salas de Lisboa,
pelas suas instalações, pelos seus programas, pela sua variedade, não
esquecendo o êxito do animatógrafo «falado».
Em 1910, o arquitecto Tertuliano de Lacerda Marques
(1833-1942) assina o projecto, não ao acaso designado de «Alterações»,
destinado ao melhoramento do animatógrafo da empresa Chiado Terrasse: as
estruturas existentes são aproveitadas, redesenhando-se a fachada mas
construindo-se todo o interior a partir de três espaços diferenciados -
um pequeno palco com camarins ao nível da sala, área superiormente
ocupada pela galeria fotográfica, seguindo-se depois a plateia e o
"promenoir" (esplanada), este sob o balcão, tendo no topo um pátio aberto,
disfarçado para a rua com o corpo da fachada onde se localizam as
bilheteiras.
Em 1911/1912, é inaugurado o cinema com a frontaria que
hoje conhecemos [vd. 3ª foto].
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Animatógrafo Chiado Terrasse [1912] Rua António Maria Cardoso Em 1911, o arquitecto Tertuliano de Lacerda Marques (1833-1942) redesenhou a fachada, em gosto mais erudito, fim-de-século. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
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Animatógrafo Chiado Terrasse, bilheteiras [1912] Rua António Maria Cardoso e, ao fundo, a R. Nova da Trindade Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
A partir de 1916, os responsáveis deste espaço passaram a ser António
Augusto Tittel e Alberto do Valle Colaço. Começam logo por fazer
transformações no edifício, dando-lhe o aspecto exterior que manteria
até ao seu encerramento [vd. 4ª foto], bem como a construção de um pequeno palco, que
seria utilizado mais tarde por uma companhia de revista. Pouco tempo
depois, mudou novamente de mãos, passando para a responsabilidade de
Arthur Emúz. Em 1921 passou a apresentar também números de variedades.
O sr. Augusto, de maré, dá-lhes dinheiro e eles levam-na ao Chiado Terrasse. A Ryala, que nunca imaginou que tal coisa pudesse existir, enche a sala de brados de assombro e risos descompassados. Há uma comédia de Max Linder e uma fita de peles-vermelhas Ao ver surgir pela frente em pleno Far-West, entre cavalgadas, frechadas e tiros, uma locomotiva que avança a todo o vapor sobre a audiência, não há quem a segure: um grito de terror, um salto de cabra, e a Ryala abala a fugir, para não ser esmagada pelo trén! Esta noite foi ela a heroína do Far-West ao alto do Chiado.
(Miguéis, José Rodrigues (1901-1980), A Escola do Paraíso, 1960)
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Carro de propaganda do cinema Chiado Terrasse [1911] Largo do Chiado; Palácio do Loreto
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Em 1972 o Chiado Terrasse cessa actividade e no final da década um
projecto para transformação do cinema em edifício de escritórios conduz à
lamentável demolição dos interiores.
Actualmente, do imóvel original já pouco resta para além da fachada.
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Cinema Chiado Terrasse [1961]
Rua António Maria Cardoso
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, 1987.
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