Monday, 30 November 2015

Avenida das Forças Armadas

A 30 de Dezembro de 1974, a Câmara Municipal de Lisboa numa perspectiva clara de mudança toponímica, eliminando indícios referentes ao regime Salazarista, passou a denominar à Avenida 28 de Maio, Avenida das Forças Armadas. A homenagem é efectuada ao MFA (Movimento das Forças Armadas) contribuiu para o êxito do 25 de Abril de 1974

Avenida das Forças Armadas  [1951]
Antiga Avenida 28 de Maio
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O movimento militar de 28 de Maio de 1926 foi protagonizado sobretudo por militares e civis antiliberais (embora estivessem também implicados elementos do Partido Democrático), que provocou a queda da Primeira República Portuguesa e instaurou a Ditadura Militar. 
Devido a um crescente descontentamento dos portugueses com a política do Partido Democrático que, desprovido da sua ala radical, se tornou num partido conservador e corrupto, alheio às causas da justiça social dos trabalhadores, vários grupos conspiraram contra o Governo. Esta actividade resultou no movimento militar que eclodiu em Braga, sob a direcção do general Gomes da Costa (1863-1929), que ficou conhecido como o 28 de Maio de 1926. Os protagonistas foram os militares da 8.ª Divisão, que marcharam sobre Lisboa, levando à queda do Governo e ao fim da Primeira República.
 
Avenida das Forças Armadas [1968]
Cruzamento Com a Avenida Cinco de Outubro
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 29 November 2015

Palácio Mitelo

Exemplar de arquitectura residencial, barroca, este palácio tem a sua génese numas casas nobres da primeira metade do séc. XVII, existentes no então denominado Campo do Curral.
Do Palácio Mitelo, sabe-se que era habituado no século XVII por D. Guiomar Nunes Correia, e que em 1672, era propriedade de Manuel Francisco Mendes, que realiza importantes obras de alteração, quer na construção, quer nos jardins.

Panorâmica sobre o Campo dos Mártires da Pátria, Largo do Mitelo e Largo do Mastro [Início séc. XX]
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Em 1737, a casa muda de família, e é vendida ao Desembargador Alexandre Metelo de Sousa e Meneses.
Não sofreu muito com o terramoto, sabendo-se que, nessa altura, pertencia a Laureano Gonçalves da Câmara Coutinho. O Palácio foi vendido várias vezes, e foi aqui que faleceu em 1865, o Conde de Vimioso.

Palácio Mitelo [c. 1900]
Largo do Mitelo, 1-2; Largo do Mastro, 27-28; Rua da Bempostinha, 2-4
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Segundo Gomes de Brito, no mesmo palácio moraram o Conde da Lapa e o Marquês de Pomares, que foi Presidente da Câmara de Lisboa. A ermida do palácio do desembargador Metelo também foi o local de acolhimento do Santíssimo Sacramento da Igreja dos Anjos após 1755 e até à reconstrução do templo.

Palácio Mitelo: Rua da Bempostinha, 2-4  [c. 1900]
Painel de azulejos
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 28 November 2015

Grémio Literário, restaurante: «Canard à la presse»

Rua Ivens, Grémio Literário
Antiga de S. Francisco, in Lisboa de Antigamente

Mais de um século após a sua fundação, o Grémio conseguiu atingir os objectivos traçados por Alexandre Herculano, afirmando-se como uma instituição multidisciplinar, aberta ao exterior.
Estabelecendo parcerias com entidades tão variadas como o Clube Português de Imprensa, o Diário de Notícias ou o Clube de Artes e Ideias, o Grémio passou a receber acesas conferências, concertos animados, mostras de filmes inéditos. jantares de gala e actividades gastronómicas, contando para isso com um restaurante de qualidade.
«Canard à la presse» ou «pato prensado» é uma das receitas mais famosas da cozinha francesa. A tradição manda ser confeccionada numa prensa de prata. Existem poucas em todo o mundo e uma delas está no restaurante do Grémio Literário.
AVISO: filme não recomendável para «estômagos» mais sensíveis.

Palácios da Rua de São José, 10-42

O topónimo advém de uma ermida aqui erguida no século XVI dedicada a S. José. No meio das quintas, hortas, e olivais que existiam no norte da cidade, os oficiais de pedreiro e carpinteiro fundaram uma ermida e chamaram-lhe igreja ou ermida de «S. José de entre as hortas» ou de «S. José dos Carpinteiros». Em 1567 o Cardeal Infante D. Henrique instituiu uma nova paróquia que titulou com o nome do santo.
O conjunto de edifícios, de estrutura autónoma e distintos entre si, distribuídos ao longo da Rua de São José (10-42) até ao Elevador do Lavra, incluindo os jardins privativos existentes nos espaços intermédios, encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público.

Conjunto de prédios da Rua de São José, 10 a 42 [1900]
À dir. o Palácio das Pedrosas n.º, 12-20
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O edifício com o nº 12-20 [o primeiro à direita na 1ª foto], Palácio das Pedrosas, foi construído em 1764, para residência e panificação do comerciante italiano Tomás Mongiardino, em terrenos aforados por Joaquim Miguel Lopes de Lavre, a Norte do seu palácio. Em 1785 Joaquim Lavre adquire toda a propriedade do edifício que, em 1800, conjuntamente com o contíguo palácio da família [Palácio Lavre ou «Lavra»], é posto à venda pelos seus herdeiros, sendo o conjunto comprado pelo comendador Manuel José da Silva Franco, que nele executa obras conferindo-lhe a sua feição neo-classicista. A fachada apresenta uma estrutura marcada pela disposição de inúmeras janelas, a espaços regulares, tendo sido rasgado ao centro um magnífico portal de gosto tardo-barroco, com volutas que enquadram um pequeno entablamento com escudo em alto-relevo [2ª imagem]. Em 1831 é vendido, em hasta pública, ao desembargador José António Silva Pedrosa, que realiza novas obras. Na sequência de uma penhora, em 1860, é adquirido pelo morgado de Alfeizerão, José de Oliveira de Sousa Leal, que o arrenda para funcionamento dEscola Nacional (1869). Em 1885-86, o então proprietário, Alfredo de Oliveira Sousa Leal, procede a obras que alteram profundamente o edifício. Em 1912 é arrendado à Administração Geral dos Correios e Telégrafos recebendo a curiosa designação de Palácio dos Correios. Em 1994, já propriedade dos CTT, é alvo de obras de conservação do edifício. A tardoz, desenvolve-se um extenso jardim construído em socalcos, cujos terraços são dotados de grades e varandas em cantaria.

Palácio Lavre ou Lavra [c. 1940]
Aqui esteve instalada, desde 1869, a  Antiga Escola Nacional e depois a Administração Geral dos CTT.
Rua de São José, 10
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O edifício com o nº 22-42 [o segundo, ao fundo à direita, na 1ª imagem], de estrutura mais antiga e gosto pombalino, é composto por dois corpos distintos adossados: um de três pisos, animado pelo rasgamento de vãos rectos de sacada e outro de quatro pisos, mais um 5º piso recuado (posteriormente acrescentado), rasgado por vãos em arco abatido, sendo os do 1º andar de sacada. Ambos os corpos são rematados por platibanda. Organizado em torno de um pátio interior rectangular, acede-se ao seu interior através de uma porta monumental em arco de volta perfeita rasgada no corpo mais baixo do imóvel. Por sua vez, entre o 2º e o 3º pisos do corpo mais alto do edifício podemos observar a pedra de armas da Ordem Soberana de Malta.

Palácio das Pedrosas (Administração Geral dos CTT) [c. 1912]
Rua de São José, 12-20 (ao fundo vê-se o  Palácio Lavre ou «Lavra»  no n.º 10)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 27 November 2015

Convento de São Francisco de Xabregas ou Convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas

   Neste sitio exacto [Rua de Xabregas] se elevava na segunda metade do século XIII o Paço — melhor diríamos «pousada» — real de D. Afonso III, o Rei que fez de Lisboa capital do Reino (1255-1256), e que nela foi o primeiro a demorar —diz Norberto de Araújo.
   Este Paço foi posto em fogo pelos castelhanos do Rei D. Henrique II, que sitiaram Lisboa em 1373.
   Passados oitenta e dois anos (1455), durante os quais as ruínas se converteram em velhacouto, D. Afonso V doou estes seus terrenos e despojes de casas a D. Guiomar de Castro, Condessa de Atouguia, para esta dona fundar, como era seu desejo, um Convento de Franciscanos, da província do Algarve, intitulado de Santa Maria de Jesus; em 1460 estava a Casa construída com a ajuda de esmolas do povo, e para ela entraram em 17 de Abril nove frades vindos da Ilha Terceira. 
   A Igreja guardava algumas belas obras de arte, entre as quais um retábulo da Virgem de Guido Reni. O Terramoto reduziu tudo a cinzas. Construiu-se depois novo Convento, cuja Igreja tinha a fachada que ali vês.  

Desenho do Paço de Xabregas e parque [1571]
Da obra de Francisco de Holanda, «Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa»
   
   Em 1834 os seráficos franciscanos, como todas as congregações, foram eliminados da vida conventual. A Igreja foi profanada. Algum tempo depois o casarão serviu de quartel a Infantaria 1, depois aos artífices engenheiros, e ainda ao Batalhão Naval que, em 1839, passou para o Quartel de Alcântara. Em 29 de Julho desse ano decretou o Governo estabelecer em parte do edifício uma Penitenciária ou Casa de Correcção, projecto insólito que não teve realização; foi nessa época também arrendado o antigo Convento à Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonenses, que mal o habitou.  

A antiga Fábrica de Tabacos de Xabregas [1859]
Em primeiro plano, uma fragata com a bandeira da monarquia portuguesa, sobressaindo entre outras embarcações de pequeno porte. No lado esquerdo, vê-se o comboio a passar sobre a Ponte de Xabregas, cujo primeiro troço do Caminho-de-ferro do Norte foi inaugurado em 1856.
Óleo s/ tela, J. Pedrozo, in Palácio Pimenta

Em 12 de Janeiro de 1844 um incêndio devorou o edifício quási integralmente, escapando a Igreja, já profanada e algumas dependências. A fábrica de tecidos arrumou-se durante uns meses no vizinho Palácio Niza, e em 1846 instalou-se no princípio da Junqueira. 

Em 1845, a Fábrica dos Tabacos Lisbonense, estabeleceu-se no antigo Convento de Xabregas.

   Em 1845, enfim, estabeleceu-se neste edifício de Xabregas a Fábrica dos 'Tabacos Lisbonense, e, após o período da Regie, passou ela (1891) a ser da Companhia dos Tabacos de Portugal, e, finalmente (1927) da Companhia Portuguesa de Tabacos.
   Claro que nestes períodos o edifício beneficiou de reparos, e foi ampliado com o prédio que faz a esquina poente da Fábrica.»
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, pp. 56-57, 1939)

N.B.  A partir de 1962 a fábrica vai para o novo edifício na avenida Marechal Gomes da Costa. Na década de 1980 — na antiga igreja - esteve instalado o Teatro Ibérico.

Convento de S. Francisco de Xabregas, Rua de Xabregas [1944]
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Thursday, 26 November 2015

Avenida Infante Santo

Conforme o Edital de 13 de maio de 1949 «o arruamento em construção, que ligará a Avenida 24 de Julho à Estrela, compreende parte da Rua Tenente Valadim, desde o término da curva do prédio do Estado (Instituto Maternal); parte da Travessa dos Brunos prédios nºs 22 e 24 e, ainda, a Rua da Torre da Pólvora passou a ser a Avenida Infante Santo

Avenida Infante Santo [195-]
Blocos residenciais em construção.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Avenida Infante Santo [1958]
Blocos residenciais em construção.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Avenida Infante Santo [1959]
Blocos residenciais em construção.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Campo Grande, 376

Em 1838, nos edifícios da, agora, «Universidade Lusófona», é inaugurada a «Lusitânia», também conhecida por «Fábrica de Lanifícios do Campo Grande», criada por Aniceto Ventura Rodrigues.

A «Lusitânia», empresa de cardação, fiação, tecidos e acabamentos, nasce assim em plena revolução industrial. Em 1848 já era uma das maiores fábricas de Lisboa, precursora da mecanização na indústria de lanifícios em Portugal, possuía uma máquina a vapor de 24 cavalos, empregava mais de 150 funcionários e dava trabalho a mais de 450 operários fora da fábrica, o que a colocava entre as 50 maiores empresas do país, em número de trabalhadores. 
Desactivada na década de 1920. Nos anos 30 os edifícios foram convertidos em instalações militares. Em 1995-96, a Universidade Lusófona começa a leccionar no edifício
 
Feira de gado no antigo Campo 28 de Maio [c. 1914]
Igreja dos Santos Reis Mago
Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House
(local não identificado pelo fotógrafo)

A Feira-mercado do Campo Grande que, no século XIX, chegou a ser um acontecimento importante na vida de Lisboa, era, ao contrário da maior parte das outras feiras, de fundação relativamente recente, criada, por autorização camarária datada de 1778. A Feira do gado que lhe andava ligada realizava-se na faixa oriental, entre a Igreja dos Santos Reis Magos e a Fábrica de Tecidos Lusitânia. Nela eram transaccionados bois, cabras, cavalos, jumentos, carneiros e gado suíno. Foi transferida para o Lumiar em 1902, transitando depois para o Campo Pequeno, voltando novamente ao Campo Grande. Em 1932, foi de novo para o Lumiar até à data da sua extinção.

Feira de gado no antigo Campo 28 de Maio [c. 1914]
Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House
(local não identificado pelo fotógrafo)
Feira de gado no antigo Campo 28 de Maio [c. 1914]
Lusitânia», também conhecida por «Fábrica de Lanifícios do Campo Grande».
Charles Chusseau-Flaviens, in George Eastman House
(local não identificado pelo fotógrafo)

Wednesday, 25 November 2015

Palácio Linhares: Calçada de Arroios, 53

Instituto Militar de Arroios para a Reeducação dos Mutilados de Guerra, Palácio dos Condes de Linhares e antigo Convento dos Padres Lazariscas.


«Nos princípios do século XVIII denominavam-na Calçada de Alvalade (Corogr. Port., vol. III, pág.293), denominação ainda em uso ao tempo do terremoto. O nome era-lhe dado em razão da calçada comunicar com Alvalade (Campo Grande e Campo Pequeno)
(Luís Pastor de Macedo, «Lisboa de Lés-a-Lés», vol. I, p. 180, 1940)

Na Calçada de Arroios ficava a Capela de Nossa Senhora do Pópulo, pertença do Palácio dos Condes de Linhares. Por morte do último titular, foi vendido este edifício, à Casa Palmela, que o cedeu aos Padres da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo, mais conhecidos por «Padres Lazariscas», que, na Páscoa de 1902, instalaram ali, provisoriamente, o seu colégio de preparatórios (Escola Apostólica). Por ocasião do movimento revolucionário de 5 de Outubro de 1910, estes padres foram bastante maltratados. Dois deles, O Estado tomou conta do edifício que albergou, por algum tempo, o Instituto Militar de Arroios dos Inválidos da Grande Guerra, e foi demolido em 1937, para dar lugar a uma rua e a construções modernas.
Por altura de obras efectuadas na igreja paroquial (1895-1897 ), celebraram-se lá, os actos de culto da freguesia.
Depois, na posse dos padres da mencionada congregação, a capela passou a ser dedicada a Nossa Senhora das Graças ou, melhor, à Virgem da Medalha Milagrosa, cuja Imagem estava na capela-mor. Nos altares laterais foram colocadas as de São Luís, Rei de França e da Virgem Poderosa, respectivamente do lado do Evangelho e da Epístola.

Calçada de Arroios, 58 [c. 1900]
Portão brasonado do antigo Palácio dos Condes de Linhares; ao fundo, a Rua Visconde de Santarém.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

O Instituto Militar de Arroios foi fundado em 11 de Abril de 1917 pela Comissão de Assistência aos Militares Mobilizados, da Cruzada das Mulheres Portuguesas. Regulamentado no mesmo ano e entregue à direcção do capitão-médico Alfredo Tovar de Lemosue fez a “modificação mais radical de esse labirinto de estreitos corredores, quartos, quartinhos em pisos diversos, verdadeiros remendos de construção, num edifício moderno, confortável, cheio de ar e luz”. O instituto destinava-se a receber, tratar e reeducar profissionalmente os mutilados de guerra, por forma a facilitar a sua reintrodução social e laboral. Concebido como organismo temporário, seria extinto em 1922. [Revista municipal Lisboa, 1960]

Calçada de Arroios, 58 [1917]
Portão brasonado do antigo Palácio dos Condes de Linhares; ao fundo, a Rua Visconde de Santarém.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Grémio Literário (Palacete Loures)

«O  que  mais  o contrariava  era  deixar  aquele  arranjinho  da  rua  de  S.  Francisco.  Que  ferro! agora que aquilo ia tão bem, o gajo no Brasil, e ela ali, à mão, a dois passos do Grémio!...»

(QUEIROZ,  Eça de, Os Maias, 1888)


O Grémio Literário foi criado por carta régia de D. Maria II em 18 de Abril de 1846 — «considerando Eu que o fim dessa associação é a cultura das letras e que pela ilustração intelectual pode ela concorrer para o aperfeiçoamento moral».
 O Grémio teve entre os seus fundadores as duas principais figuras do Romantismo nacional, o historiador Alexandre Herculano (Sócio nº 1) e o poeta e dramaturgo Almeida Garrett, e ainda o romancista Rebelo da Silva, o dramaturgo Mendes Leal, e grandes personalidades da vida política do liberalismo, como Rodrigo da Fonseca (que redigiu os estatutos), Fontes Pereira de Melo, Rodrigues Sampaio, Sá da Bandeira, Anselmo Braancamp, o futuro Duque de Loulé, e da ciência, da economia e da velha e da nova aristocracia. Com sedes sucessivas sempre na zona do Chiado, «capital de Lisboa», e passando pelo célebre Palácio Farrobo, o Grémio Literário instalou-se finalmente, em 1875, no palacete do visconde de Loures, na rua então de S. Francisco.

Grémio Literário [c. 1910]
Rua Ivens, 37, antiga de S. Francisco (1885)
A fachada principal, voltada a Oeste, organiza-se em três pisos separados por friso de cantaria e surge seccionada em três corpos, do quais se destaca o central. Superiormente é rematada por platibanda em balaustrada articulada ao centro com frontão interrompido pela pedra de armas dos Viscondes de Loures.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
É um edifício exemplar da arquitectura romântica de Lisboa, preservado ao longo dos tempos, com o seu jardim de 1844, único nesta área histórica da cidade, tendo recebido em 1899 grandes obras de decoração de José de Queiroz, nas salas e na varanda aberta sobre o Tejo e o Castelo de S. Jorge. (in gremioliterario.pt)

Grémio Literário, jardim [Junho de 1910]
Semana de Armas Portuguesa, prova de esgrima com a presença do rei Dom Manuel II (1889-1932)
Fotógrafo não identificado, iin Lisboa de Antigamente
Grémio Literário, jardim [Junho de 1911]
Sala com programa decorativo de gosto neo-Luís  XV, com projecto e direcção de José Queiroz
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

As suas salas, a biblioteca, o famoso gabinete de leitura de jornais foram frequentados por gerações sucessivas de sócios e menção do Grémio Literário encontra-se em muitas obras de autores célebres, como Teixeira de Queiroz, Abel Botelho, Ramalho Ortigão, Júlio de Castilho, G. Matos Sequeira, e sobretudo Eça de Queiroz, que nele localizou várias cenas de Os Maias — sabendo-se que no prédio do lado habitava Maria Eduarda, a maior criação romanesca feminina do século XIX português.  

Grémio Literário [1962]
Rua Ivens, 37, antiga de S. Francisco (1885)
O Palacete Loures (onde se encontra sediado o Grémio Literário), incluindo o jardim
e o património integrado encontra-se classificado como Monumento
de Interesse Público.
Armando Serôdio,
in Lisboa de Antigamente

«O amigo que Carlos gostava de ver entrar era o Cruges — que vinha da rua de S. Francisco, trazia alguma coisa do ar que Maria Eduarda respirava. O maestro sabia que Carlos ia todas as manhãs ao prédio ver a «miss inglesa»: e muitas vezes, inocentemente, ignorando o interesse de coração com que Carlos o escutava, dava-lhe as ultimas noticias da vizinha... 

 — A vizinha lá ficou agora a tocar Mendelsohn... Tem execução, tem expressão, a vizinha... Há ali estofo... E entende o seu Chopin. 
Se ele não aparecia no Ramalhete, Carlos ia a casa buscá-lo: entravam no Grémio, fumavam um charuto nalguma sala isolada, falando da vizinha: Cruges que a achava «um verdadeiro tipo de grande dame». (QUEIROZ,  Eça de, Os Maias, 1888)
 
Nota(s): Pode assistir (aqui) a um pequeno filme sobre uma das especialidades gastronómicas do Grémio Literário.

Tuesday, 24 November 2015

Matadouro Municipal de Lisboa

E aí tens o velho Matadouro Municipal de Lisboa — recorda o ilustre Norberto de Araújo. O edifício foi erguido em 1863, do risco do arquitecto francês Pesarat, e ocupa uma área de mais de treze mil metros quadrados. Está hoje [1938] antiquado e condenado a desaparecer.

Já te disse que esta Praça José Fontana a assim chamada desde 1915 — foi designada. naturalmente, por Largo do Matadouro, e que nos séculos passados era a Cruz do Taboado, «eira» larga onde morria a Carreira dos Cavalos [actual Rua Gomes Freire], em pleno campo. 

Matadouro Municipal de Lisboa, Praça José Fontana |séc. XIX|
Ali - no sítio onde aqueles bois ruminam - virá a ser erguido, em 1909, o Lyceu Camões: à esq. do matadouro, corre a Rua Tomás Ribeiro, (antiga do Sacramento) e, do lado direito a actual Rua Engenheiro Vieira da Silva (antiga Estrada das Picoas).
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Matadouro Municipal de Lisboa, Praça José Fontana |séc. XIX|
Traseiras do matadouro, fachadas do N. e do O., viradas à actual Av. Fontes Pereira de Melo, no terreno onde descansam os dois homens.(pastores?); à dir- a Rua Tomás Ribeiro, (antiga do Sacramento).
Fotógrafo não identificado, Matadouro Municipal de Lisboa

O jardim data de há cêrca de 60 anos [c. 1880] e recebeu no ano passado [1938] o nome «de Henrique Lopes de Mendonça», escritor, poeta e dramaturgo, autor da letra do hino nacional «A Portuguesa», figura bem alfacinha, irradiante de talento e simpatia.

Matadouro Municipal de Lisboa, Praça José Fontana |ant. 1893|
Talho ambulante de tracção animal/transporte de carnes
Fotografia atribuída a Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente
Matadouro Municipal de Lisboa, Praça José Fontana |ant. 1893|
Talho ambulante de tracção animal/transporte de carnes
Fotografia atribuída a Francesco Rocchini, n Lisboa de Antigamente
Matadouro Municipal de Lisboa, fachada principal [ant. 1955]
Praça José Fontana
Foi desactivado (demolido) em 30 de Abril de 1955.
Chaves Cruz, n Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 57, 1938.

Monumento a Eça de Queiroz

A obra escultórica em lioz (original), foi executada por Teixeira Lopes e inaugurada em 1903, no Largo Barão de Quintela. O original, alvo de constantes actos de vandalismo — os dedos da mulher eram repetidamente mutilados — , encontra-se desde 2001 no Museu da Cidade, ao Campo Grande, data em que, por iniciativa camarária, foi inaugurada a réplica no referido Largo. Escondida entre a Rua do Alecrim e a Rua das Flores, resguarda-se, no jardim, da tragédia que um dia o escritor contou, num convite à pausa a quem por ali passa.

Monumento a Eça de Queiroz [c. 1903]
Largo do Barão de Quintela
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

Este monumento, evocativo da figura de Eça de Queiroz (1845-1900), um dos maiores expoentes literários do séc. XIX, representa o escritor levemente curvado sobre a figura admirável da Verdade. No tosco sopé da estátua encontra-se inscrita a famosa frase de «A Relíquia» [1887]: «Sobre a nudez forte da Verdade o manto diáphano da phantasia».
A figura alegórica da «Verdade», repleta de «simplicidade e simbolismo», é aqui representada pela «figura peregrina de braços abertos, tronco nu, cabeça patrícia - o corpo rijo e branco de uma mulher do povo que serviu de modelo - transpira uma humanidade voluptuosa, tal a da «Verdade», quando se entrega.» [ARAÚJO, 1939]

Monumento a Eça de Queiroz [1931]
Largo do Barão de Quintela
Observem-se a figura da mulher com os dedos mutilados 
e a ausência da inscrição na base.da estátua.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

É, também, em diálogo que estas figuras se relacionam escultoricamente, ambas sedutoras e seduzidas. Nelas, observa-se o seu total abandono, da Verdade ao seu Autor e este, claramente a ela subjugado, naquilo que foi todo um exercício de escrita. Sobre o manto da fantasia descaem todos os olhos, incluindo os dele que sobre ela, «Verdade», se detêm até aos dias de hoje. ==
 

Monday, 23 November 2015

Edifício República, 25

Raro prédio de rendimento de gosto Arte Nova (1906), de grande qualidade arquitectónica e construtiva; sofreu demolição integral de interiores, e de fachadas de tardoz, em 2009. Este imóvel de gaveto foi alvo de uma reabilitação total, que passou pela construção de raiz de um novo edifício, com cinco caves de estacionamento, apenas mantendo a tradicional fachada.
Com cerca de 6.000 m2 de área bruta locável, o República 25, além das lojas, é ainda composto por seis pisos destinados a escritórios, cada um com uma área média de 900 m2. O edifício conta ainda com 98 lugares de estacionamento privativo e está equipado com modernas infra-estruturas, tornando-se num caso exemplar de reabilitação urbana no centro da cidade.
A nova agência do Santander Totta ocupa a loja de gaveto.

Avenidas da República e João Crisóstomo [post. 1906]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Era a Rua João Crisóstomo, que na República passou a Avenida, em homenagem João Crisóstomo de Abreu e Sousa (1811-1893) que foi general da arma de engenharia, político e par do Reino, Ministro das Obras Públicas (1864-65) integrante do elenco do Duque de Loulé, período em que reformou o ensino da engenharia civil e, Ministro da Guerra (1879) no ministério de Anselmo Braancamp . Após a queda do governo regenerador, devido á situação difícil criada pelo ULTIMATO Inglês de 1890, chefiou um efémero governo sem feição partidária. (cm-lisboa,pt)

Avenida da República, 97-97C

Este edifício da Avenida da República é característico da nova malha urbana, que surgiu ao longo das duas primeiras décadas do séc. XX, como consequência de uma burguesia que pretendia aliar conforto a uma estética, que aludisse às construções oitocentistas, traduzindo uma linguagem ecléctica.

Avenida da República, 97-97C [c. 1935]
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

O edifício residencial com o nº 97-97C, obra do construtor Bernardino Lopes, de 1922, apresenta planta rectangular e caracteriza-se por possuir um corpo destacado em forma de torreão coroado por um alto coruchéu, traduzindo uma linguagem harmoniosa entre elementos neoclássicos e Arte Nova, patentes nas suas balaustradas, no recurso ao arco abatido ultrapassado, nas janelas-frestas de gosto revivalista, e na geral assimetria dos seus volumes pétreos. Nota-se uma intervenção ulterior no edifício pelo seu remate, de frontão triangular e tímpano lavrado. Este edifício, inicialmente classificado como Imóvel de Interesse Municipal, foi reclassificado para Monumento de Interesse Público.

Avenida da República, 97-97C |c. 1950|
Ao fundo, tornejando para Rua António Serpa, nota-se  o edifício com o
n.º 93A-E já demolido
Estúdio Horácio Novaisin Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 November 2015

Hotel Metrópole

«O Metrópole... Este prédio pertence, desde muito longa data, à. Irmandade de S. Bartolomeu dos Alemães, que ordenou obras em 1914, levadas a efeito por um arquitecto alemão, como vês pela fachada quebrando, lamentavelmente, a linha arquitectónica geral da urbanização da Praça. Em 1914 instalou-se aqui uma Sociedade Hoteleira alemã. Veio a guerra, para nós, portugueses, em 1916. Tomou então conta do Hotel o grande industrial Alexandre de Almeida, que presentemente [em 1939] nele está fazendo obras radicais.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 72, 1939)

Hotel Metrópole |ant. 1911|
Praça Dom Pedro IV, 30
Tipóia e coupé de praça, aguardando clientes junto ao Hotel Metrópole.
Alexandre Cunha, 
in Lisboa de Antigamente

Este empresário foi o criador da cadeia de equipamentos hoteleiros «Hotéis Alexandre de Almeida Lda.», proprietário do Palace Hotel do Bussaco (1915), Palace Hotel da Curia (1922), Hotel Astória em Coimbra (1926), Hotel Francfort, este Hotel Metrópole e Hotel de L’ Europe estes três últimos em Lisboa. 

Hotel Metrópole (esq.) |post. 1926|
Enquadramento do edifício do hotel no lado ocidental da Praça D. Pedro IV

 Estúdio Mário Novais, 
in Lisboa de Antigamente

Rua do Alecrim

Sobre este arruamento e as suas anteriores denominações escreve Luís Pastor de Macedo: «(…) a rua do Conde nos fins do século XVII foi também designada por rua Direita do Conde, aparecendo pela primeira vez em 1693 a denominação da rua Direita do Alecrim. Depois do terramoto, além de ter tido o nome de rua das Duas Igrejas, conforme diz Castilho e Gomes de Brito menciona, teve também, segundo o mesmo autor, o nome de rua Larga do Loreto, nome que aliás não lhe vemos dar, uma única vez que seja, nos registos paroquiais. No fim do século XV era a «estrada que vay ter a Cata que farás.» 
 
Rua do Alecrim [1912]
Festas da Cidade, desfile de carros alegóricos.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 21 November 2015

Campo Grande

«Só a lisboeta é que põe o seu barquinho a nado a noite, ainda que o céu esteja carregado, ainda que a chuva ameace, só ela é que atravessa pulando as lamas do Chiado, colhendo as velas ao vestido, e segurando a sombrinha com a firmeza de um marinheiro experimentado que fosse ao leme. Não teme a noite, porque as noites só são temerosas na província, treva e confusão.
Vai, num pulo, comprar bolos para o chá, escolher um vestido ao Grandella, vai a pé para o teatro, porque não é bastante rica para ir de trem, vae à modista fazer um recomendação. vai a uma livraria comprar uma gramática para o filho e, atravessando as ruas, pulando sobre a lama, o seu ar de honestidade defende-a, não a deixa confundir com as mulheres que vão habitualmente para as cadeiras do Colyseu e para os gabinetes dos restaurants.

Campo Grande [Início séc. XX]
Autor não identificado, in Lisboa de Antigamente

A chuva ás vezes resolve-se a cair, a varrer as ruas, e a esburacá-las também. A lisboeta some-se, voou para casa nas asas dos seus pezinhos ligeiros. Mas a cidade não fica solitária, morta, ouve-se de vez em quando o rodar de um trem, um pregão que passa,  de um cavalo, o assobio de um namorado.»
(PIMENTEL Alberto, Vida De Lisboa, 1900, p. 47)

Campo Grande [1908]
10º Congresso Internacional Telegráfico, batalha de flores, automóvel de Jorge Burnay.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Friday, 20 November 2015

Palacete Fontalva

Foi erguida esta casa em 1863 nos chãos do passal do pároco de S. Mamede por António Lopes Ferreira dos Anjos [irmão de Policarpo Ferreira dos Anjos, proprietário do palacete Anjos ao Príncipe Real], o mais velho dos três irmãos Anjos, industriais e comerciantes de renome, que vieram para Lisboa em humilde condição, e fizeram fortuna. 

Palacete Fontalva [c. 1930]
Rua da Escola Politécnica, 100; Largo de São Mamede, 1; no ataque ao incêndio, os Bombeiros Voluntários da Ajuda.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Um dos descendentes, que foi diplomata, Alfredo Ferreira dos Anjos, recebeu o título de Conde de Fontalva em 1890; deste modo o palacete, que recebeu várias transformações já no século XX, passou a ser conhecido pela designação «de Fontalva». Em 1934 foi vendido pelos herdeiros a D. Luíza Andaluz [da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima] que nele instalou o Instituto de Educação Profissional [actual Sociedade Promotora de Institutos Sociais]. [Araújo: 1939]

Alfredo Ferreira dos Anjos, 1º conde de Fontalva [s.d.]
Praça dos Restauradores
Garcia Nunes. in Lisboa de Antigamente

Thursday, 19 November 2015

Animatógrafo Chiado Terrasse

O animatógrafo Chiado Terrasse foi inaugurado a 12 de Junho de 1908, na chiquérrima Rua António Maria Cardoso [antiga doTesouro Velho, até 1890]. Era um Animatógrapho ao ar livre como se pode perceber pela noticia publicada na véspera da sua inauguração oficial:

Chiado Terrasse: A novidade da semana é a inauguração do novo animatógrapho, ao ar livre, da rua do Thesouro Velho. Os proprietários do Chiado Terrasse contractaram uma excelente orquestra de distintos professores, para que todas as noites ali haja um magnífico concerto musical. No dia da inauguração, que só se realiza amanhã, apresentam-se sete quadros novos em Portugal. O prazível recinto será profusamente iluminado a luz eléctrica, devendo produzir óptimo efeito.
(in O Século, 11 de Junho de 1908, p. 3)

No início do século «numa altura em que o cinema, entre nós, procurava impor-se à atenção do público» [Costa: 1987], reconstruído em 1911 e restaurado em 1925, o animatógrafo — do qual existe registo fotográfico da autoria de Benoliel —, é um edifício sóbrio, térreo, com o pano da fachada na continuação do muro do Palácio Quintela, quase como um prolongamento e com ele se confundindo, distinguindo-se pela fenestração contínua (onde se incluíam quatro vãos cegos destinados a afixar os cartazes), envazamento de cantaria, e, ao centro, um corpo alteado terminado por frontão triangular e que abrigava uma galeria fotográfica.

Animatógrafo Chiado Terrasse  [ant. 1911]
Rua António Maria Cardoso; ao fundo, o novo chafariz do Loreto.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Animatógrafo Chiado Terrasse  [ant. 1911]
Rua António Maria Cardoso, antiga do Tesouro Velho
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O Chiado Terrasse, propriedade de Albino José Baptista. o proprietário do 92 [vd. 2-ª imagem] sendo secretário Sabino Correia Jr, era destinado a um público mais aristocrata, uma vez que os espectadores dispunham de um serviço de restaurante.
Foi o primeiro «cinema», especialmente construído para o efeito, em Lisboa. Transformou-se desde o início numa das mais importantes salas de Lisboa, pelas suas instalações, pelos seus programas, pela sua variedade, não esquecendo o êxito do animatógrafo «falado».
Em 1910, o arquitecto Tertuliano de Lacerda Marques (1833-1942) assina o projecto, não ao acaso designado de «Alterações», destinado ao melhoramento do animatógrafo da empresa Chiado Terrasse: as estruturas existentes são aproveitadas, redesenhando-se a fachada mas construindo-se todo o interior a partir de três espaços diferenciados - um pequeno palco com camarins ao nível da sala, área superiormente ocupada pela galeria fotográfica, seguindo-se depois a plateia e o "promenoir" (esplanada), este sob o balcão, tendo no topo um pátio aberto, disfarçado para a rua com o corpo da fachada onde se localizam as bilheteiras.
Em 1911/1912, é inaugurado o cinema com a frontaria que hoje conhecemos [vd. 3ª foto].

Animatógrafo Chiado Terrasse [1912]
Rua António Maria Cardoso
Em 1911, o arquitecto Tertuliano de Lacerda Marques (1833-1942) redesenhou a fachada, em gosto mais erudito, fim-de-século.
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente
Animatógrafo Chiado Terrasse, bilheteiras [1912]
Rua António Maria Cardoso e, ao fundo, a R. Nova da Trindade
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente
 
A partir de 1916, os responsáveis deste espaço passaram a ser António Augusto Tittel e Alberto do Valle Colaço. Começam logo por fazer transformações no edifício, dando-lhe o aspecto exterior que manteria até ao seu encerramento [vd. 4ª foto], bem como a construção de um pequeno palco, que seria utilizado mais tarde por uma companhia de revista. Pouco tempo depois, mudou novamente de mãos, passando para a responsabilidade de Arthur Emúz.  Em 1921 passou a apresentar também números de variedades.
O sr. Augusto, de maré, dá-lhes dinheiro e eles levam-na ao Chiado Terrasse. A Ryala, que nunca imaginou que tal coisa pudesse existir, enche a sala de brados de assombro e risos descompassados. Há uma comédia de Max Linder e uma fita de peles-vermelhas  Ao ver surgir pela frente em pleno Far-West, entre cavalgadas, frechadas e tiros, uma locomotiva que avança a todo o vapor sobre a audiência, não há quem a segure: um grito de terror, um salto de cabra, e a Ryala abala a fugir, para não ser esmagada pelo trén! Esta noite foi ela a heroína do Far-West ao alto do Chiado.  
(Miguéis, José Rodrigues (1901-1980),  A Escola do Paraíso, 1960)

Carro de propaganda do cinema Chiado Terrasse [1911]
Largo do Chiado; Palácio do Loreto
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Em 1972 o Chiado Terrasse cessa actividade e no final da década um projecto para transformação do cinema em edifício de escritórios conduz à lamentável demolição dos interiores.
Actualmente, do imóvel original já pouco resta para além da fachada.

Cinema Chiado Terrasse [1961]
Rua António Maria Cardoso
Arnaldo Madureira, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, 1987.
cnc.pt.

Web Analytics