Saturday, 29 October 2016

Chafariz do Cais do Tojo (ou da Boa-Vista)

Este Chafariz n.º 8 — de arquitectura peculiar — recebia água directamente do Aqueduto das Águas Livres, tinha 3 bicas e pela retaguarda um grande tanque de lavar roupa que foi demolido em 1836. Ao presente [1851] faz frente ao Norte, mas já está determinado mudar as bicas para correrem da parte do Sul. Os sobejos vão para o tanque de Lavadeiras da Rua Nova do Caes do Tojo. Em 1851 tinha 2 Companhias de Aguadeiros, 2 Cabos e Capatazes, 66 Aguadeiros e 1 Ligeiro. 
Terá sido demolido no último quartel do século XIX porquanto já não aparece referenciado nas plantas topográficas da cidade a partir de 1876-79.1

Chafariz Cais do Tojo  (ou da Boa-Vista)  [1858]
Travessa do Cais do Tojo 
(Tv. que entesta na Calçada do Marquês de Abrantes/Largo do Conde Barão)
Amédée de Lemaire-Ternante, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): Imagem não identificada no arquivo(cpf)

Os topónimos Rua do Cais do Tojo e Travessa do Cais do Tojo foram atribuídos pela Câmara Municipal de Lisboa através de edital de 8 de Junho de 1889, o qual contemplou perto de sessenta arruamentos a que foram alterados os topónimos “com vista à sua simplificação e também à sua diferenciação de outros idênticos existentes em outras partes da cidade”. Estes arruamentos eram a antiga Rua Nova do Cais do Tojo e a Travessa Nova do Cais do Tojo.

Localização do Chafariz do Cais do Tojo [1856]
Legenda (clicar para ampliar):
Vermelho:
Chafariz do Cais do Tojo na Tv. do Chafariz do Caes do Tojo (actual Tv. do Cais do Tojo)
Verde:
Tanque das Lavadeiras da Rua Nova do Caes do Tojo (actual Rua Cais do Tojo a Amarelo)
Verde/Azul:
Calçada do Marquês de Abrantes/Largo do Conde Barão
Levantamento [fragmento] topográfico de Filipe Folque,
in Lisboa de Antigamente

Existe no Arquivo Municipal Histórico documentação datada de 1778 relacionada com a cobrança do “donativo” pela Mesa do Cais do Tojo da Boavista. O “donativo” era um imposto municipal sobre os rendimentos, criado por resolução régia de 21 de Março de 1766 e que começou a ser cobrado pelo edital municipal de 2 de Novembro de 1769.

Largo do Conde Barão com a Travessa do Cais do Tojo [1893]
Recanto onde se encontrava o Chafariz do Cais do Tojo (ou da Boa-Vista
Severino de Avellar,
in Lisboa de Antigamente

Os cais sempre fizeram parte da paisagem ribeirinha de Lisboa. Os topónimos dos mais antigos estão geralmente associados aos produtos que aí aportavam, caso do Cais do Tojo ou do Cais do Carvão, que já aparece mencionado no Sumário de Lisboa de 1551.
O tojo, planta arbustiva da família das leguminosas, era usado como cama para o gado, estrume ou combustível.
Em 1821, o posto da 4.ª Companhia de Infantaria da Guarda Real da Polícia, situado no Cais do Tojo, sofreu um grande incêndio. Também no local existiu em tempos o chafariz que aqui observamos, muito frequentado por aguadeiros e populares. [2]

Chafariz do Cais do Tojo [ant. 1836]
(Ainda com a presença do tanque de lavar roupa que foi demolido em 1836)
Desenho de Luís Gonzaga Pereira (1796-1868), in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
1 ANDRADE, Velloso, Memoria sobre chafarizes, bicas, fontes, e poços públicos de Lisboa, Belem e muitos logares do termo, 1851.
2 cm-lisboa.pt.

Thursday, 27 October 2016

Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia

   Iria à noite a Santa Apolónia, e no momento do comboio partir correria à portinhola, a balbuciar fugitivamente uma desculpa; não lhe daria tempo de choramigar, nem de recriminar; um rápido aperto de mão, e adeus, para nunca mais...

   
   Atirou-se para o coupé (...) Ao chegar a Santa Apolónia faltavam, para a partida do expresso, dois minutos. Precipitou-se para a extremidade da sala, já quase vazia àquela hora, a comprar uma admissão; e ainda aí esperou uma eternidade, vendo dentro do postigo duas mãos lentas e moles arranjar laboriosamente os patacos d'um troco.

Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia [ant. 1900]
Largo dos Caminhos de Ferro
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
   Penetrava enfim na sala de espera — quando esbarrou com o Dâmaso, de chapéu desabado e sacola de viagem a tiracolo. Dâmaso agarrou-lhe as mãos, enternecido:
 — Ó menino! pois tiveste o incomodo?... E como soubeste tu que eu partia?

Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia [c. 1900]
Largo dos Caminhos de Ferro
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
      
   Ainda estavam chegando passageiros, esbaforidos, de guarda-pó, com chapeleiras na mão. Os guardas rolavam pachorrentamente as bagagens.(...)
   Todas as portinholas agora estavam fechadas, um silêncio caíra sobre a plataforma. O apito da máquina varou o ar; e o comprido trem, num ruído seco de freios retesados, começou a rolar, com gente às portinholas, que ainda se debruçava, estendendo a mão para um último aperto.  Aqui e além esvoaçava um lenço branco. (...) O compartimento do correio resvalou, alumiado; e com outro dilacerante silvo o comboio mergulhou na noite...
(QUEIROZ, Eça de, Os Maias», 1888)

Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia [1944]
Rua dos Caminhos de Ferro; Largo dos Caminhos de Ferro
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 25 October 2016

Chafariz do Alto do Pina

Chafariz urbano, implantado no entroncamento de duas ruas, composto por tanque circular e coluna de ferro, com várias saliências, ornada por folhagem, estrias e alcachofra. Encontra-se envolvido por prédios de rendimento de três pisos, com cérceas regulares.


Este chafariz evidencia-se no panorama dos chafarizes lisboetas pela sua singularidade ao conciliar uma estrutura cilíndrica em pedra calcária com uma espécie de pináculo funcional em ferro. Localizado no cruzamento das Ruas Quatro de Agosto e Sabino de Sousa, este chafariz de pequena volumetria, representa um ponto de confluência de eixos irradiantes, bem visíveis na sua base pela disposição de duas pequenas bacias de águas alternadas por dois lanços de escadas. Estes últimos permitem o acesso a um patamar circular, em cujo centro surge, apoiada na vertical, a principal bacia de recepção de águas, que, por sua vez, acolhe o referido chafariz de ferro, trabalhado com elementos decorativos.

Chafariz do Alto do Pina |c. 1945|
Rua Sabino de Sousa; Rua Quatro de Agosto
Fernando M. Pozal, in Lisboa de Antigamente





A Rua Sabino de Sousa, consagrada com a legenda «Professor de Veterinária 1835-1888», homenageia Joaquim Sabino Eleutério de Sousa, detentor do curso de veterinário-agrónomo (1859) e no mesmo ano nomeado chefe de clínica do hospital veterinário que então abriu ao público. A partir de 1863, passou a docente do Instituto Agrícola e em 1865, foi nomeado pela Câmara Municipal de Lisboa, fiscal sanitário do Matadouro Municipal e, em 1868, inspector, tendo então introduzido importantes melhoramentos higiénicos e industriais, o que fez que pudesse ser considerado na época um dos primeiros estabelecimentos do seu género na Europa, e granjeou a Sabino de Sousa a medalha de ouro da Sociedade Protectora dos Animais. 
Sabino de Sousa pertenceu também ao denominado «Clube dos Lunáticos» do Pátio do Salema, onde iniciou a sua actividade política e foi companheiro de Elias Garcia, Oliveira Marreca, Latino Coelho, Bernardino Pinheiro e Sousa Brandão.
Publicou «Influência dos pântanos na saúde do homem e dos animais» (1859) e «O Matadouro Municipal de Lisboa» (1878), um esboço histórico acerca de matadouros desde o primeiro quartel do séc. XV até à sua época.

Chafariz do Alto do Pina |1964|
Rua Sabino de Sousa; Rua Quatro de Agosto
Augusto Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
cm-lisboa.pt; monumentos.pt

Saturday, 22 October 2016

Ermida (do Palácio) do Conde de Soure à Estr. da Penha de França

Chegámos ao sitio que foi do Palácio dos Condes de Soure, com sua Ermida da invocação de N. Senhora do Monte Agudo, há poucos anos desaparecida. 

Neste sitio exacto existiam no tempo de D. Sebastião umas casas e uma Capela, ou Ermida (esta mais antiga do que a Casa) e que eram pertença de uns Carvalhos, gente boa e de haveres. A propriedade foi aumentada no século XVII, alargada com terrenos que até quási ao Bairro Andrade de hoje. Pelo casamento de uma dama desta família com o 3.º Conde de Soure, os bens dos Carvalhos. no Monte Agudo à Penha de França, passaram àqueles titulares. No meado do século passado [séc. XX] a Casa Soure precisou desfazer-se das suas propriedades, as daqui, as do Bairro Alto e de outras, e o Palácio e a Ermida transitaram a mãos alheias; em 1873 uma filha do directo comprador aos Soures, e casada com Jacinto Augusto de Paiva Andrade, herdou estas propriedades, já desfiguradas, reduzidas a habitações decrépitas  de gente pobre. Paiva de Andrade legou muitos dos seus bens à Misericórdia de Lisboa, e o que se chamou a herança Picaluga, as casas velhas e a antiga Ermida do Monte Agudo passaram àquela instituição, com a condição de a Misericórdia ali levantar casas de habitação gratuita para umas tantas famílias pobres. (No pardieiro, que fora Palácio Soure, moravam mais de cem famílias).
Em 1916-17, após um entendimento com a Câmara Municipal, e que se estudava desde 1883, a Misericórdia fez demolir os restos do solar, e a Ermida desapareceu também.

[Foto 1] Estr. (Rua) da Penha de França (Sul) |ant. 1916|
Ao fundo a Ermida do Conde de Soure
José Artur Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): Imagem catalogada no abandalhado AML como Palácio do Conde de Sôr sito na Rua da Vinha

Aí tens esse renque de casas [Foto 2], de tipo similar, de um único pavimento, a começar no n.º 173, e que se ergueram para satisfazer a vontade dos doadores. Onde está a carvoaria, n.ºˢ 173-175, era precisamente o local da Ermida.
Ao lado deste conjunto do que foi o Palácio Soure abriu há vinte anos [c. 1918] a Rua Heliodoro Salgado [antiga Calçada do Monte Agudo, vd. Foto 3], com uma pequena rectificação da rua, ao alto, na qual foi construída uma cortina.

[Foto 2] Rua da Penha de França (Norte) |1964|
Renque de casas, a começar no n.º 173, local da Ermida do Conde de Soure [que se vê na Foto 1]; Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão (1958) 
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

A Rua da Penha de França, antiga Estrada [Foto 4], mantém ainda a linha levemente sinuosa do século XVII; sua rectificação, aqui e ali iniciada, não se fará demorar. Também por aqui alguns prédios modernos acotovelam outros, nobres de tipo de casa do campo, de há trezentos anos. (...) Há oitenta anos [c. 1880], nem talvez tanto, as edificações por esta Estrada eram poucas; foi depois de 1875 que se começaram a erguer esses prédios pelos quais vamos passando, indiferentemente. Olha: aqui temos um pedaço de Estrada antiga, com uma série de de casebres simpáticos, que já saem fora do alinhamento rectificado. Diz-lhes adeus...

[Foto 3] Planta com a localização da Ermida do Conde de Soure |1907|
Legenda:
Vermelho: Palácio Soure
Amarelo: Ermida do Conde de Soure
Verde: Rua da Penha de França (antiga Estr. da Penha de França)
Laranja: Rua Heliodoro Salgado (antiga Calçada do Monte Agudo) in
Lisboa de Antigamente
[Foto 4] Planta referente ao estado da Estr. da Penha de França |1891|
Inclui as casas do Conde de Soure

Levantamento topográfico de Francisco Goullard,
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 22-24, 1938.

Thursday, 20 October 2016

Local do antigo Cemitério das Mercês

Aqui temos à esquina da Travessa das Mercês o prédio, alindado há meia dúzia de meses [1939], feitio prático de oficina e de estabelecimento industrial, e que constitue a Fábrica União, de espelhos e vidros pulidos. Dispõe de três fachadas: Luz Soriano, Travessa das Mercês, Rua dos Caetanos.
Pois é precisamente a área ocupada pelo antigo Cemitério das Mercês. «Vê-te neste espelho» — dizem os mortos aos vivos. E aí temos uma fábrica de espelhos no sítio do antigo Cemitério. Mas não tão recuado que não existissem dêle vestígios ainda há quarenta anos — ante ontem... 

Travessa Mercês com a Rua dos Caetanos [1932]
Fábrica União, local do antigo Cemitério das Mercês

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Como particularidade — e só por isso o evoco — digo-te que aqui foi enterrado Manuel Maria Barbosa du Bocage, que morreu a dois passos na Travessa André Valente a 21 de Dezembro de 1805. Foi seu companheiro, vizinho de tumba, o que fôra também um pouco seu par na vida: Nicolau Tolentino.
(...) Os vestígios do cemitério — que findara sua missão em 1834 — desapareceram então de todo, e as ossadas - eram sessenta e nove as lousas, sendo a do Poeta a n.° 36 - levaram-nas para a vala comum do Alto de S. João ou dos Prazeres.

Travessa Mercês com a Rua Luz Soriano [1932]
Fábrica União, local do antigo Cemitério das Mercês

Fotógrafo não identificado, iin Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VI, pp. 43-44, 1938.

Tuesday, 18 October 2016

Feira do Livro no Rossio

O Rossio tinha sido Fórum, mercado, circo, parada, quartel, jardim, terreiro, cêrca de hospitaleiros, cêrca de lidadores, cêrca de vendilhões. Nunca tinha sido cêrca de letrados. Em volta do lago, do lado Norte, construiram-se 19 «stands», em série, iguais, matemáticos, de formas carpinteirais, de toldos branco-rosa (...)


Feira do Livro |1932|
Praça D, Pedro IV (vulgo Rossio)
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente

Em Maio de 1930 1931 inaugurou-se, na Praça D, Pedro IV, vulgo Rossio, a primeira Feira do Livro de Lisboa — na altura Semana do Livro [vd. 3.ª Foto] —, que logo granjeou a maior simpatia por parte da população. A ideia de pôr à disposição do público, a preços acessíveis, as publicações de maior êxito, fora importada da Feira de Madrid que constituía um sucesso para a difusão de livros.

Feira do Livro |1933|
Praça D, Pedro IV (vugo Rossio)
 Em 1933, a Associação da Classe dos Livreiros de Portugal ocupa dois dias da Feira do Livro com a venda de livros unicamente dedicados ao público feminino
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente

O grande animador da ideia foi o livreiro Ventura Ledesma Abrantes, estabelecido na Rua do Alecrim, que já então liderava o movimento dos «Amigos de Olivença», que exigia a restituição desta terra a Portugal.
Foram 12 dias de festa em volta das palavras. A ideia foi trazida de fora, mais precisamente de Madrid, onde já existia um evento semelhante. A expectativa era muita e os visitantes responderam em boa medida, sustenta a imprensa da época: tudo se vestiu para a ocasião, sem esquecer o chapéu, que esse dia de Maio anunciava-se soalheiro. Mas é preciso recuarmos ao início do século XX para ir à raiz da história. Em 1906, na então Rotunda da Avenida — actual Praça do Marquês de Pombal —, acontecia uma feira que, entre outras coisas, tinha um mercado dedicado aos livros. 

I Feira do Livro |1931|
Praça D, Pedro IV (vulgo Rossio)
 Com a «Semana do Livro» iniciativa da Associação dos Livreiros, e integrada nas Festas da Cidade de Lisboa, foi inaugurada a I Feira do Livro em 29 de Maio de 1931, com a presença do Presidente da República General Óscar Carmona, o Ministro da Instrução Pública Gustavo Cordeiro e Ventura Abrantes secretário da Associação dos Livreiros.
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, Vol. XII, p. 627, 1977.
Diário de Lisboa", nº 3096, Ano 11, Sexta, 29 de Maio de 1931.

Saturday, 15 October 2016

Palácio Penafiel ou do Correio-Mor

O serviço de correios públicos foi estabelecido por D. Manuel I que mandou passar carta de Correio-Mor a Luís Homem, cavaleiro de sua casa, em 1520. O ofício de correio-mor manteve-se na família Gomes da Mata, entre 1606 e 1797. Extinto o ofício de Correio Mor do Reino em 1797, foram dados ao 8.º e último Correio Mor, Manuel José da Mata de Sousa Coutinho, várias compensações, entre as quais o título de Conde de Penafiel.


Aí temos agora a entrada do Palácio Penafiel — escreve Norberto de Araújo — constituindo com a antiga casa do Correio Mor — esta anterior a 1755 numa nova estrutura urbana — um único edifício. O Palácio, ao fundo de um pátio nobre, abre num átrio sob três arcarias de volta redonda; a frente, na rua, é guarnecida por três portões nobres gradeados, sendo o do centro armoriado, e impraticável. À nossa esquerda, num nível superior, está o jardim da antiga propriedade do Correio, para o qual se entra por um portão.

Palácio Penafiel ou do Correio-Mor, fachada norte [1901]
Rua de São Mamede (ao Caldas), 21; antigo Largo do Correio Mor; Travessa do Almada, 32-32A; Calçada do Correio Velho, 17-19; Rua das Pedras Negras, 10-20
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

   Há setenta anos [c. 1865] as festas do Palácio Penafiel davam brado em Lisboa, tal como as do Conde de Carvalhal dos Marqueses de Viana, ao Rato, do Conde de Farrobo, às Laranjeiras, ainda que sem o cunho artístico e literário de qualquer destas.
   Este soturno edifício inundava-se de luz e de flores; para um baile, em 1865, vieram do Porto 16.000 camélias. Os bailes dos Condes de Penafiel — o ultimo foi em 1867 — eram um deslumbramento, e o número de convidados excedia, em regra, um milhar.
   As mais belas mulheres de Lisboa do romantismo aristocrático (era o tempo das cabeleiras em anéis) davam aqui prédios de beleza e de elegância. O interior do Palácio era rico; as salas adornavam-se de um brilhantismo singular. 
   Afinal, em 1871, todo o recheio foi à praça. As festas Penafiel, como todas as dos salões de Lisboa, tinham acabado...
Palácio Penafiel ou do Correio-Mor, fachada nascente [1901]
Calçada do Correio Velho, 17-19
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O edifício foi adquirido pelo Estado ao último Conde de Penafiel em 1919, funcionando no seu espaço o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
   Quando em 1772 neste sítio se procedia à abertura de alicerces para levantamento do Palácio e reconstrução da sua parte nascente (a do Correio), apareceram as ruínas das famosas Termas Romanas dos Cássios, muito completas e de excelente material, com piscina, nichos, tanque, escadarias, e ainda uma lápide de tijolo que não deixava dúvidas
àcerca da natureza da descoberta, .
   Também nesta Rua de S. Mamede, mais acima, já a tocar a Rua da Saudade foram encontradas em 1798 ruínas preciosas de um Teatro romano, que datava do ano 57 antes de Cristo; as inscrições nas pedras atestam que o teatro fora dedicado a Nero (Nero Cláudio César Augusto) pelo augustal Caio Haio Primo.

Palácio Penafiel ou do Correio-Mor, portão armoriado [1932]
Rua de São Mamede (ao Caldas), 21
Entre os portões e sobre porção de muro gradeado, 2 anjos tenentes apoiados nos pilares 
 apresentam a pedra de armas dos condes de Penafiel, encimada por coroa.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Num outro passo das suas Peregrinações, Norberto de Araújo refere que "(...) na Calçada do Correio Velho, vês uma face do citado Palácio, e na qual, no n.º 19 da numeração policial, encontras êste curioso letreiro em pedra: CORREYO GERAL DO REINO MDCCLXXVI.
Esta legenda lembra o tempo em que o correio era privilégio da família Gomes da Mata,na qual estava o titulo e seu rendoso usufruto de Correio-Mor."

Palácio Penafiel ou do Correio-Mor, portão com letreiro em pedra [1949]
Calçada do Correio Velho, 19
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, pp. 24-25, 1938.
monumentos.pt.

Thursday, 13 October 2016

Igreja de São Nicolau

O templo primitivo data do séc. XIII. Totalmente destruído pelo Terramoto de 1755 foi reedificado em 1780 com traço do arq.º Reinaldo Manuel dos Santos, prolongando-se as obras até 1850. A igreja, revestida exteriormente a cantaria, encontra-se orientada a Norte e a sua fachada principal, cortada verticalmente por 6 pilastras, possui os corpos externos laterais arredondados. 

 Igreja de São Nicolau |1959|
Rua da Vitória; Rua da Prata

Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

No interior destacam-se: as pinturas do tecto da nave atribuídas a Pedro Alexandrino de Carvalho, representando cenas da vida de S. Nicolau e uma alegoria à Fé, Esperança e Caridade e a antiga Capela do Santíssimo, revestida de mármores, com tecto de cúpula e lanternim. Possui um núcleo museológico de arte sacra, que foi aberto em 1914.

 Igreja de São Nicolau |1955|
Rua da Vitória; Rua da Prata

Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

O arco da capela-mor, em cujo centro se vêm as armas reais, e, acima, em pedra emoldurada de lavores, um nicho, sem imagem ou escultura;
A Capela-mor, que é a dependência mais antiga da reedificação, revestida de mármores, e nela:
O tecto, de abobadilha, representando, a fresco, a «Glória de S. Nicolau», pintura de António Manuel da Fonseca;
O altar-mor, guarnecido de colunas de mármore, coroado de urna composição escultórica na qual se vêem os emblemas de. S. Nicolau; a imagem do Santo bispo pa droeiro; quatro tribunas, duas por cada lado.
 Igreja de São Nicolau [c. 1910]
Rua da Vitória; Rua da Prata

Joshua Benoliel, in AML

O recheio da Igreja apresenta elementos provenientes de outros conventos da cidade, nomeadamente do Convento de São Francisco da Cidade, relicários e talha dourada do Convento da Esperança, paramentos do Convento dos Lóios e do Mosteiro de Alcobaça.
Esta igreja integra a Lisboa Pombalina, que está classificada como Conjunto de Interesse Público.
 
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, 1944.

Tuesday, 11 October 2016

A corcova da Rua da Madalena

Não. A corcova da Rua da Madalena não foi adquirida com o tempo e portanto não deve ser tomada como uma certidão de idade.   A rua é corcovada desde que nasceu e a sua existência não conta ainda,  relativamente, muitos anos.
   A primeira vez que vemos citar a Rua da Madalena é em 1766. Mas não se pense que eram já muitos os edifícios que a emolduravam. Pelo contrário, eram pouquíssimos, tão poucos que se poderia dizer que era uma rua sem casas. Calcule o leitor que dois anos depois, em Abril de 1768, eram apenas três os prédios que se erguiam na rua! Do lado do nascente dois, os quais tinham sido mandados edificar por João Gonçalves e por D. José de Meneses; do lado do poente um que pertencia à congregação de Nossa Senhora da Doutrina. No entanto, na praça que se abria ao cimo dos dois lanços da rua — praça que se chegou a denominar da Bela Vista — já se tinha erguido um grande edifício, o dos irmãos Caldas, João e Luís, e no qual nesse ano, morava o francês Jacome Ratton, grande industrial e amigo e admirador de Pombal. Tinha ido para ali em 1766.
   1940 — -Tempos que passaram.
(MACEDO, Pastor de, in Olisipo: boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», 194, n-º 57, p. 58)

Rua da Madalena (ca. 1910)
Postais de Lisboa, Autor desconhecido

A Rua da Madalena, como o nome indica, advém da proximidade à Igreja de Santa Maria Madalena, que já existia seguramente em 1164, mandada edificar por D. Afonso Henriques junto à Cerca Moura, em terrenos onde existiu um templo romano dedicado a Cibeles, a deusa-mãe.

Saturday, 8 October 2016

Palácio do Machadinho

Aquele Pinto Machado, que tinha o seu palácio na Rua do Machadinho — diminutivo que nasceu do apelido do fidalgo —, foi quem fez rasgar, depois de 1758, uma serventia já desenhada desde 1680 — «Caminho Novo» — na quinta de D. Francisco Xavier Pedro de Sousa, por alcunha o «Quelhas», quinta na qual o fidalgo tinha sua casa, que bem pode ter sido aquela onde assentou o palácio dos Pintos Machados. 

 

A Rua do Machadinho, de acordo com o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo («Lisboa de Lés a Lés») foi a «Rua do Acipreste» que já em 1805, no Livro de óbitos da freguesia de Santos, surge como Rua do Machadinho, topónimo «dado pelo vulgo em razão de nela ser erguer [no nº 20 da artéria] o Palácio do Machadinho, assim conhecido por ter sido mandado restaurar ou edificar por José Machado Pinto, fidalgo cavaleiro da Casa Real, Coronel de Auxiliares e administrador geral do Contrato de Tabaco, que nele faleceu em 22 de Abril de 1771, deixando viúva D. Isabel de Sousa Ventaga (ou Vetingão)».

Palácio do Machadinho |c. 1940|
Rua do Quelhas, 13; Rua do Machadinho, 18-22; Beco do Machadinho (muro); Travessa dos Inglesinhos
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Na segunda metade do século XVIII, José Pinto Machado, o Machadinho, fidalgo da Casa Real, torna-se proprietário de um palácio seiscentista à Madragoa, empreendendo uma campanha de reedificação, ampliação e redecoração do edifício. Após a sua morte sucedem-se os proprietários e inquilinos, dos quais se destacam o poeta António Feliciano de Castilho e seu filho, o olisipógrafo Júlio de Castilho. Adquirido pelo município, em 1948 é alvo de um grande restauro que recriou o esplendor perdido graças à reutilização de azulejos provenientes de outros edifícios da cidade. Destaca-se o salão com tectos estucados por João Grossi. O jardim foi redesenhado pelo arq.º Ribeiro Telles.

Palácio do Machadinho, portão com pedra de armas |1968|
Rua do Machadinho, 20
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Entre os painéis de azulejo que ornamentam as salas do piso nobrefigurando cenas mitológicas, profanas (festas galantes) que ornamentam algumas salas reconhecem-se, pelo desenho e composição, conjuntos diversos, datáveis período joanino. Nos jardins reconhece-se uma construção de planta hexagonal (casa de fresco), coberta por cúpula revestida de azulejo, bancos e conversadeiras revestidos com azulejos polícromos setecentistas (reaproveitados). A pedra de armas é um escudo partido, ao 1º de Pintode prata com 5 crescentes de vermelho postos em sautore ao 2º de Machado de vermelho com 5 machados de prata encabados de ouro postos em sautor. Como timbre : um elmo com dois machados em aspa.

Palácio do Machadinho, portão e pedra de armas |1968|
Rua do Quelhas, 13; Rua do Machadinho, 18-22; Beco do Machadinho (muro); Travessa dos Inglesinhos
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 33, 1938.
cm-lisboa.pt/toponimia; monumentos.pt.

Thursday, 6 October 2016

Mercado de Campo de Ourique

Estamos à entrada de Campo de Ourique. Sob o ponto de vista urbano, é uma Lisboa de há pouco mais de sessenta anos [c. 1880].


O sítio de Campo de Ourique logra porém possuir uma designação que blasona de antigüidade; terras de pão e de oliveiras nos séculos velhos, quintas, terrenos para merendas e passeio no século de seiscentossubúrbios de Campolide com título próprio — , só no ciclo posterior ao Terramoto começou a desenhar-se em póvoa rudimentar, pela fôrça da lei demográfica, apressada pelo arrasamento de uma parte de Lisboa.

Mercado de Campo de Ourique |post. 1934|
Rua Coelho da Rocha
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Ao fundo da Rua Coelho da Rocha ainda se vêem pedaços de terreno rústico, isto é: por rasgar, mas que dentro de anos estarão integrados no todo urbanista. Aqui, na confluência da Rua Francisco Metrass se construiu em 1933 este Mercado que que vês, já de certo modo aceitável, fundação de José Dionísio Nobre, e que em 1936 passou para a Câmara Municipal, que o arrematou em hasta pública; antes de 1936 existia um pequeno mercado nesta Rua Francisco Metrass, a cem passos do mercado novo.

Mercado de Campo de Ourique |c. 1970|
Rua Coelho da Rocha
Vasco Gouveia de Figueiredoin Lisboa de Antigamente

Em 2013 foi renovado com um conceito gourmet, inspirado no modelo do Mercado de San Miguel, em Madrid. Foram criados quiosques com capacidade para 16 lojas especializadas em diversas áreas como o bacalhau, as francesinhas, o marisco, o sushi ou a pastelaria. O conceito vai ser copiado em Londres e Nova Iorque, o que só prova que uma boa ideia pode chegar bem longe! É importante dizer que estes novos espaços vão ser concebidos e geridos pelo mesmo português que criou o novo Mercado da RibeiraJoão Cepeda,
Em Campo de Ourique, como nos outros mercados, continua a ser possível comprar fruta e legumes frescos da melhor  qualidade.

Mercado de Campo de Ourique, interior |post. 1934|
Rua Coelho da Rocha
Vasco Gouveia de Figueiredoin Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 70-75, 1939.
FONSECA, Maria Ribeiro, Tudo Sobre Lisboa, p. 78, 2016.

Tuesday, 4 October 2016

A Avenida: O Vigia, o tasco do José Gordo, Diogo Alves e Companhia

Na taberna havia um garotinho azougado, d'olho perspicuo, um pangaio, encarregado de cocar quem ahi entrava, e de avisar para dentro, para a batolinha. se era pessoa estranha á casa. Pozeram-lhe a alcunha de O Vigia.


No quarteirão do lado sul, que esquina com a Rua das Pretas (isto é de ante-ontem) existiu «O Vigia», restaurante antigo da Avenida [lado oriental do antigo Passeio Público], muito lisboeta, e que merece uma evocação. Datava pouco mais ou menos de 1832. Fora alindado em 1931, para ver se forçava a crise que atacou os restaurantes tradicionais de Lisboa. Não a venceu; deu a alma ao criador em 1934. Sucedeu-lhe, mas só em 1937, essa frutaria que ali vês, o «Grande Ponto›. (O nome não vai longe).

Avenida da Liberdade [1963]
Esquina com a Rua das Pretas

Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Sobre a origem do nome  «Vigia» escreve Tinop na sua Lisboa d'outros tempos que «Na taberna havia um garotinho azougado, d'olho perspicuo, um pangaio, encarregado de cocar quem ahi entrava, e de avisar para dentro, para a batolinha. se era pessoa estranha á casa. Pozeram-lhe a alcunha de O Vigia. Succedeu ao José Gordo, fundando em 1832 a casa de Pasto chamada O Vigia, na rua Oriental do Passeio, (...)»

E quem era esse José Gordo, de que fala Tinop, e por que é para aqui chamadoperguntará o caro leitor? Pois bem, era nem mais nem menos que o proprietário de uma «baiuca pessimamente afamada», uma taberna situada na Praça da Alegria de Baixo defronte do antigo Passeio Publico (hoje Av. da Liberdade), e onde  «malfeitores realisavam conferencias, tertúlias, cochichavam misteriosamente, escabichavam a vida alheia». Acrescenta o autor que a taberna era frequentada por «uma cambada de tratantes» e que entre estes se encontrava o infame Diogo Alves — de alcunha "O Pancada" — o «serial killer do Aqueduto das Águas Livres» que foi condenado à morte e executado em 1841

Rua das Pretas [c. 1910]
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente

«Lá appareciam» — na taberna do José Gordo — «o Diogo Alves — ruim como as cobras—, o Beiço Rachado, seu collega, o Pé de Dança, — um que tinha immensa lábia —, João das Pedras, o Enterrador, aguadeiro do chafariz d'Alegria, e o António Martins, caixeiro do celleiro na rua Oriental do Passeio, e amigo do Diogo Alves. O desconhecido, que penetrasse n'essa caverna de Caco ficava com as algibeiras limpas, ou, ás duas por três, apanhava a sua facadita á chucha-calada.» 
E assim fica contada mais uma história de algumas dos tascos d'antanho da capital e dos figurões que as frequentavam.

Avenida da Liberdade [c. 1900]
Cruzamento com a Rua das Pretas

Autor desconhecido

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 28, 1939.
Lisboa d'outros tempos: Os Cafés, pp. 193-194, 1899.

Saturday, 1 October 2016

Rua de São Bento

Vamos entrar na Rua de S. Bento, que bem corrida dá pelo menos dez tostões por dia


Isto dizia-se há cinquenta anos — escreve Norberto de Araújo em 1939 — acerca dos mendigos de profissão; tão comprida é a rua que, com método e paciência, um «pobre», começando cedo, e recolhendo um óbulo de de cinco réis em cada uma das duzentas portas onde batesse, ganhava a sua jorna. 
Pois não vamos percorrer esta extinta extensa artéria como o faziam os pedintes de há meio século, embora mesmo sem bater a porta alguma, muito ganhássemos em curiosidade satisfeita. 

Rua de São Bento, 181, esquina com a Rua de Santo Amaro, 1 [1908]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A Travessa de Santa Quitéria (1759), tal como a Rua de Santo Amaro, as Travessas de Santa Gertrudes (hoje Rua de Teófilo Braga), de S. Plácido, de Santa Escolástica (hoje Rua dos Ferreiros [à Estrela]), de Santo Ildefonso (todas datando de 1763), e a Rua de S. Bernardo, trinta anos mais moderna do que as anteriores, foram talhadas na cêrca do Convento de S. Bento; os nomes, postos pelos frades, são os dos santos da sua Ordem.

Rua de São Bento, 458 [c 1910]
Pátio do Gil — casa onde nasceu a 29 de Abril de 1810,
e viveu muitos anos, Alexandre Herculano; demolido na década de 1950.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Esta Rua de S. Bento do nosso lado esquerdo [de quem desce] — recorda-nos Norberto de Araújo —, era cheia de pátios, muitos desaparecidos; (...) o Pátio do Gil, que se rasga no prédio nº 458, este que vês com sete varandas no primeiro andar, acusando velhice, e um arco com passadiço ao fundo do qual está o mísero pátio, com seus casebres, que fazem um todo com a propriedade fronteira à rua. Conforme atesta a lápide colocada, em 26 de Abril de 1910, sobre a verga da porta, aqui nasceu a 29 de Abril de 1810, e viveu muitos anos  Alexandre Herculano, em casa mais tarde transfigurada do velho jeito de setecentos. O Gil, que deu nome ao Pátio, foi um António Rodrigues Gil, mestre carpinteiro, tio-avô, por parte da mãe, do grande historiador, e que principiou por construir aqui umas pequenas casas em 1756, no prédio habitou também o Arquitecto Manuel Caetano de Sousa, irmão do avô materno de Herculano.

Rua de São Bento, 634 [ant. 1908]
O Music-Hall de S.Bento-Rato funcionou como recinto de variedades na primeira década
do século XX.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
Nesta extensa artériae já muito próximo do Largo do Rato — existiu até c. 1910(?) o Music-Hall de S.Bento-Rato. um recinto de variedades ou «Casino», como eram  denominados à época este tipo de casas de espectáculos. E como na realidade se trata de uma rua «tão comprida», voltaremos a palmilhá-la em futuras «Peregrinações», sempre na companhia do ilustre mestre Norberto de Araújo. Até lá.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 29-31, 1939.
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