Friday, 30 August 2024

Rua de São Pedro de Alcântara: Calçada Portuguesa

S. Pedro de Alcântara teve o seu período de moda. Era o «Passeio», a «Alameda», o «Jardim» de S. Pedro de Alcântara, com a sua ingenuidade alfacinha, e o seu traço espiritual de romantismo.  (ARAÚJO: 1938)

A denominação deriva do antigo Convento de S. Pedro de Alcântara (ou dos Arrábidos) que ainda hoje encontramos na esquina da Rua Luísa Todi. Fundado por D. António Luiz de Menezes, Conde Cantanhede e Marquês de Marialva, em 12 de Agosto de 1680, em cumprimento do voto feito na Batalha de Montes Claros que ganhou aos espanhóis na guerra da Restauração, logo ali se instalaram os franciscanos arrábidos.

Rua de São Pedro de Alcântara que foi «da Tôrre de S. Roque» |entre 1908 e 1914|
Destaque para a Calçada Portuguesa junto à Alameda de S. Pedro de Alcântara. 
Ao fundo vê-se o inicio da Rua de D. Pedro V. 
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Este topónimo já surge nas plantas da remodelação paroquial de 1780, como Rua de São Pedro de Alcântara e Rua Direita de São Pedro de Alcântara. Mas 79 anos depois, pelo edital do Governo Civil de Lisboa de 01/09/1859, a Rua da Torre de S. Roque (também vulgarmente conhecida como Torre do Relógio) e o Largo de São Pedro de Alcântara passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua de São Pedro de Alcântara.

Sunday, 25 August 2024

Sítio de Belém

Assinala Norberto de Araújo que Belém — orgulhoso sítio da antiga Lisboa arrabaldina — nasceu do Restelo, praia e lugar, Barra ou Surgidouro do Restelo, ao qual as navegações do século XV emprestaram notoriedade, ainda que o Restelo já de si falasse nos séculos anteriores. [...]

Rua de Belém |1930-11-09|
Legenda no arquivo: «A chegada do príncipe do Japão ao palácio de Belém».
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Em 1835 tornou-se concelho independente do de Lisboa, e assim, com sua Câmara Municipal, viveu até 1885, ano de reorganização administrativa, ficando, então, como hoje, Belém a constituir uma freguesia senhora de si.

Rua de Belém |1939-02|
Lado S. antes das demolições de prédios e de alguns arruamentos por ocasião da Exposição do Mundo Português que teve lugar em 1940. Ao fundo nota-se o Mosteiro dos Jerónimos.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

No quarteirão entre as Travessas das Linheiras e da Praça na esquina poente, podes observar esse prédio altaneiro, com ar solarengo vencido pela desfortuna, e que contribui para tornar simpático este troço da velha Belém.

Rua de Belém com a Tv. da Praça |190-|
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 67-73, 1939.

Friday, 23 August 2024

Antigo Capilé do Camões

Dias de calor horrível, logo desde manhã abrasando — escrevia João da Camara em O Occidente nos idos de Agosto de 1898.  Não bole uma folha nas árvores; n'ellas se não ouve o pio d'um pássaro. O catavento imóvel aponta para leste. Todos ofegantes suspiram para que chegue a tarde. Calam-se todas as paixões, apaga-se nos cérebros o pensamento O capilé é rei, a cerveja imperatriz. Enquanto quase todos sofrem, folgam apenas os donos de cafés e as limonadeiras do Rocio.

Praça Luís de Camões, 41 |1929|
[Junto à Rua das Gáveas]
Antigo Capilé do Camões, uma verdadeira loja de conveniência: há lá coisa melhor
que um capilé, ou uma carapinhada, para 'empurrar' uns pastéis de Belém.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Fim de Agosto. Lisboa é como morta, dormindo a longa sesta. De quando em quando, abre um olho para ver um simulacro de toirada, move uma perna em direcção a um arraial; mas não são movimentos voluntários: apenas uns espreguiçamentos. 
E quem fala é só para queixar-se. A enfiada dos lugares comuns: Que tempo horrível! — Mil vezes o Inverno,  — Fins d'Agosto são sempre assim.  — Antes na África.==

Praça Luís de Camões, 41 |1934|
[Junto à Rua das Gáveas]
Antigo Capilé do Camões, uma verdadeira loja de conveniência: há lá coisa melhor
que um capilé, ou uma carapinhada, para 'empurrar' uns pastéis de Belém.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 18 August 2024

Rua do Instituto Virgílio Machado

Instituto Virgílio Machado (Rua do) — A denominação antiga era rua da Ribeira Velha. Principia na rua João Evangelista [actual Av. Infante Dom Henrique], e finda na rua da Alfândega. Legalizada pelo Edital de 6 de Novembro de 1903. Freguesia de Santa Maria Maior.
É uma das vias públicas modernamente abertas, tendo-lhe sido dada, primitivamente, a denominação de «rua da Ribeira Velha» pelo edital de 29 de Novembro de 1902. Foi entregue à Câmara pelo Ministério das Obras Públicas em 22 de Fevereiro de 1901. A actual denominação rende homenagem ao conselheiro dr. Virgílio Cesar da Silveira Machado, que ali mandou construir um Instituto para tratamento de doenças nervosas.

Rua do Instituto Virgílio Machado, 14 |1930|
Fachada do Instituto Médico Virgílio Machado vista da Rua da Alfândega.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Virgílio César da Silveira Machado (1859-1927) formou-se em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e foi médico (radiologista e neurologista) e químico. Entre as funções profissionais e públicas que exerceu, destacam-se as de: lente de Química no Instituto Industrial de Lisboa; emissário especial de Portugal na Exposição Internacional de Electricidade em Paris; médico honorário da Real Câmara; médico extraordinário no Hospital de São José; fundador do Instituto Médico Virgílio Machado; e membro do Conselho do Rei. Pertenceu à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.

Rua da Ribeira Velha hoje «do Instituto Virgílio Machado», 14 |1902|
Fachada do Instituto Médico Virgílio Machado vista da Rua da Alfândega.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
BRITO, Gomes de) Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935.

Friday, 16 August 2024

Antiga Rua Direita da Lapa

Eis-nos na Rua da Lapa — mais uma vez na companhia de Norberto Araújo — a «Rua Direita» do Bairro a que deu o nome, certamente a mais antiga, e que se prolonga pela Rua Borges Carneiro até a Calçada da Estrela.
Vamos buscar pelo caminho natural essa outra Lapa — a Lapa aristocrática — pelo feitio e pelo isolamento, de toda a outra Lisboa tumultuosa ou palradora das coisas que foram ou começam a ser. [...]
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 45, 1939)

Rua da Lapa |1930-06-09|
Antiga Rua Direita da Lapa; à esq., a Rua São João da Mata e, ao fundo, a Rua de S. Domingos
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Um aspecto do funeral do ministro da Alemanha, barão von Baligand»
N.B. No dia 7 de Junho de 1930, no momento em que saía do cruzador alemão Koenisberg, já acostado ao cais de Lisboa, o Ministro de Alemanha, Barão Von Baligand, foi alvejado a tiro por um seu compatriota, falecendo horas depois. Os funerais do Ministro da Alemanha, feitos por conta do Estado, foram imponentes incorporando-se nele, forças de toda a guarnição de Lisboa, a marinhagem alemã, todo o Governo e dezenas de milhar de pessoas.

A antiga Rua Direita da Lapa viu, no final do séc. XIX (Edital de 22/08/1881), ser-lhe retirada a palavra "Direita", indicadora de artéria central de um sítio para ficar apenas Rua da Lapa.

Rua da Lapa, 104 | 1943-04-10|
Ao fundo vê-se o edifício com o n.º 105 na Rua de São Domingos.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 11 August 2024

A Rua que foi do Conselheiro Moraes Soares

Este arruamento nasceu em 1906 como Rua do Conselheiro Morais Soares, no troço da antiga Estr. de Circunvalação compreendido entre a rotunda (hoje, Praça do Chile) no término da Avenida da Dona Amélia (hoje, Avenida Almirante Reis) e a Parada do Cemitério Oriental (hoje Parada do Alto de São João), e foi já após a implantação da República, pelo Edital Municipal de 27/11/1916, que passou a Rua Morais Soares, já que o título de conselheiro recordava o regime monárquico, por ser atribuído pelo soberano, tradicionalmente aos magistrados do Supremo Tribunal e por vezes, a pessoas que tinham prestado serviços honrosos.

Rua Morais Soares |195-|
Cruzamento com as Ruas Francisco Sanches e Carlos Mardel; mais acima vê-se a Praça do Chile e a R. António Pereira Carrilho.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Rodrigo de Morais Soares (1811–1881), formou-se bacharel em Medicina pela Universidade de Coimbra. Foi professor e comissário de estudos. Desempenhou diversas funções na Administração Pública, como especialista em assuntos aduaneiros, agrícolas e financeiros. Foi chefe da repartição de Agricultura da Secretaria das Obras Públicas e mais tarde Director geral, tendo fundado a Quinta Regional de Sintra e o Instituto Agrícola. Fundou o jornal “Arquivo Rural” e publicou diversos textos sobre temas agrícolas e financeiros. Foi deputado, eleito em várias legislaturas. 
Na Academia das Ciências de Lisboa foi eleito sócio correspondente da classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras a 2 de Novembro de 1865.

Rua Morais Soares |1960|
Esquina com a Rua Carlos Mardel.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Friday, 9 August 2024

Fonte Monumental, vulgo Fonte Luminosa

Na Alameda Afonso Henriques — constrói-se num dos topos o Instituto Superior Técnico e o Instituto Nacional de Estatística, ambos da autoria do arq.º Pardal Monteiro — e no outro eleva-se uma Fonte Monumental (vulgo Fonte Luminosa) com seu miradouro sobre a Alameda.
Apesar de concebida originalmente em 1940, foi inaugurada apenas em 28 de Maio de 1948, com base num projecto do arquitecto Carlos Rebelo de Andrade, enquadra-se no estilo conservador, frequentemente apelidado Português Suave, dominante na década de 1940. 

Fonte Monumental, artístico remate da Alameda Afonso Henriques |c. 1950|
Branco, António Castelo, in Lisboa de Antigamente

As esculturas são da autoria de Maximiano Alves (Cariátides) e de Diogo de Macedo (Tejo e Tágides); os baixos-relevos (painéis laterais) de Jorge Barradas.
Poucos sabem que a fonte se chama Monumental, devido às suas tágides e aos seus cavalos submersos a arrancar para o céu.

Fonte Monumental, artístico remate da Alameda Afonso Henriques |c. 1950|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 4 August 2024

Praça do Duque de Saldanha: Avenidas Novas

Com esta bela Praça do Duque de Saldanha, que data da última década do século passado [XIX], se deu testa à grande artéria mãe das Avenidas Novas, em correspondência paisagista com a Praça Mousinho de Albuquerque, que vimos já, no começo do Parque do Campo 28 de Maio (Campo Grande). 

Na praça em rotunda, estrela de cinco pontas — diz Norberto de Araújo, a quem vamos sempre seguindo — , confluem as Avenidas Fontes Pereira de. Melo, Casal Ribeiro e Praia da Vitória, estas duas já deste século- e da República e confluirá dentro de um ano a Rua António Enes, que se está prolongando já através de um talhão da da muito velha Rua das Picôas. Desaparecerá esse oitocentista Palácio, a sudoeste, que foi da Condessa de Camarido [depois Cine Teatro Monumental - 1ª imagem à esq.].¹

Praça Duque de Saldanha e Av. da República |194-|
À esq. nota-se o muro do Palácio Camarido demolido para dar lugar ao Cine Teatro Monumental
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

 

Avenida de Fontes Pereira de Melo termina na rotunda da Praça do Duque de Saldanha, cercada de heterogéneas edificações, e a meio da qual se ergue o monumento ao Duque de Saldanha. A pedra fundamental do monumento, cuja parte escultural é de Tomás Costa e a arquitectónica de Ventura Terra, foi lançada em 1904, tendo-se inaugurado em 1909. A estátua, que representa o marechal de pé, com a mão direita apontando na direcção do S., assenta sobre um pedestal dórico de base quadrangular flanqueado de colunas com capitéis canelados. À frente da estátua, na base, a figura alegórica da Vitória, de bronze, nas outras faces panóplias ornamentais pendem da boca de leões, tudo de bronze.²

Praça Duque de Saldanha e Av. Fontes Pereira de Melo |1952|
Em cartaz no Cine-Teatro Monumental o filme "A Paz Voltou à Cidade" com a participação de  Gary Cooper - no original "Dallas" - e a peça de teatro "Lisboa Nova" com a actriz Laura Alves, ambos estreados em 1952.
Amadeu Ferrari, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto d, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 79-80, 1939.
² PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Generalidades: Lisboa e arredores, Biblioteca Nacional, 1924.

Friday, 2 August 2024

Rua Marquês de Fronteira: «Reservatório do Pombal»

Esta Rua Marquês da Fronteira sucedeu a uma linha irregular, que não é evidentemente a de hoje — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , a qual constituía as setecentistas Estrada dos Padres da Companhia e Estrada de S. Francisco Xavier, rectificadas há meio século [c. 1890], Rua — quási Avenida — moderna, já servida de eléctricos desde Outubro de 1936. ...)
O muro que prossegue [à esquerda], até à Penitenciária, defende os terrenos da Companhia das Águas, onde se encontra o Depósito chamado do «Pombal». E do Pombal seriam porque já no começo do século passado [XIX], e certamente muito antes, quando estes chãos ainda constituíam herança da Companhia de Jesus, recebida pelo Real Colégio dos Nobres, eles eram conhecidos pela designativa de «Pombal», e um pombal haveriam tido. [...]
Em 1873 o Governo expropriou estes terrenos todos, aqui [à esquerda] para levantamento do «Cadeia Geral e Penitenciária».
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 91-92, 1939)

Rua Marquês de Fronteira |1967|
Reservatório do Pombal; Cadeia Penitenciária de Lisboa
João Brito Geraldes, in Lisboa de Antigamente

A artéria perpetua a memória de D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto (1802–1881), 8º conde da Torre, 5º marquês de Alorna e 7º marquês de Fronteira. Após a Vilafrancada viveu exilado para depois fazer toda a campanha das lutas liberais, tendo-se reformado no posto de marechal-de-campo. Foi também governador civil de Lisboa (1846-1851), par do reino e deixou 5 volumes das suas «Memórias do Marquês de Fronteira e D'Alorna».

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